A Discussão do Novo Modelo de Avaliação de Desempenho Docente na Esfera Pública (2007-2009)
QUADRO 1: ESTRUTURA DA ANÁLISE DO CONTEÚDO OS TEMAS ENQUADRADORES E AS CATEGORIAS DE CONTEÚDO
Tema
Enqua
dra
dor Categorias de conteúdo8
Có di go Descrição Pro ces so s d e n eg o ciação d as p o líticas pú b licas Governo-Sindicatos da Educação 1.0
Estratégia e tácticas utilizadas pelo Governo/governantes no processo de negociação das políticas educativas com os sindicatos
Governo-Professores 1.1 Estratégia e tácticas utilizadas pelo Governo/governantes
relativamente aos professores Ministério da Educação 1.2
Característica que enforma a prática política da instituição, enquanto estrutura burocrática responsável implementação e avaliação das políticas educativas
XVII Governo 1.3 Estratégia e tácticas utilizadas pelo Governo/governantes
no processo de negociação das políticas públicas em geral Personalização/Liderança dos
actores governamentais 1.4
Características dos governantes: experiência profissional, capacidade de liderança, competência, carácter, sabedoria, aparência física
Sindicatos/Movimentos-Governo 1.5
Propostas, estratégia e tácticas utilizadas pelos sindicatos da Educação e/ou Movimentos de professores no processo de construção das políticas da Educação
Partidos políticos/Políticos 1.6
Propostas, estratégia e tácticas utilizadas pelos Partidos Políticos e por Políticos (actores não governamentais) nos processos de construção das políticas públicas da Educação
Professores 1.7
Características do grupo profissional dos professores: qualificação, empenho, atitude face à política de avaliação de docentes, atitude face às políticas da Educação, participação nos processos de negociação
Conselho de Escolas/Conselho
Executivo/Director 1.8
O papel dos presidentes dos órgãos de gestão e administração das escolas no processo de implementação das políticas educativas
Greves e manifestações 1.9 Referência a greves, marchas e manifestações
Formas não convencionais de participação política
1. 10
Referência a formas não convencionais de manifestação de desacordo com as opções políticas tomadas pelo Governo, como por exemplo, não entrega de objectivos individuais, não comparência a aulas assistidas agendadas previamente com avaliado, interposição de providências cautelares, etc.
Processos de condução das
políticas públicas em democracia 1.
11 Ideias, reflexões e preocupações
8 No período em análise, estiveram em exercício dois governos, XVII e XVIII, ambos liderados por José Sócrates, e da mesma
família político-partidária. O novo modelo de avaliação foi uma opção tomada pelo XVII e implementada por este Governo. Na sua fase final com o ano lectivo 2009/2010 iniciado, entra em funções o XVIII Governo. Algumas UI referem-se a opções e actuações deste último Governo. Na análise dos dados referir-nos-emos a esta situação.
Med id as d e po lítica ed u cativa
Medidas tomadas pelo Governo em
funções 2.1
Referência a medidas de política educativa tomadas pelo XVII ou XVIII Governos no que respeita a alterar ou criar novas políticas educativas, ou manter as existentes Medidas tomadas por governantes
anteriores ao XVII Governo 2.2
Referência a políticas educativas implementadas por governos anteriores ao XVII
Efeitos/consequências na escola pública da política educativa do XVII Governo
2.3
Efeitos/consequências na escola pública (em geral) decorrentes das opções tomadas pelo XVII Governo Efeitos/consequências na carreira
docente da política educativa do XVII Governo
2.4
Efeitos/consequências na carreira docente decorrentes das opções tomadas pelo XVII Governo
Repercussões na economia e no desenvolvimento do país, da política educativa do XVII Governo
2.5
Relação custo-benefício das políticas educativas implementadas pelo XVII Governo. Impacto na economia, na habilitação para a riqueza e desenvolvimento do país. Repercussões na escola pública
das políticas herdadas 2.6
Efeitos na escola pública (em geral) decorrentes das opções tomadas por governos anteriores ao XVII Governo Repercussões na profissão
docente das políticas herdadas 2.7
Efeitos na profissão docente decorrentes das opções tomadas por governos anteriores ao XVII Governo
Repercussões na economia das
políticas herdadas 2.8
Relação custo-benefício das políticas educativas implementadas por governos anteriores ao XVII Governo. Impacto na economia, na habilitação para a riqueza e desenvolvimento do país
Escola – sistema de ensino –
políticas educativas 2.9 Ideias, reflexões e preocupações
Avaliação de (desempenho) docentes
Problema/Necessidade 3.1
Assunção/Não assunção/Referência à existência de um problema que justifica ou não uma intervenção no processo de avaliação dos docentes
Opção política/Causa 3.2 Criação de um processo de avaliação de docentes (como
resposta adequada à resolução de um problema)
Conceptualização/Modelo 3.3 Origem do modelo. Conceptualização. Estrutura. Suporte
legal. Adjectivação que o qualifica.
Contexto/Aplicação 3.4 Adequação à realidade escolar em que é aplicado o modelo
de avaliação – condições humanas, materiais, cultura, … Implementação/Oportunidade 3.5 Datas, prazos, situação temporal do processo
Implementação/Normativos/Orienta
ções 3.6
Normativos e orientações pertinentes para o cabal conhecimento e desenvolvimento do processo de avaliação
Implementação/alterações 3.7
Alterações sofridas pelo modelo inicial como sejam, acertos, adiamentos aos procedimentos e prazos estabelecidos, acordos e “Memorando de Entendimento” e alterações ao despacho inicial.
Implementação/Efeitos na vida
Escola 3.8
Efeitos na vida Escola (ambiente educativo, gestão, coordenação,..) decorrentes da aplicação do modelo de avaliação implementado
Implementação/Efeitos na vida profissional e pessoal dos professores
3.9
Efeitos na vida profissional e pessoal dos professores decorrentes do modelo de avaliação implementado
Avaliação de docentes 3.
10 Ideias, reflexões e preocupações Diver
sos - 4.0
Opiniões ou informações que não se enquadram em nenhum dos “temas enquadradores”
As categorias “Greves e manifestações”, “Formas não convencionais de participação política” e “Processos de condução das políticas públicas em democracia”, “Escola - sistema de ensino – políticas Educativas” e “Avaliação de docentes”, integram informação situacional que consideramos fundamental como referência para a análise da argumentação, não se encontrando as respectivas UI associadas ao tom, uma vez que se prendem com factos, informações, preocupações, ideias, reflexões ou concepções teóricas apresentadas pelos OM no seu discurso. Assumimos que é principalmente nestas três últimas categorias que se revela a profundidade da argumentação da opinião, o conhecimento que o autor mobiliza para a fundamentar. Por outro lado, pareceu-nos bastante pertinente realçar a importância que é atribuída a determinados factos ou acontecimentos, ou a sua reflexão ou ideias sobre questões relacionadas com democracia, o sistema de ensino e escola pública, pois não podemos esquecer que se está a analisar um período difícil de implementação de uma política pública cujos destinatários são profissionais qualificados para o exercício da profissão docente, com habilitação de nível superior, e com um processo de avaliação que se manteve inalterado desde os anos 1990.
O campo mediático de muitos dos OM é reconhecidamente grande, como teremos oportunidade de confirmar, pelo que há uma imagem a manter ou porventura a alterar. Numa democracia os períodos de conflito e confronto são intensivamente alimentados pelas opiniões de cronistas, jornalistas, académicos e outras figuras públicas com acesso ao espaço público. Terão os períodos que se situam na vizinhança das duas grandes manifestações de professores, 8 de Março e 8 de Novembro de 2008 correspondido a um maior volume de opiniões sobre o tema da avaliação?
Gostaríamos de retomar, por momentos, a questão do “tom”. Tratando-se de artigos de opinião com função crítica não é de esperar encontrar o tom neutro como predominante. Por outro lado, o tema da avaliação trouxe ao espaço público uma grande diversidade e variedade de actores cuja especialidade não é a educação nem são cronistas permanentes mas que, pelo seu capital mediático, cultural e político, foram “chamados” a tomar posição em defesa de uma política, de um governo ou de um governante, de um grupo profissional, do sistema de ensino, da escola pública ou dos processos de negociação das políticas públicas em democracia, ou por qualquer outro motivo. Serve este espaço “opinião” como forma de expressão de descontentamento? O capital académico e cultural dos agentes que intervieram neste espaço terá tido influência na argumentação e na mobilização do conhecimento? Quais as estratégias argumentativas utilizadas? Que outros factores interferiram na forma de defender a opinião? São, apenas, alguns exemplos de questões que se nos colocam e para as quais procuraremos resposta.
Propusemo-nos ainda identificar as ideias, reflexões e preocupações, mas também as sugestões e recomendações contidas nas fichas temáticas. No tratamento deste assunto apresentámos excertos de algumas UI. No que respeita às sugestões, entendidas por nós como recomendações, agrupámos as
respectivas UI em cinco categorias de acordo com os seus destinatários. As UI respeitantes a “recomendações” foram caracterizadas por um índice de intensidade (0, + ou ++). A intensidade “+” é marcada por verbos que indicam a iminência, o parcial, o provável, o desejável, o crescimento e, por outros tempos verbais que não sejam o presente; a intensidade “++” é caracterizada pelo uso do verbo “ter”, “dever”, por certos verbos no presente, pela presença na UI de advérbios do tipo “absolutamente”, “definitivamente” que reforçam a acção do verbo; a intensidade “0” é caracterizada pela utilização de exemplos do que foi feito ou do que alguém fez, analogias, independentemente dos tempos verbais, verbos ou advérbios presentes na UI.