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2 POLÍTICAS URBANAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

4 ÉTICA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

5.1 Considerações epistemológicas

A epistemologia ou teoria do conhecimento tem como objeto “o estudo da natureza da verdade, a confiabilidade do saber, o método correto de investigação” (D’ONOFRIO, 2000, p. 14).

A maneira de testar a validade de uma afirmação é submetê-la a exame empírico, que baseia-se, porém, em uma série de pressupostos pouco prováveis. “A aceitação de determinada corrente científica implica a aceitação dos supostos que caracterizam essa corrente. A maioria deles refere-se ao processo de produção de conhecimento, à estrutura e organização de sociedade e ao papel da ciência” (RICHARDSON, 1999, p.18).

A ciência, como forma de adquirir conhecimento, compreensão, crença da falsidade ou veracidade de uma proposição é uma poderosa ferramenta de convicção, assim como a intuição, a experiência mística, a aceitação da autoridade; proporciona a informação mais conveniente e ajudará na decisão de aceitar ou rejeitar se alguma evidência científica é relevante para determinada decisão. Mas, completa RICHARDSON (1999, p.18) “deve-se insistir que a ciência não é “dona” da verdade; toda “verdade” científica tem caráter probabilístico”.

Podemos distinguir três grandes etapas no processo de conhecimento, segundo Pinto (1985 apud RICHARDSON, 1999, p. 20):

a) A fase dos reflexos primordiais; b) A fase do saber;

c) A fase da ciência.

A primeira fase, dos reflexos primordiais, consiste na capacidade de resposta a estímulos representados por forças físicas, como a luz solar e a gravidade. É a fase do conhecimento com ausência de consciência.

Na segunda fase do saber, o conhecimento passa a ser reflexivo. “É uma fase humana, na qual o homem toma consciência de sua racionalidade. É a fase em que o homem sabe que sabe, mas não sabe ainda como chegou a saber, nem por que sabe” (PINTO, 1985 apud RICHARDSON, 1999, p. 21).

Na terceira fase, o conhecimento é caracterizado pela procura do porquê de um fenômeno e pela necessidade de explicar a ocorrência do fenômeno, definido por VIEIRA PINTO apud RICHARDSON (1999, p.21) como saber metódico:

É a etapa da ciência, definida como a investigação metódica, organizada, da realidade, para descobrir a essência dos seres e dos fenômenos e as leis que os regem com o fim de aproveitar as propriedades das coisas e dos processos naturais em benefício do homem.

Com base nas colocações de RICHARDSON (1999, p.22) expomos abaixo, os conceitos de método, metodologia e método científico:

Método, vem do grego méthodos (meta = além de, após de + ódos =

caminho), portanto [...] método é o caminho ou a maneira para chegar a determinado fim ou objetivo.

Metodologia, que deriva do grego méthodos (caminho para chegar a

um objetivo) + logos (conhecimento). Assim metodologia são os procedimentos e regras utilizadas por determinado método.

Método Científico é o caminho da ciência para chegar a um

objetivo.

Metodologia são as regras estabelecidas para o método científico, por exemplo: a necessidade de observar, a necessidade de formular hipóteses, a elaboração de instrumentos etc. Muitas pessoas seguem em suas atividades diárias, inconscientemente, os fundamentos do método científico, como por exemplo, no preparo de um prato, a partir de uma receita. Compreender a aplicação do método científico nas atividades ou problemas, aparentemente, não científicos é fundamental para poder conhecer e transformar a realidade.

Existe uma estrutura subjacente comum nas diversas áreas de conhecimento, segundo PEASE & BULL (1996) apud RICHARDSON (1999, p. 23), que integra cinco elementos: metas, modelos, dados, avaliação e revisão:

Meta: o objetivo do estudo. Ponto de partida de qualquer pesquisa. Modelo: qualquer abstração do que está sendo trabalhado ou

estudado. Desenvolve-se um modelo do processo que será estudado ou do fenômeno que será manipulado.

Dados: as observações realizadas para representar a natureza do

fenômeno. Coleta de informações (ou utilização de dados já coletados).

Avaliação: processo de decisão sobre a validade do modelo.

Comparam-se os dados e o modelo em um processo de avaliação, que consiste simplesmente em estabelecer se os dados e o modelo têm sentido.

Revisão: mudanças necessárias no modelo. Se o modelo não dá

conta dos dados, procede-se a sua revisão – modificação ou substituição.

Nesse modo, o método científico é um processo dinâmico de avaliação e revisão. Qualquer omissão de quaisquer um dos cinco elementos impede a aplicação do método científico.

Todo cientista deve pensar cientificamente quando está pesquisando um fenômeno através do método científico. Seguindo as idéias de VIEIRA PINTO

(1938:38) apud RICHARDSON (1999, p. 25) pensar cientificamente, significa pensar criticamente, que “significa compreender a exigência de que o conhecimento deve ser submetido por parte do pesquisador a uma reflexão para descobrir conexões necessárias entre as idéias e revelar as condições que definirão a verdade dos enunciados emitidos”. E ele também faz a seguinte observação: “O pensamento deve proceder segundo determinações regulares que assegurarão a certeza dos resultados obtidos no empenho de conhecer a realidade... Saber que sabe, porque sabe e como sabe”.

Nas ciências sociais a aplicação de regras e instrumentos devem estar adequados para a medição de fenômenos sociais. Fenômenos qualitativos não podem ser analisados com instrumentos quantitativos. Valores, crenças, atitudes, opiniões etc. são processos mentais não aparentes e para coletar informações, devem-se utilizar instrumentos qualitativos (entrevista semi ou não estruturada). Existe uma identidade entre sujeito e objeto nas ciências sociais. MINAYO (2002, p.14) esclarece que na investigação social, “a relação entre o pesquisador e seu campo de estudo se estabelecem definitivamente. A visão de mundo de ambos está implicada em todo o processo de conhecimento, desde a concepção do objeto, aos resultados do trabalho e à sua aplicação”. E afirma: “o objeto das ciências sociais é essencialmente qualitativo”.

Características que BODGAN apud TRIVIÑOS (1987, p.128) indica para a pesquisa qualitativa:

1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave.

2. A pesquisa qualitativa é descritiva.

3. Os pesquisadores qualitativos estão preocupados com o processo e não simplesmente com os resultados e o produto.

4. Os pesquisadores qualitativos tendem a analisar seus dados indutivamente.

5. O significado é a preocupação essencial na abordagem qualitativa.

A pesquisa quantitativa visa garantir a precisão dos resultados para evitar distorções nas análises. Muito utilizado nos estudos descritivos “naqueles que procuram descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como nos que investigam a relação de causalidade entre fenômenos” (RICHARDSON, 1999, p. 70).