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HINDUÍSMO E BUDISMO

No documento Astrologia Carmica-dorothie k Bizemont (páginas 31-34)

As tradições indianas, por muito tempo silenciadas ou consideradas inaceitáveis pelo Ocidente, merecem mais do que o desprezo no qual as

manteve o racionalismo ocidental. Elas nunca deixaram de afirmar a realidade da reencarnação.

Se os Vedas, antiquíssimos livros sagrados da Índia, só fazem raras alusões a ela, os comentários sobre os Vedas e os Upanishads, ao contrário, mencionam-na abundantemente.

Encontramos exposições detalhadas sobre a "roda das reencarnações" (ou samsara) no Mahabarata (de que faz parte o Bhagavad-Gita), e nas Leis de Manu.

Sendo as reencarnações sucessivas consideradas como expiações, a grande preocupação dos indianos devotos é, ainda hoje, evitar as reencarnações humilhantes e dolorosas (no corpo de humanos miseráveis, de animais ou de plantas), e chegar ao estado de bem-aventurança no qual não é mais necessário reencarnar-se.

O modelo proposto aos budistas é a história de Gautama Buda, cujas 547 reencarnações são narradas no Livro dos Jâtakas. Será, então, preciso tanto para chegar à iluminação final? Por vezes mais ainda — afirmam os budistas. Mas só aqueles que chegaram a um alto grau de sabedoria podem contemplar com um olhar sereno e com um coração tranqüilo suas encarnações precedentes.

O esquecimento nos economiza alguns traumatismos... isso é, aliás, o que acreditavam os antigos gregos: segundo eles, as sombras dos defuntos deviam, antes de se reencarnar, beber as águas do rio Letes (o "Esquecimento").

Os budistas chegam a prever e organizar suas próximas reencarnações. Em primeiro lugar, através de um programa de vida (não praticar o mal, não matar, não mentir, não roubar, não maldizer, ser puro em pensamentos e palavras, só usufruir de tudo com moderação). Assim são evitadas as paixões violentas que levam às encarnações de decadência. Tal é o objetivo de toda vida monástica na Índia e no Tibete, onde se crê que o desenvolvimento das mais altas faculdades da alma permite ao homem escolher de antemão suas futuras encarnações. Esta escolha, se ainda for necessário reencarnar-se, é feita, em seguida, através de ritos e de cerimônias especiais, quer antes, quer depois da morte (os parentes do morto lêem, então, para ele, orações e conselhos que o ajudarão a se orientar).

O Bardö Thödol é inteiramente dedicado a essa questão. É uma espécie de "Guia turístico do Além", lido aos moribundos. O "Bardo" corresponde ao "Amenti" dos egípcios, aos "Hades" dos gregos, ao "Infernos" das Escrituras cristãs.

Quanto ao lama (monge), o renascimento num corpo humano material é exigido pelo costume, enquanto ele não tiver atingido a iluminação. Se, nesta vida, ele passa por situações dolorosas, regozija-se ao pensar que, depois da morte, uma vez chegado ao "Bardo", deverá orientar-se ali, sem se deixar

amedrontar pelas projeções de suas próprias formas-pensamentos que assumem atitudes, cores e sons aterrorizantes.

Se viveu como um santo, e se, portanto, adquiriu suficiente desprendimento, será capaz de "fechar a porta das matrizes" onde nos encarnamos. Do contrário, se não tiver sido capaz disso, deve reencarnar- se e escolher cuidadosamente a família que o acolherá. Para esse momento crucial, o Livro lhe dá instruções:

"Olhando os continentes (da Terra), escolhe aquele onde a religião prevalece, e entra ali. Se o nascimento tiver de ocorrer, uma sensação de odor agradável atrair-te-á para aquela massa impura, e assim obterás o nascimento. Esforça-te para não seres atraído nem repelido, pois assim poderás escolher um bom germe."1

Para facilitar um bom nascimento, a alma do morto deve recitar o mantra sagrado: Om mani Padme Aum, e se concentrar em orações e pensamentos que lhe são indicados.

No Tibete, os tulku, isto é, os santos personagens, em geral superiores de um convento, reencarnam-se assim, para permanecer com seus monges. Alexandra David-Neel menciona isso: "Fazia já sete anos que o último tulku, Angnai-Tsang, morrera, e ainda não se pudera descobrir sua nova reencarnação. Quanto ao intendente, não parecia ter pressa de descobri-la, pois a administração dos bens do defunto contribuía para sua prosperidade...

Ora, um dia, esse intendente entra numa fazenda.

Enquanto conversava com a dona da casa, tira do bolso uma tabaqueira de Jade para pegar tabaco... Mas o garotinho que até ali brincava na cozinha, aproxima-se dele, dizendo: "Por que você está usando a minha tabaqueira?" Pânico do intendente: era, efetivamente, a tabaqueira do falecido tulku, da qual ele se apropriara. "Devolva-ma imediatamente" — disse-lhe a criança. Tomado de remorsos, o monge intendente devolve a tabaqueira e confessa tudo.

O menino é levado ao mosteiro e ali fazem-no reconhecer, entre muitos objetos em desordem, aqueles que haviam pertencido ao defunto.

Alexandra David-Neel conta em seu Mystiques et magiciens du Tibet como assistiu a essa cena, e em particular como a criança "reconheceu" todas as portas, todas as salas, todos os corredores secretos do mosteiro, onde jamais entrara "quando era viva". Chega mesmo a perguntar por uma tigela de porcelana trancada no fundo de um cofre, e esquecida pelos monges, e que tinha realmente pertencido ao defunto.

Em geral, alguns meses depois da morte de um lama superior, e do Dalaï-Lama, seus monges entregam-se à procura da sua reencarnação. Observam as crianças que lhes são indicadas como particularmente inteligentes e

_______________________________ 1 Le livre des morts tibétains.

espertas. Os nomes dessas crianças, inscritos num pedaço de papel, são sorteados. O eleito, depois de uma série de "testes" como os descritos acima, é consagrado. O atual Dalaï-Lama — o décimo quarto — foi escolhido, ou melhor, "reencontrado" assim. É bem possível que ele seja a reencarnação de seu predecessor imediato, morto em 1933.

Na China, taoístas, budistas e discípulos de Confúcio crêem na reencarnação: Confúcio não se opõe a ela. Se Lao-Tsé (século VII antes de Cristo) apenas faz alusão à volta periódica do homem sobre a Terra (no Tao-Te-King), seu discípulo preferido, Chuang-Su, em compensação, menciona-a com muito mais freqüência.

Lao-Tsé — contemporâneo, ao mesmo tempo, de Buda, de Pitágoras e de Ezequiel — ter-se-ia mesmo reencarnado várias vezes, entre outras, na pessoa de Kuang-Tchang-Tseu, o "Imperador Amarelo"... Na China, assim como no Japão, as expressões correntes da língua falada evocam com muita freqüência a reencarnação. O europeu que a ignora passa ao largo de uma chave fundamental da psicologia oriental.

A REENCARNAÇÃO NA ÁFRICA E

No documento Astrologia Carmica-dorothie k Bizemont (páginas 31-34)