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O Segundo Ano de Implementação do Novo Modelo de Avaliação (2008/2009)

FIGURA 8: POLITICA-ACÇÃO CONTINUUM (Fonte: Parsons, 1995, p 472) 

3.2 O Novo Modelo de Avaliação de Educadores e Professores do Ensino Básico e Secundário

3.2.3 O Segundo Ano de Implementação do Novo Modelo de Avaliação (2008/2009)

(Agência Lusa, Público.pt, 12-03-2008-17:34). Paralelamente, começam a tomar expressão movimentos não sindicais de professores insatisfeitos e resistentes ao modelo de avaliação em vigor (Agência Lusa, Público.pt, 01-03-2008-22:35,22:44). A Associação Nacional de Professores quebra o princípio de se manter afastada de organizações partidárias e manifestações sindicais “por estar em causa o interesse do País” (Agência Lusa, Público.pt, 27-02-2008-15:22).

A 10 de Março de 2008 a Agência Lusa (Público.pt, 10-03-2008-19:21) divulga que as escolas, através do Conselho de Escolas, órgão consultivo formado por 60 presidentes de conselhos executivos de escolas de todo o país, pedem o adiamento do processo de avaliação de desempenho por falta de maturação dos instrumentos, ausências de recomendações do Conselho de Coordenação da Avaliação de Professores (CCAP) e complexidade de todo o processo. O Ministério da Educação admite adoptar soluções flexíveis e introduzir correcções ao modelo, mas só no final do ano lectivo 2008/09 (Agência Lusa, Público.pt, 11-03-2008-20:16).

No entanto, a 8 de Abril de 2008, a Ministra da Educação e os sindicatos reúnem (Agência Lusa,

Público.pt, 08-04-2008-20:26) e, apesar das divergências, acordam em alguns aspectos considerados

essenciais para pôr termo à situação conflituosa que se instaurou, resultando, a 17 de Abril, a assinatura, por ambas as partes, de um Memorando de Entendimento (Agência Lusa, Público.pt, 17- 04-2008-12:45). Em 2007/08 a avaliação dos docentes, efectuada apenas pela direcção da escola, tem em conta a ficha de auto-avaliação, a assiduidade, o cumprimento do serviço e a participação do docente em acções de formação contínua (Decreto Regulamentar nº11/2008, de 23 de Maio).

   

3.2.3 O Segundo Ano de Implementação do Novo Modelo de Avaliação (2008/2009)

 

Em Setembro de 2008, início de um novo ano lectivo, a resistência ao modelo aprovado em 2007, fortaleceu-se. Diversas escolas, por todo o país, suspendem ou solicitam a suspensão do modelo (Agência Lusa, Público.pt, 23-10-2008,14:10). A 8 de Novembro realiza-se nova manifestação de professores, convocada pelos sindicatos e por três movimentos independentes de professores, que contou com cerca de 120 mil professores, de acordo com a estimativa dos sindicatos (Agência Lusa,

Público.pt, 08-11-2008,18:56). Presidentes de conselhos educativos das escolas reunidos em Coimbra

nas escolas, a complexidade do modelo, de difícil objectividade e credibilidade, pois descentra o professor do desenvolvimento do ensino-aprendizagem e põe em perigo o clima de confiança e colaboração entre colegas (Agência Lusa, Público.pt, 13-11-2008,14:59). O Ministério da Educação mantém-se inflexível no seu objectivo de aplicar o modelo no presente ano (Agência Lusa, Público.pt, 12-11-2008, 15:32), mas em Novembro de 2008 inicia um processo de audição de parceiros sociais, especialistas e outras entidades (Agência Lusa, Público.pt, 18-11-2008, 22:33). Tomando uma posição radical, os sindicatos apenas cedem ao diálogo com o Ministério da Educação com o objectivo de suspender o modelo de avaliação e negociar outro (Agência Lusa, Público.pt, 19-11-2008, 10:56). A 20 de Novembro é anunciada uma simplificação do modelo de avaliação como solução para o problema e resolução do conflito (Agência Lusa, Público.pt, 20-11-2008, 20:57). Alguns aspectos que foram alvo de alteração são: i) a garantia do avaliador ser da área disciplinar do avaliado; ii) a dispensa do parâmetro dos resultados escolares e das taxas de abandono; iii) a revisão e simplificação das fichas de avaliação e auto-avaliação, bem como os instrumentos de registo; iv) a dispensa das reuniões entre avaliadores e avaliados em caso de acordo tácito; v) a dependência da observação de aulas, a requerimento dos interessados, para a obtenção das menções de Muito Bom e Excelente; vi) a redução para duas o número mínimo de aulas a observar; vii) a compensação da sobrecarga de trabalho nos respectivos horários dos professores avaliadores. (Decreto Regulamentar nº 1-A/2009, de 5 de Janeiro)

Esta proposta foi recebida pelo partido CDS-PP e pelas confederações associativas de pais como um sinal de abertura por parte do Ministério da Educação. Os movimentos independentes de professores, sindicatos e outros partidos políticos consideraram que a questão se situava na natureza do modelo e continuaram a exigir a sua suspensão (Agência Lusa, Público.pt, 20-11-2008, 20:57). Os sindicatos e os movimentos, assumindo uma posição unânime e defensora do princípio da avaliação de desempenho, rejeitando no entanto as propostas deste Governo, mantêm até ao final do ano lectivo formas de luta que passam por greves, em particular às aulas assistidas, incentivo à não entrega de objectivos individuais por parte dos professores e pressão sobre os presidentes dos conselhos executivos que exigirem a fixação de objectivos individuais como condição para a avaliação, alegando a obrigatoriedade apenas da ficha de auto-avaliação (Agência Lusa, Público.pt, 19-01-2009, 19:35, 29- 01-2009, 15:26).

Com a aproximação do processo eleitoral para as eleições legislativas, os partidos políticos apresentam o seu programa, dando ênfase particular ao sector da Educação. Vislumbra-se uma janela de oportunidade. Uma nova esperança surge: que o regime simplificado que, em Agosto de 2009, havia sido prorrogado por mais um ciclo (Decreto Regulamentar nº14/2009, de 21 de Agosto), não venha a ser mais aplicado e que o Estatuto da Carreira Docente venha a ser alterado. Pedro Rodrigues, presidente da Juventude Social-democrata, JSD, veio mesmo a afirmar em declarações a uma Rádio que, tal como Manuela Ferreira Leite já havia afirmado, “se o partido ganhar as eleições, o

actual sistema de avaliação dos professores é para suspender o mais rápido possível” (Público.pt, 11- 09-2009, 11:54).

A 20 de Novembro, o projecto de resolução do Partido Social-Democrata (PSD) sobre a avaliação dos professores e o novo estatuto da carreira foi aprovado no Parlamento já sem maioria absoluta de um único partido. O diploma do PSD recomenda ao Governo o fim da divisão da carreira em duas categorias e a criação de um novo modelo de avaliação no prazo de 30 dias, além de defender que no primeiro ciclo avaliativo, que terminara a 31 de Dezembro de 2009, não deveria haver professores penalizados em termos de progressão na carreira devido a diferentes interpretações da lei (Sofia Rodrigues, Público.pt, 20-11-2009, 12:59).

O fim da divisão das carreiras resultou do compromisso assumido pelo Governo e, enquanto não foi criado um novo modelo de avaliação este modelo haveria de manter-se em vigor, no seu regime simplificado e, no ano lectivo 2009/10 só seria aplicado aos docentes contratados e aos técnicos especializados contratados. Aos docentes com vínculo que perfaziam o tempo de serviço necessário à progressão na carreira, durante o ano 2010, foi exigida apenas a auto-avaliação, à semelhança do que acabaria por ser exigido aos docentes que não fixaram objectivos em 2008/09 (Comunicação do Gabinete da Ministra, 19-11-2009, disponível em: http://www.min-edu.pt/np3content/? newsId=4420&fileName=Comunica__o.pdf , consultado em Maio de 2010).

Em síntese, sob a égide da necessidade de controlo da qualidade da prestação dos serviços educativos, assiste-se à introdução de esquemas renovados de avaliação de desempenho dos docentes que, num quadro de reforma administrativa, fazem emergir um novo tipo de controlo burocrático e obrigam à redefinição das identidades profissionais dos professores. Novas regras de avaliação de desempenho individual, que assentam em mecanismos que premeiam o mérito e a competitividade, justificados pela necessidade de maior eficiência, produtividade, racionalização de custos nos serviços numa lógica próxima da lógica do sector privado são aplicadas à escola pública. Com um grau elevado de burocracia nos procedimentos e a excessiva vertente quantitativa do trabalho dos docentes nos critérios de avaliação aliada a uma imposição de “fora para dentro”, o processo de avaliação implementado neste primeiro ciclo, levou sindicatos, professores e movimentos de professores a uma acção de resistência colectiva. O seu impacto nos meios de comunicação social levou a que actores que inicialmente não estavam interessados na questão do estatuto e da avaliação dos professores tivessem tomado posições e argumentassem a seu favor ou contra. Quer nos media

tradicionais, como a imprensa escrita e a televisão, como nos novos media, particularmente nos blogues, assistimos a um intenso período de confronto e debate que levou um largo conjunto de

agentes com interesse no assunto, entre os quais se encontram especialistas e personalidades públicas, a apresentarem as suas opiniões e posições argumentativas. A forte acção de contestação, que incluiu grandes manifestações e greves de professores, e um generalizado ambiente de tensão e

descontentamento nas escolas levou a tomar em consideração os prejuízos para a escola e para os alunos. Neste sentido, podemos considerar que a avaliação de professores transformou-se num problema ao mesmo tempo social, público e político.

                                 

         

Segunda Parte