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A afirmação de um sistema binário de ensino superior em Portugal

Mais tarde, em 1990 através da Lei n.º 54/90 de 5 de Setembro, é publicado o Estatuto e Autonomia dos Estabelecimentos de Ensino Superior Politécnico, através dos quais se define este tipo de estrutura como instituições que integram duas ou mais

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Excepto aqueles para cujo acesso de exijam aptidões vocacionais específicas, a avaliar através de processos de selecção e seriação próprios e os de formação militar ou policial sujeitos a dupla tutela.

escolas superiores, geograficamente, situadas na mesma região, podendo, ainda, ser constituídas por outras unidades orgânicas que facilitem a concretização dos objectivos que preconizam. Perspectiva-se que o referido conjunto de escolas constitua a resposta às necessidades formativas, respeitantes a este nível de ensino, da região em que se inserem. O tipo de organização que respeita prende-se com a expectativa de as escolas ao se associarem poderem vir a complementar-se, quanto à política educacional subjacente à sua criação, e de se poderem optimizar os recursos afectos ao projecto, no seu todo. Neste sentido, a entidade “Instituto Politécnico” é de alguma forma retomada, sem que contudo deixe de lhe corresponder um modelo, assumidamente, federativo de escolas superiores.

Às escolas superiores compete promover, designadamente, através de cursos conducentes ao grau de bacharel e ao diploma de estudos superiores especializados e de curta duração, uma formação susceptível de conferir aos que a recebam, as competências necessárias ao desenvolvimento de actividades profissionais altamente qualificadas.

Considerando que lhes compete, igualmente, assegurar o desenvolvimento das regiões em que se inserem, são atribuições suas: a organização ou participação em actividades de extensão educativa, cultural e técnica, bem como a realização de trabalhos de investigação aplicada e de desenvolvimento experimental.

Segundo o ponto 6 do artigo 2.º da Lei n.º 54/90 de 5 de Setembro:

“As escolas superiores têm como objectivos específicos: a) a formação inicial;

b) a formação recorrente e a actualização; c) a reconversão horizontal e vertical de técnicos; d) o apoio ao desenvolvimento regional;

e) a investigação e o desenvolvimento.”

Na referida Lei e mais, especificamente, no âmbito do seu artigo 4.º prevê-se a possibilidade de os institutos politécnicos, ou as suas escolas superiores, desenvolverem as actividades necessárias à prossecução dos seus objectivos em parceria com outras instituições congéneres, designadamente, de ensino superior universitário, particulares e públicas, nacionais e internacionais com as quais, para o efeito firmem acordos, protocolos de cooperação ou convénios.

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O processo de avaliação desencadeado por este Grupo de Missão atende, naturalmente, aos relatórios da Inspecção Geral de Educação e às informações coligidas pelo Departamento do Ensino Superior.

Para além de coordenarem os planos de actividade das escolas superiores integradas61, os institutos politécnicos são, ainda, responsáveis, numa óptica de gestão racionalizada e optimizada dos recursos, pela existência e manutenção dos meios humanos, administrativos e financeiros, de planeamento global e de apoio técnico necessários, às funções de coordenação das actividades protagonizadas pelas escolas superiores que os integram.

Esta Lei ressalta duas das atribuições próprias do ensino politécnico, pois, não só estimula a organização ou cooperação em actividades de extensão educativa, cultural e técnica, como também incentiva a realização de trabalhos de investigação aplicada e de desenvolvimento experimental, realçando, ainda, a dimensão regional do ensino politécnico. Desta forma, a Lei nº 54/90 de 5 de Setembro, afigura-se-nos como um importante marco para o processo de afirmação de um “sistema binário”, em que cada um assume vocações distintas, pese embora a articulação, sempre desejável, que se perspectiva entre os dois e entre estes e o ensino secundário. Nesta Lei, consagra-se, ainda, que as funções de representação e de coordenação das actividades dos estabelecimentos de ensino politécnico, sem prejuízo das atribuições de cada um deles, são da responsabilidade do Conselho Coordenador.

“Como se deduz da apreciação dos textos legais tem sido preocupação deste Conselho Coordenador dar continuidade aos objectivos estabelecidos pela legislação e consolidar através de diferentes iniciativas, do seu contributo e colaboração com o poder central, reafirmar a especificidade e a natureza deste subsistema de ensino face ao universitário.” (Arroteia, 2002, 60).

Em 1992, através do decreto-lei n.º 216/92, de 13 de Outubro, estabelecem-se os princípios pelos quais se passa a reger o exercício do poder de atribuição dos graus de mestre e de doutor que, tal como foi já referido anteriormente, passa a ser da exclusiva responsabilidade do ensino universitário, ou seja, das universidades e estabelecimentos de ensino superior universitário não integrados em universidades62. Com o fito de estabelecer uma relação de coerência entre a obtenção dos referidos graus e as novas realidades de ensino e investigação em Portugal, através do referido diploma preconiza- se a separação formal entre a formação pós-graduada e a ascensão na carreira docente,

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Os planos de actividade das diferentes escolas superiores integradas é apreciado por um conselho geral, a quem compete, por último, elaborar o plano global do instituto.

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Refira-se, a este propósito, o facto de o grau de mestre poder ser atribuído por universidades em associação com os institutos superiores politécnicos, ainda que a respectiva certificação seja da responsabilidade das primeiras.

A organização e realização dos cursos de mestrado e de doutoramento podem envolver várias unidades de uma mesma universidade, designadamente, escolas, institutos ou faculdades; duas ou mais universidades e,

assumindo-se, de forma inequívoca, a possibilidade de a mesma, ter por candidatos, indivíduos que abracem outras actividades profissionais, designadamente, de natureza produtiva.

Após a promulgação do decreto-lei nº 304/94, de 19 de Dezembro, a rede de instituições de ensino de natureza politécnica foi aumentada com novas escolas no âmbito de Institutos Politécnicos já existentes, como é o caso dos situados em Barcelos63, Leiria, Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal e Viseu64.

No âmbito do decreto-lei nº 28-B/96 de 4 de Abril, o carácter regional do ensino politécnico é reforçado, no âmbito do seu artigo 31.º, na medida em que se estabelece expressamente um contingente de vagas preferenciais, até um máximo de 50%, para o acesso ao ensino politécnico por candidatos oriundos da área de influência do estabelecimento e curso a que se candidatam.

No âmbito do artigo 32.º, do referido diploma legal, encontra-se previsto um contingente preferencial, até um máximo de 30% do total das respectivas vagas, para os candidatos ao ensino superior politécnico provenientes do ensino secundário, via cursos tecnológicos ou cursos técnico-profissionais, cursos das escolas profissionais, cursos de aprendizagem, com equivalência ao 12º ano, e cursos da via profissionalizante do 12º ano, todos eles devidamente previstos na lei.