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A época de Croce e a tragédia da consciência burguesa

A época de Croce, de Max Weber e de Thomas Mann é a época do Risorgimento italiano e seus desdobramentos na Revolução Passiva; é a época da unificação alemã e a via prussiana para o capitalismo. A partir de 1860/1870 tanto Itália quanto Alemanha iniciaram significativos processos de modernização e industrialização. Na Alemanha isso significou transitar de situação de fragmentação política e administrativa, de ausência efetiva de mercado interno unificado, de ausência de marco legal compatível com a ordem econômica capitalista, que era ainda a realidade alemã em 1870, para um rapidíssimo processo de modernização-industrialização que, em trinta anos, colocou a Alemanha no primeiro lugar entre as potências industriais europeias.

Esse processo, conduzido pelo Estado com mão forte e autoritária, militarista e burocrática, foi chamado por Lenin (1870-1924) de via prussiana para o capitalismo, e deixou marcas profundas na sociedade alemã que, desde então, tem sofrido as consequências do despotismo burocrático que construiu a Alemanha moderna com permanentes déficits democráticos. Com efeito, o que a situação alemã explicita é um problema geral que diz respeito a certas trajetórias de desenvolvimento histórico-social de sociedades, que não mimetizaram as formas hegemônicas do desenvolvimento capitalista. Marx, em 1844, diante dessa questão para a Alemanha, disse que naquelas circunstâncias, isto é, no quadro da reiterada imposição da restauração, do “domínio da propriedade privada sobre a nacionalidade”, a possibilidade de efetiva emancipação dar-se-ia quando toda a servidão fosse abolida, pela “dissolução da ordem social existente” pela ação do proletariado[195]. Sabe-se que não foi esse o caminho do desenvolvimento alemão, e que ele se deu pela via prussiana com o império guilhermino sob a tutela de Bismarck (1815-1898).

Na Itália, no âmbito das mesmas circunstâncias, isto é, pela rarefação e precariedade de instituições especificamente capitalistas, o processo de desenvolvimento capitalista deu-se como

revolução passiva, caracterizada por Antonio Gramsci (1891-1937), como combinação de “revolução e restauração”, como “revolução pelo alto”, em que as classes populares são afastadas do protagonismo histórico pela mobilização de uma variada gama de iniciativas das classes dominantes que, se promovem mudanças modernizantes localizadas, conservam, no essencial, a hegemonia das velhas classes dominantes. Gramsci vai comparar as diferenças entre os processos históricos europeus de desenvolvimento capitalista assim:

Na França ocorre o processo mais rico de desdobramentos e de elementos ativos e positivos. Na Alemanha o processo se desenvolve, em alguns aspectos, sob as formas que se assemelham às italianas, em outros às inglesas. Na Alemanha o movimento de 1848 fracassa em razão da escassa concentração burguesa (a palavra de ordem de tipo jacobino foi dada pela extrema-esquerda democrática: “revolução permanente”) e porque a questão do renovamento estatal se entrelaça com a questão nacional. [...] a burguesia obtém o poder econômico industrial, mas as velhas classes feudais permanecem como estrato governamental do Estado político, com amplos privilégios corporativos no Exército, na administração e sobre a terra [...][196].

Na Itália o processo do Risorgimento, que também teve início com as revoluções de 1848 e 1849, acelerou-se com as campanhas garibaldinas a partir de 1860, culminando com a unificação italiana em 1870. Disse Gramsci:

pode-se dizer que toda a vida italiana, a partir de 1848, é caracterizada pelo transformismo, ou seja, pela elaboração de uma classe dirigente cada vez mais ampla. [...] o Risorgimento nas formas e nos limites em que ele se realizou, sem “terror”, como “revolução sem revolução”, ou seja, como “revolução passiva”, para empregar uma expressão de Cuoco num sentido um pouco diverso de Cuoco[197].

Trata-se, então, de ver tanto o caso alemão quanto o italiano como processos de desenvolvimento capitalista, que, interditando a efetiva participação das classes populares, acabaram por abrir caminho, por chancelar formas de exercício do poder discricionárias de que são exemplos mais extremados o fascismo e o nazismo. Para Marx era patente que o atraso alemão, a “miséria” alemã, como ele dizia, isto é, a incapacidade da Alemanha de revolucionar suas relações sociais, políticas e econômicas no mesmo sentido e na mesma amplitude que havia revolucionado sua filosofia, tinha como grande consequência transferir para o proletariado a tarefa de, emancipando-se, emancipar toda a sociedade alemã, sob pena de, na ausência da revolução do proletariado, impor-se um quadro de contrarrevolução permanente, que é o outro nome do fascismo.

É esse o pano de fundo da emergência, entre 1860 e 1914, de uma espécie de crise aguda da consciência burguesa, mais lúcida e avançada que, não podendo aderir ao socialismo, à revolução proletária, oscilou da crítica aguda, erudita e resignada de Max Weber, como a viu Gabriel Cohn[198], à crítica como magistério, que é como se pode ver a obra de Benedetto Croce.

Um capítulo particularmente expressivo e revelador dessa problemática remete a um drama familiar, o conflito que por algum tempo separou os irmãos e escritores alemães Heinrich Mann (1871-1950) e Thomas Mann. O conflito entre os dois irmãos, grandes nomes da literatura alemã, tem motivações complexas. Nigel Hamilton escreveu a biografia dos dois e disse: “À sombra do novo império, nasceram o mais severo crítico da Alemanha e aquele que, por algum tempo, foi seu mais ferrenho defensor”[199]. Certamente, houve mais que política e ideologia entre as causas da ruptura dos dois irmãos. Mas a política foi, de um lado, a adesão entusiástica de Thomas à causa imperial na guerra de 1914, e, de outro, a igualmente exaltada recusa de Heinrich à guerra, o que separou, traumaticamente, os irmãos por um longo período. Heinrich não esteve só em sua repulsa à guerra, como se vê nas firmes atitudes de Romain Rolland (1866-1944), de Herman Hesse (1877-1962), de

Bertrand Russell (1872-1970). Contudo, no geral, prevaleceu a adesão de parte considerável da intelectualidade e das lideranças políticas europeias aos interesses de suas burguesias imperialistas, o que determinou, por exemplo, o fim da chamada II Internacional, a explicitação da falência política, ideológica e moral da socialdemocracia. No imediato do conflito entre os Irmãos Mann, foi o artigo de Heinrich sobre Zola, de 1915, que, à guisa de analisar a figura e a obra do escritor francês, resulta num libelo contra a guerra. Disse Nigel Hamilton:

A similaridade entre a vida de Zola e de Heinrich era óbvia até demais. Ambos haviam começado como artistas solitários e ambiciosos, ambos se convenceram de que era preciso relacionar a arte com a realidade social e com o tema da democracia. Ambos escreveram obras que prediziam uma catástrofe – a catástrofe mostrara que estavam certos[200].

Por seu turno, este é o momento luciferino de Thomas Mann e seu lamentável pacto:

Thomas, que menosprezou a democracia por motivos estéticos e que agora legitimara uma matança em escala até então nunca experimentada pela humanidade, justifica-a como, no paralelo com o Rei Frederico, “o direito do poder emergente”. Como Frederico mostrara – e Hitler mostraria novamente dentro em pouco –, o poder emergente não precisa de justificação intelectual, baseia-se em fatos, no poder da espada[201].

Mais tarde, passada a guerra, os irmãos se reconciliarão, e o caminho que será trilhado por Thomas será o que seu irmão mais velho já estava trilhando há tempos e que vai resultar tanto numa intransigente repulsa ao nazismo quanto numa inequívoca adesão ao socialismo. No entanto, para Thomas ainda há um longo caminho a ser percorrido, um trabalho a realizar que é como um “trabalho de luto”, para usar uma expressão freudiana, que é como se pode ler Betrachtungen Einer

Unpolitischen, publicado em 1918, e que foi a grande e exasperada resposta de Thomas ao ensaio de

Heinrich sobre Zola, sendo, de fato, uma exaltada apologia do império guilhermino, de seu destino e de sua guerra. Na introdução à tradução francesa do livro de Thomas Mann, Jacques Brenner diz que ele está “repleto de sinuosidades, de desvios, de contradições [...]”[202]. No centro dessas contradições estão questões que, sob a forma de oposições entre civilização e cultura, entre racionalidade e irracionalidade, entre arte e ciência, entre a alma e os negócios, traduzem, no essencial, as vicissitudes de uma burguesia que, tendo ficado de fora das linhas principais do desenvolvimento da Modernidade, com exceção da dimensão filosófica, transformou modernidade em modernização e admitiu que esta se fizesse a qualquer custo desde que acelerada, mesmo que pelo amesquinhamento de valores democráticos. Em Considerações de um apolítico Thomas Mann reivindica ter antecipado, com o seu romance Buddenbrooks, de 1901, temas e questões que serão tratados por Max Weber, Troeltsch e Werner Sombart na caracterização do homem de negócios, do capitalista, do burguês[203].

Em seu livro, tão severo quanto unilateral e injusto em alguns dos seus juízos, O assalto à razão, Georg Lukács (1885-1971) compreendeu com exatidão e abrangência a questão:

Enquanto a Alemanha foi, simplesmente, um país atrasado, tanto econômica quanto socialmente, que ia se defasando no campo espiritual, por outro lado se colocou como digno rival, em certos campos, como guia espiritual do mundo burguês. Nasceu dessa situação a ideologia precursora da revolução democrática na Alemanha a partir de poetas e pensadores de Lessing até Heine, de Kant até Hegel e Feuerbach. Certo é que, desde então, também nasceu – com o Romantismo e seus desdobramentos – aquela idealização do atraso alemão que, para defender essa posição, viu-se obrigada a interpretar de modo radicalmente irracional a marcha do mundo, combatendo o conceito de progresso como uma concepção supostamente superficial, trivial e errônea[204].

Com efeito, não apenas os autores citados por Lukács no parágrafo anterior, que viveram entre 1750 e 1850, escaparam da idealização do passado. É, exatamente, essa a posição de Ferdinand

Tönnies (1855-1936), autor de estudo que diferenciou, sociologicamente, comunidade de sociedade, que: “Em cartas ao amigo Friedrich Paulsen [...] expressou seu desprezo pela política de classe dos nacionais-liberais, pelo “patriotismo” desonesto dos conservadores e pelo servilismo da comunidade acadêmica alemã”[205]. Entre esses “nacional-liberais” é preciso incluir, entre outros, Max Weber, e entre os “patrióticos”, Thomas Mann, que eles estão entre as mais destacadas figuras da vida intelectual alemã, que não escaparam ao trágico da ideologia e da prática burguesas no contexto da exacerbação imperialista e seus desdobramentos. Em seu balanço da vida intelectual italiana no século XX, Norberto Bobbio vai aproximar Max Weber, Thomas Mann e Benedetto Croce como adeptos de uma razão conservadora, isto é, da combinação de realismo histórico e idealização do passado[206].

Não se tomem as opções políticas de Thomas Mann, até o início dos anos de 1920, e de Max Weber, como as únicas possíveis no campo burguês, pois houve quem se recusasse ao ditado da burguesia imperialista e antidemocrática, como Heinrich Mann, e mesmo quem, sendo filho da mesma grande burguesia da Europa Central, como o húngaro Georg Luckács, tenha desabridamente abandonado a sua classe e se colocado a serviço da revolução proletária. De fato, o caminho de Luckács para o comunismo e o marxismo não foi linear, tendo etapa importante marcada por radical repúdio aos valores burgueses pela mobilização da ética fundada em motivações românticas, utópicas e messiânicas, de que é exemplo maior o livro que publicou em 1910, A alma e as

formas[207]. É o mesmo Lukács que, no prefácio de 1962 de seu livro Teoria do romance , publicado em 1920, buscou situar as Considerações de um apolítico, de Thomas Mann, tal como seu autor queria que fosse entendido, afinal:

Trata-se de uma batida em retirada, em grande estilo – a última e a mais tardia de uma burguesia germano-romântica – realizada com a plena consciência de sua impotência para chegar a qualquer resultado [...] com o pleno discernimento também do caráter espiritual malsão e imoral de qualquer simpatia em relação ao que está destinado a morrer[208].

Se tivesse vivido mais, é possível que Max Weber se aproximasse de posição semelhante à de Thomas Mann. Como ele, Weber tinha suficientes grandeza moral e lucidez para mudar de posição, reconhecer equívocos, arrostar o conformismo e as conveniências. Gabriel Cohn em síntese notável viu assim a situação de Max Weber: ele

procurou sempre fazer frente ao grande dilema a que seu pensamento o conduzia: aquele entre a crítica que se traduz na ação e a resignação que se traduz no conhecimento neutro nos seus resultados, vale dizer, disponível para quaisquer fins. Talvez se possa sustentar que ele incorporava algo como o “máximo de consciência possível” nos quadros do pensamento liberal-burguês de sua época, na qual ele aparecia como uma espécie de Maquiavel tardio, que enfatiza tanto mais a noção de virtù quanto mais a de fortuna é substituída pela de destino[209].

Há várias e importantes semelhanças entre as biografias de Thomas Mann e Max Weber. Filhos de famílias cultas e ricas tiveram, ambos, mães que exerceram decisiva influência na vida de seus filhos, tendo ainda, os dois, irmãos rivais que atuaram nas mesmas áreas que eles. No caso de Max Weber, seu irmão Alfred Weber (1868-1958) foi economista e sociólogo de renome, compartilhando com o irmão ainda a mesma amante, Else Jaffé von Richthofen (1874-1973)[210]. Max Weber disse que sua obra foi construída à sombra e em diálogo com dois grandes autores: Marx e Nietzsche. Na biografia de Max Weber, escrita por sua esposa Marianne Weber (1870-1958), está que o significado das obras de Marx e Nietzsche assumiu para Weber a forma de um duplo desafio:

exigia o governo de poucos e a formação de um poderoso e nobre tipo humano que, com a afirmação de si mesmo, encontraria plena satisfação neste mundo. Ainda que as principais ideias desses dois grandes pensadores modernos apontem para direções distintas, elas têm algo em comum: ambos trataram de destruir as valorações baseadas na diversificada e contraditória mescla da “civilização cristã”. Então, em que poderia confiar o homem moderno, particularmente o jovem?[211]

Sem nenhuma simpatia especial seja por Bismarck, seja pela dinastia guilhermina, ao contrário, creditando a Guilherme II grande parte de responsabilidade pelos desastres da guerra de 1914 a 1918, Weber se colocou a tarefa de educar a nação, educar sua juventude e suas elites no sentido da salvação da Alemanha. Mas educar para que, para onde levar a Alemanha em crise, derrotada e sob ameaça de colapso? Certamente não para o socialismo, pelo menos o socialismo tal como esteve sendo construído na Rússia. Por outro lado, não há ilusões na visão de Max Weber sobre o capitalismo. Diz ele: “constitui um erro atribuir ao capitalismo moderno, tal como existe no Ocidente, afinidades com a democracia e a liberdade. Trata-se, pelo contrário, de perguntar como é possível, a longo prazo, manter em regime capitalista a democracia e a liberdade”[212].

Com efeito, é com pessimismo implacável que Max Weber vê o desenvolvimento do capitalismo e de qualquer outra ordem social burocrática. A burocracia como expressão ubíqua da racionalização moderna é a “jaula de aço”, é a “nova servidão” contra as quais não há remédio que não a valorização de uma ética heroica e exemplar do gesto autêntico e insubornável. Weber, como Marx, reconheceu a tragédia da dominação burguesa o quanto de inautêntico, de desumano, de amesquinhado ela impunha, o quanto produzia de “vida danificada”, como disse Theodor Adorno (1903-1969). Weber, ao contrário de Marx, não podia convocar a revolução. Restou-lhe a resignação diante da avassaladora presença da racionalização. Max Weber morreu em 1920. É por essa mesma época que seu grande contemporâneo e companheiro de classe social, de posição intelectual, política e ideológica, Thomas Mann, começa a mudar, a voltar-se para a esquerda, para a radical defesa da dominação e da plena emancipação humana.

Tem semelhanças com as duas figuras destacadas aqui, Max Weber e Thomas Mann, o filósofo italiano Benedetto Croce. Também ele filho de uma família rica e culta, também ele voltado para a vida intelectual, também ele foi precipitado no coração da luta de classes, também ele foi obrigado a tomar posição nos quadros de uma situação histórica tensionada por disputas extremadas e exigentes.

Se a “via prussiana” foi a consagração do intervencionismo e autoritarismo estatal, a Revolução Passiva foi a vitória do transformismo, da manipulação. Não se pense, contudo, que no processo de

Risorgimento não houvesse setores, como simbolicamente representado pelo historiador e professor

Francesco De Sanctis, mestre decisivo de Croce, efetivamente comprometidos em transformar a unificação da Itália no ponto de partida para a construção da nação e sua plena democratização, do ponto de vista dos interesses populares. Francesco de Sanctis ensinou a Croce que a literatura é uma forma de expressão privilegiada das grandes questões do seu tempo, é explicitação, no plano da forma, de conteúdos históricos-materiais concretos por meio da imaginação. De Sanctis, com sua história da literatura italiana, publicada entre 1870-1871, traduziu no plano da expressão literária o fundamental da filosofia hegeliana, como lógica e fenomenologia do espírito, reafirmando assim que Hegel pode ter lugar importante em projetos emancipatórios. Croce foi liberal, quase sempre. Disse Momigliano:

como senador e como ministro aprovou o apoio implícito de Giolitti ao fascismo. Enquanto que em 1915 havia se negado a aceitar o “coup d’état” que culminou com a declaração de guerra, em 1922 simpatizou com os fascistas, continuou votando

por Mussolini no Senado mesmo depois do assassinato de Matteoti. [...] Em abril de 1925 Gentile se desacreditou com seu “Manifesto degli intellettuali fascisti” e Croce se converteu, quase da noite para o dia, no dirigente da intelligentsia antifascista [...][213].

O antifascismo de Croce foi, afinal, tolerado porque não se traduziu em nenhum ataque político direto contra o governo fascista[214]. Ainda assim, não se deve subestimar seu papel na valorização da liberdade, a honestidade do seu pensamento, especialmente em matéria de religião, sobre questões sociais e de política externa, a valorização da tolerância, do governo representativo, de tribunais imparciais, o respeito por outras nações e, portanto, por si mesma[215].

A violência e exigências do mundo sob o grande capital imperialista, o contexto da dissolução daqueles “cem anos de paz” (1815-1914), os dramáticos eventos que marcaram o fim da longa dominação liberal (a guerra de 1914 a 1918, as hiperinflações e a crise de 1929, a Revolução Russa, o nazi-fascismo, a guerra de 1939 a 1945), colocaram desafios para a consciência burguesa, que tiveram variadas respostas. Houve quem, como Heinrich Mann, não tivesse tergiversado colocando- se resolutamente, desde a primeira hora, ao lado das forças democráticas e progressistas. Houve quem tivesse vacilado e feito o pacto, provisório que seja, com as forças antidemocráticas, como Thomas Mann. Houve, ainda, quem, como Max Weber, dotado de incoercível lucidez e de igual pessimismo quanto às possibilidades emancipatórias, tenha transitado da crítica à resignação. Houve, finalmente, quem como Croce, depois de resvalar para o apoio ao fascismo, tenha se proposto ser a fonte de um magistério severo, uma espécie de papado laico liberal, que sendo antifascista foi, também, fortemente, anticomunista[216].