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2 POLÍTICAS URBANAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.14 Práticas e tecnologias sustentáveis

Existem iniciativas para formação de cidades sustentáveis, mas não se tem conhecimento da existência de cidades sustentáveis. Atualmente, a maioria obtém resultados em determinados setores ou locais da cidade ou do seu território.

Segundo ACSELRAD, modelos de cidades sustentáveis “têm sido permeados por representações associadas à técnica mais que à política. Foram concebidos como tal com base na agregação de argumentos de eficácia eco-energética e de qualidade de vida ao planejamento urbano” (2001, p.160).

A qualidade de vida dos núcleos urbanos está determinada pelo capital natural (recursos da natureza) e pela capacidade da natureza em se renovar continuamente. O sistema capitalista atual promove a exaustão dos recursos e demonstra ser ineficiente no aproveitamento efetivo ao transformar os recursos naturais em produtos e bens, além de não computar nos custos de produção o valor dos recursos naturais, que são incentivados pela maioria dos governos do mundo, através de subsídios.

HAWKEN; LOVINS; LOVINS, lembram que embora hajam políticas de subsídios para as indústrias e atividades que extraem matéria-prima e danificam a biosfera, “a economia da produtividade dos recursos já vem estimulando a indústria a reinventar- se a fim de melhor ajustar-se aos sistemas biológicos [...] novas soluções que utilizem o mínimo de insumos, temperaturas mais baixas e reações enzimáticas” (2002, p. 14). O livro “Capitalismo Natural: criando a próxima revolução industrial” é um apanhado de notáveis tecnologias que estão sendo utilizadas e podem ser aplicadas pelos indivíduos, empresas e indústrias.

Há inúmeras ações simples para gerar um modelo de sustentabilidade local, como a questão do lixo reciclável coletado separadamente do lixo orgânico. No

entanto, muitas dessas iniciativas acabam sendo em vão por não existir um adequado gerenciamento dos diferentes tipos de lixo e do destino final do lixo, ou seja, um processo de gerenciamento sistêmico. Exceto, em casos de cooperativas de papeleiros que reúnem boa parte do lixo seco para a reciclagem e com isso sustentam suas famílias, promovendo inserção social, através de adequadas condições para o trabalho, diferente daqueles que trabalham em lixões a céu aberto, colocando em risco a saúde desses trabalhadores e que não vivem um sistema sustentável.

Uma das iniciativas de sustentabilidade existentes é conhecida pelos agrupamentos ecológicos de indústrias estabelecidas em diversas partes do mundo por uma organização chamada ZERI – Zero Emissions Research and Initiatives (Pesquisas e Iniciativas de Emissão Zero), fundada pelo empresário Gunter Pauli no início da década de 1990. A organização “ajuda as indústrias a ser organizar em agrupamentos ecológicos, de modo que os resíduos ou subprodutos de uma possam ser vendidos como recursos para outra, para o benefício de ambas” (CAPRA, 2003, p. 243). Dessa forma, ocorre zero emissão de resíduos e desperdícios.

Uma das mais impressionantes realizações da ZERI em grande escala é o programa de reflorestamento do centro de pesquisa ambiental de Las Gaviotas, no leste da Colômbia, fundado e dirigido pelo projetista ecológico Paolo Lugari. Em meio à crise social profunda em que vive a Colômbia, Las Gaviotas criou um ambiente marcado pela inovação e pela esperança (CAPRA, 2003, p. 245).

Em Las Gaviotas foi realizado o mais extenso programa de reflorestamento da Colômbia. Localizado no cerrado do leste “os Llanos”, a alta acidez do solo e o clima com temperaturas elevadas, limitam as espécies de árvores que são capazes de sobreviver nas estações do verão quentes e secas, dificultando o plantio de árvores. No entanto, os cientistas de Las Gaviotas concluíram, após uma análise profunda, que uma espécie de pinheiro do caribe poderia adaptar-se as condições extremas do local. Essa análise foi comprovada dois anos depois do primeiro plantio e, desde então, foram reflorestados milhares de hectares com auxílio de máquinas projetadas e desenvolvidas especialmente para essa tarefa. CAPRA, esclarece como a floresta de pinheiros ajudou a criar empregos para a população indígena local, gerando novas fontes de renda e contribuindo para a melhoria da saúde pública na região.

Outras experiências são abordadas por John Todd, autor do artigo “Uma categoria Econômica baseada na Ecologia” que integra o Livro “Gaia: Uma Teoria do Conhecimento”, organizado por THOMPSON, que com base em suas experiências pessoais, passou a acreditar que se pode constituir uma nova e sustentável ordem econômica a partir de empresas fundamentadas na ecologia:

A ecologia como base para o planejamento é a estrutura desta nova ordem econômica. Deve ser combinada com a idéia de que a terra é vista como um ser sensível, uma visão GAIA do mundo, e nossas obrigações como seres humanos não são apenas para conosco, mas para com a vida como um todo. O respeito para com a Terra faz com que ela se torne a estrutura maior na qual estão inseridos planejamento e tecnologias ecológicas. Um dia os sistemas sociais e políticos conseguirão espelhar as grandes obras da natureza e as atuais divisões de esquerda, direita, sistemas centralizadores, sistemas expansionistas, conservadores, sistemas biorregionais, estado-nação serão transformados numa organização e numa categoria GAIA sistêmicas e de âmbito mundial. (THOMPSON, 2000, p. 124).

John Todd pondera que as mudanças devem iniciar com medidas em menor escala, mas tangíveis e concretas, e, começou a trabalhar com conceitos ecológicos que poderiam atender às necessidades da humanidade e preservar o planeta Terra, no New Alchemy Institute (Instituto de Alquimia Moderna), juntamente com seus associados, que conceberam a seguinte questão: “A natureza pode ser a base para o planejamento? Há modelos ecológicos que provem isso” (THOMPSON, 2000, p. 124).

Eles iniciaram as pesquisas com os alimentos e concordaram que “o modelo agrícola mecanicista contemporâneo fracassaria, a longo prazo, na tarefa de alimentar o planeta” (THOMPSON, 2000, p. 124). Foram procurar outros modelos para servir de orientação. Primeiramente tentaram encontrar lugares onde a natureza é extremamente abundante. Listaram detalhadamente os atributos inerentes a esses lugares. “Os padrões foram surgindo, gradativamente, e este esforço provou ser bastante produtivo” (THOMPSON, 2000, p 125). Além disso, procuraram, também, por lugares onde o homem tem mantido cuidados especiais com relação à natureza, verificando que essa situação tem ocorrido há milênios. John Todd observou que isso foi muito significativo, tendo em vista que geralmente, o homem destrói seu capital natural. “Queríamos aprender o que as culturas estáveis sabem a respeito do cuidado com suas terras” (THOMPSON, 2000, p. 125).

Uma fazenda perto de Banding, na região central de Java, forneceu muitas pistas, pois se constituía um completo microcosmo agrícola, onde havia um equilíbrio natural que não conhecido nas fazendas ocidentais, onde a própria natureza fazia a reciclagem dos resíduos.

Através destas pesquisas começaram a projetar ecossistemas para a agricultura na New Alchemy, procurando manter inalteradas as relações biológicas formadas pela fazenda de Java. John Todd enfatiza que as lições a serem aprendidas “vêm de todas as partes do mundo, até mesmo de lugares ameaçados” (THOMPSON, 2000, p. 126). Além disso, ele alerta que precisamos compreender a importância do solo e de como estamos todos ligados a ele, porque no mundo todo os solos estão morrendo, principalmente, pela devastação das florestas, queimadas, uso excessivo do solo para pastagens, erosão, entre outros:

Uma das tecnologias que foram desenvolvidas é o módulo de fazenda aquática, em 1974. Os módulos além de ser produtivos, na criação de peixes, no cultivo de alface, tomates e pepino na superfície, apresentam uma vantagem adicional: conservam a água, pois “os índices de água de reserva baseiam-se na “evapotranspiração” da planta e na quantidade de água do módulo liberada para irrigar e fertilizar a área adjacente” (THOMPSON, 2000, p. 130), praticamente, eliminando a evaporação da superfície.

Os módulos de fazenda aquática, como um tipo de agroecologia, embora necessitem de um capital inicial para construir e a iniciar a implantação, substituem em muitos casos, equipamentos de lavoura pesada, além da colheita, utilização de fertilizantes e a irrigação que tem sido um dos grandes males da exaustão das águas doces. Esses módulos, além de conservar o espaço e serem mais baratos, podem ser utilizados em áreas urbanas, estufas, regiões de clima setentrional, auxiliando na recuperação de meio ambientes degradados.

John Todd, relata que desenvolveram tecnologia ecológica similar para meio ambientes áridos, um sistema de bioabrigo para auxiliar na diversificação ecológica destas regiões, como a costa atlântida do Marrocos, regiões com escassez de água potável, onde poderia ser bombeada a água do mar e iniciar a instalação de agrossistema semi-árido nos locais onde se pretende implantar o processo de diversificação ecológica.

As biotecnologias propostas - os módulos de fazenda aquática e os bioabrigos - são opções, aliadas a outras que estão sendo pesquisadas e implantadas no mundo

todo. John Todd adverte que, “o mundo natural está ameaçado pela nossa incapacidade de integrar nossa agricultura e indústria dentro dos grandes ciclos planetários” (THOMPSON, 2000, p. 132). Por isso, tecnologias avançadas são instrumentos necessários para reverter a devastação de regiões do planeta, restaurando a sua biodiversidade e criando meio ambientes sustentáveis: ambientalmente, economicamente e socialmente. Dessa forma, integra o elemento humano, embora não o único, o maior responsável pelo atual desequilíbrio da natureza, podendo num futuro próximo, que todas as sociedades agrupadas nas diversas regiões do mundo, estejam adequadas ao seu ambiente, e com novos processos de produção de alimentos e bens imitando os princípios da natureza. Esses são alguns exemplos de tecnologias que unem a proteção e recuperação do meio ambiente natural com sistemas de produção para fomentar a economia e sustentar aglomerados humanos com qualidade de vida para todos os sistemas vivos da biosfera, que devem ser incentivados através das políticas para o desenvolvimento sustentável das comunidades e seus territórios.