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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Elementos teóricos da comunicação

2.1.2.1 As correntes teóricas da semiótica

2.1.2.1.3 O percurso gerativo do sentido: Greimas

Algirdas Julius Greimas (1917-1992), lituano de nascimento, mas com intenso relacionamento com a academia francesa, pois estudou e lecionou na França, foi semiótico de tradição estruturalista. Influenciado pelo trabalho de Saussure, Hjelmslev e pela abordagem antropológica de Lévi-Strauss, Greimas inaugurou uma nova vertente para o estudo dos fenômenos semióticos, baseada na compreensão dos diversos níveis da geração do sentido, naquilo que se convencionou denominar os estudos da semiótica estruturalista greimasiana. Essa linha teórica é de grande utilidade para os que procuram estudar as formas de expressão não linguísticas, além de correlacionar as diversas formas do discurso com as estruturas do pensamento e da vida dentro da cultura e da sociedade. Além do próprio Greimas, os autores que serão utilizado para sintetizar a abordagem dessa corrente teórica serão Floch (1985; 2000), Fiorin (2001) e Barros (2002).

A semântica, como área da linguística que busca estudar o conteúdo do discurso, está preocupada na delimitação dos diversos campos semânticos, isto é, no “conjunto de unidades lexicais associadas por uma determinada estrutura subjacente” (FIORIN, 2001:12). É o campo semântico que proporciona os elementos necessários a um agente envolvido na intenção de proporcionar sentido, dentro de um processo de enunciação do discurso, que se dá pela articulação de uma determinada sintaxe.

Pela teoria greimasiana, a semântica é sempre gerativa, porque envolve modelos que apreendem a invariância do sentido: diferentes manifestações de superfície podem significar a mesma coisa, quando analisadas em um nível mais profundo. A semântica também deve ser sintagmática porque se interessa pela produção e interpretação dos diversos discursos. Por fim, a semântica é geral, porque é capaz de identificar a unicidade do sentido nos distintos planos de expressão. Diferentes frases, uma figura, uma forma qualquer, podem em sua essência buscar o estabelecimento de um mesmo sentido, enunciações geradas a partir de um modelo que permite diversos e diferentes sintagmas, mas que, na sua essência, oferecerão um sentido único, para o que pretende ser geral. Para Greimas, a semiótica não deve se propor como uma teoria dos signos, mas sim como uma teoria da significação (NÖTH, 2008).

O estudo de como as múltiplas camadas do discurso se articulam fornece a base fundamental da semântica estruturalista. Ela está centrada na compreensão do percurso gerativo de sentido que, segundo Barros, é “uma seqüência de programas narrativos relacionados por

pressuposição” (BARROS, 2002: 26), entendendo que o mesmo se dá em patamares, “[...] cada um dos quais suscetível de receber uma descrição adequada, que mostra como se produz e se interpreta o sentido, num processo que vai do mais simples ao mais complexo” (FIORIN, 2001:17).

A primeira etapa do percurso, a mais simples e abstrata, recebe o nome de nível fundamental ou das estruturas fundamentais e nele surge a significação como uma oposição semântica mínima. [...] No segundo patamar, denominado nível narrativo ou das estruturas narrativas, organiza-se a narrativa do ponto de vista de um sujeito (e) [...] o terceiro nível é o do discurso ou das estruturas discursivas em que a narrativa é assumida pelo sujeito da enunciação (BARROS, 2002: 9).

A formulação das diversas terminologias e ferramentas para a análise que constituem o corpo teórico da semiótica greimasiana é de grande complexidade e de difícil síntese. Como o propósito aqui é diferenciar as diversas correntes de estudo do signo, este trabalho se absterá de formulações aprofundadas, restringindo-se aos conceitos mais básicos, como forma de permitir ao leitor o acompanhamento de algumas proposições e discussões que serão feitas na metodologia do trabalho, mais à frente. Da semiótica estruturalista, o que mais interessa é esta identificação dos três níveis necessários para a articulação e decodificação do discurso: o nível fundamental, o narrativo e o discursivo. Esses níveis devem ser analisados sempre pelos seus componentes semânticos e sintáticos, a proposição do sentido a ser comunicado e como o discurso foi enunciado, quais os elementos utilizados para gerar o sentido proposto.

Para Greimas e Courtés, o plano fundamental do discurso “define-se pela relação entre ao menos dois termos, repousando na distinção de oposição que caracteriza o eixo paradigmático da linguagem” (GREIMAS e COURTÉS, 1979:364). Nesse nível fundamental estão expressos conceitos contrários, fortemente abstratos, como vida versus morte, natureza versus cultura, liberdade versus opressão.

A partir desse núcleo fundamental, organizam-se as estruturas narrativas, constituindo um segundo nível da geração do sentido na forma de um esquema para enunciação. Nesse processo, sujeitos mantêm relações de conjunção e de disjunção com objetos, em caráter eufórico (positivo, de aceitação e valorização) ou disfórico (negativo, de rejeição e depreciação), desenvolvendo programas a partir de um estado inicial, passando por uma transformação e alcançando um estado final.

Na sintaxe narrativa, há dois tipos de enunciados elementares: a) enunciados de estado: são os que estabelecem uma relação de junção (disjunção ou conjunção) entre um sujeito e o objeto enunciado [...] e b) enunciados de fazer: são os que mostram as

transformações, os que correspondem à passagem de um enunciado de estado a outro (FIORIN, 2001:21).

Esse nível intermediário corresponde a estruturas de articulação do texto-discurso, que se repetem nas possíveis diversas formas de enunciação particulares.

No processo de geração de sentido, elabora-se então o último nível, o mais superficial, chamado discursivo, onde “as formas abstratas do nível narrativo são revestidas de termos que lhe dão concretude” (FIORIN, 2001:29). No discurso estão os temas e as figuras utilizadas para lhes fornecer representação: “a figura é todo conteúdo de qualquer língua natural ou de qualquer sistema de representação que tem um correspondente perceptível no mundo natural” (FIORIN, 2001:65).

Todos esses planos articulam-se na expressão concreta carregada de sentido, que pode ser verbal, gestual, pictórica ou de outra natureza. Tem-se então o que Fiorin chama de nível da manifestação, onde se externalizam todos os planos do conteúdo: “chamamos de manifestação à união de um plano de conteúdo com um plano de expressão” (FIORIN, 2001:31). Na articulação da manifestação, são expostos dois fatores determinantes para a forma: os efeitos estilísticos da expressão (ritmo, aliteração, assonância, figuras retóricas de construção) e as coerções do material (o respeito ao léxico existente e às regras de sua articulação, na língua escrita ou falada; a simultaneidade dos elementos, na imagem pictórica).