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GRÁFICO 31: SUBCATEGORIAS EM “RECOMENDAÇÕES” AO GOVERNO, DO GRUPO “JORNALISTAS” VISIBILIDADE

A Discussão do Novo Modelo de Avaliação de Desempenho Docente na Esfera Pública (2007-2009)

GRÁFICO 31: SUBCATEGORIAS EM “RECOMENDAÇÕES” AO GOVERNO, DO GRUPO “JORNALISTAS” VISIBILIDADE

0 1 2 3 4 5 6 7 Avaliação de docentes Processos  Estatuto carreira docente Autonomia das escolas Gestão das escolas Famílias/comunidade local Estatuto aluno/Apoios educativos Assuntos diversos 01JAN09‐31DEZ09 18ABR08‐31DEZ08 01SET07‐17ABR08

A “pressão” sobre a tutela ministerial parece ter sido feita principalmente entre 18 de Abril de 31 de Dezembro de 2008, particularmente após o início do ano lectivo 2008/09 e na sequência da segunda grande manifestação de professores, a 8 de Novembro. Em 2009 as recomendações mais relacionadas com a avaliação dos professores dizem respeito à necessidade de maior envolvimento dos destinatários das políticas nos processos de negociação da política educativa30.

A necessidade de uma maior autonomia da escola pública relativamente ao Ministério da Educação é um dos apelos deste grupo profissional. Este grupo que recomenda a escolha da escola pelas famílias.

O facto de não se terem verificado mais manifestações de rua ou greves da classe docente, como as que aconteceram durante o primeiro ciclo de implementação do Novo Modelo de Avaliação, é sintomático da mudança desejada e requerida, pelo que cremos que estas “recomendações”, que já eram ou tornaram-se também as dos professores e dos seus representantes, reflectiram-se na prática de governação da equipa do Ministério da Educação que se seguiu à de Maria de Lourdes Rodrigues. Verificámos que a argumentação em torno do NMA, as criticas assinaladas e as “recomendações” formuladas ao Governo, se espelharam em algumas alterações que foram introduzidas ao estatuto da carreira docente 31e ao modelo de avaliação implementado em 201032, nomeadamente: i) valorização da dimensão formativa da avaliação; ii) simplificação do processo de avaliação; iii) maior envolvimento dos docentes no processo e nos resultados da avaliação; iv) fim da divisão de carreiras. Mas permaneceram questões pendentes que, no nosso entender, não tiveram reflexo nas alterações introduzidas, nomeadamente a questão dos relatores e respectiva formação, pois continuou a ser possível relatores licenciados, acompanharem mestres ou doutorados, sendo que um grande número daqueles não possuísse formação específica na área. Pese embora a função dos relatores seja um pouco diferente da do anterior avaliador da componente científica e pedagógica é, de qualquer modo, o relator que efectua a observação de aulas. Este é o membro do júri de avaliação “responsável pelo acompanhamento do processo de desenvolvimento profissional do avaliado, com quem deve manter uma interacção permanente, tendo em vista potenciar a dimensão formativa da avaliação do desempenho” e que propõe ao júri de avaliação a classificação a atribuir ao avaliado (Decreto        

30 “[…]Veja-se, a propósito, o que diz o mais recente relatório da OCDE sobre a avaliação: "Para uma reforma bem-sucedida é

necessário o envolvimento e a motivação dos professores". Mais: "uma avaliação de professores com consequências (...) só acontecerá se os professores se sentirem motivados para fazer o processo funcionar" (Manuel Carvalho, Público, 18-07-2009) 

31 Decreto-Lei nº75/2010, de 23 de Junho   32 Decreto Regulamentar/2010, de 23 de Junho 

Regulamentar nº2/2010, de 23 de Junho, pág. 2240). A alteração ao estatuto da carreira docente terminou com a categoria de professor titular mas introduziu uma nova série de obstáculos à progressão que passa pela obrigatoriedade do docente ter observação de aulas para progredir aos 3º, 5º escalões, sendo que a passagem ao 5º e 7º escalões está sujeita a quotas, agora designadas por vagas, salvo determinadas condições constantes no artigo 48º do estatuto da carreira docente, as quais implicam a obtenção das menções mais elevadas na avaliação, Muito Bom e Excelente, cuja atribuição se manteve sujeita a quotas.

Na secção seguinte analisaremos a forma como o NMA foi tratado pelo nosso grupo de OM, em três períodos distintos, 1 de Setembro de 2007 a 15 de Abril de 2008, 16 de Abril de 2008 a 31 de Dezembro de 2008 e de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2009.

2.3.6 As Vozes em Torno do Novo Modelo de Avaliação de Professores, por Períodos Durante o Primeiro Ciclo de Implementação

Dividimos o primeiro ciclo em três períodos, em função dos acontecimentos mais marcantes em termos de alterações introduzidas ao novo modelo de avaliação:

i) Primeiro período (1ºP): 1 de Setembro de 2007 a 15 de Abril de 2008; ii) Segundo período (2ºP): 16 de Abril de 2008 a 31 de Dezembro de 2008; iii) Terceiro período (3ºP): 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2009.

Trinta e um OM do nosso estudo publicaram 49 artigos no primeiro período. No seu discurso procuraram também, dar visibilidade às reclamações dos professores33 de forma a influenciar a opinião pública e consequentemente a agenda política. Recordamos que este período foi marcado pela primeira grande manifestação de professores que juntou nas ruas de Lisboa milhares de docentes vindos de todo o país. A 17 de Abril de 2008 foi assinado o Memorando de Entendimento, entre sindicatos e ministra da educação, que vigorou até ao final do ano lectivo 2007/08.

O segundo período foi marcado por um final de ano lectivo mais calmo ou pelo menos, com uma tensão menos visível. A simplificação introduzida, decorrente do Memorando de Entendimento, foi uma solução que, no entanto, não agradou a todas as partes interessadas. Com o início do ano lectivo, 2008/09, e com a necessidade de (re)começar um processo de avaliação, agora com a obrigatoriedade de abranger todos os docentes, a instabilidade voltou a manifestar-se. Com a (suposta) exigência de serem fixados objectivos individuais34 e com a necessidade de dar continuidade a um processo que teve um começo difícil, sem que tivessem sido dados passos significativos para melhorar o processo, levou a que a contestação regressasse às escolas e à rua. A 8 de Novembro de 2008, pela segunda vez no mesmo ano civil, os professores manifestaram de forma significativa o seu desagrado.

Os OM, uma vez mais, foram influenciados por esta perturbação e reagiram a ela, divulgando a sua opinião, participando em debates televisivos, dando visibilidade às reclamações dos professores e dos sindicatos, à voz dos partidos e dos governantes, tentando manter o assunto em destaque nos media,

       

33 Recorde-se  que o número de artigos publicados em ambos os jornais na sequência da manifestação de 8 de Março,

aumentou significativamente como já verificámos.  

de forma a influenciar a agenda política governamental e a de outras estruturas político-partidárias. Este foi o período com maior número de artigos publicados (65) por 31 OM. Não sendo no entanto o maior período temporal (258 dias em 846 dias), foi aqui que o processo se reflectiu mais no espaço “opinião”, não apenas na visibilidade dada ao assunto mas no fervor, convicção, interesse e compromisso com o mesmo.

O impacto desfavorável relativamente ao processo de avaliação no segundo período do primeiro ciclo de avaliação, foi maior que nos restantes períodos (74,5% -), mas o problema neste período foi claramente posicionado nos processos de negociação das políticas públicas (Quadro 35).

QUADRO 35: VALORES DO ÍNDICES POR PERÍODO TEMPORAL E POR TEMAS ENQUADRADORES