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Pagamento por serviços ambientais: características

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5 PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

5.4 Pagamento por serviços ambientais: características

Define-se pagamento por serviços ambientais (PSA) como:

Uma transação voluntária, na qual um serviço ambiental bem definido ou um uso da terra que possa assegurar este serviço é comprado por, pelo menos, um comprador de, pelo menos, um provedor, sob a condição de que o provedor garanta a provisão deste serviço (condicionalidade) (WUNDER, 2008, p. 29).

A definição de pagamento por serviços ambientais adotado por Wunder (2008, p. 29) e inserido no Projeto de Lei que institui a Politica Nacional dos Serviços Ambientais, estabelece alguns requisitos como a retribuição monetária ou outra retribuição às atividades humanas voltadas à conservação e preservação dos recursos naturais. Portanto, a relação juridica em um esquema de pagamenro por serviços ambientais se consolida com a presença de um serviço ecológico que é comprado por, pelo menos, um comprador de, pelo menos, um provedor, sob a condição de que o provedor garanta a provisão deste serviço (condicionalidade) (WUNDER, 2008, p. 29).

A definição aponta características próprias ao mecanismo que o diferencia de outros instrumentos de políticas públicas, como:

1) Transação voluntária;

2) Serviço ambiental bem definido ou uma forma de uso da terra que possa assegurar este serviço;

3) Deve haver um comprador, ou usuário, de serviço ambiental; 4) Deve haver um vendedor, ou fornecedor, de serviço ambiental;

A voluntariedade revela a natureza do PSA como instrumento capaz de modificar comportamentos por meio do incentivo, característica que o diferencia dos instrumentos de comando e controle.

Salienta Wunder (2008, p. 29) que o comprador de um serviço ambiental pode ser tanto pessoa física, quanto jurídica, desde que tenham disposição de pagar por ele. Isto inclui empresas privadas, setor público e organizações não governamentais nacionais ou internacionais, entre outros.

O PSA pode ser privado, quando financiado diretamente pelos usuários dos serviços52, e público, quando o Estado atua como comprador, representando os usuários de serviços ambientais.

A compra de serviços ambientais por governos e outras fontes financiadoras geralmente se verifica com serviços ambientais com caráter de bem público (por exemplo, captação de carbono), por beneficiarem a sociedade como um todo, sem possibilidade de exclusão de determinados grupos. Geralmente, os beneficiários desses serviços não têm informação suficiente para a sua valoração, nem podem controlar sua provisão (WUNDER, 2008, p. 30).

De acordo com Wunder (2008, p. 31) é possível estabelecer três modalidades de PSA, conforme desenhado na figura 5: compra direta e sem intermediação; compra direta com intermediação e compra indireta de serviços ambientais. O pagamento direto aos provedores praticamente ainda não se estabeleceu. Na segunda modalidade, o governo pode figurar como comprador principal, mesmo que parte dos recursos provenha de fontes externas. Ele cria leis e programas de PSA e atua como a principal fonte de recursos para o mecanismo Neste sistema, a transação ocorre por meio da intermediação de um fundo nacional. Na terceira modalidade, os serviços ambientais são comprados de uma entidade (por exemplo, o governo local) com poder de implementar medidas e políticas que aumentem a provisão de serviços na região sob seu domínio, o que dependerá da forma com que o governo local investe os recursos recebidos.

52 Interesse voluntário de empresas para melhorar sua imagem ou de indivíduos que queiram mitigar

Figura 5 ± Modalidades genéricas de PSA

Fonte: Wunder (2008, p. 31).

Além da demanda, para a consolidação de um sistema de PSA é necessária a concorrência de provedores comprometidos com a manutenção do provimento dos serviços ambientais. A existência de provedores pode ser estimulada por políticas/programas ou legislação específicos para habilitar potenciais ofertantes a se tornarem provedores efetivos (GUEDES; SEEHUSEN, 2011, p. 38-39).

O objetivo do sistema de PSA é direcionar comportamentos, influenciando o proprietário rural à escolha entre alternativas de uso da terra, pois o ganho econômico proveniente de atividades proporcionam serviços ambientais (como conservação de florestas) e deve se tornar mais atrativo economicamente do que as alternativas dominantes (como a conversão em pastos). Assim, o ganho econômico deve compensar o custo de oportunidade do produtor rural.

A adicionalidade é destacada por Wunder (2008, p. 30) como elemento HVVHQFLDOGRPHFDQLVPRSRLV³XPDWUDQVDomRGRWLSR36$DSHnas faz sentido se ela aumenta a provisão de um serviço ambiental em comparação com um cenário KLSRWpWLFRVHPR36$´

No entanto, há muita discussão sobre o tema, ante a existência de atividades que vêm provendo serviços ambientais e que também poderiam ser

elegíveis para receber recursos de PSA. Todavia, Wunder (2008, p. 16) é incisivo ao afirmar que a adicionalidade é um critério fundamental nos mercados de carbono e é frequentemente utilizada como indicador de eficácia dos projetos de PSA.

Por outro lado, um sistema de PSA deve estar ligado ao conceito de condicionalidade, no sentido de que os pagamentos só ocorrem caso seja verificado que o serviço ambiental prometido foi realmente provido.

Nesse sentido, a condicionalidade exige que os pagamentos não sejam efetuados caso a parte executora não cumpra suas obrigações conforme pactuadas. Por diversas razões, entre elas a dificuldade de monitoramento e questões políticas, esse conceito muitas vezes não é colocado em prática em sua plenitude (WUNDER, 2008, p 37).

Os serviços ambientais atualmente comercializados estão enunciados na figura 6 e se consubstanciam na proteção dos recursos hídricos, proteção da biodiversidade, sequestro ou armazenamento de carbono e beleza cênica.

Figura 6 ± Formas de comercialização de serviços ambientais

A propósito, destaca Furlan (2010, p.189):

As florestas, particularmente, proporcionam uma ampla variedade de benefícios; a título de exemplos, podemos citar três categorias de benefícios: Proteções da bacia hidrográfica ± as florestas têm papel importante na regulação dos fluxos hídricos e na redução do assoreamento; alterações na cobertura florestal interferem na quantidade e qualidade dos fluxos de água na parte baixa da bacia e na dinâmica temporal desses fluxos. Conservações da biodiversidade ± as florestas abrigam grande parte da biodiversidade do mundo; a perda do hábitat florestal é uma das principais causas para a extinção de espécies. Sequestros de carbono ± as florestas com árvores mais antigas armazenam grandes quantidades de carbono e as que estão em fase de crescimento sequestram carbono da atmosfera. As florestas oferecem ainda vários outros benefícios, como por exemplo, seu uso recreativo e o aporte à beleza da SDLVDJHP (VVHV VHUYLoRV VmR ³YHQGLGRV´ SRU HPSUHVDV GH ecoturismo mediante cobrança das taxas de entrada nos parques e dos mercados de bens imobiliários residenciais.

O sistema de PSA vem sendo implantado em vários países, nos últimos anos, Novion e Valle (2009, p. 140), fazendo referência a 287 casos internacionais compilados e revisados pelas pesquisadoras inglesas Natasha Landell-Mills e Ina Porras53, selecionaram e estudaram oito experiências internacionais e seis nacionais, ressaltando os aspectos relevantes e deficiente de cada uma delas, podendo ser evidenciado que todas as experiências catalogadas apresentaram um ponto extremamente valioso, consubstanciado na mudança da relação homem/natureza. A leitura dos estudos de Novion e Valle (2009, p. 140 a 234) permite concluir que, apesar dos aspectos negativos de alguns casos analisados, a experiência propiciou aos envolvidos uma nova forma de se relacionar com o meio ambiente, pontuada por uma compreensão balizada pela necessidade de conservação, ante as riquezas que os recursos naturais encerram.

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