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2 POLÍTICAS URBANAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3 CIDADES E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3.2 Cidade e Urbanismo

A cidade é um elemento artificial no contexto natural. O homem passa a artificializar as condições naturais do território onde se insere lutando contra as adversidades do meio ambiente e aproveitando os benefícios oferecidos pela natureza. O clima e as condições topográficas onde a cidade é implantada determinam a forma, mas muitas vezes, esses condicionantes físicos não são levados em consideração como é o caso de cidades com desenho ortogonal em terreno com desníveis acentuados e fundos de vale.

A maioria das cidades surgiram em caminhos ou cruzamentos de caminhos, mas geralmente, existiu uma precaução estratégica na localização das cidades, seja por motivos defensivos ou acessibilidade da navegação junto à foz de um rio ou ao mar. As cidades que nasceram junto ao mar, foram favorecidas pelas rotas marítimas, através do comércio da época, como o da Seda. Além disso, há outros tipos de cidades, com vocações diferenciadas, em relação às atividades dos seus habitantes. Podem ser classificadas em industriais, comerciais, dormitórios, universitárias, militares, políticas, entre outras.

Uma cidade é considerada espontânea se nasce naturalmente, em função de defesa ou relações comerciais, como é o caso de Londres, Recife, Porto Alegre. E é

considerada artificial, se nasce de acordo com planos, como, Washington, Canberra, Belo Horizonte, Goiânia, Brasília. Em urbanismo, as cidades são classificadas como radiocêntricas ou de planta ortogonal, seja por ocupação espontânea ou resultado de uma planificação.

Certas cidades foram criadas especificamente para atender uma atividade em particular, como é o caso de Brasília, edificada com a única finalidade de ser a capital política do Brasil, e, onde não houve planejamento para atender a população que presta serviços para os políticos e dirigentes que habitam a cidade, gerando enormes contrastes de áreas habitadas por quem possui condições econômicas (super quadras) e por quem não possui (como os aglomerados de favelas onde vivem os mais carentes, mas que também trabalham na cidade planejada).

A cidades variam também quando ao seu crescimento, quanto à forma e quanto ao tamanho. Em relação ao crescimento a cidade pode permanecer estacionária por um período de tempo ou crescer de tal forma que se estenda a outras cidades vizinhas, nesse caso, formando uma metrópole. Há casos de decadência, por motivos políticos, econômicos, guerras ou cataclismo da natureza, mas nos dois últimos casos, normalmente, ocorre reurbanização, com renovação do aglomerado urbano.

SANTOS (1988, p. 44) analisa que o capitalismo, no que refere-se ao desenvolvimento econômico, gerou enormes problemas para as cidades. “Empurrou para elas multidões demandando habitação, infra-estrutura e serviços, além, naturalmente, de empregos. Os grandes responsáveis, o governo e as unidades hegemônicas do capital monopolista, nem ligaram para o assunto”. Coube aos poderes locais a tarefa de solucionar os problemas das cidades. No entanto, as Prefeituras não possuíam capacidade financeira, pois foram exauridas por reformas políticas e tributárias de caráter monopolista ou centralizador.

Seja por iniciativa pública ou privada, a configuração global do espaço sempre resulta da ação do governo. O exemplo mais difundido de produção de áreas urbanas – o loteamento – decorre da omissão e da permissividade intencionais. É fruto de uma escolha, de uma não alocação. Atitude lógica por parte de autoridades que preferiram atuar em setores básicos, favorecedores da acumulação de certo tipo de capital, em vez de cuidar do bem-estar dos cidadões. Decisão só aceitável, sem grandes controvérsias e conflitos, na moldura de um autoritarismo bastante despótico. Já o outro grande padrão urbano brasileiro – o conjunto habitacional – evoca intenções

disciplinadoras e populistas. Nenhuma novidade, portanto (SANTOS, 1988, p. 45).

No Brasil, a tendência para gerar espaços urbanos e arquitetônicos tem por base a representação artificial separada negligenciando as relações reais de uso e troca vivenciadas pela população e acabam propondo intervenções em situações que não podem resolver. “O que os arquitetos, urbanistas e experts em cidades teimam em separar é juntado pela cultura do dia-a-dia, pelo senso comum da população” (SANTOS, 1988, p. 45).

SANTOS esclarece que os Arquitetos e Urbanistas ao levar à prática teorias devem romper com seus paradigmas se o objetivo é atuar de forma refletida e consciente sobre as cidades. E conclui:

As respostas simples são, na verdade, complicadíssimas. Só podem ser sustentadas dentro de um propósito muito mais amplo de politização e democratização do conhecimento e de suas aplicações objetivas. Sem isso, aliás, nem vale a pena a abordagem da temática urbana. Reflexões sobre espaço que não sejam capazes de atingi-lo e transformá-lo são puro diletantismo. Centros urbanos são, em si mesmos, fontes abertas e inesgotáveis de idéias que saltam de seu simbolismo escancarado e são todos os dias decodificadas, absorvidas e re-elaboradas, nas ruas, nas praças, nos meios de transporte, nos locais de trabalho, em todo canto (1988, p. 46).

Embora seja o urbanismo, a ciência responsável pelo desenho, organização e ordenamento das cidades, várias outras disciplinas participam do processo de organização das cidades, nas suas várias áreas multidisciplinares, entre elas a geografia, a antropologia, a sociologia, etc.

As cidades evoluíram e aumentaram-se os problemas urbanos. A população aumenta consideravelmente a cada ano, as metrópoles reúnem o maior número de habitantes por quilômetro quadrado, os recursos naturais estão exaurindo, as águas doces para manutenção da vida estão escasseando e as ainda disponíveis estão sendo levadas à exaustão pelos altos índices de poluição, que se encaminham para os oceanos, eliminam vidas, desequilibram o sistema natural.

Cada país, nas suas diversas regiões, apresenta peculiaridades nos seus aglomerados urbanos. A próxima seção abordará a temática da rede urbana brasileira.