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Instrumentos de comando e controle

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4 A PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

4.3 Política Nacional do Meio ambiente

4.3.1 Instrumentos de Política Ambiental

4.3.1.1 Instrumentos de comando e controle

Os instrumentos de comando e controle ou instrumentos regulatórios são mecanismos por meio dos quais o poder público estabelece os padrões e monitora a qualidade ambiental, regulando as atividades e aplicando sanções e penalidades via legislação e normas (LEAL,1997, p. 05).

Constituem políticas regulatórias materializadas por meio da edição de lei específica para regulamentar o uso e acesso aos recursos naturais (CUNHA; GUERRA, 2010, p. 45) por meio da penalização.

Objetivam restringir as ações do poluidor por meio de normas e padrões ambientais, fiscalizando o seu cumprimento (BARBIERI, 2009, p.74). Esta ILVFDOL]DomR GHYH VHU FRQVWDQWH ³FRQWtnua e efetiva por parte dos órgãos UHJXODGRUHV LPSOLFDQGR DOWRV FXVWRV GH LPSOHPHQWDomR´ VHJXQGR REVHUYD Junqueira et al. (MAY, 2010, p. 169).

As políticas de comando e controle são determinadas legalmente e não possibilitam aos agentes econômicos qualquer outra opção para solucionar o problema. São aplicadas a fontes específicas e determinam como e onde reduzir a poluição.

A principal característica destes instrumentos, conforme acentua Almeida (1998, p. 43), é considerar o poluidor como alguém potencialmente capaz de cometer delitos, impondo-lhe regras que, se não cumpridas, acarretam penalidades em processos judiciais ou administrativos.

A política ambiental faz uso acirrado dos instrumentos de comando e controle (CARADORI, 2009, p. 126), porquanto o desmatamento ilegal das áreas de reserva legal se afigura contrário ao princípio do desenvolvimento sustentável, ensejando a adoção de ações estratégicas para a garantia do equilíbrio ecológico.

Almeida (1998, p. 141), referindo-se à orientação da política ambiental brasileira pautada pelos instrumentos de comando e controle, evidencia seu perfil corretivo e menos preventivo.

As áreas de reserva legal têm sido objeto de regulamentação por instrumentos de comando e controle (RIGONATTO, 2006, p. 08), mas a ineficiência deste mecanismo de gestão ambiental, mostrou-se incapaz para atingir os objetivos propostos. No que tange às áreas de reserva legal aponta-VH D ³HVFDVVH] GH recursos humanos e financeiros da administração pública para arcar com a fiscalização e saQomRSHORGHVFXPSULPHQWRGDQRUPD´ -867,1,$12S 

A propósito, Oliveira e Bacha (2003, p. 192), em pesquisa38 realizada, observou que menos de 10% dos imóveis rurais no Brasil vêm mantendo áreas de reserva legal. Os autores relatam que a pressão sobre os recursos naturais tem sido mais importante que a própria legislação na determinação do cumprimento da manutenção da RL.

Embora o sistema regulatório brasileiro divida seus custos e esforços entre União, Estados e Municípios, a legislação ambiental não tem sido capaz de reduzir a poluição e de combater o desmatamento e a má utilização dos recursos naturais.

A eficácia do instrumento de comando e controle está intimamente relacionada com a capacidade que o órgão de controle ambiental tem para assegurar a obediência à lei, adotando adequada estratégia de fiscalização e punição dos infratores, e resistir às investidas de grupos políticos que possam contestar as medidas de tutela impostas.

Neste aspecto, importante observar que a área de reserva legal, prevista no Código Florestal ± Lei nº 4.771, de 16 de setembro de 1965, em vigor há mais de 40 anos ±, não tem sido observada pelos proprietários rurais.

No entanto, no estado de Goiás o Ministério Público, em atenção ao seu plano estratégico de atuação em prol do meio ambiente, conferindo interpretação conjugada ao dispositivo 1439 da Lei nº 6.938/81 (PNMA) e ao artigo 3440 da Lei nº

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Os resultados desta pesquisa foram confirmados em 2008, por Feltran-Barbieri e Kassai (2008, p. 01), os quais comprovaram por meio de imagens de satélite que somente 10% das propriedades rurais em Goiás possuem reserva legal, embora 50 % dos entrevistados afirmassem cumprir o Código Florestal

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O artigo 14, da PNMA, dispõe: Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

12.596/95, que instituiu a Política Florestal do Estado de Goiás, tomou iniciativas que culminaram em imposição de restrições de ordem econômica aos proprietários rurais que deixassem de regularizar a reserva legal em suas propriedades.

Neste sentido, foram expedidas Recomendações41 aos estabelecimentos bancários para deixarem de conceder qualquer linha de crédito aos proprietários rurais que não apresentassem a averbação da área de reserva legal em suas respectivas propriedades.

No entanto, anos mais tarde, em levantamento realizado por uma comissão a cargo do órgão ministerial, em 2009, o Projeto de Geoprocessamento de Rio Verde-GO42 mensurou 3.970 propriedades rurais, constando que apenas 666 delas têm reserva legal averbada, o que representa menos de 20% do total. As demais propriedades continuam sem área específica para reserva legal. O estudo revelou, ainda, que mesmo as áreas de reserva legal devidamente averbadas em cartório de registro de imóveis também são utilizadas para produção.

Em âmbito federal, várias foram as investidas legais com o objetivo de buscar efetividade à determinação de conservação, recuperação e averbação das áreas de reserva legal, fulcradas nos instrumentos de comando e controle, porém sem êxito.

A propósito, o Decreto Federal nº 6. 514, de 22 de julho de 2008, no artigo 55, impunha multa diária, no valor de quinhentos reais a cem mil reais, ao proprietário rural que deixasse de averbar a área prevista para reserva legal no prazo de cento e oitenta dias.

Após pressão do setor agropecuário, que alegava a impossibilidade de cumprimento dessa exigência no prazo estipulado, o Governo Federal, por meio do Decreto Federal nº 6.686, de 10 de dezembro de 2008, prorrogou o prazo para 11 de dezembro de 2009.

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O artigo 34 da Lei Estadual nº 12.596/95, estabelece: Somente serão concedidos incentivos ou isenções tributárias mediante a apresentação pelo interessado de prova de regularidade de sua situação junto ao órgão ambiental do Estado.

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Disponível em

<http://www.mp.go.gov.br/portalweb/conteudo.jsp?page=9&conteudo=conteudo/9a5b751bd8d11a638 7bd9d764edae6c3.html> Acesso em 11/11/11.

42 GOIÁS. Ministério Público. Informações prestadas pelo chefe do Departamento de

Essa data foi novamente alterada pelo recente Decreto Federal nº 7.029, de 10 de dezembro de 2009, que institui o Programa Federal de Apoio à Regularização AmELHQWDOGH,PyYHLV5XUDLVGHQRPLQDGR³3URJUDPD0DLV$PELHQWH´ 43, para o dia

11 de junho de 2011.

Com efeito, a tramitação na Câmara dos Deputados do Projeto de Lei que altera o atual Código Florestal, concedendo anistia aos proprietários rurais que desmataram suas propriedades até 28 de julho de 2008, levou, pela terceira vez, o Governo Federal a sucumbir diante das pressões do movimento ruralista e, assim, prorrogar por mais cento e oitenta dias o prazo para a regularização da reserva legal, por meio do Decreto nº 7.497, de 09 de junho de 2011, o que se deu em 11 de dezembro de 2011.

No entanto, diante da tramitação do referido projeto de lei, o prazo que torna obrigatória a reserva legal foi novamente prorrogado, pela quarta vez, por meio do Decreto nº 7.640, de 09 de dezembro de 2011, para 11 de abril de 2012.

É possível vislumbrar, por essas ocorrências, que o uso exclusivo dos instrumentos de comando e controle como estratégia de fiscalização e punição dos infratores não se apresenta eficaz para a consecução dos fins delineados pela PNMA com o perfil que lhe outorgou a nova ordem constitucional, menos ainda com robustez necessária para resistir às pressões de grupos que albergam interesses exclusivamente econômicos e políticos.

Por outro lado, Veiga Neto (2008, p. 24) ressalta a existência de vasta literatura apontando as vantagens e desvantagens dos instrumentos de gestão DPELHQWDO PDV DWULEXL PDLRU ³H[SHFWDWLYD HP UHODomR j HILFLrQFLD H HIHWLYLGDGH geradas pelos instrumentos econômicos em relação aos instrumentos de comando e FRQWUROH´

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