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O diploma de ensino superior: limites e possibilidades

...À medida que as oportunidades se elevam cada qual revê as suas estimativas de custos/benefícios. Eleva-se deste modo igualmente o número de apostadores – mas a um ritmo mais elevado do que as oportunidades – e assim cresce inevitavelmente a proporção de insatisfeitos(…) provavelmente nunca foi tão elevado como agora o volume das energias mobilizadas e da insatisfação produzida nos diversos jogos da competição social.

(Grácio, 1997: 64)

Na sequência do aumento da procura de ensino de nível superior, movimento este com enquadramento ideológico e político favorável e que radica, fundamentalmente, na melhoria generalizada das condições de vida das famílias e respectivas aspirações de mobilidade social, questões sobre as quais tivemos já ocasião de nos debruçar, no âmbito do ponto imediatamente anterior, é notória a depreciação dos títulos académicos, empiricamente apreendida através do declínio das respectivas taxas de convertibilidade em rendimento económico e social (Grácio, 1992:161) e previsível o sentimento de frustração, por parte daqueles que tendo optado por longos percursos escolares, outrora conducentes a reconhecidos estatutos sócio-profissionais, se confrontam, agora, em muitos casos, com dificuldades inerentes ao próprio processo de ingresso no mercado de trabalho.

Neste sentido, o grau de correspondência entre o esforço despendido ou, por outras palavras, o investimento pessoal e familiar em formação de tipo inicial de nível superior, poderá ficar muito aquém dos resultados obtidos com a posse de idênticos diplomas, de há alguns anos a esta parte.

De facto, constata-se um gradual aumento do número de casos, cujas famílias continuam dispostas a manter os descendentes numa situação de dependência

financeira, pela continuidade do respectivo processo formativo9. Decisão que, naturalmente, assentará no pressuposto de que a(s) nova(s) etapa(s) a conquistar se assumirá(ão) como uma mais-valia que estabelecerá(ão), por si, a diferença necessária para que o processo de integração no mercado de trabalho possa ocorrer com mais qualidade e/ou mais rapidamente, potenciando-se, no limite, a minimização de constrangimentos ou protelando-se, desta forma, o ingresso num sistema de emprego, considerado escasso e/ou, no mínimo, desajustado face ao investimento realizado; ao nível das habilitações escolares atingido e ao correspondente grau de expectativas, agora nutridas por um número crescente de candidatos. Atendendo a que se assiste a uma deterioração das condições de contratação dos diplomados pelo ensino superior e, em consequência, a um decréscimo da taxa de rendimento desse investimento educativo, os indivíduos que acreditam que os efeitos positivos de um diploma suplementar podem vir a superar os do diploma de referência, apostam, pois, na rentabilização dos recursos empregues, enveredando por aumentar o seu potencial de saberes e de certificação com vista a usufruir de “maior capacidade negocial quando da sua entrada na vida activa.” (Martins et al., 2002 :35). No mesmo sentido, um documento produzido pela OCDE (1989 :52) alerta para os efeitos decorrentes da generalização de determinado nível de credenciais escolares:

“Considerando que o papel desempenhado pelo ensino na formação social do indivíduo se liga, em parte, à vantagem que os diplomas conferem, e de que se servem os empregadores para fazer a triagem das candidaturas, há aí uma contradição quando se espera que o ensino “resolva” o desemprego.

Se toda a gente possuir os diplomas requeridos, estes já não podem realizar a sua função de filtro e é preciso, a todo momento, possuir outros títulos de nível mais elevado, ou fazer entrar outros critérios.”

Aliás, se nos detivermos um pouco mais sobre os contornos do actual fenómeno de transição do “mundo da escola” para o “mundo do trabalho”, e por oposição a décadas anteriores, constatamos - aqui e ali através de jovens que conhecemos - crescentes desfasamentos entre as imagens projectadas pelas famílias e pelos próprios relativamente aos futuros profissionais, destes últimos, e aquelas que têm vindo a ser, de facto, as respectivas experiências profissionais, ou seja, o inicio de uma trama daquela que corresponderá mais tarde à trajectória profissional de cada um. Com o tempo, o carácter mais ou menos regular ou sistemático desses desencontros podem ter vindo a esbater axiomas mais ou menos “decartianos”: “concluo um curso em direito, logo serei

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Esta tendência é facilmente constatada pelo número de indivíduos que, imediatamente, após a licenciatura, e ainda fora do contexto de trabalho, iniciam cursos de pós-graduação, mestrado e doutoramento ou ainda

um advogado” e à sua metamorfose em outros de natureza menos determinista: “concluo um curso em direito, depois vejo por que vias poderei complementar essa formação”. Como refere Azevedo (1999a:51):

“Existe na sociedade portuguesa (como em outras) um fosso profundo e frio entre as gerações que cresceram e começaram a construir os seus projectos de vida durante os “trinta gloriosos” (1945-1975), (…), e a “geração” dos que hoje têm entre os 15 e os 25 anos. Enquanto que uma boa parte dos primeiros projectou o seu futuro escolar, profissional e familiar como quem atira um projéctil (…) com coordenadas mais ou menos seguras e com uma boa dose de certeza e de promessa associadas, já os segundos projectam-na agora num contexto de enorme turbulência e imprevisibilidade, aparentemente sem quaisquer referências estáveis a que se agarrar.”

De acordo com este último autor, a estruturação de projectos profissionais, na moderna sociedade do conhecimento, implicará uma maior consciencialização para a circunstância de as actividades a desempenhar ao longo da vida serem certamente diversas, as necessidades de qualificação não se esgotarem no período de pré-inserção no mercado de trabalho10, nem tão pouco no que corresponde às primeiras experiências profissionais, a obtenção de novos diplomas e graus poderem conseguir-se em simultâneo com a actividade profissional e de uma forma cada vez mais flexível e, por outro lado de que “nada está garantido à partida”. O grau de sucesso das trajectórias profissionais dos sujeitos parece relacionar-se assim com a configuração de um puzzle onde várias peças se fazem encaixar: uma formação de base de qualidade, as competências potenciadas por via do conjunto, mais ou menos amplo, de experiências profissionais a que tenham tido oportunidade de aceder e a capacidade de empreendimento e de iniciativa pessoal de cada um. Os contributos da Economia do Trabalho, designadamente no âmbito das teorias da segmentação, vêm romper com a concepção neo-clássica que preconizava que o mercado de trabalho funcionava como um todo homogéneo e de forma transparente, ao evidenciar a desigualdade no acesso aos empregos e concomitantemente às carreiras profissionais em função de uma diversidade de atributos sociográficos como: o sexo, a raça, a origem social, as habilitações escolares e profissionais, etc.

outro tipo de formações.

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De acordo com os autores das teorias da segmentação do mercado de trabalho designadamente, Piore, Dolringer e Berger, existe um mercado de trabalho dual: um segmento primário, “constituído por empregos mais prestigiados, mais bem remunerados, localizados em grandes empresas e mais modernas, preferentemente orientadas para a produção de massa”, e um segmento secundário com empregos menos bem remunerados, indiferenciados, exercidos em piores condições de trabalho, em empresas de pequena dimensão e nas quais as mulheres e as minorias étnicas têm principal destaque. Outras segmentações, directamente relacionadas com as estratégias de recrutamento, alargam e reforçam a pertinência desta teoria, como as propostas por Jacques Lesourne. (Azevedo, 2000:124)

De acordo com comunicação proferida por Almeida et al. (2000), o conceito de carreira assume nos tempos modernos uma acepção pulverizada uma vez que incorpora descontinuidades profissionais que ora resultam de opções individuais, ora se impõem como constrangimentos “resultantes de dinâmicas socioeconómicas geradoras de processos sociais mais ou menos longos que podem favorecer ou restringir diferentes tipos de cadeias de mobilidade…”, descontinuidades apreendidas através de fenómenos em que os indivíduos se vêem confrontados, na sua vida profissional, com ciclos de emprego-desemprego-formação e no plano da inserção profissional pela circunstância de “o tempo de parqueamento” em situação de desemprego ser cada vez mais longo, mas também porque as oportunidades de emprego ou configuram situações de sub-emprego e de que é exemplo o trabalho a tempo parcial ou correspondem a empregos tendencialmente precários.

Todavia, assiste-se no enquadramento deste cenário de crescente imprevisibilidade e insegurança no “mundo do trabalho” a movimentos algo “ansiosos”, um galgar de “lances de escada”, por parte dos que nele visam ingressar, com vista à obtenção dos graus académicos de mestre e de doutor, cuja origem depreendemos se possa encontrar em motivações extrínsecas relacionadas com as representações de cada um relativamente ao estatuto da família de origem e/ou da sua própria posição na hierarquia social (pressão social). Estará, pois, no mínimo, em causa, nestes casos, a manutenção de idêntico status, ou seja, o acesso a lugares de idêntico valor social, pressupõe, agora, um processo de escolarização cada vez mais longo.

“...a massificação escolar agrava e exagera ainda mais a desvalorização destas credenciais, na medida em que a sua uniformidade provoca de imediato uma diferenciação hierarquizada (...).Esta espiral de inflação vai causar por sua vez uma pressão acentuada na procura social da educação, engrossando a massificação a pontos de não se tornar económica, logística e organizacionalmente praticável, como, mais grave ainda, vai tornar irrelevante todo o processo educativo. Este deixa de ter socialmente sentido e individualmente torna-se frustrante. Representa uma escalada sem fim no caminho da educação, cujo termo útil fica cada vez mais distante e sem que os seus frutos se tornem visíveis.” (Pires, 1988: 39)

Com efeito, Martins e outros autores (2002:61), através da realização de um trabalho empírico relativo aos diplomados pela UA, atesta que é, justamente, entre os licenciados de cursos, com maior dificuldade de inserção na vida activa, que se encontra o maior número de indivíduos que não chegaram a procurar emprego em virtude de terem optado por continuar a estudar.

“a experiência da regressão social é mais penosa que a da não ascensão. O persistente movimento ascendente da procura nos anos mais recentes, liga-se certamente a este efeito.”(Grácio, 1992:160)

Um outro indicador que nos permite confirmar a desvalorização do estatuto de diplomado pelo ensino superior, prende-se com os níveis de vencimento auferidos pelos mesmos. Note-se, a este propósito, que o estudo realizado por Luísa Cerdeira (1999:239) respeitante aos diplomados do ensino superior, na região do Alentejo, nos permite apurar que a maioria dos diplomados (47%) receberam remunerações no escalão de valores situado entre os 101 e os 150 contos, imediatamente seguido pelo grupo dos que auferem entre 61 e 100 contos (23%).

Sem prejuízo do que foi dito, Cerdeira (idem) evidencia que, decorrido algum tempo após o ingresso dos diplomados, no mercado de trabalho, começa a ser notória a diferença de rendimento entre os detentores de diferentes graus, constatando-se que a taxa mais elevada de diplomados com rendimentos abaixo dos 100 mil escudos (18,9%) corresponde a bacharéis e que, inversamente, apenas 7,7% destes últimos usufruem de rendimentos superiores a 201 mil escudos.

Por outro lado, para além de os diplomados com classificações superiores a 16,5 terem sido integralmente absorvidos pelo mercado de trabalho, nenhum deles se encontrava no escalão de remuneração mais baixo. A sua maioria situava-se, aliás, no escalão de rendimentos entre os 201 a 300 mil escudos. Em contrapartida, e ainda de acordo com os resultados apurados por Cerdeira (1999), os alunos com piores resultados integram, no conjunto, a percentagem mais elevada dos que auferem ordenados com valores enquadráveis no escalão inferior (abaixo dos 100 mil escudos).

A relação estabelecida, a partir dos resultados empíricos do referido estudo, entre o grau académico e o sucesso escolar, - este último aferido através das classificações obtidas, - e os escalões de vencimento, permitem-nos, ainda assim, corroborar a tese que preconiza que o sucesso na escola (quantitativo e qualitativamente considerado) continua a configurar fenómenos de mobilidade social ascendente.11

De acordo com os resultados apurados pelo estudo empírico promovido por Pedro Portugal (2004:76) e ainda que os licenciados percam 25 mil euros (cinco mil contos na moeda antiga) até aos 24 anos, correspondentes a salários não ganhos durante os anos de estudo, o diferencial de salário de que vêm a usufruir, posteriormente, compensa-os em cerca de 200 mil euros (quarenta mil contos) até aos 60 anos. De igual modo, os

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Ideia partilhada por António Martins e outros autores (2002:90), uma vez que na sequência dos estudos empíricos encetados, constatam “ter-se verificado uma certa mobilidade no sentido da melhoria das condições profissionais e sobretudo laborais após a sua entrada numa actividade profissional.”

resultados apurados na sequência do estudo encetado pelo Departamento de Estudos do Trabalho, Emprego e Formação Profissional, publicados no Diário de Notícias/Negócios em 8 de Julho de 2002, reportado ao ano de 1999, concluí que há uma relação directa e proporcional entre as habilitações dos trabalhadores por conta de outrem das empresas privadas e as remunerações auferidas por estes. De acordo com o referido trabalho, os licenciados auferem em média 1773,20 euros contra os 488,50 pagos aos trabalhadores com grau de escolarização inferior ao básico. Os trabalhadores com habilitações ao nível do bacharelato são remunerados com vencimentos médios na ordem dos 1279,20 euros, enquanto que os indivíduos detentores de cursos das escolas profissionais se ficam pelos 1074,50 euros e os se quedaram pelo ensino secundário, mas não deram prossecução dos estudos ao nível do superior: 827,10 euros. Finalmente, os que concluíram o 1º e o 2º ciclos do ensino básico auferem somente 540 euros. Por outro lado, para além de os licenciados obterem, em média, salários em cerca de 80,2% superiores aos de um trabalhador com o ensino secundário, poderão elencar-se ainda outras vantagens associadas à detenção do grau universitário e de entre as quais o autor destaca, locais de trabalho, em geral, com condições mais amenas e aprazíveis. Por outro lado, conclui que os licenciados são menos vulneráveis às “cadências de trabalho impostas pelas tecnologias de produção”. Verificou-se ainda no âmbito do mesmo que é 1,74 vezes mais frequente encontrar um trabalhador com o ensino secundário completo desempregado do que um trabalhador com um curso superior. Considera ainda, que os licenciados inseridos no mercado de trabalho usufruem, genericamente de uma maior segurança de emprego e que, por analogia, com trabalhadores com qualificações abaixo do ensino secundário, a incidência de contratos a termo e de horários incompletos é consideravelmente inferior. Um outro aspecto para o qual chama a atenção consiste na maior flexibilidade com que podem gerir os horários de trabalho. Além do mais, considera que a oferta de trabalho dos licenciados é superior à dos não licenciados, o que se poderá repercutir na situação de inactividade que é menos frequente em licenciados, bem como na situação de desempenho de uma segunda actividade que é mais frequente por parte destes últimos. Constata um elevado peso de licenciados na administração pública e justifica por essa via a menor rotação de empregos e o menor número de horas trabalhadas entre os indivíduos com curso superior. Releva igualmente, os efeitos produzidos no ambiente doméstico, designadamente sobre os filhos, interferindo positivamente, quer no que respeita aos níveis de sucesso escolar, quer no que respeita aos próprios percursos pelos quais estes últimos vêm a optar. Com base na dimensão dos ganhos associados à obtenção de uma licenciatura e na sequência das conclusões

apuradas a partir de um trabalho realizado pela OCDE que atribuí a responsabilidade, por uma quebra anual do PIB, entre 1979 e 1990, em 1,2 pontos percentuais12, ao défice português de qualificações académicas, Pedro Portugal defende o interesse pelo desenvolvimento de uma intervenção pública no sentido de facilitar aos jovens, através de mecanismos de empréstimo directo, a frequência do ensino superior.

A partir do estudo encetado por Cerdeira e a que nos referimos acima, conclui-se que são os alunos do ensino superior politécnico que auferem níveis de rendimentos mais baixos, dado que a percentagem dos alunos provenientes do referido subsistema de ensino superior que aufere rendimentos abaixo dos 100 mil escudos é superior à dos que são originários do ensino superior universitário e que, por outro lado, estes últimos se encontram melhor representados no escalão de rendimento superior considerado. Note- se, todavia, que não obstante a objectividade das conclusões apuradas, seria, porventura, precipitado e pouco rigoroso estabelecer, com base nas mesmos, quaisquer associações entre diferentes níveis qualitativos de representações sociais e os dois tipos de subsistemas analisados. De facto, e como, aliás, a própria autora o assume, a relação entre o grau de ensino e o nível de rendimento é aquela que, efectivamente, se destaca. Ora, se por um lado, no âmbito da amostra tratada, o ensino superior universitário concede, essencialmente, o grau de licenciatura, por outro, à data da realização do estudo em causa, o ensino superior politécnico tinha acabado de se iniciar na leccionação das licenciaturas (bietápicas), conferindo, por conseguinte, somente o grau de bacharel.

Se por um lado os resultados dos “ganhos” não são os mesmos, entre os diplomados pelo ensino superior, para um mesmo número de anos de escolarização, de um indivíduo para outro13, mas, essencialmente, de uma geração para outra, isto é; a um idêntico nível de “esforço”, corresponde um nível de retorno cada vez mais baixo, outros constrangimentos, de carácter, eventualmente, mais elementar e, por essa razão,

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Com efeito, a referida pesquisa apurou que entre 1990 e 2000 a taxa de crescimento anual da produtividade situou-se abaixo da casa dos 1,8% e que cerca de metade deste aumento (cerca de 1%) foi originado pela entrada de trabalhadores mais qualificados no mercado. O relatório salienta ainda que parte das razões da baixa produtividade portuguesa prende-se com a criação de empregos muito orientados para trabalhadores com baixas competências e mal remunerados. Aliás, “os recentes ganhos de produtividade em muitos países da OCDE estão associados a uma taxa de emprego estável ou em queda, muitas vezes relacionada com a exclusão do mercado de trabalho da força laboral com fracas competências e mal remunerado.” (Expresso Emprego, 2004)

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De acordo com o estudo encetado por Pedro Portugal: “O sistema de ensino português oferece um espectro muito variado de formações superiores…o mercado de trabalho não valoriza igualmente as diferentes licenciaturas.” Analisando a tabela relativa às remunerações médias por área de licenciatura que publica, concluímos que as mais reconhecidas são as de “Engenharia electrónica e telecomunicações; aeronáutica; aeroespacial” e a de “medicina dentária/medicina”, com uma remuneração média de 411.980 e 404.481 (escudos), respectivamente. Por oposição as piores são: Educação especial e reabilitação” e “Artes decorativas e design”, com 162.402 e 219.949 (escudos), respectivamente.

porventura menos expectável se começam, gradualmente, a fazer sentir, como seja o do próprio acesso aos sistemas de produção. Efectivamente, face aos resultados apurados por Martins e outros autores (2002:35-36), o referido processo, e conforme tivemos já oportunidade de referir, tem-se vindo a dificultar, face à escassez da oferta, designadamente, no âmbito de determinadas áreas de formação. Além do mais, as situações de precariedade, segundo os mesmos autores, acentuam-se, quer devido à natureza das relações contratuais, quer por efeito do desajuste entre o tipo de emprego, por um lado, e as habilitações e expectativas dos diplomados, por outro.

“…se o desemprego é ainda para a grande maioria, apenas uma ameaça, a precariedade é já uma realidade. A proliferação de formas atípicas de emprego a que os jovens, e especialmente, os mais novos, parecem particularmente vulneráveis faz já parte integrante dos processos de transição para a vida activa. Desemprego, precariedade e rotatividade de postos de trabalho surgem, assim, como elementos, que sem serem hegemónicos, conferem uma identidade específica aos processos de inserção profissional.” (Alves, 1998:132)

Neste sentido, quer a depreciação do estatuto dos diplomados, - como consequência do rápido aumento de indivíduos detentores deste nível de certificações, quer o movimento de retracção do mercado de emprego que vem a ocorrer, quase em simultâneo com o primeiro, agravando-o, - ainda que com clivagens entre as distintas áreas de formação académica, indicia ser uma realidade com directos e evidentes reflexos nas condições de trabalho. Com efeito, são diversos os efeitos produzidos no âmbito do mercado de trabalho pelas mutações sócio-económicas, a que temos vindo a assistir: evolução técnica constante, reorganização das empresas, internacionalização e