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A BASE EMPÍRICA DA PESQUISA: PERCURSOS E INSTRUMENTOS

O desenvolvimento da base empírica da pesquisa permitiu buscar a compreensão do objeto a partir do estudo e análise da realidade no qual ocorre. O desenvolvimento da pesquisa empírica ocorreu em três (3) etapas que se complementam.

Na primeira etapa, realizou-se um diagnóstico para localizar quais universidades públicas federais oferecem as Licenciaturas Interdisciplinares, bem como quais são as áreas ofertadas. A opção pela pesquisa em universidades

públicas federais deve-se, inicialmente, por nosso compromisso de estar pesquisando/estudando numa instituição pública. Logo, entendemos que nossa pesquisa deve ser no sentido de qualificar os espaços públicos de educação (o retorno social), contribuindo para uma educação pública socialmente referenciada.

Acessamos o site do Ministério da Educação (http://portal.mec.gov.br/) para identificar as universidades públicas federais. Identificadas, posteriormente, acessamos o site oficial de cada instituição buscando a oferta de cursos de Licenciatura Interdisciplinar. Realizamos o levantamento durante o mês de julho de 2015.

O levantamento dos cursos permitiu identificar a oferta nacional dos cursos, apresentadas no mapeamento realizado pela pesquisadora na sequência (Figuras 3,4,5,6 e 7).

Região Norte

Região Nordeste

Figura 4 – Licenciaturas Interdisciplinares na Região Nordeste

Região Centro-Oeste

Região Sudeste

Figura 6 – Licenciaturas Interdisciplinares na Região Sudeste

Região Sul

Figura 7 – Licenciaturas Interdisciplinares na Região Sul

Os critérios de seleção dos cursos foram quatro, a saber: o primeiro pautou- se pela localização dos cursos, dado que a pesquisa busca a análise dos cursos de

Licenciatura Interdisciplinar no cenário nacional. Dessa maneira, foi selecionado um curso em cada região brasileira.

O segundo critério pautou-se pelo caráter de exclusão. Foram excluídas as licenciaturas com temáticas específicas, como as Licenciaturas Interculturais, Indígenas, em Educação no Campo, por contemplarem uma formação específica e direcionada aos respectivos grupos. Foram também excluídas as licenciaturas realizadas na modalidade à distância, ou seja, os cursos escolhidos deveriam ser presenciais.

O terceiro critério pautou-se pelas diferentes áreas do conhecimento. Não ignoramos o fato das áreas possuírem especificidades que as distinguem umas das outras, assim como a promulgação de Diretrizes específicas para cada uma das licenciaturas as quais legitimam as fronteiras epistemológicas que constituem as áreas de conhecimento. Mesmo correndo o risco de uma análise parcial, tendo em vista nossa opção metodológica, consideramos o pressuposto de unidade dos cursos pela sua proposição em assumir a interdisciplinaridade no processo formativo. Por isso, foram escolhidos cursos das diferentes áreas do conhecimento.

O quarto e último critério para a escolha dos cursos foi de caráter intencional, selecionando-se aqueles que se mostraram mais interdisciplinares desde sua nomenclatura.

Isto posto, chegamos aos cinco cursos escolhidos conforme consta no Quadro 6.

Região brasileira Universidade Curso

Norte UFPA Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens (LIECML)* (Noturno)

Nordeste UFMA Licenciatura em Linguagens e Códigos/Música (LCC/Música)

Centro-oeste UNB Licenciatura em Ciências Naturais (LCN)* (Noturno) Sudeste UNIFESP Curso de Ciências - Licenciatura (CC-L)* (Noturno)

Sul UNIPAMPA Curso de Ciências Humanas - Licenciatura (CCH-L) Quadro 6 – Cursos escolhidos

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

* Cursos com duas ofertas no mesmo Campus vespertino e noturno. São cursos duplicados Curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens – LIECML (UFPA) e Curso de Ciências - Licenciatura (UNIFESP). A Licenciatura em Ciências Naturais (UnB) são dois cursos com códigos diferentes.

Esses cursos foram escolhidos deixando-se de lado o sentido estatístico (amostra que prioriza o quantitativo), priorizando-se o critério de representatividade que podem apresentar em relação ao tema estudado. Reconhecemos os limites que

o estudo dessa natureza pode conter em vista do número de cursos escolhidos, mas consideramos também as possibilidades que pode oferecer, seja pela identificação das condições que possibilitaram a implantação das Licenciaturas Interdisciplinares no cenário nacional, seja pelos indicadores sobre a materialização dos cursos ou pelo material fornecido para a análise dos aspectos da interdisciplinaridade na formação de professores e da formação interdisciplinar implicados nos Projetos de Curso.

Entendemos que o fato de pesquisarmos cinco cursos de cinco universidades diferentes localizados um em cada região do país sem a pretensão de compará-los, mantendo o mesmo objeto de pesquisa, qual seja, investigar a implantação e o desenvolvimento das Licenciaturas Interdisciplinares, possibilita-nos caracterizar nossa pesquisa como um trabalho investigativo com abordagem qualitativa.

A segunda etapa da pesquisa empírica consistiu na coleta dos dados. Ao tomar o conceito de dados, assumimos a perspectiva anunciada por Triviños (1987, p. 141) em que dados ou materiais refere-se ―[...] a todo tipo de informações que o pesquisador reúne e analisa para estudar determinado fenômeno social‖.

Como a proposta de pesquisa busca não só analisar perspectivas teóricas, espera-se que a pesquisa no campo empírico forneça outros elementos para compreensão dos cursos de Licenciatura Interdisciplinar. Ocorre que, do projeto inicial qualificado e avaliado pela banca75, tivemos importantes alterações no desenvolvimento da pesquisa no campo empírico. O projeto inicial qualificado previa os seguintes instrumentos: a análise documental e entrevistas semiestruturadas com coordenadores e/ou integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE) 76 dos cursos definidos.

Dessa previsão inicial, mantivemos a análise documental e as entrevistas com alguns dos sujeitos pré-definidos e incluímos outros. Acrescentamos também a aplicação de um questionário on-line com os professores dos cursos escolhidos.

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Projeto de Tese apresentado e avaliado. Data da qualificação: 23/05/2016 – 14h, na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas. Banca examinadora: Maria das Graças Carvalho da Silva Medeiros Gonçalves Pinto (UFPEL) – Orientadora; Rita de Cássia Morem Cóssio Rodriguez (UFPEL) - Co-orientadora; Maria Isabel da Cunha (UFPEL/UNISINOS); Elizabeth Diefenthaeler Krahe (UFRGS); Irene Nogueira de Rezende (SESU/MEC); Helena Costa Lopes de Freitas (UNICAMP)

76 NDE é o ―Conjunto de professores, composto por pelo menos cinco docentes do curso, de

elevada formação e titulação, contratados em tempo integral ou parcial, que respondem mais diretamente pela concepção, implementação e consolidação do Projeto Pedagógico do Curso (Resolução CONAES N° 1, de 17/06/2010)‖ (BRASIL, INEP, 2011, p. 23). Disponível em: http://portal.mec.gov.br/conaes-comissao-nacional-de-avaliacao-da-educacao-superior/atas-

Entendemos que o acréscimo do questionário possibilitaria ter o ponto de vista dos demais participantes do curso, para além dos coordenadores ou integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE), além de enriquecer nossas análises e interpretações com a coleta de informações adicionais e complementares sobre o objeto pesquisado.

Então, no que se refere à coleta dos dados para a construção da base empírica77 da pesquisa final, os instrumentos utilizados foram: o questionário fechado on-line, a análise documental e a entrevista semiestruturada.

A possibilidade de fazer usos combinados de instrumentos de coleta de dados enriquece a pesquisa, buscando compor uma totalidade, contribuindo para a compreensão e para a produção de conhecimento científico sobre a formação de professores no país e sobre as Licenciaturas Interdisciplinares.

Antes de detalharmos o processo de coleta de dados, bem como a escolha dos instrumentos, cabe, nesse momento, descrever os movimentos iniciais do ―trabalho de campo‖ propriamente dito, relatando principalmente as dificuldades pelas quais passamos.

A primeira atividade do trabalho de campo foi entrar em contato com as universidades que possuem os cursos escolhidos a fim de apresentar a pesquisa e pedir à autorização para a realização da mesma. Todas as informações de que necessitamos (e-mail, telefone, nome dos responsáveis) foram obtidos através do site oficial das universidades. Nosso contato inicial foi com as Pró-Reitorias de Graduação das universidades, através de e-mail encaminhado para a secretaria da Pró-Reitoria com cópia para o (a) pró-reitor(a) de graduação, sempre que possível78. Nesse e-mail, havia a carta de apresentação da pesquisa e um modelo de autorização para a realização da análise na instituição. Num segundo momento, entramos em contato por telefone com a secretaria da Pró-Reitoria a fim de confirmar o recebimento do e-mail, reforçando a importância do retorno do documento.

Ocorre que não tivemos o retorno imediato das autorizações. Fizemos inúmeros contatos com todas as Pró-Reitorias solicitando o retorno do e-mail. Todo esse processo até a última autorização ocorreu entre os meses de agosto a

77A coleta de dados corresponde à pesquisa no campo empírico. É o momento que ―[...] permite a

aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta [...]‖ (MINAYO, 2009, p. 61).

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novembro de 201679. De posse das autorizações, entramos em contato com os coordenadores dos cursos, por e-mail, e, posteriormente, por telefone a fim de apresentar a pesquisa e solicitar sua participação e colaboração. Os contatos com os coordenadores iam sendo feitos à medida que íamos recebendo as autorizações, o que ocorreu entre os meses de setembro e novembro de 2016. Todos os coordenadores acolheram a pesquisa aceitando participar e colaborar. Feito o contato inicial com os coordenadores dos cursos escolhidos, passamos para as tratativas para o envio do questionário aos professores.

Ocorre que, nesse processo de contato com os coordenadores de curso até o envio do questionário aos professores, vivíamos um momento de greves e ocupações. De setembro até início de dezembro de 2016, as universidades federais viveram momentos de ocupação de espaços por estudantes – que impediram que as aulas fossem realizadas – e/ou greve por parte de toda comunidade acadêmica da universidade. Ambas as ações foram motivadas pelas políticas truculentas do governo à época (aprovação da MP do Ensino Médio, aprovação da PEC 241- Emenda Constitucional 95/2016, Reforma da Previdência, Reforma trabalhista, dentre outras). Esse movimento de ocupações e greves, mobilização legítima, atrasou os contatos e a coleta de dados.

Após o retorno das ocupações e greve, a pesquisa foi aprovada nos Colegiados de curso e começamos efetivamente a coleta de dados com o envio dos questionários aos professores a partir de dezembro de 2016.

A inclusão do questionário on-line foi uma das alterações que efetuamos no projeto inicial e que levou também à inclusão de mais sujeitos, os professores dos cursos escolhidos.

A escolha por um instrumento on-line pautou-se pelas vantagens apontadas por Vasconcellos-Guedes e Guedes (2007), tais como: a agilidade na aplicação, no controle e follow-up das respostas e a agilidade na tabulação dos resultados, já que o próprio formulário fornece a tabulação, além da não existência de gastos na sua aplicação.

Já a opção pela aplicação do questionário on-line com os professores dos cursos foi motivada pelas vantagens de tempo, espaço e praticidade, já que seria inviável realizar a entrevista com todos. A aplicação do questionário possibilitou

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atingir vários professores simultaneamente, abrangendo uma área geográfica ampla, o que facilitou a coleta de dados, além da economia de tempo e viagens, algumas das vantagens apontadas por Marconi e Lakatos (2003).

Outra facilidade do questionário on-line elaborado no Formulário da plataforma Google Docs é a possibilidade de preenchimento obrigatório de todas as respostas. O questionário on-line permite a configuração de respostas obrigatórias, ou seja, o sujeito só poderá responder a próxima pergunta se preencheu as anteriores. Isso evita o retorno do questionário com questões sem respostas, o que, para Marcoki e Lakatos (2003), é apontado como uma das desvantagens desse instrumento.

Anterior à aplicação do questionário, foi realizado um pré-teste junto a professores universitários de cursos de licenciatura, perfil similar ao dos sujeitos da pesquisa. Foram encaminhados cinco questionários por e-mail, sendo que, desses, três retornaram. A aplicação do pré-teste permitiu fazer algumas modificações no questionário, tornando-o mais organizado e claro para a aplicação final, evitando que questões fossem mal compreendidas, uma das desvantagens apontadas por Marconi e Lakatos (2003) sobre a utilização desse instrumento.

O questionário on-line foi elaborado no Formulário Google Docs, organizado em três conjuntos de questões fechadas cujo objetivo foi evidenciar a percepção dos professores sobre diferentes elementos do curso conforme modelo apêndice B. Assim, no primeiro conjunto, foram colocadas questões referentes à prática pedagógica e concepções dos professores. No segundo conjunto, foram colocadas questões referentes ao curso de Licenciatura Interdisciplinar e, no terceiro conjunto, sobre o perfil do egresso. Para as respostas do questionário utilizamos a Escala Likert, onde os professores deveriam marcar como opção para cada assertiva apenas uma das alternativas, dentre as disponíveis: 1 – Discordo, 2 – Nem concordo, nem discordo, 3 – Concordo em parte, 4 – Concordo.

O questionário foi enviado por e-mail, inicialmente aos coordenadores de curso, para que encaminhassem aos professores. Solicitamos o apoio e auxílio do coordenador(a) para: (i) remeter aos professores o e-mail contendo o link de acesso ao questionário; (ii) sensibilizar os professores explicando da importância desse momento para a pesquisa para que esses respondessem ao instrumento. Optamos

inicialmente por solicitar ao coordenador(a) a intermediação do envio do questionário

on-line aos professores por entendermos que teríamos um respaldo maior frente aos

professores.

Em outras palavras, chegaria aos professores um e-mail do coordenador(a) do curso informando sobre a pesquisa e solicitando a colaboração dos professores, o que significava dizer que aquele e-mail não era de uma ―desconhecida‖. Só posteriormente a esse contato inicial do coordenador é que fizemos contato direto com quase todos os professores dos cursos.

No e-mail encaminhado aos professores, constava uma carta de apresentação informando a natureza da pesquisa, sua importância e instruções de preenchimento do questionário on-line, convidando-os a participar e colaborar com a coleta de dados, conforme apêndice C.

Sabíamos que, ao escolher o questionário on-line, corríamos o risco de ter um percentual pequeno de retorno do instrumento, conforme apontam Marconi e Lakatos (2003), sobre as desvantagens do uso desse instrumento. Entretanto, apostamos na sensibilização dos professores sobre o tema e a importância da pesquisa.

De maneira geral, nos cinco cursos pesquisados tivemos que encaminhar mais de uma vez o formulário do questionário. Como disponibilizamos nosso e-mail na carta de apresentação, tivemos contato dos professores com dúvidas no preenchimento do questionário e também sinalizando sobre o preenchimento do mesmo. Descrevemos a seguir os encaminhamentos feitos do questionário on-line em cada curso.

No curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens (LIECML) da UFPA, o tempo para o preenchimento do questionário foi entre os meses de novembro de 2016 a fevereiro de 2017. Mantivemos o questionário nos meses de janeiro e fevereiro, pois os professores estavam recuperando os dias da greve/ ocupação. O curso possui 33 professores; desses, nove responderam.

No curso de Licenciatura Interdisciplinar em Linguagens e Códigos/Música (LLC/Música) da UFMA, o tempo para o preenchimento do questionário foi entre os meses de novembro de 2016 a fevereiro de 2017. Mantivemos o questionário nos meses de janeiro e fevereiro, pois os professores estavam recuperando os dias da

greve/ ocupação. O curso possui 12 professores; desses, quatro estavam afastados para doutorado e oito estavam em atividade no curso. Dos oito, seis responderam.

No curso de Licenciatura em Ciências Naturais (LCN) da UNB, o tempo para o preenchimento do questionário foi entre os meses de dezembro de 2016 a fevereiro de 2017. Por orientação da coordenação do curso, no mês de janeiro de 2017 não foi realizado nenhum contato com os professores sobre o questionário. O curso possui 65 professores; desses, 16 responderam.

No curso de Ciências-Licenciatura em (CC-L) da UNIFESP, o tempo para o preenchimento do questionário foi entre os meses de novembro de 2016 a fevereiro de 2017. Por orientação da coordenação do curso, no mês de janeiro de 2017 não foi realizado nenhum contato com os professores sobre o questionário. O curso possui 50 professores; desses, 14 responderam.

No curso de Ciências Humanas-Licenciatura em (CCH-L) da UNIPAMPA, acreditamos que o tempo de preenchimento do questionário foi somente no mês de dezembro de 2016, devido à falta de contato com a coordenação do curso. Somente na entrevista com a coordenadora que entendemos o motivo da falta de retorno dos nossos contatos: a coordenadora, ao assumir o cargo em janeiro de 2017, soube que receberia os avaliadores do MEC. Então seu envolvimento nos primeiros meses do ano foi na organização da documentação do curso. Como não conseguimos retorno dos contatos com a antiga e com a atual coordenação, não conseguimos o contato dos professores. Optamos por encerrar o preenchimento do questionário com o que tínhamos de retorno, pois tínhamos que finalizar essa etapa de coleta de dados.

No total, tivemos o retorno de 50 questionários dos cinco cursos pesquisados, os quais estão representados no quadro 7.

Curso Nº total de professores Nº de respondentes % de respondentes por curso

Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens (LIECML) - UFPA

39 9 23%

Licenciatura em Linguagens e Códigos/Música (LLC/Música) -

UFMA

8 6 75%

Licenciatura em Ciências Naturais

(LCN) - UNB 65 16 24%

Curso de Ciências -Licenciatura (CC-

L) - UNIFESP 50 14 28%

Curso de Ciências Humanas-

Licenciatura (CCH-L) - UNIPAMPA 16 6 37,5%

Total 178 51 28%*

Quadro 7 – Percentual de respondentes por curso Fonte: Elaborada pela pesquisadora

*Percentual a partir do número total de professores de todos os cursos.

Um segundo instrumento de coleta de dados foi a análise documental. Para isso, utilizamos os Projetos dos Cursos (PCs) escolhidos. Ao examinar esses documentos, procuramos evidências quanto às orientações e diretrizes acerca da interdisciplinaridade na formação de professores, bem como da formação interdisciplinar e de como a interdisciplinaridade está contemplada no curso.

Instituído no bojo do processo de descentralização pedagógica e da autonomia universitária, o Projeto de Curso tornou-se obrigatório a todos os cursos de graduação. Trata-se de ―um documento programático que reúne as principais ideias, fundamentos, orientações curriculares e organizacionais da instituição educativa ou de um curso‖ (VEIGA, 2002, p.271). É obrigatório que o Projeto de Curso atenda às DCNs do curso e às regulamentações específicas emanadas do respectivo sistema de ensino.

Por conter esse conjunto de procedimentos, condutas, princípios, preceitos, torna-se um documento norteador da ação educativa do curso e, portanto, não pode ser considerado um documento apenas com finalidades burocráticas. Entendemos que o Projeto do Curso orienta a ação do professor, a organização e desenvolvimento do curso, por isso a escolha desse documento.

Veiga (2002) defende que o termo mais adequado para expressar o conjunto de elementos nele implicado seria ―Projeto Político-Pedagógico‖. Isto porque parte do pressuposto de que todo Projeto é composto por duas dimensões: uma política e outra pedagógica. A dimensão política tem a ver com a intencionalidade da instituição ou do curso; corresponde aos seus objetivos e finalidades. Já a dimensão pedagógica refere-se às metodologias e práticas a serem empreendidas para alcançar as ações previstas. Optamos por utilizar a nomenclatura de Projeto de

Curso (PC), pois nem todos os documentos analisados intitulam-se Projeto Político Pedagógico do curso (PPPC).

Para análise dos PCs, elencamos alguns indicadores buscando compreender a implantação e o desenvolvimento dos cursos, bem como procuramos dedicar especial atenção às orientações acerca da interdisciplinaridade na formação de professores. Os indicadores examinados em cada um dos PCs selecionados foram:

 Histórico e Justificativa do Curso;

 Denominações do curso e habilitação do egresso;  Objetivo do curso;

 Perfil do egresso;

 Competências estabelecidas;  Bases legais;

 Princípios e eixos norteadores da proposta pedagógica;  Inovações anunciadas ou pretendidas;

 Organização curricular;

 Referência à interdisciplinaridade;

 Aspectos metodológicos do processo ensino-aprendizagem.

Todavia, cabe ressaltar que os indicadores não estão delimitados tal como aparecem aqui ao longo da análise. Esses serviram de guia para a escrita da análise.

Tivemos acesso aos Projetos na página dos cursos e/ou no site das universidades. Entretanto, ao fazer contato com os coordenadores de cursos, foi solicitada a versão mais atualizada do PC a fim de conferir se estávamos com a versão atual.

Como todos os projetos de curso tiveram uma versão anterior a que estamos trabalhando e estão passando novamente por revisões e reformulações em função do atendimento à Resolução CNE/CP nº 2/2015, segue no quadro 8 o ano das versões utilizadas para análise na pesquisa.

Curso Ano da versão do Projeto de Curso

Licenciatura Integrada em Educação em

Ciências, Matemática e Linguagens 2011

Licenciatura Interdisciplinar em Linguagens e

Códigos/Música 2013

Licenciatura em Ciências Naturais 2013

Curso de Ciências – Licenciatura 2013

Curso de Ciências Humanas – Licenciatura 2014 Quadro 8 – Versão do projeto de curso

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

Um último instrumento utilizado para a coleta de dados foi a realização de entrevistas semiestruturadas. A opção pela entrevista semiestruturada foi motivada