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Natureza jurídica

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3 A RESERVA LEGAL FLORESTAL 3.1 Perspectiva histórica

3.3 Natureza jurídica

Como visto, a reserva legal decorre da obrigação legal de conservação e proteção de um percentual da cobertura vegetal de uma propriedade, caracterizando-VHFRPR³XPDREULJDomRJHUDOJUDWXLWDXQLODWHUDOHGHRUGHPS~EOLFD a indLFDU VHX HQTXDGUDPHQWR QR FRQFHLWR GH OLPLWDomR DGPLQLVWUDWLYD´ FRQIRUPH observa Milaré (2009, p. 753).

Limitação administrativa, segundo preleciona Meirelles apud Milaré (2009, p.   FRPSUHHQGH ´WRGD LPSRVLomR JHUDO JUDWXLWD XQLODWHUDO H GH RUGHP S~blica condicionadora do exercício de direitos ou de atividades particulares às exigências do bem-HVWDUVRFLDO´

No mesmo sentido, Carvalho Filho (2010, p. 731) acentua que a pretensão GR 3RGHU 3~EOLFR QRV FDVRV GH OLPLWDo}HV DGPLQLVWUDWLYDV p ³FRQGLFLRQDU a propriedade à verdadeira função social que dela é exigida, ainda que em detrimento GRVLQWHUHVVHVLQGLYLGXDLVGRSURSULHWiULR´

Acrescenta, ainda, o autor que limitações administrativas são determinações de caráter geral, por meio das quais o Poder Público impõe a proprietários indeterminados obrigações positivas, negativas ou permissivas, para o fim de condicionar a propriedade ao atendimento da função social (CARVALHO FILHO, 2010, p. 731).

Entende Machado (2011, p. 843) que a reserva legal também constitui limitação ao direito de propriedade, incidindo sobre todas as propriedades rurais, com o propósito de atender o interesse público, a necessidade de conservação do bioma e a proteção do meio ambiente para esta e futuras gerações.

A limitação do direito de propriedade rural, imposta pela legislação florestal, subordina-VH ³DR LQWHUHVVH FROHWLYR SDUD TXH VHX H[HUFtFLR QmR VHMD GH RUGHP D FDXVDUXPGDQRVRFLDOHpKRMHSULQFtSLRLQFRQWURYHUVRHPWRGRVRVSRYRVFXOWRV´ (PEREIRA, 1950, p. 170).

AcrescenWD $QWXQHV  S   TXH R ³UHJLPH MXUtGLFR GD SURSULHGDGH florestal não pode ser tido como puramente civil, pois mesmo as matas particulares HVWmRVXMHLWDVjVLQJHUrQFLDVDGPLQLVWUDWLYDV´

Compartilhando do mesmo entendimento, Sirvinskas (2009, p. 453) afirma TXHD³iUHDGHUHVHUYDOHJDOVHDSUHVHQWDFRPRYHUGDGHLUDOLPLWDomRDRGLUHLWRGH propriedade consistente em preservar um dos elementos essenciais ao meio ambiente, que é a flora (art. 225, caput&) ´

Outra abordagem é sustentada por Campos Júnior (2010, p. 177), que defende ser a área de reserva legal, como a área de preservação permanente, imprescindíveis à preservação da qualidade ambiental, sendo, por isso pressupostos ao exercício do direito de propriedade.

Apontam outros autores a servidão florestal como natureza jurídica da reserva, em razão da obrigatoriedade da averbação à margem do registro imobiliário. Antunes (2005, p. 1) salienta que a limitação administrativa à propriedade decorre de imposição legal, geral, unilateral e gratuita, cuja publicidade e eficácia são asseguradas pela legislação, não se exigindo a sua averbação à margem da matrícula do imóvel, como se verifica com a reserva legal. A obrigatoriedade da averbação aproxima o instituto da servidão florestal.

O assunto não apresenta consenso doutrinário. Mello (2005, p. 841) salienta que nas servidões há uma obrigação de suportar e, nas limitações administrativas, uma obrigação de não fazer.

Outra linha de entendimento está pautada na ideia de que a natureza jurídica da área de reserva legal traduz verdadeiro confisco da propriedade. Dutra (2009, p. 29-33) assevera:

A exigência de criação de reserva legal, na forma preconizada pelo Governo Federal, sem a menor sombra de dúvida, caracteriza evidente confisco de bens particulares, o que é vedado pelo nosso sistema jurídico, a teor do disposto no artigo 5º, inciso LIV da Constituição Federal. [...] A instituição da reserva legal não caracterizaria uma limitação administrativa porque na forma como ela esta posta fere o direito de propriedade, além de prejudicar a função social da propriedade rural, retirando-lhe o conteúdo econômico. (p. 32). [...] Qualquer ato administrativo, decreto ou lei que exigir a criação da reserva legal em propriedades rurais privadas sem o devido processo legal de desapropriação e sem a devida compensação pecuniária é ilegal e, portanto, inconstitucional.

Para aqueles que perfilham do entendimento esposado por Dutra, a reserva legal somente pode ser instituída mediante prévia indenização ao proprietário, apesar do entendimento contrário do Supremo Tribunal Federal (MILARÉ, 2009, p. 754) decidindo que indenização somente é comportável por ocasião da desapropriação do imóvel e jamais pela instituição da reserva legal, por ser um ônus real que recai sobre o imóvel, obrigando o proprietário e todos que o sucederem a mantê-la.

Embora haja divisão doutrinária no sentido de compreender a natureza jurídica do instituto da reserva legal, a legislação a considera um espaço especialmente protegido necessário à proteção do meio ambiente, porquanto desempenha uma função fundamental à garantia do equilíbrio ecológico, à conservação da biodiversidade, bem como se apresenta como abrigo à proteção da fauna e da flora nativa de cada região.

Espaços territoriais especialmente protegidos podem ser conceituados como ³iUHDV JHRJUiILFDV S~EOLFDV RX SULYDGDV SRUomR GR WHUULWyULR QDFLRQDO  GRWDGDV GH atributos ambientais que requeiram sua sujeição, pela lei, a um regime jurídico de interesse público que implique sua relativa imodificabilidade e sua utilização sustentada, tendo em vista a preservação e a proteção da integridade de amostras de toda a diversidade de ecossistemas, a proteção ao processo evolutivo das espécies, a preservação e a proteção dos recursos naturais" (SILVA, 2000, p. 212).

A importância da proteção das áreas de reserva legal tem sido tema de destaque na agenda nacional, sobretudo porque o cumprimento da legislação florestal, nesse aspecto, tem enfrentado resistência, ante o imenso conflito entre o Estado, no desempenho de sua missão constitucional em defender e preservar o meio ambiente e os interesses econômicos defendidos pelos produtores rurais.

O embate ainda é fomentado porque a exploração dessas áreas decorreu de políticas públicas que incentivaram a ocupação do território, como o POLOCENTRO e PRODECER, entre outros, que estimularam o desmatamento total das áreas rurais em prol da expansão da fronteira agrícola na região do Cerrado.

A figura jurídica da reserva legal, na forma determinada pela legislação, não encontra ressonância na legislação de outros países, sendo correto afirmar que o instituto somente existe no Brasil.

Alvo de constante polêmica no meio rural, a reserva legal tem sido considerada um empecilho aos proprietários de terras agricultáveis, que resistem à ideia da limitação parcial do imóvel sem qualquer compensação ou incentivo pela sua conservação ambiental, a exemplo de outros países concorrentes do Brasil no mercado internacional, que estimulam a conservação de suas florestas por meio de incentivos fiscais.

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