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Projeto Conservador das águas, Extrema (MG)

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5 PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

5.8 Pagamento por serviços ambientais no Brasil

5.8.5 Projeto Conservador das águas, Extrema (MG)

Importante considerar, para introduzir o tema em questão, que a gestão dos recursos naturais no Brasil, inaugurada com Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, seguiu critérios de gestão ambiental pontuados exclusivamente pelos instrumentos de comando e controle. Com o advento da Política Nacional de Recursos Hídricos ± Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, conhecida como Lei das Águas, prevendo expressamente a possibilidade de compensação ± os

instrumentos econômicos passaram a integrar os planos de gestão ambiental em nível nacional, norteando-se pelo princípio do poluidor-pagador no processo de gestão das águas.

A Agência Nacional Águas (ANA), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, é responsável pela implementação da gestão dos recursos hídricos brasileiros, no modelo estabelecido pela Política Nacional de Recursos Hídricos, instrumento legal que permite a gestão participativa e descentralizada dos recursos hídricos. É, portanto, de competência da ANA a criação de condições técnicas para implementar a Lei das Águas; promover a gestão descentralizada e participativa, em sintonia com os órgãos e entidades que integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; implantar os instrumentos de gestão previstos na Lei nº 9.433/97, como a outorga preventiva e de direito de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso da água e a fiscalização desses usos, como também estudar soluções adequadas para os graves problemas do recursos hídricos no país, como as secas na região nordeste e a poluição dos rios (BRASIL, 1997).

No âmbito de sua competência a ANA desenvolveu o Projeto Produtor de Águas, com foco no estímulo à política de pagamento por serviços ambientais, voltada para a proteção hídrica no país. Assim, o projeto orienta, apoia, incentiva e certifica propostas que visem à diminuição da erosão e do assoreamento de mananciais no setor rural, favorecendo a melhoria da qualidade e da ampliação e regularização da oferta de água em bacias hidrográficas de importância estratégicas para o país76.

O projeto Produtor de Águas da ANA incentiva produtores rurais a adotarem boas práticas de conservação de água e solo e, em contrapartida, os produtores rurais serão remunerados pelos trabalhos realizados (FURLAN, 2010, p. 247).

Acrescentam Whately e Hercowitz (2008, p. 76) que os recursos do Programa poderão vir de fontes variadas, como: os recursos provenientes da cobrança pelo uso dos recursos hídricos; as empresas de saneamento, de geração de energia elétrica e os usuários; os Fundos Estaduais de Recursos Hídricos; o Fundo Nacional de Meio Ambiente; o Orçamento Geral da União, os orçamentos de Estados, Municípios e Comitês de Bacias; a compensação financeira por parte de

usuários beneficiados; o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo/Protocolo de Kyoto; os organismos internacionais (ONGs, GEF, BIRD etc.) e o financiamento de bancos de investimento oficiais (Banco do Brasil e BNDES).

Diante da oportunidade legalmente implementada, o Município de Extrema (MG), por meio da Lei Municipal nº 2.100, de 21 de dezembro de 2005, criou o projeto Conservador das Águas com o objetivo de fomentar a preservação de mananciais e nascentes em propriedades rurais particulares do município (FURLAN, 2010, p. 247).

O programa desenvolvido em Extrema está ancorado no projeto Produtor de Água da Agência Nacional de Águas (ANA) e conta com a parceria de instituições municipais, estaduais e privadas.

O Município de Extrema, juntamente com três outros municípios mineiros77, integra a Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí (PCJ). No município estão as nascentes do Rio Jaguari, um dos formadores do Rio Piracicaba, que foi barrado, dando origem ao reservatório de mesmo nome, um dos principais reservatórios do Sistema Cantareira. Este sistema é considerado um dos maiores do mundo e abastece metade da população residente na Grande São Paulo (9 milhões de pessoas) (WHATELY; HERCOWITZ, 2008, p. 73).

A parceria estabelecida com a ONG The Nature Conservancy (TNC) confere assistência técnica e apoio financeiro aos proprietários rurais para que esses possam recuperar e preservar suas Áreas de Proteção Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), bem como recobrir a vegetação local, proteger os mananciais, promover o saneamento ambiental e a conservação do solo (BERNARDES, 2010, p. 4).

Além da TNC, outras parcerias foram fundamentais para o êxito do projeto, as quais apoiaram as ações de campo, reservando o orçamento da Prefeitura para as despesas referentes aos pagamentos aos produtores e à condução administrativa e técnica do Projeto.

Nesse sentido, Veiga Neto (2008, p. 169) enumera os parceiros no nível federal (ANA), no nível estadual (IEF-MG), no nível da Bacia (Comitê PCJ), no setor

privado e grande usuário (SABESP)78, como as ONGs focadas em conservação da biodiversidade (TNC e SOS±Mata Atlântica). A parceria é desenvolvida em uma área de aproximadamente 580 hectares, da seguinte forma (tabela 3):

Tabela 3 ± Papel das instituições parceiras no projeto em Extrema/MG

Prefeitura Municipal de Extrema

Pagamentos por Serviços Ambientais, mapeamento das propriedades, assistência técnica e gerenciamento do projeto

Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG)

Financiamento dos insumos (cercas, adubos, calcário, herbicidas); apoio no processo de comando e controle e averbação das Reservas Legais das propriedades rurais

SABESP Monitoramento da água e fornecimento de mudas

ANA Apoio às ações de conservação do solo e

monitoramento de água (instalação de uma estação de monitoramento quali-quantitativo)

TNT Financiamento às ações de plantio, manutenção e

cercamento das áreas (mão de obra e alguns insumos)

SOS Mata Atlântica Fornecimento de mudas

Comitê PCJ Apoio às ações de conservação do solo

Fonte: Veiga Neto (2008, p. 170).

A execução do projeto exige o atendimento das seguintes metas: adoção de práticas conservacionistas de solo com a finalidade de abatimento efetivo da erosão e da sedimentação; implantação de Sistema de Saneamento Ambiental com a finalidade de dar tratamento adequado ao abastecimento de água, tratamento de efluentes líquidos e disposição adequada dos resíduos sólidos das propriedades rurais; implantação e manutenção da cobertura vegetal das Áreas de Preservação Permanente e da Reserva Legal (FURLAN, 2010, p. 247).

Relata Bernardes (2010, p. 5) que os resultados do programa, até agosto de 2009, apontaram a participação de 60 proprietários de terra numa área aproximada de 1.393,49 hectares.

A Agência Nacional de Águas vem incentivando vários projetos com vistas a pagamento por serviços ambientais, voltados para a conservação dos recursos hídricos em propriedades rurais. A lógica do programa, que remunera o provedor dos serviços ecológicos, é delineada no entendimento de que os benefícios oriundos das práticas conservacionistas implementadas numa área delimitada ultrapassam suas fronteiras, contemplando toda a sociedade. Atualmente a ANA está orientando e apoiando projetos de PSA hídricos desenvolvidos em outros Estados, como Minas Gerais, Espírito Santo, Distrito Federal, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.

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