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6 REFLEXÕES E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES FORNECIDAS POR ATORES DO PROCESSO

6.2 Questões sobre os problemas ambientais e as necessidades do homem

Sendo o homem um ser social, possui necessidades individuais básicas: alimento, moradia, vestuário e necessidades de se relacionar com seus semelhantes, formando uma sociedade e buscando sempre uma melhor qualidade de vida, muitas vezes, em detrimento da sobrevivência de outras formas de vida da natureza e até mesmo da espécie humana.

Para satisfazer as necessidades materiais do ser humano (satisfatores materiais), como o alimento, vestuário, moradia, são necessárias matérias-primas (insumos materiais) que provêem dos recursos naturais, com padrões de produção e consumo distintos que geram impactos diferenciados na natureza. GALTUNG apud RIBEIRO (2000, p. 84), propõe no quadro abaixo as necessidades materiais, não materiais e os satisfatores destas necessidades.

Quadro 3: Lista simples das necessidades básicas materiais e não-materiais

Fonte: GALTUNG apud RIBEIRO (2000, p. 84).

Necessidades materiais Satisfatores materiais Necessidades não-materiais Necessidades

Fisiológicas Alimento, água, etc. Criatividade

Necessidades

Ambientais individuais Roupa Identidade

Necessidade de

Proteção ambiental (familiar/grupal) Abrigo Autonomia

Saúde, significando Bem-estar somático

Cuidado médico

preventivo e curativo Convivência

Educação,

Auto-expressão, diálogo Escola Participação

Liberdade de

Impressões e de expressão Auto-satisfação

Liberdade para

O homem na constante busca de atender suas necessidades físicas, psíquicas, está sempre em busca da felicidade, muitas vezes, confundida com progresso econômico, status, dinheiro, fama, etc. e que normalmente, estão associadas ao consumo excessivo para saciar essa busca.

Poucas semanas após a realização das entrevistas para uma reflexão sobre os temas que envolvem aglomerados urbanos e as questões ambientais, gestão e políticas urbanas para esta pesquisa, a Revista Veja publicou uma edição com uma Reportagem Especial com 100 questões para entender o mundo, que foram respondidas por personalidades de renome internacional.

O economista e cientista social mineiro Eduardo Giannetti responde à entrevista nas questões sobre a “servidão econômica” no mundo contemporâneo e a busca da felicidade pelas pessoas. Abaixo, 2 das 6 perguntas e respostas que integram o assunto – a busca da felicidade:

Por que o progresso econômico não é sinônimo de felicidade?

Nos últimos anos, uma série de pesquisas empíricas tem demonstrado que essa crença no vínculo intrínseco entre progresso econômico e felicidade pode estar equivocada. Não se encontrou evidência, por exemplo, de que, a partir de um nível relativamente baixo de renda per capita, acréscimos a essa renda trariam maior bem-estar à população. Estima-se que esse “nível relativamente baixo” esteja próximo dos 10.000 dólares per capita levando em conta a paridade do poder de compra da moeda. Essa é a renda de países como Portugal, Irlanda e Coréia do Sul.

A busca permanente de riqueza material, então não faz sentido?

Se estiver certo esse tipo de pesquisa a que me referi, a resposta é não. Isso porque, a partir de certo ponto, não faz sentido sacrificar outros bens, como a preservação da natureza, o cultivo das relações pessoais e a espiritualidade, em nome dos bens econômicos. Mas a lógica não tem se mostrado um motor motivacional forte o bastante nesse ponto. Apesar de as pessoas não se sentirem mais felizes com a abundância, parece que estamos programados para viver numa corrida eterna em busca de status sempre maior. (VEJA, 2004, p. 100 e 101).

Não basta mudar as políticas sem que as pessoas internalizem a si mesmo e analisem os fatos que os movem a agir de maneira a prejudicar o meio ambiente, mesmo que por motivos culturais, por informação deturpada da realidade (publicidade prejudicial ao meio ambiente), por falta de conhecimento. A racionalidade do homem (inteligência humana) impõe a ele responsabilidades no que pensa, na forma de agir, na forma de analisar.

A busca da felicidade pelo homem, seja por atender suas necessidades, seus anseios, suas vontades, intenções, intentos, pretenções, suas ambições, seus interesses, suas aspirações, suas ganâncias, cobiças, leva-o a agir, na maioria dos casos, de modo a atender unicamente suas individualidades ou de seus entes “queridos” sem analisar as conseqüências dos seus atos, de seu modo de vida, em relação às demais pessoas, formas de vida, ou seja, sem analisar se sua maneira de agir é algo bom ou ruim, levando em consideração a análise da ética ecológica profunda.

A falta de uma ética ecológica profunda pela maioria das pessoas que somam o contingente da população mundial contemporânea leva cidades, países, em suma, leva o planeta a uma crise sem precedentes na história da humanidade.

E para as questões sobre o Planeta em crise, a Revista Veja entrevistou o cientista americano da Universidade de Yale, James Gustave Speth, que responde 8 perguntas, 6 delas transcritas abaixo:

Provocar medo nas pessoas e não trazer fatos ou pesquisas novos têm sido a estratégia dos ambientalistas. Ela está funcionando? Está. Na verdade não precisamos de fatos novos.

Danos irreversíveis já foram feitos ao planeta, eles são conhecidos. A hora, agora, é de ação.

O que pode ser mudado imediatamente para melhorar nossas chances de ter um futuro ambiental melhor? O tópico número 1

de minha lista é adotar amplamente sistemas de transporte eficientes. O segundo é investir pesadamente em energia renovável.

Os Estados Unidos não assinaram o Protocolo de Kioto, o principal tratado internacional sobre proteção ambiental, quais as conseqüências disso? Essa atitude será vista como um dos

piores erros de política pública de nossa era. Ao abandonarem o acordo de Kioto, os Estados Unidos abandonaram o mundo.

Onde a consciência ecológica está mais desenvolvida? Os

europeus estão à frente nas áreas de clima, por obedecer ao Protocolo de Kioto. Eles estão à frente nas áreas de reciclagem, de impostos relacionados ao meio ambiente, de testes de produtos químicos tóxicos e de energia renovável.

O crescimento populacional é uma ameaça ao meio ambiente?

Sim, pois pressiona pela ampliação das áreas dedicadas à agricultura e à pecuária num mundo onde já vemos o plantio abocanhar boa parte das florestas que ainda restam.

As políticas de contenção do crescimento demográfico funcionam? Sim. As mulheres têm mais controle sobre seu corpo e

os governos estão ajudando com programas de educação e serviços de planejamento familiar. (VEJA, 2004, p. 106).

A entrevista da Revista Veja abordou os principais pontos da crise ambiental mundial. Os danos na biosfera são conhecidos e abordados por todos os meios de comunicação existentes, todavia, devem ser contidos com mudanças na forma de produção e consumo, recuo no crescimento da população que pressiona as áreas naturais remanescentes, acordos internacionais, visto que os problemas globais não possuem fronteiras e, principalmente, a educação ambiental ou alfabetização ecológica da população para mudanças no modo de viver e valorização do habitat natural e todas as suas formas de vida e do processo cíclico dos elementos naturais. Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute, esclarece no artigo “Desafios do novo século” da publicação “O Estado do Mundo 2000” que para retomar o controle do nosso destino há dois pontos principais a serem trabalhados:

Os desafios dominantes diante da nossa civilização global, no limiar de um novo século, são estabilizar o clima e estabilizar as populações. O sucesso em ambas as frentes tornariam os outros desafios, como reverter o desmatamento da Terra, estabilizar os lençóis freáticos e proteger a diversidade vegetal e animal, muito mais administráveis. Se não conseguirmos estabilizar o clima e a população, não haverá na Terra um ecossistema que possamos salvar. Tudo mudará. Se os países em desenvolvimento não estabilizarem suas populações, logo, muitos deles provavelmente sofrerão colapso completo de seus ecossistemas (BROWN; FLAVIN; FRENCH, 2000, p. 17).