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A abordagem teórica do processamento da informação

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Elementos teóricos da comunicação

2.1.3 Contribuições da psicologia ao estudo da comunicação

2.1.3.1 A abordagem teórica do processamento da informação

Os trabalhos relacionados com a primeira abordagem teórica são fundamentais para o entendimento de processos encadeados como a percepção, o processamento de estímulos cognitivos e a memória. Suas principais áreas de pesquisa relacionaram-se com a resolução de problemas, a aprendizagem verbal, a identificação de conceitos, a extrapolação, o processamento de textos verbais e a memória semântica de curto e longo prazos.

Os temas recorrentes nesses trabalhos são os das estratégias mentais para se lidar e estabelecer padrões para a resolução de problemas; as formas de organização e acesso a conhecimento especializado; as condições para entendimento e ação em domínios com riqueza semântica; os sistemas de produção com requisitos condicionais do tipo IF/THEN e as diferenças entre as memórias de curto e longo prazos. Os experimentos realizados com apoio de sistemas computadorizados tiveram, por sua vez, grandes impactos no desenvolvimento de modelos e sistemas de inteligência artificial (SIMON, 1981).

Relevante para essa discussão é o entendimento do modelo de processamento da informação mostrado a seguir, proposto inicialmente por McGuire (1976) e adaptado na forma de um diagrama por Engel, Blackwell e Miniard (2000). Nesse modelo é possível visualizar as diversas etapas envolvidas no processamento do estímulo, desde a ativação da percepção, até sua retenção e possível acesso posterior na memória.

Ilustração 5 – O modelo de processamento da informação (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2000:310)

O modelo divide o processo em etapas subsequentes e interdependentes, no qual é possível prever que há uma diminuição da eficiência na medida em que as etapas se sucedem. Isto quer dizer que nem toda mensagem à qual o público está exposto conquista a sua atenção, e mesmo quando o receptor dedica a atenção à informação não se garante compreensão da mesma. Por fim, depois da compreensão do conteúdo há a necessidade de que ocorra a etapa da aceitação, a qual não implica retenção do estímulo na memória. A memória é o destino almejado, porém nem sempre há garantias de que os estímulos sejam armazenados de forma positiva e que estejam sempre disponíveis para alimentar novos processamentos. A memória, por sua vez, divide-se em instâncias de curto e longo prazos. Algumas informações são retidas em transiência, codificadas temporariamente no que se convencionou a chamar de Memória de Curto Prazo (Short Term Memory – STM), ou memória de trabalho. Nesse processo, as informações são mantidas em prazos muito menores, quando comparadas aos processos da Memória de Longo Prazo (Long Term Memory - LTM), na qual são estocadas informações geralmente em estado inativo, que são ativadas quando requisitadas pelo processamento da informação (ANDERSON, 1985).

Adler e Firestone destacam a saturação de estímulos que os indivíduos enfrentam, situação decorrente da facilidade aumentada para a produção e a distribuição de informações de todos os tipos. “O mercado está saturado de mensagens, todas competindo por nossa atenção. Nesse ambiente, a atenção torna-se mercadoria rara” (ADLER e FIRESTONE, 2002: 10). Para Anderson (1985), a atenção é um processo importante para selecionar qual informação sensorial será processada. Os processos cognitivos, por sua vez, podem ser classificados em automáticos, aqueles que não requerem atenção e controlados, os que exigem atenção.

Pode-se dizer que o processamento da informação é a porta de entrada na mente do consumidor, ocorrendo por vias conscientes ou subconscientes. Janiszewski (1990) assume que os indivíduos mantêm contínuo monitoramento do ambiente, alterando seus níveis da atenção de acordo com as necessidades, mas que nem sempre esse monitoramento é percebido de forma consciente. O trabalho desse autor, que envolve elementos da neuropsicologia, fornece importantes subsídios empíricos relacionados com a função dos hemisférios cerebrais, que funcionam ao mesmo tempo de forma independente e complementar no processamento de estímulos. O lado esquerdo, mais verbal, é responsável por operações como a decodificação do léxico, o sentido denotativo, a análise sintática e a integração de conceitos. Já o lado direito, de predominância visual, é responsável pela decodificação de imagens, pelo sentido

conotativo, pela análise associativa, pela inferência e pela implicação. Porém, ao funcionarem conjuntamente, ambos os hemisférios realizam trocas simultâneas que influenciam as tarefas desempenhadas em separado.

O autor diz que “um indivíduo continua a monitorar todas as informações vindas do ambiente, mesmo quando estas informações que competem entre si são estáticas ou irrelevantes” (JANISZEWSKI, 1990: 277). Isso significa dizer que mesmo dedicando atenção a determinado foco, o processamento da informação continua a considerar níveis sub- atencionais, que por sua vez influenciam a capacidade do processamento que está sendo realizado. Quando há uma mensagem de característica predominantemente visual, o nível verbal, mesmo que secundário, está sendo objeto de escrutínio do elemento-processador de estímulos. O inverso ocorre quando o elemento verbal é predominante: seu processamento está sujeito à influência dos elementos visuais presentes na formulação da mensagem.

Winkielman e Berridge (2004) argumentam no mesmo sentido, apontando para o fato de que diversos processos cognitivos podem ser inconscientes, “ocorrendo em níveis abaixo da consciência” e que “sob algumas condições as pessoas podem acionar subliminarmente reações emocionais que levam ao julgamento e ao comportamento, mesmo quando isso acontece na ausência de qualquer sentimento consciente que acompanhe estas reações” (WINKIELMAN e BERRIDGE, 2004: 121).

No seu trabalho sobre princípios da memória e da cognição na formação de atitudes, Lingle e Ostrom (1981) reforçam o proposto por Janiszewski quando dizem que “nova informação é constantemente comparada com subconjuntos de conhecimento preexistente das pessoas”, porém esses autores centram-se no conceito da estrutura temática, ou schemata. Segundo eles, “o conhecimento anterior fornece modelos dentro dos quais a nova informação pode ser organizada, interpretada e entendida” (LINGLE e OSTROM, 1981: 400-401). As atitudes, geralmente, funcionam como esquemas de avaliação de estímulos, ou seja, fornecem um sistema a priori de crenças e valores que filtram, orientam e que são acionados conjuntamente com o processamento da informação. A congruência com esquemas de processamento da mensagem é o que justifica a capacidade que o receptor tem de preencher gaps propostos pelo emissor, recriando o sentido original da mensagem, de forma que na recepção há um processo de coautoria. Anderson (1985: 103) define esquemas como “unidades extensas e complexas do conhecimento que codificam as propriedades típicas de instâncias de categorias gerais”.

Ao reconhecer que as pessoas têm, em geral, dificuldades para reter detalhes específicos das formulações verbais e visuais em sua memória, os experimentos psicológicos demonstraram que há um processo de retenção do sentido da experiência para acesso posterior. Essa codificação mais generalista estimula a formação de esquemas e de associações, que por sua vez definem redes proposicionais, nas quais diversos atributos e temas são organizados por esquemas do tipo objetos, relações e sujeitos, que quando requisitados são associados de forma relativa na memória. Índices fornecem os caminhos que a memória desenvolve para que a informação estocada seja acessada quando necessária (ATKINSON et al., 2002).

Lingle e Ostrom (1981) propõem quatro princípios envolvidos com a estrutura temática (como eles denominam os esquemas) para o pensamento humano. O primeiro deles determina que “a maneira como um estímulo multiatributo é codificado mentalmente depende dos frameworks temáticos (esquemas) que são salientes no momento em que o estímulo é processado inicialmente”. Um segundo princípio envolvido é o de que “a maneira pela qual um estímulo informacional pode ser lembrado mais tarde depende dos frameworks temáticos que eram salientes no momento em que o estímulo informacional foi processado inicialmente”. O terceiro princípio determina que “as associações implicacionais que as pessoas geram quando consideram os estímulos informacionais tendem a ser armazenados na memória e podem ser reacessados para formar as bases de julgamentos subsequentes”. O quarto princípio diz que o conjunto de associações implicacionais, que geralmente são lembradas como verdadeiras a respeito de um estímulo-evento, são dependentes do framework temático saliente no momento em que o estímulo informacional é processado inicialmente (LINGLE e OSTROM, 1981: 401-403). Dessa forma, o conceito de saliência é de grande importância para o processamento da informação, ao estabelecer que o processamento cognitivo se apóia em estruturas e relações advindas dos conhecimentos que o indivíduo acessa com maior rapidez ou que identifica como de maior relevância.

Rodrigues (1975) aponta pelo menos quatro fatores que influem no processo perceptivo e que são independentes da forma e do conteúdo do próprio estímulo: (1) seletividade, isto é, a capacidade de selecionar quais estímulos merecerão maiores ou menores níveis de atenção; (2) experiência prévia e disposição para responder, que se correlacionam de forma positiva, já que “nossas experiências passadas facilitam a percepção de estímulos com os quais tenhamos, anteriormente, entrado em contato” (RODRIGUES, 1975: 225); (3) condicionamento, que conduz as pessoas “a perceber elementos diferentes numa mesma

estrutura ou, pelo menos, enfatizar tais elementos em maior ou menor escala” (idem); e, por fim, (4) fatores contemporâneos ao fenômeno perceptivo, que dependem da situação específica do ambiente e a condição fisiológica do receptor, os quais influenciam as condições de percepção do estímulo sensorial.

Ao se aceitar essas proposições, admite-se que a ativação de esquemas no processamento da informação é dependente da combinação da atitude do receptor com as condições ambientais presentes no momento do processamento da mensagem e que esses fatores determinam as maneiras pelas quais o estímulo será codificado e lembrado, quais elementos ganharão relevância quando do acesso na memória e quais os elementos contribuem para a aceitação do estímulo como relevante para ser estocado na memória e, finalmente, com qual valência (positiva ou negativa) ele será estocado.