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CONTEXTO HISTÓRICO E ANCORAGEM TEÓRICO CONCEITUAL: A

Por meio da literatura especializada, percebemos que, embora tenhamos encontrado diferentes conceitos para a interdisciplinaridade, todos concordam que o termo surgiu36 somente em meados do séc. XX, decorrente principalmente do termo disciplinaridade (surgido no séc. XIX). Soma-se a esta percepção o entendimento de que, para além das diferenças dos conceitos em si, estão também diferentes finalidades e perspectivas de abordagem da interdisciplinaridade, tal como apontados por Lenoir (1997).

Alinhamo-nos à perspectiva do autor, quando aponta que esse conceito remete a discursos plurais defendidos por diferentes perspectivas (epistemológicas, sociais e ideológicas) que lhe atribuem diferentes características. Desse modo, é importante identificar algumas dessas conceituações que permeiam a literatura da área sobre o tema.

Fazenda37, como uma das principais pesquisadoras do tema no Brasil, aponta na sua obra ―Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa‖ (2008a) que o movimento da interdisciplinaridade surgiu na Europa (França e Itália) em meados dos anos 1960, nos movimentos estudantis que reivindicavam um novo estatuto de universidade e de escola. Contudo, desse fato, afirma que ―não é o caso de discutir

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Cabe pontuar que encontramos na literatura a afirmação que a ideia de produção de conhecimento integrado, de unificação do saber existe desde os gregos na Antiguidade. Contudo autores como Mangini (2010), Klein (1996 apud PHILIPPI JR, 2011) apontam que não são o mesmo conceito. Para esses autores a ideia de integração de saberes desde a Grécia tem uma concepção diferente da interdisciplinaridade, conceito recente (década de 1960 do séc. XX) criado a partir dos conceitos de disciplina (conceito criado no séc. XIX).

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Ivani Catarina Arantes Fazenda é atualmente professora no Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC –SP. É fundadora e coordenadora Grupo de Estudo e Pesquisa em Interdisciplinaridade – GEPI, reconhecido oficialmente pelo CNPQ- CAPES desde 1986. Dedica-se ao estudo da interdisciplinaridade desde 1970.

causa ou consequência da questão‖. O fato da autora deslocar a discussão da interdisciplinaridade do contexto histórico e social faz com que sua teoria sobre o tema seja caracterizada como a-histórica. A autora centra suas discussões pensando a interdisciplinaridade como proposição para educação e a sua construção do conceito ocorre sob a perspectiva sujeito38.

Pensar em sujeito muda radicalmente o foco do problema do conhecimento, da substituição de uma concepção fragmentária da disciplina para a unitária do ser humano (FAZENDA, 2006b, p.49).

Embora a autora em questão não se utilize das diferentes terminalidades relacionadas à interdisciplinaridade, tais como multi, pluri, trans (disciplinaridade) para construir o seu conceito, apresenta, mesmo assim, uma série de distinções terminológicas para esses termos. Dessas, interessam-nos as definições de um grupo de especialistas apresentadas por Fazenda (2011, p. 54), a saber:

Disciplina — Conjunto específico de conhecimentos com suas próprias características sobre o plano do ensino, da formação dos mecanismos, dos métodos, das matérias.

Multidisciplina — Justaposição de disciplinas diversas, desprovidas de relação aparente entre elas. Ex.: música + matemática + história.

Pluridisciplina — Justaposição de disciplinas mais ou menos vizinhas nos domínios do conhecimento. Ex.: domínio científico: matemática + física. Interdisciplina — Interação existente entre duas ou mais disciplinas. Essa interação pode ir da simples comunicação de ideias à integração mútua dos conceitos diretores da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização referentes ao ensino e à pesquisa. Um grupo interdisciplinar compõe-se de pessoas que receberam sua formação em diferentes domínios do conhecimento (disciplinas) com seus métodos, conceitos, dados e termos próprios.

Transdisciplina — Resultado de uma axiomática comum a um conjunto de disciplinas (ex. Antropologia, considerada ―a ciência do homem e de suas obras‖, segundo a definição de Linton)

Ao apresentar as diferentes terminalidades, a autora ressalta que a interdisciplinaridade aparece sempre como uma relação; uma ―interação que depende basicamente de uma atitude. Por essa razão, o conceito de interdisciplinaridade é apresentado por Fazenda em diversas de suas obras como

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Por esse motivo recebe algumas críticas sobre sua conceituação. Jantsch e Bianchetti (2011) caracterizam a conceituação de Fazenda como uma perspectiva da filosofia do sujeito. A filosofia do sujeito caracteriza-se por privilegiar a ação do sujeito sobre o objeto, descontextualizando histórica e socialmente. (JANTSCH; BIANCHETTI, 2011). Ou seja, depende muito da ação do sujeito, muito mais do que qualquer outra coisa para que a interdisciplinaridade aconteça. Por esse motivo a crítica à conceituação a-histórica da interdisciplinaridade apresentada por Fazenda.

uma nova atitude frente ao conhecimento, não especificando o termo, mas referindo- se à atitude interdisciplinar.

Atitude de quê? Atitude de busca de alternativas para conhecer mais e

melhor; atitude de espera frente aos atos não consumados; atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo, com pares idênticos,

com pares anônimos ou consigo mesmo; atitude de humildade frente à limitação do próprio ser; atitude de perplexidade frente a possibilidade de desvendar novos saberes; atitude de desafio, desafio frente ao novo, desafio em redimensionar o velho; atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas; atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível; atitude de

responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro,

enfim, de vida (FAZENDA, 1991a, p. 13-14)

A leitura das obras de Fazenda permite inferir que, para além do resgate da totalidade do conhecimento, a interdisciplinaridade busca o resgate da subjetividade do ser humano que foi suprimida no auge dos postulados da Ciência Moderna. Por isso, sua conceituação sobre interdisciplinaridade vai para além da definição epistemológica do conhecimento.

A atitude interdisciplinar não está na junção de conteúdos, nem na junção de métodos, muito menos na junção de disciplinas, nem na criação de novos conteúdos produtos dessas junções; a atitude interdisciplinar está contida nas pessoas que pensam o projeto educativo. Qualquer disciplina pode ser articuladora de um novo fazer e de um novo pensar (FAZENDA, 1991a, p. 64).

Para ilustrar essa nova atitude diante do conhecimento, a atitude interdisciplinar, Fazenda (2002, 2006a, 2011) usa a metáfora do ―olhar‖. A ―atitude interdisciplinar‖ seria como o olhar que acontece sob múltiplos enfoques. Esse ―olhar‖ é gestado em um ato de vontade do sujeito em ―abandonar a posição propedêutica, unidirecional‖ de conhecer (FAZENDA, 2008a).

Para Fazenda (2008b, p. 115), são pressupostos fundamentais à interdisciplinaridade: o comprometimento, o envolvimento e o engajamento. Como podemos perceber, tanto o conceito como os seus pressupostos partem muito mais do sujeito do que do conhecimento. Sua conceituação pauta-se em aspectos subjetivos do sujeito (a busca, a espera, o diálogo, a reciprocidade, a humildade, o envolvimento, o comprometimento, o compromisso, o engajamento). Por isso, procura evidenciar que pensar a interdisciplinaridade somente como a fusão de conteúdos ou métodos, como junção de disciplinas, significa minimizar a potencialidade do conceito (FAZENDA, 2011).

A autora demarca em diferentes momentos da sua obra o aspecto subjetivo que pauta sua concepção de interdisciplinaridade. Por esse motivo, afirma ―(...) a interdisciplinaridade decorre mais do encontro entre indivíduos do que entre disciplinas‖ (FAZENDA, 2008b, p. 86).

Essa nova atitude, esse novo olhar para o conhecimento que depende da vontade, do envolvimento, do engajamento do pesquisador, parte do conhecimento já vivido, já sentido pelo sujeito, ou seja, da reflexão das suas práticas. Por essa razão, afirma que não se pode ter uma única teoria da interdisciplinaridade, pois cada pesquisador, a partir da sua vivência, experiência e história construirá um percurso próprio (FAZENDA, 1991a, 2008b, 2013). Todo esse movimento leva ao autoconhecimento de si, modificando o ―olhar‖ para o mundo, para a existência e então modificando suas práticas.

Entretanto, é importante esclarecer que, embora a autora ressalte o aspecto subjetivo na conceituação da interdisciplinaridade, este não é individual: envolve a troca, o diálogo, em aceitar o pensamento do OUTRO (FAZENDA, 1991a, 2011).

Hoje, mais do nunca, reafirmamos a importância do diálogo, única condição possível de eliminação das barreiras entre as disciplinas. Disciplinas dialogam quando as pessoas se dispõe a isso [...] (FAZENDA, 2006b, p.50).

Em outras palavras, a interdisciplinaridade só acontecerá se as pessoas, ―os sujeitos‖, dialogarem, interagirem por meio das disciplinas. Contudo, é importante ressaltar que, embora a autora proponha o diálogo, a parceria, a base da sua ―teoria sobre a interdisciplinaridade‖ é o trabalho individual, ou seja, parte do sujeito que buscará o diálogo e a parceria com outro.

Neste estudo, apoiados na perspectiva de Jantsch e Bianchetti (2011), que caracterizam a conceituação de Fazenda como perspectiva da filosofia do sujeito, delimitamos a conceituação de Fazenda sobre interdisciplinaridade como uma perspectiva subjetiva.

Sob outra perspectiva de conceituação, aparecem os estudos de Olga Pombo39. Em diferentes momentos, Pombo (2003, 2004) afirma que a discussão

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Atualmente Olga Pombo é Diretora do Programa de Doutoramento em Filosofia da Ciência, Tecnologia, Arte e Sociedade, do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL). Pesquisadora e professora, tem se dedicado à pesquisa sobre interdisciplinaridade desde finais dos anos de 1980. Esteve ligada ao Projecto Mathesis, de 1990 a 1992, que tinha como aspiração pensar as questões da interdisciplinaridade, tanto no nível da investigação científica como no nível do ensino.

sobre a interdisciplinaridade é difícil: porque a palavra tem uma utilização muito ampla e é aplicada em muitos contextos40, por isso é uma palavra gasta e vazia. Para Pombo (2004), é no contexto das questões epistemológicas das ciências e da produção do conhecimento científico que emerge a interdisciplinaridade.

A autora aponta que, ao longo da história do desenvolvimento da atividade científica, mais precisamente a partir da institucionalização do modelo de Ciência Moderna (Séc. XVIII), a especialização do conhecimento passou a ser uma condição de progresso científico. Esse modelo de ciência tem como método a decomposição do objeto de estudo em partes, o que fragmenta o saber, fomentando a criação das disciplinas científicas. Decorre desse modelo analítico o preceito de que ―o todo é a soma das partes‖ (SOMMEMAN, 2006; POMBO, 2004).

Ou seja, o estudo das partes revelará a compreensão do todo, representando a aproximação ao conhecimento verdadeiro. Tal contexto de desenvolvimento da ciência, entre os sécs. XVIII e XX, rompeu radicalmente com as perspectivas de unidade do saber, marcando o início das especializações, a expansão do trabalho científico e o progresso do conhecimento (SOMMEMAN, 2006; POMBO, 2004).

O desenvolvimento da ciência pela disciplinaridade trouxe como consequência a criação de muitos grupos de pesquisa, muitas comunidades científicas, cada qual com a sua revista, seus congressos, potencializando a fragmentação do conhecimento e, consequentemente, a sua especialização.

Entretanto, a partir do séc. XX esse modo de fazer ciência e de conhecer começou a se tornar insuficiente para a compreensão da complexidade da civilização contemporânea e para a compreensão dos problemas emergentes que reclamam respostas integradas, tais como: problemas ambientais, sociais, psicológicos, tecnológicos, etc (POMBO, 1993b).

[...] época, portanto, que parece exigir que a humanidade aprenda a utilizar, rápida e simultaneamente, os seus vários sentidos, que seja capaz de considerar e integrar as muitas e diversas informações provenientes de diferentes locais, áreas, atividades, disciplinas, quer dizer, época que exige

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Segundo Pombo (2003, 2004), a palavra interdisciplinaridade tem sido utilizada em muitos contextos, tais como: Contexto epistemológico - relativo às práticas de transferência de conhecimentos entre disciplinas e seus pares – em eventos, em pesquisas, Contexto pedagógico - ligado às questões do ensino, às práticas escolares, às transferências de conhecimentos entre professores e alunos que tem lugar no interior dos currículos escolares, dos métodos de trabalho, das novas estruturas organizativas tanto a escola secundária como a Universidade; Contexto mediático – os meios de comunicação – juntam pessoas de diferentes formações para discutir um tema, assunto, questão e por fim o Contexto empresarial e tecnológico – diferentes pessoas com formações para

métodos interdisciplinares de trabalho, descoberta e aprendizagem (POMBO, 1993b, p. 8).

Na tentativa de superar a condição fragmentada de produção da ciência, a disciplinaridade, é que se reclamou pela interdisciplinaridade; fez-se um apelo a esta (POMBO, 1993b). É nesse momento que surgiu o interesse pela interdisciplinaridade, por novas práticas de investigação41; surgiram novos problemas epistemológicos, novas disciplinas42. Na intenção de compensar a hiperespecialização nas pesquisas e na produção de conhecimento, surgiram propostas com diferentes níveis de cooperação entre as disciplinas: (multi/pluri/inter/trans) disciplinaridade.

A partir de meados da década de 1960, passou a ocorrer uma série de eventos e reuniões internacionais com o objetivo de promover a reflexão sobre a interdisciplinaridade, movimento que autora define como ―institucionalização da teoria‖ (POMBO, 2004), dentre os quais cita: evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1967 e o I Seminário Internacional sobre a Pluri e a Interdisciplinaridade, realizado na Universidade de Nice (França), organizado pelo Centro de Pesquisa e a Inovação do Ensino (CERI) e patrocinado pelo Ministério da Educação Francês e pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), dentre outros. Esses eventos passaram a colocar a interdisciplinaridade no cenário das discussões dos diferentes campos da atividade humana.

Entretanto, a autora nas suas discussões aborda o campo científico e o educacional. No campo educacional, Pombo (2004) aponta que a interdisciplinaridade trouxe a necessidade de reorganização da universidade e da escola devido a ―transformações epistemológicas profundas‖ na organização do

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Alguns exemplos de práticas interdisciplinares de investigação científica: prática de importação, de cruzamento, de convergência, de descentração, de comprometimento. Para aprofundar, ver Pombo (2003, 2004, 2006).

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Para Pombo (2004), surgem as seguintes disciplinas a partir da nova situação epistemológica:

ciências de fronteira - novas disciplinas que nascem nas fronteiras entre duas disciplinas tradicionais.

Como exemplos, refiram-se a bioquímica, a biofísica; interdisciplinas - aquelas que nascem na confluência entre ciências puras e ciências aplicadas, por exemplo, a engenharia genética;

interciências- conjuntos de disciplinas que se encontram de forma irregular e descentrada para

conhecimento43. Por isso, afirma que a interdisciplinaridade é um apelo das ciências, mas também da escola (POMBO, 2004).

Vemos assim que a interdisciplinaridade não é um fenômeno pontual e localizado que, aqui e ali, tivesse uma aparição circunstancial. Trata-se, ao invés, de um fenômeno largamente generalizado cujo sentido deverá ser entendido como uma tentativa de resposta à necessidade atual de reestruturação das instituições científicas e escolares face às determinações históricas, civilizacionais e epistemológicas que caracterizam o estado atual dos saberes (POMBO, 2004, p. 124).

Perante essa caracterização, podemos observar que o ponto central das discussões da interdisciplinaridade parte dos saberes e do conhecimento. Embora aponte que a complexidade do contexto atual reclame a necessidade de compreensão dos problemas emergentes através respostas integradas, não situa essas discussões no contexto sócio-histórico da contemporaneidade. Diferentemente de Fazenda, a autora não descola as discussões da interdisciplinaridade do contexto contemporâneo. Entretanto, ao apontar esse contexto, não faz uso da crítica tampouco localiza qual é o contexto sócio-histórico.

Feitas essas considerações mais gerais, partimos para a conceituação da interdisciplinaridade. Para isso, a própria a autora apresenta inicialmente o estudo da palavra, a qual chama de ―estabilização do sentido da palavra‖ (POMBO, 2005). Na análise, Pombo (1993a, 2003, 2004, 2005) identifica que o termo está contido numa família de outras palavras, tais como: pluridisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade.

Tal constatação evidencia que todas as palavras derivam do mesmo radical,

disciplina44. Ademais, a autora destaca que os prefixos que antecedem o radical ―disciplina” são indicações importantes para a definição conceitual, já que são caracterizadores de diferentes articulações entre as disciplinas, ou seja, a

interdisciplinaridade seria mais uma das diferentes possibilidades de articulações entre as disciplinas.

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Por isso alguns autores apontam que a origem da interdisciplinaridade está nos movimentos estudantis da Europa, em meados da década de 1960 do séc. XX, reivindicando uma nova universidade e uma nova escola.

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Entretanto, a palavra disciplina remete a três sentidos diferentes: Disciplina como ramo do saber: a Matemática, a Física, a Biologia, a Sociologia ou a Psicologia; Disciplina como componente curricular: História, Ciências da Natureza, Cristalografia, Química Inorgânica; Disciplina como conjunto de normas ou leis que regulam uma determinada atividade ou o comportamento de um determinado grupo: a disciplina militar, a disciplina escolar.

Isto posto, em relação à palavra, a autora passa então a tratar de uma proposta de conceituação. Para isso, parte do que é comum nas conceituações já existentes. Antes, porém, é importante pontuar que, para Pombo (2003, 2004, 2005), interdisciplinaridade e integração são sinônimos; são variações de um mesmo sentido.

No artigo intitulado ―Interdisciplinaridade e integração de saberes‖ (2005), a autora explica que a palavra integração por vezes é utilizada no lugar da interdisciplinaridade, devido a esta aparecer em muitos contextos e, por isso, estar ―vazia de significado‖. Desse modo, a palavra integração por vezes representa uma alternativa de substituição à palavra interdisciplinaridade.

Passando à ―proposta provisória de definição” do que seja a interdisciplinaridade, a autora aponta que um primeiro aspecto recorrente na conceituação da interdisciplinaridade refere-se a uma tríade conceitual, em que o conceito é apresentado em relação a outros dois: a pluridisciplinaridade e a transdisciplinaridade (POMBO, 2003, 2005). Devido a esta questão, recorrentemente o conceito de interdisciplinaridade é visto como um conceito intermediário entre os dois. Nessa lógica, para conceituar interdisciplinaridade, torna-se necessário conceituar também pluri e transdisciplinaridade.

Para Pombo (2005), pluri e multidisciplinaridade são palavras sinônimas, pois, do ponto de vista etimológico, não faz sentido distinguir ambas as palavras. Desse modo, a pluri (ou multi) disciplinaridade corresponde:

[...] a qualquer tipo de associação mínima entre duas ou mais disciplinas, associação esta que, não exigindo alterações na forma e organização da investigação e/ou ensino, supõe, contudo, algum esforço de coordenação entre investigadores e/ou professores dessas disciplinas [...] (POMBO, 2004, p. 37).

Em outro momento, a autora complementa que a pluri (ou multi) disciplinaridade corresponde a uma perspectiva de paralelismo de pontos de vista (POMBO, 2003).

Já por interdisciplinaridade entende:

[...] qualquer forma de combinação entre duas ou mais disciplinas com vista à compreensão de um objeto a partir da confluência de pontos de vista diferentes e tendo como objetivo final a elaboração de uma síntese [...]. A interdisciplinaridade implicaria, portanto, alguma reorganização dos processos de investigação e/ou ensino, supondo um trabalho continuado de

cooperação dos investigadores e/ou professores envolvidos (POMBO, 2004, p. 38).

Na complementação desse conceito, a autora afirma que a interdisciplinaridade seria algo que ultrapassa a ―[...] dimensão do paralelismo, do pôr em conjunto de forma coordenada, e avança no sentido de uma combinação, de uma convergência, de uma complementaridade [...]‖ (POMBO, 2003, p. 3).

Finalmente, por transdisciplinaridade, Pombo (2004, p.38-39) entende como: [...] o nível máximo de integração disciplinar [...] da unificação de disciplinas [...] Rompendo as fronteiras entre as disciplinas envolvidas, ela implicaria profundas alterações tanto nos dispositivos da investigação como nos regimes de ensino, tanto na estruturação das comunidades científicas como na organização da instituição escolar.

Num esforço de representação, Pombo (2003) assim ilustra esse movimento de conceituação:

Figura 1: Representação das diferentes articulações da disciplina Fonte: POMBO, 2003, p. 3

Embora a autora parta de conceituações já existentes, é nesse processo de delimitação conceitual que apresenta sua contribuição ao campo, à medida que delimita que os conceitos de pluri, inter e transdisciplinaridade devem ser pensados

num continuum de integração progressiva das disciplinas. Ou seja, esses conceitos devem ser pensados um mesmo processo; entretanto, com ―[...] diferentes níveis, em diferentes graus [...]‖ (POMBO, 2005, p.5).

Não se trata de ir de um nível pior para o melhor, mas de perceber que se trata de um processo, de um continuum com diferentes níveis e diferentes possibilidades de articulações entre as disciplinas. Pombo (1993a) reforça que nesse processo de delimitação conceitual, mais importante que estabelecer fronteiras entre os conceitos, é compreender que se trata de um continuum, de um processo crescente de integração disciplinar. A conceituação da interdisciplinaridade está centrada na disciplinaridade, no conhecimento, diferentemente de Fazenda que centra no sujeito.

Por centrar a conceituação da interdisciplinaridade na superação da fragmentação e da compartimentalização do conhecimento, buscando a articulação entre os conteúdos, as áreas, as disciplinas, em nosso entendimento a perspectiva de interdisciplinaridade de Pombo refere-se a um sentido epistemológico.

Outro pesquisador com vasta produção na temática é Yves Lenoir45, que centra suas discussões pensando a interdisciplinaridade como proposição para educação, tratando nesse contexto da interdisciplinaridade na formação de professores, nas práticas pedagógicas e na escola básica.

Para Lenoir (2005/2006, 2008), o conceito de interdisciplinaridade tem sentido em um contexto disciplinar. Portanto, a interdisciplinaridade não é contrária à disciplina, mas depende dela. O próprio termo, para o autor, exige essa relação entre as disciplinas. Dessa forma, o conceito de interdisciplinaridade trata da interação entre disciplinas.

Entretanto, ressalta que disciplinas científicas são diferentes de disciplinares escolares, mesmo que as segundas sejam decorrentes das primeiras. Disciplinas escolares tratam de matérias escolares, com finalidades, objetos, modalidades de aplicação e referenciais diferentes das disciplinas científicas. A natureza do conteúdo da disciplina escolar e seus elementos são diferentes das disciplinas científicas.

Para Lenoir (1997), o conceito de interdisciplinaridade remete a discursos plurais defendidos por diferentes perspectivas (epistemológicas, sociais e