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QUADRO 28: AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE TABELA DE ÍNDICES POR CATEGORIA DE CONTEÚDO

A Discussão do Novo Modelo de Avaliação de Desempenho Docente na Esfera Pública (2007-2009)

QUADRO 28: AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE TABELA DE ÍNDICES POR CATEGORIA DE CONTEÚDO

Repartição das UI Índices em relação ao tema

enquadrador Índices por categorias Categorias Número Visibilidade

% Peso- tendência % Parcialidade % Orientação % Problema/Necessidade 39 8,8 1,871 + 94,9 64,1 + Opção política/Causa 42 9,5 1,796 - 100,0 57,1 - Conceptualização/Modelo 111 25,2 6,587 - 88,3 79,5 - Contexto/Aplicação 20 4,5 0,898 - 80,0 60,0 - Implementação/Oportunidade 11 2,5 0,823 - 100,0 100,0 - Implementação/Normativos/Orientações 14 3,2 0,823 - 78,6 78,6 - Implementação/Alterações 66 15,0 2,096 - 48,5 42,4 - Implementação/Efeitos na vida da Escola 30 6,8 2,246 - 100,0 100,0 - Implementação/Efeitos na vida

profissional e pessoal dos professores 38 8,6 2,844 - 100,0 100,0 -

Avaliação de docentes 70 15,9

Percepção geral

Totais 441 100

Parcialidade e Orientação 71,4 49,2 -

Impacto e tendência da opinião 16,2 -

Apresentamos aqui25 algumas UI classificadas respeitantes a factores que indiciam uma resposta adequada, ou não, ao(s) problema(s) assinalado(s) e motivador(es) da implementação do NMA ou,

       

25 “[…] e o que restou pareceu-me um sistema adequado e justo para premiar o mérito, a assiduidade e o esforço - certamente melhor do que nada. […]” (Miguel Sousa Tavares, Expresso, 29-09-2007);

“[…] produzindo efeitos opostos àqueles que o Ministério pretende. É assim o sistema de avaliação de desempenho dos professores […]” (Fernando Madrinha, Expresso, 09-02-2008);

“[…] No meio de tudo isto, a avaliação do desempenho está longe de ter o impacto que muitos lhe atribuem. Mas vamos a ela e falemos dos erros que subjazem ao decreto que a regulamenta, sob a forma de perguntas que endereço aos que apoiam a ministra da Educação: Onde está a evidência mínima, a simples presunção fundamentada, ao menos em experiências similares, que, cumprido o proposto, os resultados dos alunos melhorariam? […]” (Santana Castilho, Público, 20-03-08);

“[…] Ou pior ainda, tendo em conta que, dentro de um ano, se a ministra persistir na sua ideia (certa e justa) de avaliação, tudo estará no mesmo patamar em que estava antes da 'guerra' começar. […]” (Editorial, Expresso, 19-04-2008);

como por exemplo, Vasco Pulido Valente, que identifica de facto um problema, mas que não passa por uma alteração do processo de avaliação de professores: “E de repente quer que os professores paguem a conta do desastre. Não é admissível.”, afirma este OM no seu artigo de opinião publicado no jornal Público no dia da primeira grande manifestação de professores, 8 de Março de 2008.

O foco do problema que gerou descontentamento e controvérsia foi colocado de uma forma global pelos OM no modelo em si (valor do peso-tendência de 6,587% em 16,2%).

Quer as alterações introduzidas ao modelo inicial, quer as decorrentes do regime transitório, designado por “Memorando de Entendimento”, assinado a 17 de Abril de 2008 e legislado a 23 de Maio do mesmo ano e as que entraram em vigor no segundo ano do primeiro ciclo, com a publicação do Decreto-Regulamentar nº1-A/2009, de 5 de Janeiro, foram alvo de interesse (34 UI neutras em 66), de críticas desfavoráveis (30 UI em 66), mas também favoráveis (2 UI em 66) (Veja-se Anexo 4). Dos onze OM que manifestaram o seu descontentamento com as alterações introduzidas no processo, alguns fazem-no porque defendem a substituição integral do modelo de avaliação, outros pela altura tardia para o fazer ou porque as consideram manobras de ilusionismo, persistência numa pseudo-avaliação, outros ainda porque consideram necessário avaliar os professores e não adiar o processo. As opiniões não foram emitidas, de um modo geral, com grande fervor e convicção apesar da alta visibilidade dada ao processo de adaptação e reformulação. As alusões às alterações referem-se, na sua grande maioria, às que acabámos de referir. Contudo, algumas foram feitas relativamente aos pequenos ajustes que causaram disfuncionamentos na gestão do processo nas escolas, mas que de certa forma trouxeram formas de ultrapassar determinados problemas na concretização e aplicação dos normativos.

Os efeitos da implementação do modelo de avaliação quer na vida da escola quer na vida profissional e pessoal dos professores foram debatidos de forma unânime por todos os OM (valores dos índices de parcialidade e orientação de 100%, desfavorável). Esta situação está em concordância com a elevada visibilidade dada aos processos de negociação da política de avaliação e a orientação

       

“[…] A publicação do Decreto Regulamentar n.º 2/2008 em Janeiro deste ano apenas passou para verbo com valor legal um sistema de avaliação dos docentes destinado a legitimar esses mecanismos de bloqueio da progressão. […]” (Paulo Guinote,

Público, 25-04-2008);

“[…] Porque não cumpre o fim primeiro de qualquer exercício de avaliação do desempenho: a melhoria do próprio desempenho e a valorização das práticas profissionais […]” (Santana Castilho, Público, 16-10-08);

“[…] Não o faz com nenhuma razão lógica, embora já se perceba que o processo será, no final, com toda a animosidade que gerou, um verdadeiro e inútil caos. […]” (Nuno Pacheco, Público, 12-12-2008);

“[…] e estabeleceu um sistema de avaliação de mérito, conducente a duas categorias diferentes, com regalias e remunerações diversas, de acordo com a qualidade e não com a simples antiguidade. […]” (Miguel Sousa Tavares, Expresso, 28-11-2009). 

negativa (73,4%) e elevada parcialidade (73,4%) da categoria de conteúdo “Governo-professores” (veja-se Quadro 16). Note-se também que na vizinhança das duas grandes manifestações de professores, a 8 de Março e a 8 de Novembro de 2008, encontrámos sessenta e oito artigos de opinião que inevitavelmente deram também visibilidade às preocupações dos professores e consequentemente ao impacto negativo da avaliação quer no ambiente nas escolas quer nas suas vidas profissional e pessoal.

Nas setenta ideias, preocupações e reflexões sobre avaliação de desempenho de docentes, encontram-se algumas preocupações relacionadas principalmente com o futuro próximo do processo de avaliação que, para uns, se prende com o aproveitamento do trabalho efectuado até aí e para outros, com a persistência num modelo que poderia ter consequências negativas caso não fossem revistos os fundamentos da avaliação e os modos de concretização; outros ainda, mostram preocupação com a motivação dos avaliadores e direcção das escolas para avaliarem, quando o futuro desta avaliação é, nesta fase, incerto. É ainda colocada por Paulo Guinote, professor do ensino básico e secundário, a questão do porquê da abstenção da recuperação do artigo 50º do estatuto da carreira docente de 199826 e a revisão do decreto regulamentar nº11/98, se se pretendia “de forma rápida”, como afirma, reconhecer o "mérito" e recompensá-lo em termos de diferenciação na progressão na carreira (Público, 25-04-2008).

São manifestadas opiniões sobre a dificuldade em avaliar professores na medida em que é uma profissão solitária, a actividade do professor tem várias componentes, a própria sociedade não tem um modelo do "homem" ou da "mulher" que se deve "formar" ou "instruir" ou porque o "bom professor" muda necessariamente em cada época e cada cultura, como afirma o OM Vasco Pulido Valente (Público, 02-03-2008).

Da parte de 3 OM (um professor do ensino superior, dois jornalistas), é feita a apologia da livre escolha da escola por parte das famílias. Quatro OM (um professor universitário/ensino superior e três jornalistas), defendem a utilização dos resultados dos alunos, nomeadamente resultados obtidos em exames, como forma de avaliar os professores responsabilizando-os assim, pelos seus resultados. Um jornalista defende uma avaliação por objectivos. Na opinião de um professor do ensino básico e secundário a realização de uma prova (pública) de aptidão pedagógica, defendida perante um júri, no final de cada escalão, seria uma forma adequada de avaliar os professores. Dois outros OM defendem ainda a avaliação de professores pela gestão da escola.

       

26 O artigo 50º do Decreto-Lei nº1/98, de 2-1-1998, intitula-se “Atribuição da menção qualitativa de Muito bom” e traduz a

possibilidade do reconhecimento do mérito, com efeitos de progressão na carreira, como seja a bonificação de dois anos no tempo de serviço docente.

A existência de quotas máximas ou vagas por universos é defendida apenas por um OM jornalista. Dois jornalistas e um professor do ensino básico e secundário manifestam-se contra a existência de barreiras artificiais para reconhecer o mérito. Rui Ramos, historiador incluído no grupo “profissionais liberais/quadros superiores” afirma que “a questão não é esta avaliação, mas qualquer avaliação, seja qual for o modelo, que tenha como princípio diferenciar os professores”, não será bem aceite (Público, 10-12-2008).

   

2.3.4.1 As Vozes do Grupo “Profissionais Liberais/Quadros Superiores”

 

Curiosamente, são OM do grupo “profissionais liberais/quadros superiores” que apresentam as bases de um processo de avaliação de professores.

À semelhança de um processo de avaliação numa empresa, António Pinto Leite (2008) começa por dizer que a avaliação é uma tarefa muito difícil e que por isso se chamam especialistas e se seleccionam key players que na organização agem como aliados, “ dão passos seguros, são tão persuasivos quanto directivos, projectam firmemente a longo prazo, actuando flexivelmente no curto prazo” (Público, 22-11-2008). Refere ainda o mesmo OM que a criação de um processo de avaliação entre pares é uma arte que passa por conquistar pessoas, tornar o processo uma necessidade e não o interesse de alguns apenas; a outra arte, segundo afirma, é a de reconhecer que o primeiro objectivo da avaliação é melhorar cada um e a própria organização e, só depois, seleccionar e premiar. Na sua opinião, a partir do momento em que se inicia a avaliação tem-se de ir até ao fim. Para António Pinto Leite a avaliação não é um momento, nem um processo, é um modo de vida.

Luís Marques, OM permanente do jornal Expresso integrado no grupo “profissionais liberais/quadros superiores” considera, com base na sua experiência, que a avaliação é essencial para promover o mérito individual, mas também para detectar défices de formação e de qualificações, corrigir injustiças e desajustamentos funcionais; deve ter como suporte uma grelha simples, de fácil compreensão, transparente e clara para avaliador e avaliados; não dispensa o bom senso e a coragem na gestão dos conflitos que sempre provoca, mesmo quando é um processo justo, compreensível, partilhado e participado por todas as partes (Expresso, 08-03-2008).

O grupo “profissionais liberais/quadros superiores” que se manifestou em total acordo com a necessidade de introduzir um novo modelo de avaliação de professores foi, no entanto, bastante crítico relativamente não só à forma como o Ministério da Educação respondeu ao problema como ao modelo implementado, verificando-se neste último caso unanimidade de opiniões de entre os que se manifestaram sobre este assunto (Quadro 29).

QUADRO  29: TEMA “AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE” – TABELA DE ÍNDICES POR