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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

2.2 A ABORDAGEM QUALITATIVA DE PESQUISA

Nesta pesquisa, optamos por uma abordagem qualitativa, mediante a compreensão e a interpretação dos dados obtidos a partir do nosso contato direto com a situação do objeto de estudo. A falta de estudos sobre o Manual do Professor na literatura disponível, sobretudo no que tange à perspectiva sociorretórica, e, por esse mesmo motivo, a necessidade de se estabelecer o caráter descritivo da pesquisa, na tentativa de compreender esse objeto por completo, constituem as razões pelas quais elegemos a abordagem qualitativa.

A pesquisa qualitativa requer uma compreensão ativa do mundo, já que busca entender e interpretar os fenômenos sociais em contexto específico. No dizer de Chizzotti (2006), essa abordagem está fundamentada na dinamicidade entre sujeito e objeto, gerando uma interdependência entre eles, isto é, um vínculo estreito entre a subjetividade do sujeito e o mundo objetivo. Nesse sentido, o sujeito torna-se mais que observador, ele integra o próprio conhecimento mediante o processo de interpretação frente aos fenômenos. Além disso, o objeto apresenta significados e estabelece relações a partir de suas ações. Logo, não é considerado neutro.

Conforme asseguram Mazzoti e Gewandszanadjer (1998, p. 151),

[...] a maior parte das pesquisas qualitativas se propõe a preencher lacunas no conhecimento, sendo poucas as que se originam no plano teórico, daí serem essas pesquisas frequentemente definidas como descritivas ou exploratórias. Essas lacunas geralmente se referem à compreensão de processos que ocorrem em uma dada instituição, grupo ou comunidade.

Como indicam os autores citados, apesar de se ter a intenção de compreender uma realidade específica, isso não impede esse tipo de pesquisa de apresentar contribuições para a produção de conhecimento e que, sobre o foco do pesquisador, é fundamental que ele tenha consciência do estado da literatura produzida sobre o tema, para que seja possível sugerir questões significativas e não abordadas exaustivamente.

Atendendo ao paradigma que adotamos em nossa pesquisa, sobretudo para compreendermos o gênero Manual do Professor por completo – e isso implica considerar também as circunstâncias de produção e circulação –, optamos pela interpretação dos dados gerados (BORTONI-RICARDO, 2008). Por conseguinte, partimos da análise dos Manuais no intuito de reconhecermos como estão organizados retoricamente, numa perspectiva interpretativista, e, em seguida, ultrapassamos o produto, quando buscamos saber sobre ele na perspectiva de seus usuários – autores e leitores, autores de coleção didática e professores de Língua Portuguesa, respectivamente.

A interpretação dos MP, mediante a análise do produto, já resultaria em contribuições que ocupariam os espaços das lacunas de conhecimento sobre esse objeto, já que releva os aspectos retóricos sob o viés histórico, cultural e interativo (MARCUSCHI, 2011), permitindo-nos, inclusive, reconhecer os Manuais como formas textuais padronizadas, típicas e inteligíveis, ou seja, um gênero textual (BAZERMAN, 2011a). No entanto, ao inserirmos a percepção dos participantes da interação, compreendemos que os Manuais não apenas respondem às demandas estabelecidas pelo PNLD, mas resultam de valores e práticas sócio- históricas de seus usuários. Desse modo, a compreensão integral dos MP requer a consideração dos que utilizam esse gênero, no sentido de entendermos os procedimentos essenciais à sua prática de produção e recepção.

Segundo Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009, p. 13),

A pesquisa documental é um procedimento metodológico decisivo em ciências humanas e sociais porque a maior parte das fontes escritas – ou não – são quase sempre a base do trabalho de investigação. Dependendo do objeto de estudo e dos objetivos da pesquisa, pode se caracterizar como principal caminho de concretização da investigação ou se constituir como instrumento metodológico complementar.

Para Godoy (1995) e Oliveira (2007), a pesquisa documental é constituída a partir de materiais que não tenham recebido tratamento analítico ou que requeiram um reexame para uma interpretação nova ou complementar. A esse respeito, Corsetti (2006) assegura que a

pesquisa documental é aquela que tem, como objeto de estudo, documentos – sejam eles contemporâneos ou retrospectivos – cientificamente autênticos. Além do recurso à pesquisa documental, fizemos uso também de instrumentos etnográficos – entrevista e grupo focal –, já que este estudo se propõe a investigar o MP de modo situado e procura provocar mudanças na atitude de seus usuários.

Pesquisas sobre MP são escassas não somente no Brasil, por isso concebemos esse objeto numa perspectiva de fonte primária. Se os pesquisadores de Livros Didáticos julgam ser este objeto pouco pesquisado atualmente, Manual o é ainda menos. Por isso, a análise do MP sob a ótica de uma abordagem descritiva e interpretativa é profundamente necessária.

Decidimos também recorrer a diferentes fontes de geração de dados, sobre as quais falaremos adiante, no sentido de depreendermos o fenômeno de modo mais abrangente, consolidando nossa investigação através da triangulação dos dados (MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998). Discorrendo sobre a diversidade de fontes de dados, Denzin e Lincoln (2006, p. 17) dizem que:

A pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de matérias empíricas – estudo de caso; experiência pessoal; introspecção; história de vida; entrevista; artefatos e visuais [...]. Entende-se, contudo, que cada prática garante uma visibilidade diferente ao mundo. Logo, geralmente existe um compromisso no sentido do emprego de mais de uma prática interpretativa em qualquer estudo.

Dessa forma, os dados obtidos não somente assumem a perspectiva da validação cumulativa para a pesquisa, mas, sobretudo, a triangulação se realiza como modo de integrar diferentes percepções frente ao fenômeno estudado – Manual do Professor –, ao permitir o aparecimento das vozes de todos os participantes da interação em que o objeto está situado, corroborando, em termos de complementariedade, as conclusões a que chegamos (DUARTE, 2009).