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3.3. Teorias sociais sobre o desenvolvimento sustentável

3.3.2. Turismo, modernização e dependência

O turismo e o seu desenvolvimento têm evoluído ao longo do tempo desde a Segunda Guerra Mundial, com o turismo a ser promovido como uma das estratégia de desenvolvimento em muitos países através da transferência de tecnologias, permitindo a criação de postos de emprego, a geração de

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divisas, o aumento do produto interno bruto, a atração do capital de desenvolvimento, a promoção de um modo de vida moderno com valores ocidentais, gerando transformações do espaço rural em sociedades tradicionais (Britton 1982a, Cater 1987, Harrison 1992a, Mathieson e Wall 1982), bem como a criação de empresas e promoção do desenvolvimento regional, a independência económica (Britton 1982a, UNWTO 2011) e a justiça distributiva (Pearce 1989). Neste sentido, os governos buscam equilibrar as oportunidades em todo o país, no sentido de atrair o investimento estrangeiro, criando condições para o crescimento económico (Jenkins 1980). O foco do turismo e a modernização têm sido frequentemente ligados ao desenvolvimento do turismo de massa em grande escala em muitos países em desenvolvimento.

Contudo, o turismo tem sido acusado de estar a criar uma nova dependência dos países subdesenvolvidos aos países desenvolvidos. Neste sentido, de acordo com Turner e Ash (1975), os destinos turísticos do mundo em desenvolvimento são a periferia do prazer, onde os endinheirados se misturam e procuram relaxar. Para Mathews (1978), as necessidades do centro metropolitano estão a ser supridas pelos países em desenvolvimento, onde a riqueza gerada pelo turismo é transferida das ex-colónias para as antigas metrópoles. De acordo com Britton (1989), isto acontece porque na indústria do turismo predomina a propriedade estrangeira que impõe uma dependência estrutural nos países em desenvolvimento. Na medida em que o turismo internacional é atualmente controlado por grandes empresas multinacionais como as companhias aéreas, os cruzeiros, e as cadeias de hotéis. Conforme Nash e Smith (1991), esta situação coloca os países desenvolvidos e em desenvolvimento numa relação centro-periferia, o que impede que os destinos se beneficiem plenamente com o turismo. Para Muller (1979), as empresas multinacionais têm levado ao subdesenvolvimento do Terceiro Mundo. De acordo com Britton (1982 a), os países do Terceiro Mundo têm dificuldades em controlar a indústria turística na medida em que são bloqueados no sistema de pacotes turísticos completos, padronizados, organizados e promovidos em países desenvolvidos. Os destinos turísticos dependem das corporações multinacionais para a implantação de infraestruturas e dos turistas (Britton 1982 a). Assim, o controlo das empresas capitalistas dominantes locais e estrangeiras é perpetuada através de práticas comerciais, que incluem o

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controlo sobre a tecnologia do turismo (comunicações), experiências no sector, design de produtos e preços. É deste modo que as empresas dominantes na hierarquia são capazes de controlar as empresas menores e penetrar nos seus mercados (Britton 1982 a). Além disso, a incapacidade dos setores agrícola e de fabricação em muitos países em desenvolvimento para garantir a qualidade e o contínuo fornecimento de insumos para o sector turístico, muitas vezes resulta na dependência de insumos importados (Britton 1982a). O que faz com que a estrutura das economias em desenvolvimento seja explorada pela indústria turística (Lea 1988). Isto implica simplesmente tentar transformar as culturas do Terceiro Mundo em mercadorias e prestação de práticas hedonistas para turistas ricos do Primeiro Mundo (Van den Abbeele, 1980). Explorando, poluindo o meio ambiente, destruindo o ecossistema e a cultura, roubando das pessoas os seus valores tradicionais e modos de vida e, nalguns casos, subjugando as mulheres e crianças como objetos de escravidão e da prostituição. Além de sintetizar a atual ordem económica mundial injusta, onde poucos controlam a riqueza e o poder e ditam as regras (Telfer 2014).

Para Wanhill (1997), as regiões periféricas enfrentam dificuldades no desenvolvimento do turismo por falta de planeamento e direção da atividade, além da pouca informação turística. E para reverter o problema da dependência, a Conferencia das Nações Unidas sobre Viagens Internacionais e Turismo, realizada em 1963, observou que os governos deveriam dar mais atenção aos planos de desenvolvimento económico (Peters 1969). Assim, na sequência deste pensamento, a segunda Cúpula da Terra (Rio+5) defendeu a necessidade de se planear de forma adequada (Holden 2000) o desenvolvimento dessa atividade, e para consolidar a nova visão a Conferencia Rio +20 realizada no Rio de janeiro em 2012 considerou o turismo como um instrumento-chave para a erradicação da pobreza, para dar resposta às alterações climáticas, a sustentabilidade ambiental, e contribuir para o cumprimento dos objetivos do desenvolvimento do Milénio (OMT 2011c). Neste sentido, de acordo com as teorias de desenvolvimento em voga, os governos devem desenvolver estratégias centradas no território de forma a protegê-lo e a desenvolvê-lo.

Em relação ao continente Africano, Dieke (2000) fez uma análise da economia política do turismo deste continente e concluiu que, para se

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promover esta atividade como ferramenta do desenvolvimento sustentável é necessário que os atores públicos do turismo interajam com as comunidades locais, no sentido de definirem políticas específicas de desenvolvimento. Para o efeito, Curry (1990), constatou que no período pós-guerra, durante a expansão do turismo internacional, uma série de novos estados independentes prosseguiram o desenvolvimento do turismo dirigido pelo Estado, incluindo a criação de cadeias de hotéis para modernizar o país e promover a autossuficiência (ex. Tunísia). Contudo, a estratégia mostrou-se menos eficaz na medida em que muitos desses países tiveram que pedir dinheiro emprestado das agências internacionais de crédito para projetos de turismo de grande escala (Telfer 2014).

Para minimizar este problema defende-se o desenvolvimento do turismo alternativo e muitas operadoras de turismo procuram desenvolver o ecoturismo, no sentido de alterar as relações desiguais do turismo convencional. Assim, como já se abordou anteriormente, o ecoturismo incentiva o uso de guias indígenas e o consumo dos produtos locais. Promove-se também a educação ambiental, com vista a proteção da fauna e da flora locais e incentivam-se economicamente as comunidades locais para proteger o meio ambiente.