• Nenhum resultado encontrado

FIGURA 2: IMPACTO DA ATENÇÃO DOS MEDIA NA OPINIÃO PÚBLICA Fonte: Esquema adaptado de Parsons (1995, p 113)

 

 

Baumgartner & Jones (2002, citado por Birkland, 2005, p. 94) fazem notar que quanto mais os media cobrem intensiva e negativamente um assunto (do ponto de vista dos grupos debaixo de escrutínio), mais a opinião pública pressiona no sentido da procura de solução para o problema. Desta forma, os meios de comunicação são não só uma forma de acesso à informação, mas também uma forma de influência e pressão política.

A segunda corrente, “hipótese do distanciamento” defendida por Tichenor, Donohue e Olien, centra a sua tese nas desigualdades sociais que os media reforçam e acentuam pelo facto de a educação, a motivação, o interesse social e o interesse próprio serem fundamentais na apropriação das mensagens

Importância dos assuntos para a opinião pública

A te nção dos m ed ia

dos media, rejeitando assim, a teoria segundo a qual a totalidade do público dispõe das mesmas oportunidades de exposição aos diversos media ainda que garantida a universalidade dos acessos aos mesmos (Figueiras, 2005, p. 37).

As teorias sobre o papel dos meios de comunicação na formação da opinião pública, desenvolvidas nos anos 1970, vieram dar continuidade aos trabalhos de Paul Lazarsfeld, Robert Merton, Katz, entre outros investigadores da Escola de Columbia, nas décadas de 1940 e 1950. Estes autores mostraram que a “comunicação de massas” (veiculada pelos meios de comunicação) não tinha a eficácia necessária e suficiente para modificar por si só as atitudes ou os comportamentos do público, como se acreditava na altura. Ao invés, as relações interpessoais, exerciam uma influência significativa na mudança de opinião pública.

A maior fraqueza epistemológica das teorias inseridas no “paradigma dos efeitos limitados” defendido pelos investigadores da Escola de Columbia, residia, segundo Breton & Proulx (2006), na definição demasiado restrita do conceito de efeitos, pois limitava-se aos efeitos esperados, sendo que assim, os ditos perversos, não poderiam ser antecipados. A concepção de mensagem tinha suposta “uma intencionalidade que visava influenciar a curto prazo (em vez de o longo prazo) as opiniões (no lugar do contexto cultural e ideológico) dos indivíduos (ao invés das instituições ou da comunidade)” (Breton & Proulx, 2006, p. 149). No âmbito daquele paradigma, Lazarsfeld e Katz elaborariam ainda a hipótese do “fluxo comunicacional em dois tempos”, a qual consistia em admitir a possibilidade de existência de

líderes de opinião que seleccionariam e filtrariam as mensagens a difundir pelos meios de

comunicação e que desempenhariam o papel de mediadores entre os meios de comunicação e o público (Breton & Proulx, 2006).

Para Ralph Negrine (1996, citado por Figueiras, 2005, p. 32), “os media são um elo fundamental entre o público, a opinião do público e o processo de decisão do Governo”. Estudos mais recentes, referidos por Figueiras (2005) apontam para a dificuldade em definir com clareza quem coloca um assunto na agenda pública, dada a dificuldade em definir com exactidão os critérios que levam um determinado assunto ao agendamento no espaço público. Segundo a autora “o consenso estrutura-se no reconhecimento da inter-relação entre a Agenda Pública, a Agenda dos media e Agenda Política como determinantes para a permanência de um tema no Espaço Público” (Figueiras, 2005, p. 36)2 . Alguns desses estudos foram desenvolvidos por exemplo por Roger e Dearing (1987, citado por Parsons, 1995, p.114) que apontam para a necessidade de distinguir três tipos de agenda: media, pública e políticas e, contrariamente à teoria de agenda-setting de McCombs, este é um processo interactivo.

       

2 Face, por exemplo, a uma dependência da indústria dos media do financiamento do Estado, a possibilidade de subversão das dinâmicas democráticas é uma ameaça.

Sem dúvida, os media influenciam a agenda pública, tal como McCombs e Shaw afirmam, mas a agenda pública tem impacto na agenda política tal como a agenda dos media. Contudo, em determinados assuntos, a agenda política tem um considerável impacto na agenda dos media. Esta, por sua vez, é moldada pelo impacto dos acontecimentos e assuntos do “mundo real”. (Parsons, 1995, p. 114).

Em boa verdade, e na opinião daqueles autores, o papel dos acontecimentos no processo de agendamento requer uma maior investigação.

Em 1993, McQuail e Windahl (citados por Parsons, id., ibid.), apresentaram um modelo mais completo e mais complexo do processo de agendamento que tem em consideração os argumentos de Rogers e de Dearing (Figura 3). Neste estão representados os diferentes tipos de efeito e de feedback. A imagem que o esquema transmite é a seguinte: no momento dos acontecimentos mais significativos, os três mundos, os media, o público e o grupo responsável pelas políticas públicas (actores governamentais, especialistas, …), ficam totalmente permeáveis a influências exteriores. O processo de agendamento tanto pode ser intencional como não, e tanto pode ser iniciado pelos media como pelos políticos, não excluindo também a possibilidade do público afectar a agenda dos media.

FIGURA 3: MODELO DE AGENDAMENTO (AGENDA-SETTING) DE ROGERS E DEARING Fonte: Adaptado de McQuail e Windahl (Parsons, 1995, p. 115)

 

   

Experiência pessoal e comunicação interpessoal

Agenda Pública Agenda Política Agenda dos media

Indicadores do mundo real sobre a importância de um assunto ou acontecimento em agenda

2.3.4 O Espaço “opinião” da Imprensa Escrita

 

O espaço “opinião”, como habitual secção temática de discussão de questões públicas da imprensa escrita é, utilizado por jornalistas, politólogos, professores universitários, investigadores, dirigentes e militantes partidários, membros do governo e outras reconhecidas personalidades públicas. Estes agentes que frequentemente acumulam prestações em diversos campos sociais, académicos, culturais e políticos, podem ser designados de um modo geral por OM. Aquele espaço surge de modo mais visível, sob designações como: “Editoriais”, “Espaços Público”, “Colunas de opinião”, “Opinião”, mas também, sob a forma de “Cartas do leitor”, “Cartas ao director”, quando preenchidos por leitores ou cidadãos comuns, com interesse em determinados assuntos. É um espaço onde domina a dimensão crítica, a manifestação directa de opinião, contrapondo-se à dimensão noticiosa dos jornais, a qual remete para os factos e acontecimentos. Por outras palavras, o espaço “opinião” é um espaço onde agentes investidos de um certo volume de um capital económico, cultural, social ou simbólico lutam pela dominação simbólica, traduzida por exemplo, pela influência na opinião do público, da agenda pública, política ou da própria agenda dos media. Com empenho, fervor, maior ou menor convicção, argumentam de acordo com os seus interesses, utilizando esquemas argumentativos mais ou menos complexos, em função do público a que as suas palavras se destinam.

A circunstância de um conjunto significativo de OM ser originário do campo académico, se encontrar frequentemente em lugares-chave da sociedade e ocupar lugares em diversos campos de poder, investe estes agentes de um poder simbólico que lhes confere prestígio. Simultaneamente, com o seu vasto domínio da interpretação da realidade social, convertem conhecimento em poder através das suas práticas e estratégias discursivas sendo capazes de condicionar, construir e reconstruir essa mesma realidade. O espaço “opinião” é, segundo Figueiras (2005), reconhecido pelos próprios media como um espaço dos privilegiados, ou seja, daqueles que possuem autoridade para difundir publicamente as suas opiniões, sendo assim, na sua opinião, ocupado por agentes com um percurso ou actividade profissional reconhecidamente significativa. Por outro lado, a participação no espaço “opinião” de determinadas personalidades públicas, como OM, é do ponto de vista do meio de comunicação, uma forma de o valorizar socialmente, com vantagens evidentes que daí advém.

     

2.3.5 O Ethos e a Argumentação no Discurso

 

Na opinião de Hansotte (2008, p. 96), a legitimidade da sociedade civil e as posições que assume baseiam-se no rigor dos seus métodos de intervenção, de reflexão e de orientação para o interesse geral, onde a qualidade dos processos de argumentação desempenha um papel fundamental.

O discurso, enquanto elemento estrutural do espaço público, organiza-se na perspectiva de D. Stone (1988, citado por Lascoumes & Le Galès, 2009), em torno de quatro componentes que desempenham um papel central na legitimidade da construção de um problema público: a explicação analítica, a

apresentação de casos-exemplo, a utilização de metáforas e o uso da ambiguidade nos argumentos

que transmitem significações múltiplas. Por exemplo, Serra & Marques (no prelo) salientam ainda, como estilos e estratégias de argumentação utilizadas pelos actores no espaço público, a evocação de uma autoridade, eventualmente normativa e reguladora, para justificar determinado ponto de vista ou a ênfase em determinados aspectos do problema em detrimento de outros e a utilização de valores partilhados por outros.

Philippe Breton (2006) distingue, por seu lado, quatro grandes famílias de argumentos: os argumentos que se apoiam numa autoridade positiva ou negativa, própria ou exterior, pessoa ou instituição, aceite pelo(s) destinatário(s) que o autor/locutor propõe ou critica; os argumentos pela identidade/comunidade que apelam a pressupostos comuns, as crenças, os valores partilhados pelo público a que se destina; os argumentos por analogia que empregam figuras clássicas como a exemplificação, metáforas e analogias e os argumentos por enquadramento da realidade, isto é os argumentos que apresentam a realidade de um certo ponto de vista, valorizando uns aspectos em detrimento de outros a fim de fazer sobressair a legitimidade de uma opinião.

Segundo Tönnies (1979, citado por Silveirinha, 2004, p. 104), nos jornais a luta de opiniões é uma luta por uma opinião do público, isto é, por indivíduos que abraçarão a opinião publicada como a sua, identificando-se com ela, e que por isso, a apresentarão como sendo a “sua” opinião. A transformação de uma opinião num argumento em função do público a que se destina é o objecto da argumentação. Esta última tem como objectivo modificar o contexto de recepção. Assim, argumentos diferentes podem ser utilizados para comunicar uma mesma opinião.

Podemos sintetizar o processo da comunicação argumentativa utilizando o esquema seguinte, proposto por Philippe Breton (Figura 4)

FIGURA 4: ESQUEMA DA COMUNICAÇÃO ARGUMENTATIVA