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7. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

7.2. A participação dos atores locais

No quadro da sociologia do desenvolvimento do turismo, torna-se importante, cada vez valorizar a relação entre a comunidade local e o poder público, no que diz respeito ao planeamento e desenvolvimento do turismo. Nesta ótica, de acordo com Murpy (1985) as comunidades podem ter alguma influência sobre o desenvolvimento do turismo e enfatizou a necessidade de se desenvolver o turismo visando a satisfação das necessidades locais. Assim, a

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Como sociólogo aplicado ele/ ela é um homem artesão do desenvolvimento local. (tradução do autor).

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partir da publicação de Murpy (1985), tem havido uma proliferação de estudos que partilham a proposição básica de que o envolvimento dos residentes na tomada de decisões é a chave para o desenvolvimento do turismo sustentável (Jamal e Getz 1995) e garante a construção de um planeamento mais equitativo do desenvolvimento do turismo (Brent Ritchie 1993), promove a cooperação entre as diferentes agências governamentais, o público e os sectores privados (Timothy 1998), assegura a eficiência do planeamento e a democratização das ações governativas (Bandeira 1999, Amaro 1991) e permite superar a resistência ao turismo por parte de alguns segmentos da comunidade (Brent Ritchie 1993) gerando desta forma a aceitação e a legitimação do turismo como política de desenvolvimento local.80 Apelando para um “compromisso” entre todos os intervenientes do processo e especialmente para os destinatários (Guerra 2010) do processo de desenvolvimento, atendendo que a participação real significa negociação, o que implica uma certa redistribuição de poder (Friedmann, 1973a) e dos benefícios do turismo.

A participação dos diferentes atores sociais na tomada de decisões e das políticas de desenvolvimento do turismo é considerada ainda pelas agências das Nações Unidas como um mecanismo eficaz para o combate a corrupção que, geralmente se verifica entre os atores públicos e privados (Bandeira 1999). Além disso, a participação dos atores locais ajuda a minimizar os impactos negativos do desenvolvimento do turismo (Fiorino 1990, Keogh 1990). A julgar pelo fato de que a cooperação entre grupos envolvidos, como ONGs, atores da indústria e do governo é fundamental para a sobrevivência dos recursos turísticos e para alcançar os objetivos do turismo sustentável. Murphy (1985), que de acordo com Byrd, Bosley e Dronberg (2009) se atinge através da inclusão das partes interessadas no seu planeamento e gestão,

80 “A falta de participação da comunidade muitos é apontada, na literatura produzida pelas

principais instituições internacionais da área do fomento do desenvolvimento, como uma das principais causas do fracasso de políticas, programas e projetos de diferentes tipos. Como consequência dessa falta de envolvimento da comunidade, muitos programas e projetos governamentais concebidos e implantados de cima para baixo não sobrevivem às administrações responsáveis pelo seu lançamento. Acabam por ser substituídos por outros igualmente efémeros, num ciclo patético que envolve grande desperdício de recursos e só contribui para aumentar o descrédito em relação a eficácia das ações do setor público” (Bandeira, 1999, p.11-12).

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permitindo desta forma que as comunidades locais usufruam dos benefícios do desenvolvimento do turismo (Timothy 1999). Da mesma forma Adilson (1996), França (1998), Bramwell e Lane (2000) acreditam que a participação ativa dos cidadãos na tomada das decisões pode beneficiar as comunidades locais. Assim para França (1998) a participação ajuda a envolver a população local na identificação de problemas, na tomada das decisões e sua implementação, contribuindo desta forma para o desenvolvimento sustentável. Slocum e Thomas-Slayter (1995) acrescentam que as pessoas precisam participar durante o processo de tomada de decisões, por causa dos seus interesses pessoais e da sociedade em que vivem. Além disso, o desenvolvimento do turismo tem impactos positivos e negativos, e por essa razão as comunidades residentes nos locais de destino devem ter a oportunidade de se envolver, no sentido de poderem maximizar os benefícios e minimizar os custos para a comunidades (Inskeep 1991, Woodley 1999) através de um melhor planeamento da atividade (Burns 1999). Nesta logica de pensamento Timothy (1999) afirma que a participação da população local no planeamento do turismo ajuda a protege-las dos impactos negativos e a diversificar os benefícios do desenvolvimento do turismo. Schaardenburg (1996) sustenta que a participação dos atores locais no planeamento do turismo local é necessária, na medida em que as mudanças no progresso do turismo não só afetam as questões económicas, mas também influencia os residentes na área de destino e por essa razão eles devem participar na tomada das decisões, na elaboração dos planos e na sua execução, a fim de controlar as mudanças que afetam as suas vidas.

Em função disso, a participação pode fazer com que a implementação das políticas de desenvolvimento do turismo seja mais eficaz, uma vez que as comunidades locais são capazes de gerar ideias para o planeamento e desenvolvimento do turismo. Aumentando as oportunidades para que o governo encontre ferramenta para um melhor planeamento e desenvolvimento do turismo (Darier et al 1999). No entanto Arnstein (1969) sustenta que o processo de participação pública precisa de ser planeado de forma sistemática, a fim de atingir as suas metas e objetivos. E os cidadãos precisam ser educados antes do seu envolvimento, ou seja, precisam de compreender os seus direitos e os propósitos da sua participação; pois sem essa formação, os

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objetivos de participação não podem ser alcançados. Neste sentido conforme Haywood (1988) um dos principais objetivos da participação pública é a satisfação das necessidades e aspirações das partes interessadas em benefício da sociedade e da indústria do turismo. Mas para se conseguir é necessário o desenvolvimento humano que se deve traduzir na educação e no treinamento das partes envolvidas no sentido de desempenharem o seu papel no processo.

Em suma, a participação ajuda a comunidade a entender o seu papel no processo de desenvolvimento local, oferecendo o potencial para as populações exercitarem as suas habilidades e conhecimentos e indiretamente melhora a qualidade do processo de tomada das decisões. Além de contribuir para a melhoria das relações entre as partes envolvidas com a tomada de consciências das comunidades sobre as suas responsabilidades e dos atores públicos locais. Ajudando na promoção do desenvolvimento, no combate a pobreza e exclusão social de uma localidade a julgar pelo fato de que são elas que conhecem melhor os seus problemas, os seus interesses e as suas aspirações futuras. Devendo para o efeito, em conjunto, com os agentes públicos, privados, sociólogos e outros especialistas em matéria de planeamento, encontrarem os mecanismos necessários para a transformação das potencialidades da comunidade em projetos de desenvolvimento local sustentável.