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QUADRO 3: O GRUPO PROFISSIONAL DE CADA AGENTE OU OM Grupo Profissional-

A Discussão do Novo Modelo de Avaliação de Desempenho Docente na Esfera Pública (2007-2009)

QUADRO 3: O GRUPO PROFISSIONAL DE CADA AGENTE OU OM Grupo Profissional-

Institucional Nomes Nº de OM % Nº de artigos % Jornalistas

Constança Cunha e Sá, Daniel Oliveira, Fernando Madrinha, Helena Matos, Henrique Monteiro, Inês Pedrosa, José Manuel Fernandes, José Vítor Malheiros, Manuel Carvalho, Miguel Gaspar, Miguel Sousa Tavares, Nuno Pacheco, Nicolau Santos, Ricardo Costa, S. José de Almeida, Editores do “Expresso”

16 29,1 70 44,9

Políticos Manuela Ferreira Leite, Marcos Perestrello, Pedro

Duarte 3 5,5 5 3,2

Professores do Ensino Não superior

Francisco Teixeira, Joviana Benedito, Maria do Rosário Queirós, Paulo Guinote, Rui Valada, Grupo de professores

6 10,9 13 8,3 Professores do Ensino

Superior

(aqui designados por Professores

Universitários)

Ana Benavente, André Freire, Carlos Fiolhais, Isabel Leiria, José Dias Urbano, José Madureira Pinto, Luís Campos e Cunha, Maria Filomena Mónica, Santana Castilho, Vital Moreira

10 18,2

43 27,6 Investigadores Esther Mucznik, Henrique Raposo, Vasco Pulido

Valente 3 5,5 Profissionais Liberais/Quadros Superiores: Advogados, Sociólogos, Historiadores, Escritores, Economistas, Administradores, Médicos Empresários

António Pires de Lima, António Pinto Leite, António de Almeida, António Barreto, António Vilarigues, José Miguel Júdice, João Freire, José Pacheco Pereira, Lídia Jorge, Luís Marques, Rui Ramos, Rui Tavares, Daniel Bessa

13 23,6 20 12,8

Outros sectores de actividade/ocupação

Frei Bento Domingues, Cipriano Justo, Mário

Nogueira, Rui Moreira9 4 7,3 5 3,2

A propósito do estatuto utilizado pelo agente em determinados contextos, Maria de Lurdes Rodrigues (2010) critica a utilização do prestígio institucional da ciência em combates ideológicos e políticos, sob pena de eventualmente não ser respeitada a ética da investigação nem a ética política. Afirma a autora:

Exige-se, todavia, uma maior clareza na distinção entre os ensaios sustentados em informação de base científica e os escritos que veiculam apenas opiniões, ideias ou

       

9 O nosso corpus compreende dois artigos de opinião da autoria de Mário Nogueira. O primeiro artigo publicado (04-10-2008) é

subscrito na qualidade de Secretário-Geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof) e no segundo (16-11-2009) na de Professor, secretário-geral da Fenprof.

impressões, baseadas nas crenças ou nas convicções mais ou menos ideológicas dos seus autores. Esta clarificação, sobre o estatuto usado pelos autores em diferentes circunstâncias, exige-se neste campo, mais do que em outros, porque ocorre maior intensidade de circulação entre o mundo da actividade política, da actividade científica e do ensino, da administração e da actividade sindical ou associativa. Ajudaria à ciência, mas também à política, e até ao debate de ideias, conhecer sem ambiguidades o “chapéu” usado pelos autores quando escrevem e o estatuto do trabalho que representam. O “travestismo”, isto é, o uso do estatuto de cientista, perito ou investigador para escrever artigos normativos ou impressionistas, é gerador de grandes ambiguidades (p. 51).

Um aspecto que imediatamente nos chama a atenção é o facto de apenas 6 (10,9%) dos 55 OM, serem professores do ensino básico e secundário e nenhum ser educador de infância. Além disso, Joviana Benedito é cronista habitual do semanário Expresso, Paulo Guinote é autor do conhecido blogue “A educação do meu umbigo”, Rui Valada é também advogado, doutorando em Ciência Política, autor de várias obras, distinguido com vários prémios ao longo da sua carreira, Francisco Teixeira possui também um capital social e cultural significativo e Maria do Rosário Queirós é directora de uma agrupamento de escolas. Qual a explicação que poderemos dar para esta situação? À primeira vista, parecia ser natural esperar encontrar um número significativo de professores do ensino não superior a apresentarem a sua opinião crítica no espaço público sobre um modelo de avaliação que esteve no cerne de intenso conflito, tanto mais que o acesso ao espaço “opinião” no jornal Público está aberto a OM não permanentes.

Vários motivos podem ser assinalados como susceptíveis de explicar a situação:

i) um artigo de imprensa é usualmente subscrito individualmente (salvo algumas excepções e aqui verificou-se uma) o que leva a uma grande exposição do ethos pessoal. É certo que um professor argumenta com frequência no quadro das suas interacções pessoais e profissionais sobre temas da sua especialidade, mas junto de pequenos auditórios, já seus conhecidos, que lhe reconhecem normalmente autoridade. Sente que possui legitimidade para o fazer, pela autoridade reconhecida pelos seus alunos, colegas e restantes membros da comunidade escolar e pelo poder que lhe foi conferido mediante a aquisição de grau académico de nível superior;

ii) por outro lado, o professor tem consciência que actualmente a sua classe profissional não é (das mais) valorizada(s) no nosso país. Como anteriormente referimos, o ethos prévio, imagem que o

auditório pode fazer de um dado locutor antes do discurso, elabora-se também com base na representação colectiva ou no estereótipo que circula sobre ele;

iii) um último aspecto a referir e que poderá justificar a presença de tão reduzido número de professores do ensino básico e secundário neste espaço público, prende-se com o acesso à condição de OM: Os OM possuem normalmente um capital simbólico que lhes confere prestígio, possuem uma elevada eloquência e competência mediática, estão intimamente familiarizados com os códigos, práticas e agentes mais legítimos da cultura dominante. Na opinião de Rita Figueiras “os media naturalizam os contextos sociais de origem dos Opinion Makers, transformando as desigualdades sociais em desigualdades naturais de inteligência, cultura e estilo… e as colunas de opinião surgem como o grande espaço da meritocracia” (Figueiras, 2005, p. 123). A autora confirmou no seu estudo Os

Comentadores e os Media, (2005), o fechamento deste espaço, o “clubismo” do seu funcionamento

induzido pelas características altamente selectivas e criteriosas no recrutamento dos seus membros. Pode compreender-se que a opinião dos educadores e professores do ensino básico e secundário não se faça notar nas rubricas de destaque de opinião da imprensa, apesar de serem a parte mais interessada neste processo de avaliação.

O capital cultural e social dos OM oriundos das Universidades e Centros de Investigação, universitários, investigadores, quadros superiores ou profissionais liberais, é muito grande. Dezasseis dos 26 OM possuem o grau de doutor e seis, especialização ou mestrado. Os restantes possuem, no mínimo, uma licenciatura. Pelo menos 69,2% (18) dos 26 OM têm obras publicadas; pelo menos 76,9% (20) exerceram ou exercem cargos gestão e administração e/ou assumiram ou assumem funções de coordenação de equipas de trabalho e de projectos; pelo menos 26,9% (7) foram distinguidos com prémios ou condecorações ao longo da sua carreira e, pelo menos 88,5% (23), possuem um elevado capital mediático, sendo alguns, personalidades de reconhecido mérito. Outros produzem opinião em vários meios de comunicação, jornais, revistas e televisão.

Um aspecto interessante, mas não surpreendente, é o facto de 11 (42,3%) destes 26 OM, possuírem também um capital político importante, tendo mesmo exercido cargos em governos anteriores. Nos dois quadros seguintes, Quadro 4 e Quadro 5, apresentamos uma síntese dos cargos políticos exercidos por alguns destes OM.