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O sociólogo como agente do desenvolvimento local

7. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

7.1. O turismo como fator de desenvolvimento

7.1.6. O sociólogo como agente do desenvolvimento local

O sociólogo é atualmente considerado como um intérprete da cultura, ou seja, um especialista que abandonou a convicção de controlar a totalidade social, convertendo-se em um consultor que realiza pesquisas para servir a sociedade civil e sociedade politica, com múltiplos e variados pontos de vista, aplicando a sua atividade o paradigma pós-moderno de interdisciplinaridade e o paradigma do pragmatismo destinadas a resolver os problemas sociais (Costa 2012)75. De facto, se durante muito tempo o positivismo apregoou a

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Atores sociais são grupos e segmentos sociais diferenciados na sociedade (organizações, associações, lobbies e grupos de pressão política) que constituem conjuntos relativamente homogéneos segundo a sua posição na vida económica, socioeconómica e sociocultural, e que por sua prática coletiva, constroem identidades e espaços de influenciação dos seus interesses e suas visões do mundo (Buarque, 1995).

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A teorização sociológica em matéria de planeamento foi iniciada pela Escola de Chicago durante as primeiras décadas do seculo XX, que realizou formalmente os primeiros estudos sobre a cidade, emergindo desta forma a sociologia urbana, com o propósito de solucionar os problemas urbanos e regionais da época. Entretanto, na literatura constata-se que o maior volume da produção académica sobre o planeamento regional e urbano é proveniente dos economistas, e geógrafos. Alguns estudos mostraram que inicialmente os sociólogos prestavam pouco atenção às questões relativas ao planeamento e resistiam à prática desta atividade (Baeyens (1977). Todavia, a abordagem dos economistas e geógrafos sobe o planeamento da cidade visava os impactos económicos, com os estudos da área urbana e com os processos da construção do espaço urbano, ou seja, com o processo da urbanização. No entanto, a cidade enquanto espaço social que congrega um conjunto de seres humanos, cujas ações, produzem problemas sociais e ambientais, com o tempo, o seu planeamento exigiu uma diversidade de análises, e os sociólogos viram-se envolvidos na abordagem de questões sociais e ambientais decorrentes do planeamento urbano. Nesta logica da ação, Boskoff publicou em 1962 na cidade de Nova Yorque, uma obra intitulada “The sociology of urban

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superioridade de conhecimento científico em relação às outras formas de conhecimento, pelo contrário, a conceção pragmatista propõe o uso do conhecimento científico para a transformação da sociedade. Nesta ótica, pragmatistas como Dewey e Mead, argumentam que a teoria social deve contribuir para a transformação do mundo em um espaço social próspero e de maior interesse (Beart e da Silva 2014). Para tal Burowoy (2004) apela por uma “sociologia pública” que coloca o saber técnico ao serviço da sociedade no sentido de promover uma interação entre o setor público e a sociedade cível, a fim de dar solução aos problemas sociais. “(…) fornecendo, em última análise, diálogo e educação mútua” em que cada uma das partes leva em consideração os problemas do outro em busca de uma lógica de consenso. Conforme Guerra (2005) uma sociologia que integra o “espaço público, colocando os sociólogos do planeamento como mediadores da construção da ação coletiva em contextos de grande complexidade e contradição de relações sociais”. Nesta senda, a sociologia tem dado o seu contributo para a transformação social, no plano da administração pública, nas autarquias locais, nas empresas e nas organizações; entretanto, neste estudo será analisado o papel do sociólogo nas autarquias locais, onde este profissional tem desempenhado um papel importante no processo de desenvolvimento local sustentável, no quadro da sociologia de intervenção social que procura aplicar a teoria da sociologia do desenvolvimento ao contexto socio espacial no decurso do processo do planeamento de projetos de desenvolvimento local e do turismo. O sociólogo

regions”, na qual dedicou um capítulo inteiro ao planeamento sob o título: “Creative Planning”: An urban sociology ". Contudo, as maiores contribuições da sociologia no campo do planeamento foram dadas, durante o VII Congresso Mundial de Sociologia realizado em Varna no ano de 1970 sobre "Contemporary and future societies: Prediction and social planning", com a apresentação do artigo de J. Galtung sob o título "Perspectives on development: Past, presente and future" bem como, apresentação do artigo do professor Tenbruck intitulado "Limits of planning" (Baeyens, 1977). A partir deste evento, a sociologia passou a ter um maior protagonismo na análise dos problemas sociais, cada vez mais crescentes, que provinham da não inclusão das questões sociais no planeamento urbano daquela época. Nesta ordem dos acontecimentos iniciou-se assim nos anos 1970 uma nova abordagem que rejeitou as metodologias dos anos sessenta, e deu inicio “a fase de redireccionamento” (Vasconcelos, 2001), que permitiram a definição de novos procedimentos e metodologias emergindo desta forma um planeamento social no âmbito da sociologia, direcionado para a preparação, experimentação e construção de modelos de sociedade alternativos, de acordo com diferentes sistemas de valores, metas e objetivos. Bem como, para a estruturação e organização sequencial do planeamento da sociedade em nível local, regional e nacional. A partir desse ponto de vista não só a sociologia urbana, rural e regional, mas também sociologia política passaram a inspirar a orientação do planeamento social (Baeyens, 1977).

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aplicado trabalha em estreita ligação com os planeadores de desenvolvimento local e contribui com habilidades visando a regeneração urbana e rural e ambiental (Costa 2012). Em função disso, os sociólogos têm sido solicitados pelas autoridades governamentais, no sentido de analisarem os efeitos económicos, sociais, ambientais (Marta 2004) e culturais que os projetos de desenvolvimento local estão a provocar no seio das sociedades, comunidades ou localidades de destino; e para sugerirem modelos e projetos de desenvolvimento que atendam às dinâmicas socioculturais e produtivas de cada localidade. Neste sentido, conforme Marta (2004 p. 41),

“É frequente os Centros de Estudos de Ciências Sociais, onde trabalham sociólogos, serem chamados a apresentar propostas de projectos de investigação e de intervenção, sujeitas a concursos públicos, para a resolução de determinado problema e para a elaboração de Planos de Acção que definam os eixos de intervenção”.

De facto, os sociólogos estão cada vez mais envolvidos, atualmente, em projetos de desenvolvimento local, trabalhando como consultores nas autarquias locais, facilitando a construção de redes de atores locais de desenvolvimento, que integram as entidades público-privadas e a sociedade civil. Assim, na perspetiva de Friedman (1973) os sociólogos e planeadores sociais devem desenvolver técnicas e estruturas organizacionais que permitem a participação dos atores sociais locais nas decisões sobre o desenvolvimento local e que a participação signifique negociação que implica a redistribuição do poder.

Em função disso, o sociólogo76 é atualmente considerado como um facilitador do processo proporcionando aos agentes de desenvolvimento local o conhecimento técnico (Silva 1987) e científico, bem como, um leque de metodologias de planeamento de grandes exigências como a pesquisa-ação, a análise estratégica, a prospetiva e a construção de cenários (Guerra 2010, Perestrelo, 1999) que devem ser combinadas com a “capacidade cultural de

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O sociólogo de desenvolvimento local precisa de uma especialização técnica complementar em outras ciências sociais como por exemplo a História, a Geografia ou a Economia (Silva 1987, Costa 2012), a Antropologia, a Psicologia Social e a Estatística (Fórum estudante, cidades das profissões, Porto Digital).

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pensar de forma endógena” Sachs (2001) sobre os possíveis cenários futuros da localidade.

Do ponto de vista teórico77 o sociólogo aplicado faz o diagnóstico dos recursos socioculturais e económicos do local de destino, e com base neles faz previsões e constrói teorias sobre os cenários futuros sobre a localidade (Guerra 2010) que irão apoiar técnica e metodologicamente o planeamento participativo entre os atores públicos, empresários e sociedade civil sobre a definição do modelo de desenvolvimento local.

No decurso do processo de planeamento, o sociólogo do desenvolvimento local descodifica os conceitos relativos aos problemas sociais, as bases da elaboração das políticas sociais promovendo debates e reflexões sobre a implementação de programas e projetos sociais em contexto local (Marta 2004), que do ponto de vista sociológico só fazem sentido quando emerge da ação coletiva (Guerra 2005). E como do conjunto de atores sociais que participam do processo, normalmente, emergem ideias e objetivos diferentes, o sociólogo apela à negociação com vista a clarificação de conflitos e à emergência de consensos (Guerra 2010), facilitando a exercitação das habilidades e energias dos atores locais para que possam gerar grupos criativos inerentes à elaboração de projetos de desenvolvimento locais consensuais (Costa 2012). Nesta logica da ação Marta (2004 p. 39) argumenta que,

“A sociologia da intervenção tem dado um importante contributo no sentido de se ir para além da corrente positivista da sociologia mais próxima do terreno, tendo em vista novas articulações entre a teoria e a acção, entre a investigação e a intervenção.”

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Ainda do ponto de vista teórico, os sociólogos da intervenção social e divulgam as suas investigações científicas sobre o planeamento em forma de artigos científicos, bem como através da realização de congressos e seminários contribuindo desta maneira, para a formação dos atores da intervenção pública e dos cidadãos em geral (Marta 2004).

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De fato, através da combinação entre a teoria e a prática, o sociólogo do desenvolvimento local, estimula a criação de uma rede de agentes de planeamento local, integrada por atores públicos, por empresas privadas e pela sociedade civil, que procuram identificar e discutir sobre as potencialidades, as oportunidades e as ameaças presentes na localidade com a finalidade de construir consensos e elaborar políticas, planos e projetos de desenvolvimento baseados nas dinâmicas socioculturais e produtivas da localidade. Para facilitar o processo, o sociólogo do planeamento na ótica de Guerra (2010 p.88) deve estar

“(…) capacitado para uma efetiva participação nos processos de desenvolvimento económico-social, nomeadamente através da participação na análise das dinâmicas sociais numa perspetiva de entendimento do jogo estratégico dos actores, promovendo a reflexão sobre os recursos e os constrangimentos em função da elaboração de projectos de acção”.

Na perspetiva de Costa (2012) o sociólogo facilita a definição de diretrizes do planeamento baseado nos recursos primários naturais e culturais do território através de uma logica do consenso que constrói de baixo para cima, envolvendo decisores públicos e privados. E argumenta que só pode haver um plano de desenvolvimento, tecnicamente bem escrito, se houver um esforço compartilhado associado à orientação contínua do sociólogo aplicado, um especialista em análises económicas e geográficas de destinos.

Da mesma forma, em relação ao turismo, o sociólogo aplicado é considerado por muitos autores, como por exemplo Cooper (2006) e Costa (2012) como um mediador, ou seja, um verdadeiro intermediário entre o conhecimento do mercado, do turismo e das atividades inovadoras das empresas que desenvolvem negócios coletivos com entidades locais. O sociólogo é um facilitador da parceria, de colaboração em apoio a gestão do destino, e na falta da intervenção deste profissional são apontadas muitas dificuldades na criação de distinos ou sistemas turísticos (Costa 2012). Assim o sociólogo do turismo é considerado por muitos autores (Costa 2005, 2008, Biork e Virtanen 2005 apud Costa 2012) como um médico filosófico, reconhecido como um habilidoso analista socioeconómico dos recursos a

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serem melhorados e dos impactos do turismo na comunidade local, e, portanto, como um facilitador de boas práticas que geram parcerias colaborativas para atrair visitantes e faze-los gastar seu dinheiro no destino. Ou seja, um especialista que se dedica à solução de problemas, e que pode então ensinar aos outros como se tornar um filósofo praticante que trabalha em instituições públicas ou em sociedades e o turismo (Costa 2012).

Assim, em termos práticos, os sociólogos potenciam os trabalhadores do turismo com conhecimentos sobre a hospitalidade e orientam os agentes locais a conceberem projetos de desenvolvimento em rede (Dredge 2006a), bem como, facilitam a colaboração entre as instituições públicas, empresas locais e a sociedade civil na elaboração de planos estratégicos de desenvolvimento do turismo, participativo que visa a construção de consenso sobre a integração dos recursos locais em um produto turístico que abarque por exemplo as estruturas de alojamento, de transportes, de gastronomia, da cultura, da arte, da arqueologia e de marketing (Costa 2012). Neste sentido, durante o processo de planeamento, o sociólogo facilitador, auxilia os atores de desenvolvimento a integrar os recursos locais no planeamento territorial participativo, induzindo os agentes locais a avaliarem os custos e benefícios, devendo para o efeito estar aberto a ajudar a resolver os problemas práticos colocados pelos atores sociais que participam do processo, comportando-se como um facilitador do processo, e não como alguém que esteja acima deles (Costa e Martinotti 2003), mas sim alguém que procura ajudar os atores sociais a decidir de forma consciente, facilitando a racionalidade comunicativa entre as partes envolvidas, deste modo conforme Costa (2012, p.1.) “the sociologist as a facilitator of local tourism development”.78

E para facilitar processo, os sociólogos do turismo e desenvolvimento local são treinados em educação e formação prática e em uma macro teoria sobre os métodos práticos que fazem deles, excelentes profissionais que influenciam as políticas das instituições e empresas locais. Neste sentido, em função da sua tecnocracia, os sociólogos produzem teorias explicativas (Marta 2004, Costa 2012), através de métodos de estudos de caso, de observação participativa, comparativos e quantitativos que podem ser utilizados pelos

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atores do desenvolvimento do turismo. Por exemplo a teoria do conflito, o estruturalismo e o funcionalismo e a territorialista de desenvolvimento endógeno. Que guiam o planeamento territorial, incluindo os aspetos socioculturais e a sustentabilidade (Costa 2012). Em outras palavras, o sociólogo facilitador, contemporaneamente aparece como um académico com conhecimento formal codificado em livros e artigos (Marta 2004, Costa 2012) que ele escreveu sobre o desenvolvimento turístico local, e como um parceiro que conhece os problemas reais dos empresários, dos trabalhadores e dos administradores públicos, e que quer ajudá-los de uma forma amigável com o seu conhecimento em fóruns de planeamento estratégico (Costa 2012).

Em suma, o sociólogo facilitador do desenvolvimento do turismo sabe como fazer com que os atores da economia, do turismo, da arte, moda e gastronomia se encontrem, dialoguem e comecem a trabalhar em um projeto estratégico participativo de desenvolvimento local. E por isso, de acordo com Hartmann e Sonnad (2007, apud Costa 2012), “A sociologist he/she is a “crafts- man” of the local development79

que conhece as técnicas do planeamento participativo de baixo para cima, além de dominar os regulamentos do turismo ao nível do contexto nacional, regional e internacional. O sociólogo do planeamento deve ainda supervisionar a aplicação de técnicas de pesquisa para a coleta de dados estatísticos sobre o turismo a nível local e sua análise, visando a construção do conhecimento quantitativo e qualitativo sobre a localidade (Marta 2004).