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2 POLÍTICAS URBANAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

4 ÉTICA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

4.3 Ética Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável

A ética ambiental surge diante de tantos contrastes do comportamento humano. A erudição ou poder econômico não garantem respeito pelo habitat natural. Muita gente provida de escolaridade comporta-se como inimiga da natureza e os que detêm o poder, quando se dispõem a sacrificá-la, são potencialmente mais destrutivos do que os desprovidos de poder econômico ou político (NALINI, 2001, p. XXII).

A publicação de autoria de Aldo Leopold nas décadas de 30 e 40, chamada “Ética da Terra” serviu de inspiração para os princípios ecocêntricos da Ética Ambiental Contemporânea:

A ética da Terra é uma abordagem ética holística, derivada de mais de um paradigma biológico que de uma tradição filosófica. Leopold definiu uma ética a partir desse ponto de partida biológico como uma “limitação da liberdade de ação na luta pela vida” (LEOPOLD, 1949, p. 202). Uma ética ecológica, então, “simplesmente amplia os limites da comunidade para incluir solos, águas, plantas e animais, ou a Terra coletivamente” (LEOPOLD, 1949, p. 204). Assim, atribuindo significado moral a uma noção ampliada de comunidade, Leopold deriva o seguinte princípio ético: “Uma coisa é correta quando tende a preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade biótica. E é errada quando tende a ter outro resultado” (LEOPOLD, 1949, p. 224 apud NOBRE; AMAZONAS, 2002, p. 329).

A ameaça ao ambiente natural é questão eminentemente ética, que depende da alteração de conduta dos indivíduos. “A proteção à natureza independe de

educação, riqueza ou mesmo da religião” (NALINI, 2001, p. XXIII). Em todos os grupos sociais há infratores e a lei ambiental não tem sido freio suficiente devido à proliferação normativa ou as sanções que são irrisórias, valendo a pena suportá-las, pois a relação custo/benefício estimula a vulnerabilidade da norma (NALINI, 2001, p. XXII e XXIII).

Somente uma nova cultura poderá coibir a reiteração de práticas danosas, que hoje, além de disseminadas, são toleradas e isso não depende do governo que não é único vilão dessa lamentável história. Todos são “responsáveis pelos desastres cotidianos ocorridos em vários cantos das cidades” (NALINI, 2001, p. XXIII) e a maioria nada faz para repudiar crimes que fazem parte do dia-a-dia, como o desmatamento e a ocupação de encostas e fundos de vale, esgotos e lixões a céu aberto, poluição das águas de nascentes, rios e mares, poluição das praias, venda de animais silvestres em feiras livres, comércio de plantas nativas em extinção, entre outros.

“A crise ecológica também é uma crise dos valores humanos, da ética em todas as dimensões, e traz à tona novos pensamentos, novos conflitos, novas possibilidades, novas soluções e novos comportamentos diante do planeta” (AZEVEDO apud NALINI, 2001, p. XXIII).

Os valores humanos se baseiam em geral, pelo êxito – sucesso, riqueza, fama, poder - a qualquer preço, a qualquer custo e, preferencialmente, que venha rapidamente. O êxito pode ser entendido de muitas maneiras:

A que impera em nossos dias é a do êxito puramente externo, ornamental, da pessoa individual. É um ideal narcisita, que se vê apoiado pela presença contínua das individualidades relevantes nos meios de comunicação. A admiração social que provocam os exitosos não está baseada na realização de fatos de entrega ou doação aos demais, ou que representem um alto ideal de vida, senão basicamente na consecução do dinheiro e do poder. É na medida em que esta concepção do êxito penetrou no tecido de nossa sociedade que se pode apreciar a crise de valores determinados pela idéia de entrega de um ideal. Substitui-se o êxito do ideal pelo ideal do êxito (ROBLES apud NALINI, 2001, p. XXIV).

Por esse motivo, urge formar uma consciência ambiental, como única alternativa para viabilizar a continuidade da vida num planeta sujeito a tantas degradações. “Uma ética ambiental que inverta a pretenciosa concepção de que a natureza é apenas o meio e os objetivos do homem o único fim” (NALINI, 2001, p.XXV). Esse

também é o desafio de uma adequada educação ambiental que precisa inverter a

equação do êxito, numa nova visão onde o ambiente é um bem comum a todos e

não existe apenas para satisfazer o indivíduo.

Segundo NALINI, a educação ambiental deve ser promovida por todas as pessoas lúcidas, responsáveis e de boa-vontade e não apenas os professores que assumem essa tarefa no processo de construção de conhecimento. O desafio é alertar e sensibilizar as consciências das conseqüências de seus atos, e que farão a diferença na sociedade e no ambiente. (2001, p.XXV e XXVI).

De todos os problemas enfrentados, a degradação ambiental é o que mais afeta o sistema mundial, as nações, os povos, os ecossistemas, que:

[...] tanto pode redundar num conflito global entre o Norte e o Sul, como pode ser a plataforma para um exercício de solidariedade transnacional e intergeracional. O futuro está, por assim dizer, aberto a ambas as possibilidades, embora só seja nosso na medida em que a segunda prevalecer sobre a primeira (SANTOS apud NALINI, 2001, p. XXVII).

Para tornar um ambientalista ético, conforme propõe NALINI, há três passos a seguir: o primeiro passo é o estudo por parte de cada indivíduo, o segundo passo a participação e o terceiro passo, vivenciar e disseminar a ética ambiental. “Um primeiro dever ético daquele que se preocupa com o ambiente é o estudo permanente. Estudo que deflui no aprendizado. Aprendizado que faz conhecer” (2001, p. XVIII). E conhecer significa compreender a verdade e assim proceder de forma correta no agir e nas atitudes pessoais.

O desafio do tempo presente, esclarecido por HANS KÜNG “é a necessidade de

uma ética para toda a humanidade”. Para ele, ficou claro que este mundo onde o ser

humano vive, “somente terá uma chance de sobreviver se nele não mais existirem espaços para ética diferentes, contraditórias ou até conflitantes”. E completa ainda:

Este mundo uno necessita de uma ética básica. Certamente a sociedade mundial não necessita de uma religião unitária, nem de uma ideologia única. Necessita, porém, de normas, valores, ideais e objetivos que interliguem todas as pessoas e que todas sejam válidas (KÜNG, 2001, p. 8).

Uma nova ética de conservação e gestão dos recursos naturais ainda disponíveis para uso da humanidade e não para seu esgotamento e deterioração é compromisso dos Estados, sociedade e indivíduos.

Para quem souber olhar adiante, saberá que pouco valerão as conquistas tecnológicas, as descobertas científicas, o aprofundamento das comunicações, se não houver ambiente saudável para o homem viver. E nenhum indivíduo está dispensado de lembrar que os problemas mais graves do planeta são globais, e portanto, as propostas e ações para solucioná-los não podem deixar de ser também globais.

A solidariedade há de ser a regra, daqui por diante, até por legítima defesa: O que acontecer a um país acarretará conseqüências a outro. Os riscos e perigos não respeitam fronteiras. Não haverá continente impune, se as geleiras derreterem, a desertificação aumentar, a água vital desaparecer. A solidariedade das presentes gerações para com as gerações futuras impõe a urgentíssima reconversão do mundo, através de uma pró-ativa e conseqüente ética ambiental. Por sinal que a ética ecológica levaria a um sistema de responsabilidades solidárias entre todos, liberado de uma visão acanhada de antropocentrismo. (NALINI, 2001, p. XXXVIII).

O conceito de sustentabilidade é uma idéia ética, tendo em vista que ações sustentáveis somente serão realizadas concretamente por indivíduos conscientes e responsáveis e que tenham conhecimento do funcionamento do ciclo natural e das conseqüências ao sacrificar parte destes elementos. Sobre isso CAVALCANTI pondera:

Modos de organização econômica predadores dos recursos finitos da natureza revelam-se cada vez mais insustentáveis, porquanto, no âmbito da realidade biofísica, sobre que se apóia a economia, só pode durar indefinidamente aquilo que se comporta de acordo com os princípios de funcionamento da biosfera (2001, p.23).

Baseado no conceito de sustentabilidade para a sobrevivência das pessoas presente e no futuro, “exige-se uma nova ética fundamentada no cuidado pelo futuro e no temor e respeito diante da natureza” (KÜNG, 2001, p.52).

NALINI observa que “o ser humano está conclamado a resolver uma nova equação, recorrendo a uma contabilidade ética. Os ativos se contam na coluna da preservação, da conservação, do uso racional. Entre os passivos, o uso irresponsável, o extermínio, a destruição” (2001, p. 256).

O estudo da ética ambiental completa-se com o estudo da ética ecológica profunda. Um novo paradigma com uma visão sistêmica, mais abrangente dos princípios da natureza. Embora para algumas escolas filosóficas, a ética seja

centrada no homem, o trabalho está fundamentado na visão sistêmica da ética ecológica profunda, mais justa e coerente com os princípios básicos da vida.