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7. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

7.1. O turismo como fator de desenvolvimento

7.1.2. Contribuição no plano económico

Na perspetiva da teoria social de interpretação económica o desenvolvimento é entendido como crescimento económico que considera apenas a produção e consumo material que se medem por exemplo através do produto nacional e da renda per-capita, ignorando outras variáveis como a equidade social e a distribuição dos resultados do crescimento económico (Rostow 1967, Diegues 1992, Tadaro 1994). No quadro de teoria sociológica como já se fez referência anteriormente o desenvolvimento económico aparece como crescimento, progresso económico e evolução económica e social que tinha sido apresentado conforme Rattner (1997 p. 21) “durante mais de um quarto de século como meta e valor supremos das sociedades ocidentais e orientais, desenvolvidas e subdesenvolvidas”. Numa altura em que se tinha criado um otimismo sobre a possibilidade de se promover o desenvolvimento nas nações recém-independentes e em outras áreas consideradas economicamente atrasada, tendo se chegando a acreditar que o crescimento económico resolveria todos os problemas da pobreza, através da cooperação e da transferência de capital e da técnica, a imagem do que havia acontecido com o plano Marshall na Europa (Dickenson et al 1983). Entretanto, logo descobriu-se que o crescimento não era suficiente para medir o desenvolvimento local, na medida em que outros elementos importantes tinham

Turismo sustentável Ambiental Económica Sociocultural Política Desenvolvimento local sustentável

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sido omissos da análise, como a equidade na distribuição da renda, fatores institucionais e políticos e ou a necessidade de mudanças nas estruturas económicas atrasadas (…). Em função disso, no plano sociológico Rattner (1997) e Beck (1998) observaram que o crescimento económico não proporcionava fundamentalmente a “equidade e justiça social”, mas pelo contrário estava a provocar desequilíbrios sociais e assimetrias regionais, e com isso houve a necessidade de incluir outras variáveis na abordagem sociológica do desenvolvimento, que abrangessem as suas várias dimensões. Nesta ordem dos acontecimentos, e no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Sen (2001) apresentou subsídios valiosos à “ideia de desenvolvimento” ao propor os princípios analíticos que foram fundamentais para a elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (Schneider e Freitas 2013) 69

. Que incorporou a expetativa da vida, educação e renda necessários para um padrão de vida decente (PNUD 1990). Assim, na perspetiva de Sen (2001) pode se falar de desenvolvimento quando, perante um conjunto de oportunidades, os indivíduos possuem a liberdade e capacidade de escolha para atingirem os fins que perseguem. Para Coriolano (2003) há desenvolvimento local sustentável quando todos os membros da sociedade se beneficiam da riqueza proporcionada e que a sua qualidade de vida seja elevada em consonância com os princípios dos direitos humanos. Na perspetiva de Knutssson (2009) o desenvolvimento local deve proporcionar os direitos humanos, a boa governação, a democracia, a participação da sociedade civil e as estratégias de redução da pobreza.

No que diz respeito ao turismo, no âmbito da teoria social da interpretação socioeconómica o turismo é visto como uma ferramenta que proporciona o crescimento económico, e como uma alternativa para o desenvolvimento económico das localidades acolhedoras na medida em que, o mesmo representa uma importante fonte de receitas em divisas que contribuem para a balança de pagamento local. Além de contribuir para a criação de novos postos de emprego, incorporando, sobretudo, no setor económico local, as camadas sociais mais desfavorecidas, incluindo os pobres e as comunidades indígenas

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Sen foi o principal colaborador do Relatório sobre o Desenvolvimento Humano (Viegas 2006).

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residentes nos locais turísticos. Que passam a ter oportunidades de criarem pequenas empresas, como por exemplo as associações de guias indígenas de turismo, devendo, no entanto, para o efeito serem instruídos em aprender a falar as línguas dos turistas que frequentam o destino (Wall 1995, Dias 2003, Piller, et al 2004). Nesta linha de pensamento McCarthy (1994) considera que o turismo como um fenómeno económico-social que gera capital, postos de trabalho e rendimento para as empresas contribui economicamente para o desenvolvimento local sustentável quando oferece oportunidade para os atores locais. Na medida em que, o incentivo aos empresários locais a investirem no turismo permite uma boa gestão dos recursos locais (Almeida e Abranja 2009). Isso possibilita o aumento das receitas fiscais dos municípios localizados nos polos de desenvolvimento turístico e além disso as comunidades locais se beneficiam com o surgimento de novas infraestruturas ou com a melhoria dos serviços já existentes, tais como estradas e vias de acesso, saneamento básico, água potável, eletricidade, pavimentação, telecomunicações e transportes, ou mesmo com o aumento da oferta dos serviços de lazer, segurança, saúde, educação e assistência social (Peake 1988, Brown 1992, Honey 1999). Melhorando desta maneira, a imagem do destino e a qualidade de vida das populações, ai residentes, e, por conseguinte, promove-se o desenvolvimento local. Piller, et al (2004) vê nisso a razão principal de se propagar a ideia de “desenvolvimento local baseado no turismo” sobretudo, devido ao crescimento económico e a recuperação de muitos territórios, que resulta da prática dessa atividade.

Na perspetiva de Schubert et al (2011) o turismo sustentável estimula ainda a concorrência e competitividade local, e incentiva o desenvolvimento de outros setores económicos, assim como a técnica e o desenvolvimento do capital humano. Em defesa dessa ideia, Noronha (1979) e Clarke (1981) argumentam que o turismo contribui para o desenvolvimento económico local sustentável, quando estabelece um vínculo com os setores produtivos locais como a agricultura, a cultura e arte, aos quais (…) acrescenta-se as pescas, indústrias e construção. Com certeza, desta forma os produtores locais podem fornecer os produtos agrícolas, cultuarias e artísticos ao sistema turístico local, criando desta forma, no destino, um produto turístico ligado ao sistema produtivo local. Nesta lógica de pensamento, ainda conforme Noronha (1979) e

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Clarke (1981), quando as políticas de desenvolvimento do turismo estabelecem relações com os sistemas produtivos locais das comunidades menos desenvolvidas, através da compra dos produtos locais, para abastecer os hotéis e restaurantes, ou quando incluem o artesanato, a música, dança e coreografia local, há uma grande possibilidade de potenciar os produtores locais. Ao consumir os artigos produzidos na economia local, o turismo proporciona rendimentos adicionais e fortalece o sistema produtivo local. E, por conseguinte, empodera a economia local que, por sua vez, fará com que se produzam mudanças qualitativas no modo de vida da população local (Hashimoto 2014).

Em suma, as receitas fiscais do turismo podem ser usadas pelo governo para beneficiar a população em geral, em termos de programas sociais, ou ainda a favor dos pobres (Hashimoto 2014). Contribuindo assim, para o bem- estar da comunidade que na perspetiva da sociologia do desenvolvimento constitui um meio de “referência” para o desenvolvimento local sustentável (Schneider e Freitas 2013).