ASTROLOGIA E REENCARNAÇÃO
A ASTROLOGIA INDIANA E TIBETANA
Ao leste do Éden, a Arvore do Conhecimento nem sempre foi sufocada. Nas Índias, no Tibete, e em outros países do Extremo-Oriente, a reencarnação faz parte da vida cotidiana, assim como também a astrologia. Os astrólogos indianos, quando estudam um tema, têm sempre presente no espírito a "roda das reencarnações". Estimam que têm sob os olhos o "momento" da corrida milenar de uma alma. Nas Índias e no Tibete, não se cogita de empreender uma ascese espiritual sem procurar conhecer os erros das vidas precedentes. Essa busca é feita sob a orientação de um mestre, guru, swami, sishi... que guia o adepto no caminho muitas vezes difícil desse conhecimento.
A astrologia está muito naturalmente integrada nesta busca espiritual. Os astrólogos indianos não trabalham apenas na "análise lógica do tema" — utilizam sem qualquer reticência sua mediunidade para ler ali as vidas anteriores. Assim, o astrólogo indiano é, por princípio, um iniciado e um sábio. Sua função é religiosa.
Sem entrar nos detalhes que veremos mais amplamente na seqüência dos capítulos, apresentaremos a seguir, em termos muito gerais, as configurações pelas quais os astrólogos indianos determinam as vidas anteriores (e futuras) de um nativo. Consideram eles, essencialmente:
Os nidânas
Os "signos do Zodíaco" na astrologia indiana não correspondem exatamente aos nossos, por causa da defasagem entre signos e constelações, devida à precessão dos equinócios (ver mais adiante). Entretanto, o Zodíaco
indiano admite, como o nosso, uma divisão do ano em 12 partes que correspondem às 12 constelações da eclíptica. Cada uma dessas constelações é como uma "porta", por onde entra a alma que se encarna de novo. Cada porta ou "nidâna" corresponde ao desejo, à paixão dominante, que impeliu a alma a se encarnar. Existe uma correspondência simbólica entre os 12 nidânas e os signos do Zodíaco.
Estes últimos são representados num círculo, o Bhava Chakra, ilustração gráfica da roda das transmigrações, e oferecidos sob esta forma à meditação dos fiéis.
O primeiro nidâna é representado com os traços de uma velha cega, e simboliza a ignorância, a vontade inconsciente que leva a alma a se reencarnar. Seu simbolismo lembra o de Áries, ser de desejo, movido por impulsos muitas vezes cegos.
O segundo nidâna é representado por um oleiro modelando a argila. Símbolo do apego às formas da vida física, está muito próximo de Touro.
O terceiro nidâna é representado por um macaco trepando lepidamente numa árvore. Ele simboliza o desejo de conhecimento e uma certa instabilidade, que evocam bem os Gêmeos.
O quarto nidâna é representado por uma barca contendo ora apenas um homem, ora uma família. Simboliza o desejo de existir por si mesmo, de ser autônomo. Esse desejo, no Ocidente, nasce no nível de Câncer (que evoca também o Oceano primordial, como a barca).
O quinto nidâna é representado por uma casa vazia, ou por uma máscara humana: simboliza o desejo de exteriorizar o poder dos sentidos, e também a ambição (o que corresponde bem ao Leão).
O sexto nidâna é representado por um casal de esposos, ou por um trabalhador atrás do seu arado. Simboliza o desejo de realização concreta, a fecundação. Corresponde à nossa Virgem (representada no Ocidente com uma espiga de trigo na mão).
O sétimo nidâna é representado por uma figura humana cujo olho foi varado por uma flecha. Simboliza o desejo de ternura e de prazer, as ilusões do coração que terminam na dor. Corresponde a Libra.
O oitavo nidâna é representado por um homem que se embriaga, e por uma mulher segurando uma garrafa de vinho. Simboliza a sede insaciável de gozo, que acorrenta o homem à roda das reencarnações, e corresponde ao Escorpião.
O nono nidâna é representado por um homem colhendo frutos, que coloca num cesto. E o desejo dos bens materiais, o apego às gratificações deste mundo, análogo ao simbolismo de Sagitário.
O décimo nidâna é representado por uma mulher grávida. Ela representa a plenitude da existência material, e a sujeição aos trabalhos terrestres. Este nidâna corresponde a Capricórnio.
O décimo primeiro nidâna é representado por uma criança nascendo. Simboliza o desprendimento que foi adquirido e que dá ao ser o desejo de renascer uma última vez para liquidar todo o seu carma. Essa motivação espiritual corresponde a Aquário.
O décimo segundo nidâna é representado por um cadáver em seu cortejo funerário. Simboliza a dissolução (muito netuniana) de todos os laços terrestres que aprisionavam o ser. Corresponde a Peixes.
Decanatos, graus e outras subdivisões do Zodíaco
Cada signo do Zodíaco — tanto na índia como no Ocidente — estende-se, então, por 30° do céu. Um decanato — um terço de um signo — contém 10°.
Os astrólogos indianos dão muita atenção às subdivisões do Zodíaco; os decanatos permitem, segundo eles, um conhecimento das vidas anteriores; os dwads e os navamsas, subdivisões do decanato e do signo, indicariam mais o desenvolvimento futuro da Entidade.
Cada grau do círculo celeste indica também alguma coisa do carma do nativo. Não desenvolverei aqui esses tópicos — apesar de interessantes — por falta de espaço! Mas os decanatos serão objeto (p.93) de um capítulo especial.
O Ascendente
É examinado com o maior cuidado. O signo que se encontra situado na XII- casa, logo acima do horizonte, é considerado como o signo ascendente da vida precedente. Exemplo: um nativo nascido com o Ascendente Libra tinha o Ascendente Virgem na encarnação precedente; não deve, portanto, causar espanto que ele ainda apresente características de Virgem, sobretudo no início desta vida.
A alma percorre, assim, o Zodíaco, experimentando em cada encarnação as possibilidades dos signos, segundo sua progressão.
Os seis mundos
Não se pode compreender a astrologia indiana esquecendo os seis mundos. Começando por baixo:
•O mundo infernal, que corresponde ao plano de Saturno
•O mundo dos espíritos famintos, que corresponde ao plano da Lua •O mundo animal, que corresponde ao plano de Vênus
•O mundo humano, que corresponde ao plano de Mercúrio
•O mundo dos Titãs, ou Heróis, ou deuses ciumentos, que corresponde ao plano de Marte.
• O mundo dos deuses, mundo da felicidade e da luz, o mais alto de todos, que corresponde ao plano de Júpiter
O acesso a esses três últimos mundos se faz por um bom carma, ao passo que, ao contrário, um carma pesado obriga a entidade a se reencarnar em um dos três mundos inferiores, onde reina a infelicidade.
As almas passam de um a outro mundo, segundo seus méritos. A astrologia permite ver de que mundo vem o recém-nascido e, ao morrer, em que mundo o indivíduo se reencarnará. O Sol, energia luminosa, forma do Buda, indica, por sua posição no signo e no decanato, como se disse acima, de que mundo vem o nativo.
Resumi muito grosseiramente o ponto de vista da astrologia indiana: os especialistas que me perdoem essa simplificação.