• Nenhum resultado encontrado

2 POLÍTICAS URBANAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

4 ÉTICA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

4.1 Fundamentos da Ética

A ética tem suas raízes na moral, como sistema de regulamentação das relações entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade. A moral é abordada como uma “forma específica de comportamento humano, cujos agentes são os indivíduos concretos, que só agem moralmente quando em sociedade, dado que a moral existe necessariamente para cumprir uma função social”. (VÁZQUEZ, 2002, p.9)

O comportamento humano prático-moral remonta até as próprias origens do homem como ser social, variando conforme a época ou a sociedade onde vivia. Posteriormente, muitos milênios depois, sucede a reflexão sobre este comportamento prático-moral, que já se encontrava nas formas mais primitivas de comunidade.

Os problemas éticos são caracterizados pela sua generalidade distinguindo-os dos problemas prático-morais da vida cotidiana. Na vida real, é inútil recorrer à ética esperando encontrar uma norma na forma de agir, para cada situação concreta que possa surgir. Decidir e agir numa dada situação é um problema prático-moral; mas investigar o modo pelo qual a responsabilidade moral se relaciona com o livre- arbítrio ao qual nossos atos estão sujeitos é um problema teórico, cujo estudo é da competência da ética. VÁZQUEZ (2002, p.19) esclarece:

Os problemas teóricos e os problemas práticos, no terreno moral, se diferenciam, portanto, mas não estão separados por uma barreira intransponível. As soluções que se dão aos primeiros não deixam de influir na colocação e na solução dos segundos, isto é, na própria prática moral; por sua vez, os problemas propostos pela moral prática, vivida, assim como as suas soluções, constituem a matéria de reflexão, o fato ao qual a teoria ética deve retornar constantemente para que não seja uma especulação estéril, mas sim a teoria de um modo efetivo, real, de comportamento do homem.

A ética como ciência teórica é a doutrina que deve ser revista constantemente, visto que o ser humano muda seus valores, comportamentos e atitudes com base em novos paradigmas, conforme for melhorando sua percepção do entendimento da vida. Existe uma clara distinção entre ciência e ética. A ciência trata de fatos científicos comprovados empiricamente, enquanto a ética trata de valores exteriorizados da moral e refere-se a fatores comportamentais, desejos, estilos, atitudes e preferências. “Portanto, os juízos morais refletem as atitudes de cada indivíduo, apresentando uma visão crítica, tanto mais desenvolvida, quanto o conhecimento adquirido” (LIMA, 1999, p. 13).

Para entender o objetivo da ética e as diferenças como ciência prática e teórica, descreve-se abaixo, as colocações de NOWELL-SMITH (1966, p. 3 e 4):

Pode-se fazer uma distinção geral entre as ciências, repartindo-as em teóricas e práticas. Visam aquelas capacitar-nos entender a natureza das coisas, sejam essas coisas as estrelas, as substâncias químicas, os terremotos, as revoluções, ou o comportamento humano. As ciências teóricas consistem de respostas a perguntas

como “Que é um ácido?”, “Quais são as leis do movimento planetário?”, “De que modo se orientam as abelhas?”, “Quais são as leis de matrimônio a que obedecem os Arapesh?”. Tais respostas tomam a forma de enunciados, descrições, generalizações, explicações e leis. O discurso correspondente será chamado ‘teórico’, ‘enunciador-de-fatos’ ou ‘descritivo’; não se deve supor, entretanto, que cada sentença de um discurso desse tipo seja uma teoria, enuncie um fato, ou descreva algo. As leis de Newton pertencem ao discurso descritivo; no entanto, não descrevem coisa alguma. O discurso prático, de outro lado, consiste de resposta a perguntas práticas, de que as mais importantes são “Que farei?” ou “Que devo fazer?” Se proponho tais perguntas a mim mesmo, as respostas são decisões, resoluções, expressões de minhas intenções ou princípios morais. Se proponho as questões a outrem, a resposta será uma ordem, imposição, conselho, uma sentença que toma a forma ‘Faça isto’. As principais atividades correlacionadas com a linguagem moral são a escolha e o conselho que orienta a escolha dos demais.

A filosofia moral, segundo a tradição, sempre foi encarada como ciência prática, ‘ciência’, por tratar-se de investigação sistemática, interessada na obtenção de conhecimento, e ‘prática’ porque o conhecimento visado era prático, um saber que fazer e não um saber acerca do que sucede.

4.1.1 Conceitos da Ética

Etimologicamente o vocábulo ética deriva do grego éthos que significa costume designando a doutrina do agir correto, ou seja, do agir bem e o vocábulo moral deriva do latim, mos, mores que significa costumes, hábito. A ética e a moral, originalmente tem o mesmo significado, entretanto, há uma distinção entre ambas. “Moral designa o que se faz, portanto as convenções, o habitual, a moral de todos os dias, a moral da mediania, enquanto ética indica a reflexão, se o que é habitual realmente é bom e certo” (ENDERLE, 1997, p.273).

VÁZQUEZ define a ética como a “teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano” (2002, p.23). Em suma, a ética é a ciência da moral. Ele esclarece ainda que a moral não é considerada ciência, mas objeto de estudo da ciência; sendo neste sentido, por ela estudada e investigada. “A ética não é a moral e, portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições; sua missão é explicar a moral efetiva e, neste sentido, pode influir na própria moral” (2002, p.24). O objeto de estudo da Ética é constituído pelos tipos de atos humanos: os atos conscientes e os atos voluntários dos indivíduos que afetam outros indivíduos, determinados grupos sociais ou ainda a sociedade como um todo.

Outras definições da Ética:

HOUAISS (2001, p.1271) define ética como sendo:

Parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.

FERREIRA (1999, p.848) descreve a ética como:

Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, relativamente à determinada sociedade, seja do modo absoluto.

LIMA (1999, 13), além de esclarecer que “A ética é a exteriorização dos juízos morais (ciência da conduta)”, descreve que:

A Ética é a filosofia que estuda a conduta do homem e os critérios pelos quais valoram-se os comportamentos e a escolha, ou seja, doutrina de diálogo social nos quais se redefine, em um contínuo processo de verificação e ajustamento, aos valores e regras as quais se subordinam os indivíduos e os grupos (1999, p. 119).

HEEMANN (1998, p.24 e 25), observa que os indivíduos decidem na sua vida diária quais normas aceitam para agir de tal forma que sua ação possa ser considerada moralmente boa. E complementa:

O investigador moral, por outro lado, é o que se incumbe da definição do que é o bem, a ação moral, não particular, mas geral, se possível. Como em um mecanismo de influências recíprocas, a moral vivida iria se constituir na matéria de reflexão da ética. As soluções teóricas encontradas influiriam nas soluções práticas. Assim, a ética “não seria uma especulação estéril”, mas uma teoria efetiva do comportamento humano.