• Nenhum resultado encontrado

3.3. Teorias sociais sobre o desenvolvimento sustentável

3.3.1. A Modernidade e teoria da dependência

A teoria da modernização surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial, como um esforço de cientistas sociais norte-americanos que procuraram analisar a realidade politica e social de diversos países que haviam alcançado a sua independência, e do seu esforço em alcançar o desenvolvimento económico e politico (Escribano 2010). Com a principal proposta de que os países do Terceiro Mundo, para se desenvolverem, deveriam seguir os mesmos processos evolutivos por que haviam passado as nações desenvolvidas (Delgado 2004). Nesta lógica de pensamento, as nações em desenvolvimento deveriam incorporar os elementos do sistema económico, cultural, político e social dos países desenvolvidos a fim de adquirir os conhecimentos modernos, as novas tecnologias, maior organização e o espírito empreendedor destas sociedades. Foi com este entusiasmo que, nas décadas de 50 e 60, os neomarxistas procuraram aplicar a teoria da modernização aos países em desenvolvimento (Harrison 1988). Esta teoria apoiou-se no evolucionismo e no funcionalismo do século XIX para explicar as mudanças sociais que haviam sido trazidas pela Revolução Industrial e Francesa. A primeira tinha sido uma alteração radical das estruturas económicas, que afetou as estruturas sociais. A revolução francesa, por sua vez, criou uma nova ordem política baseada na igualdade, na liberdade, e no sistema democrático parlamentar. Todos estes eventos, que transformaram radicalmente o mundo aos olhos dos pensadores da época, sugeriu a ideia de uma evolução gradual das sociedades orientadas para patamares cada vez mais elevados em termos económicos, políticos e sociais, ou seja, a ideia de progresso (Ferreira et al 2013, Escribano 2010).

A teoria da modernidade foi caracterizada pelo determinismo e evolução social, segundo o qual a sociedade humana evolui de forma mecânica, da barbárie à civilização que se caracterizava pelas sociedades industriais dos finais do seculo XIX. A teoria da modernização projeta uma dicotomia entre sociedades tradicionais e modernas, assim, os países industrializados do

44

ocidente são considerados países modernos, ao passo que os países subdesenvolvidos são considerados países tradicionais e atrasados do ponto de vista económico e político, não por causa da colonização, mas sim pela sua aversão à modernização (Escribano 2010). A modernização tem sido definida como o desenvolvimento socioeconómico que segue um caminho evolutivo de uma sociedade tradicional para uma sociedade moderna, como a América do Norte ou a Europa Ocidental (Schmidt 1989). Arquitetou-se uma crença na superioridade da economia intervencionista e a ideia de que o desenvolvimento é um processo linear que conduz às mesmas estruturas políticas, económicas e sociais do Ocidente (Dickenson et al 1983, Ferreira et al 2013).

Neste sentido, no âmbito da teoria da modernização, defendia-se a ideia de que, se os países atrasados quisessem atingir o desenvolvimento, tinham que abandonar as suas tradições e avançar para um modelo de desenvolvimento político e modernização social semelhante ao vivido pelas sociedades europeias (Escribano 2010). Rostow (1967) procurou explicar essa teoria através dos estágios de crescimento económico; este autor postulou que o desenvolvimento económico de um país passa pela sociedade tradicional como pré-condição para descolar, pela autonomia da comunidade e maturidade, e pela idade de grande consumo de massa. Neste sentido, os países desenvolvidos tinham passado a fase de autonomização em crescimento auto-sustentado, enquanto os países subdesenvolvidos ainda estavam na sociedade tradicional, ou seja, no estágio de pré-modernidade.

De modo específico, idealizava-se também a modernização das estruturas sociais, dos valores culturais e sistemas económicos ao estilo das democracias liberais do ocidente. No caso de alguns modernos de orientação marxista defendiam a sovietização dessas sociedades (Escribano 2010, Harrison 1988). O determinismo cultural também ocupou um lugar de destaque na teoria da modernização, sob a influência da ideia Weberiana dos valores e atitudes sociais. Assim, seguindo a explicação do desenvolvimento capitalista com base nas virtudes do protestantismo, certas culturas e religiões seriam mais susceptíveis ao desenvolvimento do que outras (Escribano 2010, Pedro 1963).

Harrison (1992a), identifica a modernização como um processo de ocidentalização, em que as estruturas internas das sociedades em

45

desenvolvimento se tornam mais parecidas com as do ocidente, supostamente adotando padrões de desenvolvimento ocidentais. Todavia, considerou-se que esse desenvolvimento era intrinsecamente bom, em termos morais, e foi associado ao progresso da humanidade e da civilização. Trata-se de uma teoria puramente eurocêntrica. Em outras palavras, tratou-se frequentemente da ocidentalização ou da americanização em vez de modernização, mesmo na própria Europa, para se fazer referência à influência dos EUA na sociedade e na cultura das sociedades europeias. Por essa razão, a teoria da modernização foi muitas vezes criticada pelo seu caracter de subalternização e abstração dos valores das sociedades não-europeias, como é o caso das dinâmicas sociais e culturais do mundo islâmico, das sociedades asiáticas e africanas. Tendo a evidência empírica demostrado que este modelo de desenvolvimento estava a criar uma série de problemas económicos, políticos e sociais nos países subdesenvolvidos (Escribano 2010, Delgado 2004, Kay 2005). Uma questão que suscitou uma série de críticas sobre o caminho unidirecional da teoria da modernização, argumentando-se que as teorias do top-down de grande escala já não se aplicavam universalmente (Telfer 2014), bem como a recusa da suposição de que os valores tradicionais não eram compatíveis com a modernidade (So 1990).

É no quadro dessa crítica que surgem também os teóricos da dependência, no final dos anos 1960, como uma teoria de cariz político e que, rapidamente, se expandiu para a análise das questões económicas que tende a associar-se às condições de subdesenvolvimento na cena política internacional e na recusa do processo da globalização das políticas económicas (Escribano 2010, Schuurman 1993). Em função disso, os teóricos da dependência têm afirmado que a modernização é uma ideologia usada para justificar o envolvimento ocidental na dominação do mundo em desenvolvimento (Telfer 2014). Já para Peet (1999), o desenvolvimento da Europa, por exemplo, foi baseado na destruição externa, na conquista brutal, no controlo colonial e na remoção dos povos, recursos e excedentes das sociedades não-ocidentais. Isto faz com que os países em desenvolvimento tenham estruturas políticas, institucionais e económicas internas e externas que os mantêm em uma posição de dependência em relação aos países desenvolvidos (Todaro 1997).

46

Do ponto de vista socio-histórico, a teoria da dependência surgiu a partir da convergência de duas grandes tendências intelectuais. A primeira delas tem suas raízes no estruturalismo latino-americano que levou à formação da Comissão Económica para a América Latina (CEPAL), liderada por Prebisch (Cardoso 1979, Hettne 1995), enquanto a segunda tendência tem raízes no marxismo, incluindo o clássico marxismo-leninismo e o neomarxismo (Telfer 2014). Esta teoria baseia-se na noção de centro-periferia nas relações entre os países, ou seja, o conceito “centro” para designar os países desenvolvidos e a noção “periferia” para os países subdesenvolvidos. No âmbito do comércio internacional, a CEPAL acreditava que somente as nações centrais se beneficiavam à custa das nações periféricas. Para os neomarxistas, o Terceiro Mundo existe num estado de subdesenvolvimento como resultado da evolução histórica de um sistema capitalista internacional altamente desigual das relações entre os países ricos e pobres (Todaro 1994). As elites locais são frequentemente apresentadas como servis dos interesses ou dependentes das corporações multinacionais, agências nacionais de ajuda bilateral ou organizações de assistência multilaterais, como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que pode resultar na perpetuação do subdesenvolvimento (Todaro 1997).

Tal como a teoria da modernização, a teoria da dependência tem enfrentado também uma ampla gama de críticas, sobretudo por ser altamente abstrata, pessimista e retórica, e por enfatizar as condições externas sobre os fatores internos como causa dos problemas do subdesenvolvimento (So 1990, Escribano 2010) e também por não levar em consideração os obstáculos internos ao crescimento económicos presentes em países em desenvolvimento, com exceção da análise marxista da luta de classes (Escribano 2010).