• Nenhum resultado encontrado

A abordagem sociológica sobre o desenvolvimento sustentável

Muito antes de haver a conceção do desenvolvimento sustentável, os sociólogos e outros cientistas sociais já haviam realizado estudos sobre questões de desenvolvimento relativas à modernização e ao desenvolvimento socioeconómico, além das questões da sustentabilidade como a poluição, a degradação ambiental e o esgotamento de recursos (Burns 2012). Neste sentido, é importante clarificarmos o conceito de sociologia do desenvolvimento como um campo de investigação científica relativamente recente que se afirmou no século XX. Tendo em conta que a abordagem sobre o fenómeno do desenvolvimento ganhou força após o final da Segunda Guerra Mundial, sobretudo na segunda metade do século passado quando, para além dos tradicionais aspetos económicos, os cientistas sociais passaram a incluir outras dimensões do fenómeno nas suas discussões (Wallerstein 2006). Deste modo, o foco da abordagem lançou um sério desafio aos teóricos das ciências sociais e criaram-se as premissas para a estruturação da sociologia do desenvolvimento, cuja construção histórica esteve associada aos fenómenos da urbanização, da industrialização, da emergência das novas “potências industriais, assim como, da afirmação do capitalismo monopolista” (Hartfiel 1976). Esteve também ligado à construção teórica da sociologia do desenvolvimento, o processo da emancipação de novas nações que surgiram no contexto de um mundo ideologicamente bipolarizado, associado à modernização tecnológica, que moldou os contextos políticos, económicos, culturais e os sistemas produtivos dos países recém-nascidos17. Em função disso, pode-se afirmar que a sociologia do desenvolvimento surge da necessidade de explicar o processo da industrialização económica e da internacionalização do sistema capitalista (Hartfiel 1976). Em outras palavras, a Sociologia do desenvolvimento surge como um campo específico da sociologia geral que procura conhecer e debater “ideias e teorias” sobre o fenómeno do desenvolvimento nas vertentes política, cultural, económica e ambiental. Com o

17

O despertar das nações jovens, os seus esforços para sair duma longa letargia de subdesenvolvimento, as transformações económicas, politicas, culturais e sociais operadas nesses países suscitaram, como é evidente, o interesse de numerosos sociólogos (Rocher 2012).

40

objetivo de tentar perceber e explicar o rumo do desenvolvimento tomado pela sociedade. Com base na aplicação sistemática de pressupostos teóricos, indagações e dos métodos de pesquisa social (Hartfiel 1976).

Para o efeito, a sociologia do desenvolvimento passou a indagar sobre as relações que existiam entre as chamadas sociedades desenvolvidas e subdesenvolvidas, procurando perceber se haviam condicionalismos ideológicos, económicos e técnicos que favoreciam os fenómenos do desenvolvimento e do subdesenvolvimento presentes nestas sociedades. Além de fazer a análise sobre “as interdependências, os conflitos, as adaptações e as reações” decorrentes das relações entre as diferentes sociedades. Deste modo, a análise e a interpretação dos fatores que condicionam os processos de desenvolvimento e subdesenvolvimento das distintas sociedades, impulsionou a afirmação da sociologia do desenvolvimento como um instrumento de análise e interpretação da dinâmica social (Frantz 2010).

Na mesma linha de pensamento, Pedro (1963) sustenta que a abordagem sociológica sobre o processo de desenvolvimento “surgiu da problemática económica do desenvolvimento e do subdesenvolvimento”, que despertou a consciência dos economistas sobre os limites, na tradicional análise económica deste fenómeno social.18 Assim, conforme Hartfiel (1976), no início a sociologia do desenvolvimento estava quase, de forma exclusiva, mais preocupada como os fenómenos sociais, políticos e culturais, colaterais resultantes do desenvolvimento económico e da sua expansão. Os sociólogos pioneiros, Marx, Durkheim e Weber abordaram o fenómeno do desenvolvimento como um processo evolutivo linear associado à ideia de progresso desencadeado pela Revolução industrial, pelo qual todas as sociedades haveriam de passar. Estes autores procuraram identificar os fatores que dão origem ao fenómeno social do desenvolvimento, e construíram as bases da teoria sociológica sobre a explicação das mudanças socioculturais e políticas que o processo de desenvolvimento pode provocar na sociedade. Na obra intitulada “Da Divisão Social do Trabalho”, publicada em 1893, Durkheim

18

O pensamento dos economistas clássicos centrava-se em problemas de crescimento económico a longo prazo. Era já uma teoria de desenvolvimento (Talcott-Parsons 1960) que continha também considerações de ordem exta-económica, ou seja, de âmbito sociológico (Pedro 1963).

41

erige uma teoria social em que identifica o crescimento da população e o aumento das tecnologias de comunicação e informação, como sendo os fatores responsáveis pela mudança social, e considera a modernidade como uma forma de progresso social. Marx, na sua teoria social, económica e política, argumenta que as mudanças sociais ocorrem através da luta de classes e que resultam das contradições que se estabelecem entre as forças produtivas e as relações de produção, acabando por gerar a negação de uma sociedade por outra, dando origem a uma nova forma de sociedade. Assim, para Marx, devido às contradições internas que surgiram na comunidade primitiva com o aumento das forças produtivas e que provocaram o aparecimento do excedente, o primitivismo foi negado pelo esclavagismo, este pelo feudalismo e este, por sua vez, negado pelo capitalismo. Marx previu, também, o surgimento de contradições antagónicas entre a classe burguesa e o proletariado no seio da sociedade capitalista, que iriam provocar o seu colapso e a sua substituição pelo socialismo. Segundo Weber (1904), da análise da relação entre o capitalismo e a religião observa-se que a ascensão do capitalismo moderno na sociedade ocidental resultou da relação entre a ética protestante e a atividade económica da época (Ferreira et al 2013).

A análise sociológica sobre as condições que favorecem a mudança social viria a ganhar ainda maior eco com a realização, em 1962, do Congresso Mundial de Sociologia em Washington, cujo tema central foi dedicado à sociologia do desenvolvimento (Pedro 1963). Na sociedade contemporânea, a sociologia procura fazer uma análise multidimensional do processo de desenvolvimento, não só com a finalidade de explicar as suas origens e dinâmicas das mudanças sociais, mas também com o objetivo de tentar perceber a forma como o fenómeno se implementa no plano socio espacial. Nesta perspetiva, Perroux (1977) Myrdal (1968) e Hirschman (1961), constataram que, no período que vai de 1950 até 1970, os países desenvolvidos do Norte, assim como os países subdesenvolvidos do Sul estavam a implementar políticas de desenvolvimento baseadas no modelo funcionalista centrado nos polos de desenvolvimento, o que tem sido também aplicado ao turismo. No âmbito deste modelo, o desenvolvimento territorial processa-se primeiro através da instalação de gigantescos empreendimentos ligados à indústria, que incentivam o crescimento económico através da

42

geração do emprego e da renda na localidade polarizada e, a partir daí, os efeitos do crescimento económico se alastrariam para a periferia desencadeando, desta forma, processo de desenvolvimento (Baltazar e Rego 2011). Em função desta lógica centro-periferia, podemos então dizer que este modelo implementa nas regiões e/ou nas localidades polarizadas, políticas de desenvolvimento definidas centralmente excluindo desta maneira a participação das comunidades locais.

Na ótica de Perroux, o modelo de desenvolvimento polarizado deve fundamentar-se na dinâmica inovadora das atividades industriais, o que facilita o desenvolvimento regional e local. Entretanto, Myrdal (1968) e Hirschman (1961) observaram que este modelo estava a causar desequilíbrios ao nível das regiões e no contexto das nações. Por sua vez, Baltazar e Rego (2011) reconheceram o intenso crescimento gerado por este modelo em torno dos polos, mas, por sua vez, constataram que provoca também “processos de desenvolvimento desequilibrados, com fortes assimetrias territoriais entre as regiões mais prósperas e as menos desenvolvidas”.

Nos anos 70 ocorreram crises no setor energético do ocidente que constituía a força motriz da tecnologia industrial da época, e esta situação pôs em causa a continuidade do desenvolvimento da periferia a partir do centro, e criou premissas para a procura de um novo modelo de desenvolvimento que fosse capaz de atenuar as assimetrias regionais. Foi neste contexto que se sugeriu o modelo de desenvolvimento centrado no território, denominado “modelo territorialista de desenvolvimento endógeno” que será exposto mais adiante.