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Reserva Legal ± Conceito

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3 A RESERVA LEGAL FLORESTAL 3.1 Perspectiva histórica

3.2 Reserva Legal ± Conceito

As florestas são um dos principais temas estudados pelo Direito Ambiental, tendo em vista o papel que desempenham para a manutenção equilibrada do clima, da água, da biodiversidade, além de representar fonte de riqueza para o desenvolvimento econômico dos países.

No Brasil, a questão das florestas é regulada pelo Código Florestal, instituído pela Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e outras legislações25, importando, para o presente estudo a área da reserva legal instituída pelo Código Florestal.

Segundo a legislação florestal, áreas de reserva legal são áreas localizadas no interior de uma propriedade ou posse rural, pública ou privada, ressalvada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas ( artigo 1º, III, da Lei 4.771/65).

Em outros termos, trata-se de uma obrigação imposta aos proprietários e posseiros de imóvel rural em destacar parte de sua área para servir à proteção da biodiversidade, bem como ao abrigo e proteção da fauna e da flora.

Nesse sentido, Souza (2009, p. 136), comentando o artigo 225 da Constituição Federal Brasileira, anota:

As áreas de reserva legal foram instituídas pelo Código Florestal com uma função específica de manter um equilíbrio ecológico, mantendo regulado os regimes de chuvas, do clima, da absorção de gases, de partículas poluentes e, sobretudo, garantir as demandas das gerações futuras, especialmente no que se refere a princípios ativos de plantas medicinais que poderão representar a cura de doenças que nem existem atualmente. O legislador também buscou garantir a preservação das espécies, posto que as reservas se transformariam em verdadeiros bancos genéticos. Teriam ainda a função de suprir demanda de árvores para o fornecimento de madeira e demais necessidades.

O artigo 16 do Código Florestal, porta-voz do instituto, estabelece os limites mínimos de vegetação nativa a serem mantidos na propriedade a título de reserva legal, considerando o tipo de vegetação e a região do país. Assim, quatro são os tipos de reserva legal previstos na lei. Na Amazônia legal, quando a propriedade rural situar-se em área de floresta, o percentual de proteção é de oitenta por cento.

25

Outras Legislações também disciplinam sobre a proteção dos recursos florestais, como a Lei que Instituiu o Sistema das Unidades de Conservação da Natureza, Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000;

Lei nº 11.284, de 2 de março de 2006, que trata sobre a Gestão de Florestas Públicas; Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica; além dos instrumentos de penalização de degradadores florestais como a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre os crimes ambientais; Lei nº 6938 de 31 de agosto de 1931, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente; e, o Decreto nº 7497, de 09 de julho de 2011, que dispõe sobre aplicação de multa àqueles que não averbarem as áreas de reserva legal.

Ainda na Amazônia legal, quando a propriedade rural situar-se em área de cerrado, o percentual de proteção é de trinta e cinco por cento. Nas demais áreas do país, o limite mínimo de proteção é de vinte por cento, quando a propriedade localizar-se em áreas de florestas e outras formas de vegetação nativa. Por último, a proteção é de vinte por cento quando a vegetação da área protegida constituir-se de campos gerais.

O percentual legal mínimo da área de reserva legal definido no dispositivo legal pode, contudo, ser reduzido ou ampliado mediante indicação em zoneamento ecológico econômico, conforme § 5º do artigo 16 do Código Florestal.

2=RQHDPHQWR(FROyJLFR(FRQ{PLFR³WHPFRPRILQDOLGDGHRDGHTXDGRXVR do solo e a identificação de áreas que devem ser preservadas como reservas QDWXUDLV´ 0$*$/+­(6S 

Para Furlan (2010, p. 157), o dispositivo em questão fere, de certa forma, o princípio da igualdade ao permitir a alteração do percentual legal da reserva legal a cargo do poder público.

Quanto à sua composição, a área de reserva legal deve ser composta de florestas ou outras formas de vegetação nativa, pois o seu objetivo é a conservação da formação típica da região. Exceção se verifica apenas quanto à pequena propriedade e posse rural familiar que podem aproveitar, para fins de constituição de área de reserva legal, os plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas.

A leitura do artigo 16 do Código Florestal enseja o entendimento de que o legislador estabeleceu diferença entre florestas e demais tipos de vegetação nativa, muito embora não as conceitue. A diferenciação entre florestas e demais formas de vegetação, contudo, é enfrentada pela doutrina, dispensando-lhes a lei igualdade de tratamento (MAGALHÃES, 2001, p. 162):

Florestas se constituem predominantemente de vegetação lenhosa de alto porte, formando uma biocenose, e que cobre uma área de terras mais ou menos extensa; vegetação nativa é aquela formada por uma comunidade de varias espécies florestais, cuja origem e

desenvolvimento deve-se exclusivamente à ação das forças naturais26.

A definição de floresta, segundo Machado (2011, p. 821), pode ser compreendida como a reunião de grande quantidade de árvores de alto porte, cobrindo a extensão de um terreno e, por demais formas de vegetação, entende-se outras espécies da flora, características de uma determinada região.

A permissividade para a supressão das florestas e demais formas de vegetação, guardado o percentual da reserva legal, não se aplica àquelas sujeitas ao regime de utilização limitada27 ou objeto de legislação específica. As primeiras, de utilização limitada, somente podem ser utilizadas mediante previa autorização da autoridade competente e, mesmo assim, através de planos de manejo florestal sustentável (artigos 6º, 10º, 19 e 44). Por outro lado, as espécies arbóreas, objeto de proteção por meio de legislação específicas, são aquelas cujo corte é proibido lei28.

Importante para o tema é a postura do Código Florestal em relação às florestas plantadas e florestas nativas. Somente nas florestas plantadas, desde que não constitua área de preservação permanente, permite-se a livre extração de lenhas e demais produtos florestais, como também a exploração de carvão. As florestas nativas, de sua feita, têm sua exploração condicionada a normas e atos do Poder Federal ou Estadual, na forma estabelecida pelo Código Florestal.

(P VXPD D UHVHUYD OHJDO ³FRQVWLWXL XPD IRUPD GH UHVWULomR j H[SORUDomR econômica da propriedade, imposta pela legislação, por ser necessária para garantir interesses ecológicoV HVSHFtILFRV DOpP FODUR GRV LQWHUHVVHV DPELHQWDLV GLIXVRV´ (FURLAN, 2010, p. 156).

A obrigatoriedade de constituição de área de reserva legal recai sobre o imóvel particular e público. A redação original do Código Florestal, entretanto, impunha somente ao imóvel particular o respeito às RLs. Na atual redação (MP nº 2.166/01) exige-se também das pessoas jurídicas de direito público a observância das áreas de reserva legal em suas propriedades, o que é, de acordo com Leuzinger (2007, p. 113), absolutamente correto, pois o artigo 225, caput, da Constituição

26 Conjunto de seres vivos que vivem em equilíbrio dinâmico dentro de um mesmo biótopo;

comunidade biótica ( FORNARI NETO, 2001, p. 36).

27

Artigo 10 da Lei nº 4771/65.

28

A Política Florestal do Estado de Goiás, Lei nº 12.596, de 14 de março de 1995, no artigo 10, confere especial proteção a espécies aroeira (Miracruodron urundeúva), braúna (Schinopsis brasiliensis), gonçalo alves (astronium faxinifolium), ipê (Tabebuia sp), angico (piptadenia sp) e amburana ou cerejeira (Torresea ceasensis).

)HGHUDOREULJDR(VWDGR³DGHIHQGHUHSUHVHUYDURPHLRDPELHQWHSDUDDVSUHVHQWHV e para as futuras gerações, não fazendo qualquer sentido a previsão de reserva legal apenas para as propriedades privadaV´

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