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Com o desenvolvimento do turismo de massa em escala global nos anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial, este fenómeno social foi

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visto inicialmente com um certo otimismo, atendendo a sua capacidade de contribuir para o crescimento económico de muitos países. No entanto, na década de 1970, este otimismo teve que ser reconsiderado (Yasumura 1994), em virtude dos impactos ambientais, económicos, sociais e culturais negativos que o turismo estava a provocar nos países recetores. A fim de minimizar os impactos negativos e maximizar os efeitos positivos do turismo nas comunidades de destino turístico, os estados nacionais, através dos seus governos deram início ao fomento da atividade turística através da elaboração de políticas públicas de desenvolvimento do turismo. Foi desta forma que o turismo se tornou parte integrante do processo de governação dos estados modernos, tanto os desenvolvidos como os em desenvolvimento, que passaram a inclui-lo em seus programas de desenvolvimento (Lea 1988, Pearce 1989, Richter 1989, Harrison 1992a, Hall 1995).

Entretanto, foi somente a partir da década de 1970 que a política pública de turismo se tornou uma prioridade dos governos dos países desenvolvidos e menos desenvolvidos (Hall 1995). De acordo com Pforr (2005), o enorme crescimento do turismo, o envolvimento dos governos e os impactos negativos do turismo que foram registados nos países em desenvolvimento ajudou a trazer ao debate académico a análise sobre as políticas públicas de turismo, nos finais do século XX.16 Ao longo destas pesquisas, Hall e Jenkins (1995) definiram as políticas públicas de turismo como um conjunto de ações que os governos optam por fazer ou não fazer no que diz respeito ao desenvolvimento do turismo, que se encontram consubstanciadas e “amparadas legalmente nos programas, projetos, planos, metas e orçamentos dos poderes públicos” (Carvalho, 2000, p.99), com o propósito de atingir e dar continuidade ao desenvolvimento da atividade turística em um espaço sócio- geográfico (Cruz 2000).

Na perspetiva de Lickorish (1991), o Estado deve fomentar a promoção e marketing, assim como fornecer informações, elaborar e implementar uma

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Matthews (1975, 1978, 1983), Matthews e Richter (1991) e Richter (1980, 1983, 1984, 1989), Richter e Waung (1986), Hall (1995); assim como, com as pesquisas realizadas por Richter (1994), Hall (1994, 1995), Ken (1995), Jenkins (1995, 1999), Smekal e Socher (1996), Elliot (1997), Datzira-Masip (1998), (Smith 1998), Thomas (1998), Vieregge (1998), Edgell (1999), Kahlenborn et al, (1999). Os trabalhos destes cientistas sociais forneceram informações importantes que contribuíram para a compreensão das políticas de turismo (Pforr 2005).

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legislação turística que visa proporcionar a saúde pública e segurança nos locais de destino turístico; além de criar as infraestruturas básicas capazes de auxiliar o desenvolvimento do turismo, como é o caso das vias de acesso, os serviços de energia elétrica e o saneamento básico. Deve motivar os turistas a permanecerem nos sítios de destino turístico, além de contribuir simultaneamente para a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. Cooper et al, (1993) acrescenta que as políticas públicas do turismo devem (1) facilitar a promoção e o desenvolvimento da interação e intercâmbio cultural e comercial; (2) garantir a preservação dos recursos culturais; (3) incentivar a distribuição dos benefícios económicos; (4) proporcionar os mecanismos para a maximização do saldo da balança turística; (5) facilitar a atração dos segmentos de mercado com elevado poder de compra; e (6) assegurarem a criação de postos de trabalho e o desenvolvimento das regiões periféricas. Para Hall (1994a), o governo deve coordenar, planear, legislar e regular o desenvolvimento do turismo, além de incentivar o empreendedorismo, proporcionando o estímulo do turismo social e proteção dos interesses locais. Já Crosby (1996), sustenta que as políticas públicas de desenvolvimento do turismo devem contemplar as ações de reabilitação e conservação dos monumentos, edifícios e lugares históricos das comunidades e a revitalização dos seus costumes, tradições, artesanato e folclore assim como um conjunto de diretrizes que evitem a propagação dos impactos ambientais negativos nas regiões de destino turístico.

Oppermam e Cohen (1997) sugerem que os governos dos países em desenvolvimento podem influenciar o desenvolvimento do turismo através de políticas fiscais, tais como: o investimento na infraestrutura geral de um destino ou região, e também o incentivo ao investimento para as empresas, influenciando as taxas de câmbio.

Em função dos argumentos destes autores, pode-se dizer que o Estado desempenha um papel fundamental em matéria de definição das políticas públicas de desenvolvimento do turismo. Segundo Elliot (1997), a indústria do turismo não poderia sobreviver sem os governos, na medida em que são eles que têm a capacidade de fornecer a estabilidade política, a segurança e o quadro jurídico e financeiro que o turismo exige. Como as políticas estatais de turismo visam, sobretudo, a promoção do turismo sustentável, na ótica de

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Henriques (2003), sem a intervenção do Estado seria impossível promover a atividade turística comprometida com o desenvolvimento sustentável.

O governo desempenha um papel chave na definição de políticas públicas de turismo, e se estas forem elaboradas, implementadas, e avaliadas de forma eficiente, podem contribuir para a satisfação dos turistas e, por conseguinte, para a promoção do desenvolvimento socioeconómico sustentável das populações que residem nos destinos turísticos e do sistema económico do país em geral. Todavia, é importante que os atores públicos não negligenciem o papel que o setor privado pode desempenhar para a implementação dessas políticas.

Tabela 1: competências do Estado e do sector privado em políticas de turismo

Compete ao Estado Compete ao setor privado

1. Estabelecer diretrizes e politicas para o desenvolvimento do setor;

Observar leis e regulamentos, bem como, os mecanismos de fiscalização e controlo;

2 Estabelecer normas e regulamentos de preservação ambiental, bem como para a abertura e funcionamento de equipamento e serviços turísticos;

Atuar no desenvolvimento da infraestrutura turística;

3 Criar mecanismos de fiscalização e controlo Planear cuidadosamente o funcionamento das suas atividades e equipamentos para atender com qualidade às necessidades e desejos dos turistas;

4 Promover o desenvolvimento da infraestrutura básica (vias de acesso, saúde, saneamento, etc);

Servir-se da mão-de-obra capacitada; 5 Promover o desenvolvimento turístico nos níveis

nacional e municipal

Desenvolver ações, com vista à troca de experiências e informações bem como para melhor articulação na criação e defesa de interesses perante empresariado e/ou governo; 6 Criar condições para a captação de recursos,

promover facilidades na obtenção de créditos e financiamentos e estimular o desenvolvimento da atividade na esfera privada

Manter-se atualizado quanto às tendências do turismo;

7 Realizar pesquisas e estatísticas sobre o turismo, bem como promover e incentivar o desenvolvimento destas em esferas não- governamentais;

Elaborar pesquisas com clientes, acompanhando a funcionalidade e qualidade do seu estabelecimento, etc. 8 Incentivar a capacitação profissional Elaborar pesquisas com clientes, acompanhando a

funcionalidade e qualidade do seu estabelecimento, etc.

Fonte: elaboração própria com base em Ruschmenn e Widner (2000).