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A Discussão do Novo Modelo de Avaliação de Desempenho Docente na Esfera Pública (2007-2009)

Capítulo 1: Opções Metodológicas

1.1 A Análise de Conteúdo e os Novos Media

 

Na opinião de Quivy & Campenhoudt (2008), as ciências sociais são metodologicamente capazes de diferenciar métodos diferentes usando abordagens qualitativas tão válidas quanto as quantitativas ou os métodos mistos. “A análise de conteúdo permite, quando incide sobre um material rico e penetrante, satisfazer harmoniosamente as exigências do rigor metodológico e da profundidade inventiva, que nem sempre são facilmente conciliáveis” (p. 227).

Consoante o trabalho incida sobre certos elementos do discurso, sobre a forma ou sobre as relações entre os seus elementos, assim a análise de conteúdo se pode diferenciar em três grandes categorias: análises temáticas, análises formais e análises estruturais. Das análises temáticas, que nos interessam particularmente para a investigação que levaremos a efeito, fazem parte a análise categorial e a análise de avaliação. A análise categorial consiste em calcular e comparar as frequências de certos temas ou itens agrupados em categorias significativas. Já a análise de avaliação permite analisar o material segundo as atitudes de avaliação subjacentes, isto é, temas favoráveis ou positivos e temas desfavoráveis ou negativos. Como medida de atitudes, a análise de asserção avaliativa tem por finalidade medir as atitudes do locutor quanto aos objectos de que fala, considerando, assim “que a linguagem representa e reflecte directamente aquele que a utiliza.” Laurence Bardin (2008, p. 201). Em boa verdade, os métodos de análise de conteúdo obrigam a um grande distanciamento do investigador relativamente a interpretações espontâneas e, em particular, às suas próprias, como afirmam Quivy & Van Campenhoudt (2008). Quaisquer que sejam os métodos que se utilizem, mais quantitativos ou mais qualitativos, é necessário ter em atenção os seguintes aspectos: i) nenhum dispositivo pode ser aplicado de forma mecânica; ii) os métodos devem ser escolhidos e utilizados com flexibilidade e adequados ao que se pretende medir ou validar; iii) os dados não constroem teorias. Se o rigor é necessário, não é, no entanto, sinónimo de formalismo técnico. “O rigor não incide primordialmente sobre os pormenores da aplicação de cada procedimento utilizado, mas sim sobre a coerência de conjunto do processo de investigação e o modo como ele realiza exigências epistemológicas bem compreendidas” (Quivy & Van Campenhoudt, 2008, p. 234).

Actualmente, com a utilização cada vez maior dos novos media e a evolução contínua dos sites e blogues, coloca-se a questão da construção de abordagens metodológicas fiáveis e robustas que se apliquem a contextos em que se mistura de forma singular o efémero com o permanente. Os trabalhos recentemente desenvolvidos neste campo questionam a aplicação das abordagens tradicionais, utilizadas na investigação em Ciências Sociais, a contextos como os referidos. No cerne da questão está a multiplicidade de situações com que o investigador se depara. Por exemplo, na análise de um

site podemos considerar o texto, a estrutura, as ligações internas e exteriores a outros sites, blogues,

entre outras ligações possíveis. Na perspectiva de autores, como Scneider & Foot (2004), Berners-Lee (2000), Mitra (1999), Odlyzko (2001), a análise das ligações, num processo de investigação que recorre à análise de sites, é fundamental e, ao mesmo tempo, preocupante face, nomeadamente, à escassez de ferramentas analíticas para as entender.

Do ponto de vista de Scneider & Foot (2004, p. 118) a “análise da esfera web é uma estratégia analítica que, quando totalmente implementada, inclui a análise das relações entre produtores e utilizadores de materiais da web, bem como dos elementos estruturais dos sites, hipertextos, e as suas

ligações.” Nesta mesma linha, Herring (2010, p. 237) considera que qualquer análise de conteúdo da esfera web deve “incluir, no mínimo, os métodos que permitam a identificação sistemática dos padrões de ligação e do conteúdo das mensagens interactivas”, sendo que muitos trabalhos realizados em amplos contextos da web recorrem já, na sua opinião, a métodos exteriores à comunicação que se prendem com a utilização de técnicas informáticas aplicadas à análise de conteúdo relacionadas com a Linguística e com a Sociologia nomeadamente, o método de análise do discurso mediada por

computador (ADMC) e os métodos de análise de redes sociais (ARS).

A ADMC tem sido aplicada à análise de e-mails, fóruns de discussão, chats, mensagens de texto, a certas formas de diálogo, bem como a monólogos em páginas web (id., ibid., p. 238).

Os métodos de ARS estudam os padrões de conexões formados pelas hiperligações que por vezes são a essência da web. Neste tipo de análise, quantitativa e estatística, os sites podem ser considerados os nós, as ligações os laços e o emaranhado de ligações dentro e entre sites, as redes, como propõem Jackson (1997, citado por Herring 2010). A maioria dos métodos de ARS não se denomina análise de conteúdo. Mas, a análise de ligações como estuda a natureza da relação do site a que se conecta, desfaz as fronteiras rígidas entre estes dois métodos, uma vez que permite uma abordagem híbrida. Do ponto de vista de Park (2003) e Foot et al. (2003), referidos por Herring (2010), estas ligações são inscrições de escolhas comunicativa e estratégica por parte dos produtores do site e, por isso mesmo, são um elemento importante a considerar numa análise de conteúdo da web sobre determinado assunto.

A aplicação de métodos clássicos de análise de conteúdo aos blogues (documentos da web no qual as entradas – datadas - aparecem numa sequência cronológica inversa) nomeadamente, combinando a análise temática de conteúdo com a análise de ligações, tem-se revelado eficaz em algumas situações. No entanto, no entender de Herring (2010), alguns dos aspectos dos blogues que os diferenciam dos

media tradicionais criam desafios à sua análise. No estudo efectuado sobre os métodos de pesquisa

utilizados por diversos investigadores da esfera web, esta autora conclui a necessidade de ampliar o paradigma da análise de conteúdo o que, na sua opinião, poderá passar por dar uma interpretação mais ampla do conceito de conteúdo e pela reformulação das “noções tradicionais de análise de conteúdo, tais como unidades de análise comparáveis, sistemas fixos de codificação e amostragem aleatória, para ajustar os requisitos da pesquisa à web” (id., p.243). Na sua abordagem, a mesma autora considera como “conteúdo” tanto os temas, como os recursos, vínculos e intercâmbios, ou seja, tudo o que viabilize a comunicação. Esta forma de olhar o problema conduz à extensão do paradigma metodológico incluindo os métodos supra referidos, assim como outras técnicas que por ventura se venham a revelar adequadas às características de conteúdo da esfera web (Internet e outros conteúdos), a qual continua a evoluir em novas direcções.