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1. A ECONOMIA SOCIAL E SOLIDÁRIA SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

1.2. A ECONOMIA SOCIAL NA EUROPA: PRINCÍPIOS, CONCEITOS E ATORES

O entendimento do que é a Economia Social está associado a uma visão de sociedade que entende que a economia não é uma ciência exata, numérica, e que, portanto, ela é provida de valores e está relacionada a outros aspectos da vida, como a política e a religião.

Ainda que nem toda abordagem do cooperativismo esteja relacionada à Economia Social, esta, enquanto atividade, “aparece vinculada historicamente às associações populares e às cooperativas, que conformam seu eixo vertebral”. Isso comprova que os princípios e os valores das formas de manifestação atual da Economia Social na Europa se assemelham ao cooperativismo histórico e estão estruturados em torno de formas de organizações cooperativas, mútuas e associações – e mais recentemente, houve a incorporação das fundações (MONZÓN e CHAVES, 2012: 13).

As expressões de Economia Social representam, segundo Monzón e Chaves, “a resposta dos grupos sociais mais vulneráveis e indefesos, através de organizações de autoajuda, às novas

condições de vida criadas pelo desenvolvimento da sociedade industrial nos séculos XVIII e XIX”. Estas experiências simbolizam a busca destes segmentos marginalizados pela sua sobrevivência na sociedade capitalista, frente a uma sociedade que se sustenta em um sistema excludente e predatório. Os autores citam três exemplos destas experiências associativas: as cooperativas, as sociedades de socorro mútuo e as sociedades de resistência. Eles mencionam, também que, embora as organizações de beneficência (como as fundações, irmandades/fraternidades, hospitais de beneficência, entre outros) tenham surgido na Idade Média, foi durante o século XIX, com as iniciativas associativas, que cobraram impulso das classes trabalhadoras, que estas experiências se expandiram e ganharam destaque.

No que se refere à abordagem do termo “Economia Social”, pode-se dizer que a primeira acepção do que ela representa ainda hoje tomou força nas primeiras décadas do século XIX, a partir das discussões realizadas pelo pensamento econômico da época sobre a relação entre economia, política, valores e religião, e em que venceu, e se tornou hegemônica, uma vertente que defende a Economia como uma ciência pura, neutra e desprovida de valores (CHAVES e MONZÓN, 1989; 2003). Neste contexto, a Economia Social se constituiu e se sustenta como uma crítica a esta visão, já que os pensadores que entendiam que a Economia era provida de valores se mobilizaram e se organizaram na construção da crítica a visão hegemônica. Assim, entre 1820 e 1860 surgiu na França uma escola de pensamento heterogênea, a maioria deles foi influenciada por Thomas Malthus (por suas ideias de falhas de mercado) e Simon de Sismondi (pela ideia de que o real objetivo da economia deveria ser o ser humano, e não a riqueza). Os pensadores escola de pensamento receberam a denominação de “economistas sociais”, (MONZÓN e CHAVES, 2012).

Esta corrente que defendia uma visão alternativa da economia passou a ter visibilidade, ao questionar/criticar a separação entre economia, política e valores, além de questionar “o triunfo do capitalismo como sistema econômico”, uma vez que estavam “sensibilizados pela questão social, e o enorme custo humano da revolução industrial”, isto é, não aceitavam que, mesmo perante todas as conquistas da revolução industrial, a questão social dos trabalhadores continuava negligenciada. Os economistas heterodoxos (ou economistas sociais) acusavam a corrente da economia pura de não se interessar pelos problemas sociais – ao não apresentá-los em suas análises e diagnósticos. Desta maneira, “os trabalhos sobre Economia Social da época

(…) explicavam a realidade, introduzia partes relativas à identificação e análises dos problemas sociais e à proposição de alternativas para solucioná-los”, enfim, buscavam dar um ar de humanidade à Economia (CHAVES e MONZÓN, 2003: 06; 2012).

Este enfoque aparece nos trabalhos de pensadores da época, tais como o francês Dunoyer, o espanhol De la Sagra, o Pecqueur e o inglês Smiles. Estes pensadores construíam suas análises e críticas, a partir das concepções que tinham de suas próprias escolas de pensamento – socialista, cristã, liberal e solidarista. Chaves e Monzón (2003: 06) destacam que “este enfoque enfrentou uma luta desigual com a corrente hegemônica da Ciência Econômica e, com muita dificuldade, conseguiu construir um caminho no pensamento econômico”.

Os autores destacam ainda que os economistas sociais dedicaram grande atenção às instituições sociais que não eram nem capitalistas, nem públicas, e com isso, a Economia Social se limitou, por muito tempo, a estudar instituições sociais e a realizar a crítica ao modelo dominante – especialmente no que se refere à separação entre economia, política e moral. Com isso, no período em questão os, denominados, pensadores da Economia Social não criaram nenhuma alternativa ao enfoque complementar ao capitalismo. Ao invés disso, preocuparam-se em desenvolver um enfoque teórico sobre a sociedade e sobre o social, “buscando a reconciliação da moral e a economia através da moralização do comportamento individual” (MONZÓN e CHAVES, 2012: 17).

Segundo Monzón e Chaves (2012) é provável que o termo “Economia Social” tenha surgido, pela primeira vez na literatura econômica em 1830, com a publicação do Tratado de Economia Social pelo economista francês liberal Charles Dunoyer – em que defendia um enfoque moral para a economia – e depois, com a publicação de Lecciones de Economía Social, pelo espanhol Ramón de la Sagra, em 1840. A partir da segunda metade do século XIX o termo “Economia Social” sofreu profundas transformações, especialmente a partir da atuação de pensadores como Le Play e Gide. No final do mesmo século, a expressão “Economia Social” passou a ganhar novo significado, focando em temas voltados para atividades e atores que buscam alternativas fora do campo da lógica dominante, como as formas associativistas, por exemplo. Foi desta maneira que a Economia Social logrou obter sua consolidação cientifica (CHAVES e MONZÓN, 2003: 07).

Além disso, para Chaves e Monzón (2003: 06), o fato de o marxismo e do movimento trabalhista terem optado pela via estadista e revolucionária limitaria a atuação dos cientistas sociais a estudar apenas uma pequena parte da realidade social – isso porque, segundo esta ideia, seria possível estudar apenas a partir da perspectiva revolucionária. Com isso, estes estudiosos passaram a buscar alternativas baseadas na livre associação entre os trabalhadores, a partir da crença de que a busca da emancipação da classe trabalhadora seria resultado de sua própria organização – por meio da Economia Social, mas já com um viés mais revolucionário.

A partir de então, o foco da Economia Social era o campo de atividade econômica formada por “aquelas relações sociais de natureza voluntária e contratual que os homens realizam entre si com a finalidade de assegurar uma vida mais fácil”, bem como aquelas formas institucionais que eram realizadas pelo movimento cooperativo (o representante mais forte deste movimento) e também as associações de trabalhadores. Importantes pensadores fizeram parte desta tradição, como: Buchez, Owen, Fourier, Proudhon, Blanc, King, Raiffeisen, Schultze-Delistz, dentre outros (CHAVES e MONZÓN, 2003: 07).

Este enfoque, pautado num tom mais revolucionário, durou até recentemente, sendo, contudo, pouco utilizado após a criação do Estado de Bem Estar Social, conforme já mencionado. Contudo, a partir dos anos 1970, com os resultados sociais catastróficos, frutos dos modelos de globalização, que acarretaram profundas crises para as sociedades desenvolvidas, bem como com o reconhecimento mútuo e da solidariedade de alguns movimentos franceses, o cooperativismo, o mutualismo e o associativismo reemergiram como conceitos importantes da Economia Social, em um modelo mais abrangente, que engloba todas as formas contestatórias do modelo de desenvolvimento capitalista.

Com o tempo, o campo de atuação da Economia Social foi se ampliando, considerando novas formas institucionais, a partir das particularidades de cada país (sociedades laborais, fundações, sociedades agrárias de transformação, etc.). Desta maneira a Economia Social se aproximou de outros atores que têm adotado um discurso parecido (ou na mesma linha) – especialmente no que se refere à crítica ao modelo hegemônico – tais como o setor não lucrativo, o setor voluntário, o setor de não mercado, a Economia de interesse geral, etc. Estas aproximações colaboraram para a construção do novo conceito de Economia Social adotado

atualmente na Europa (CHAVES e MONZÓN, 2003). As diversas ações da Economia Social vem recebendo diferentes nomes, tanto na literatura científica, como dos próprios atores que as realizam (entidades não lucrativas, empresas sociais, Economia Solidária, entre outras).

Para Barea e Monzón (1992) a existência da Economia Social atualmente, especialmente a partir do final do século XX, se justifica pelos resultados catastróficos causados pela situação de livre mercado, como a desigualdade social e a incapacidade do mercado em solucionar problemas típicos de sua forma de organização (a provisão de bens públicos, o surgimento dos monopólios e oligopólios, o problema dos ciclos econômicos, etc.). Os autores mencionam que o mercado não logrou conciliar igualdade e liberdade econômica e política com justiça social, ao contrário, o modelo econômico mundial-padrão vigente tem se tornado cada vez mais polarizador e excludente, e criado problemas sociais antes inexistentes, tais como:

 A forma como tem ocorrido a integração econômica internacional tem mudado nos últimos anos, de modo que as empresas multinacionais têm se inserido na economia global de maneira associada, formando alianças e criando grandes blocos econômicos regionais que possuem poderes superiores ao de muitos países.

 As inovações tecnológicas têm produzido uma onda de novos processos, redimensionando os diferentes setores econômicos, e alterando a configuração dos mercados, especialmente, dos mercados de trabalho. Com isso, tem havido transformações dos processos produtivos, de maneira a diminuir a demanda por mão de obra, o que tem causado desemprego e alterações nas relações de trabalho por todo o mundo.

 Na atual configuração social (dominante) predominam o individualismo e a competição desenfreada. Com isso, vozes da própria sociedade têm tentado alertar para a necessidade de se conciliar liberdade com igualdade e assim, têm pautado suas ações econômicas num valor ético antigo, a solidariedade, na tentativa de se criar uma sociedade menos desigual e mais justa. É neste cenário que se enquadram as atuais iniciativas da Economia Social.

Dois tipos de ações têm sido colocados em prática pela sociedade, a fim de tentar solucionar ou, pelo menos, minimizar os efeitos destes problemas: a primeira é por meio da atuação do Estado, que vem agindo como agente de planejamento econômico, bem como, como redistribuidor da renda e da riqueza, porém, com a desestruturação do Estado de Bem Estar

Social, e o enfraquecimento dos Estados Nacionais frente ao poderio das grandes organizações, esta via tem perdido força. A segunda é proveniente da própria sociedade civil, são ações impulsionadas pelos grupos sociais desfavorecidos (os excluídos da sociedade de mercado) e diz respeito ao surgimento de iniciativas empresariais que buscam integrar ações que têm caráter econômico, mas também social.

Barea e Monzón (1992: 06) destacam que, independente de sua forma jurídica e de sua função econômica, estas iniciativas “estão ligadas por uma ética comum, baseada na solidariedade e na prestação de serviço aos sócios e ao interesse geral”, conformando “um amplo grupo de empresas e instituições que se reconhecem no, ainda impreciso, conceito de Economia Social”. Elas têm sido responsáveis por desempenhar um relevante papel de construção de alternativas, no cenário econômico europeu, destruído pela crise, sendo que as cooperativas têm sido “sua representante mais genuína” (BAREA e MONZÓN, 1992: 06).

A Economia Social que surgiu na Europa, durante o século XX se difere do cooperativismo tradicional, isto porque inicialmente o cooperativismo se configurava como uma “reação dos trabalhadores aos efeitos da revolução industrial”, e posteriormente se apresentou como uma “tentativa de se configurar como sistema alternativo ao capitalismo”. Com o tempo, foi adotando “uma reação defensiva” e, devido ao desemprego e às crises econômicas, foi apresentando uma natureza cíclica. O atual movimento da Economia Social na Europa é fruto de todo este processo de mudança, não mais se apresentando como uma via alternativa ao capitalismo, mas com uma forte crítica ao modelo de desenvolvimento neoliberal, em especial, à globalização e às políticas neoliberais e defendendo a atuação do Estado como principal promotor do estado de bem estar social (BAREA e MONZÓN, 1992: 08).

As experiências de cooperativismo, bem como as atuais experiências de Economia Social na Europa, basearam-se nos princípios cooperativos da experiência de Rochdale, de 1844. De acordo com Barea e Monzón (1992) as regras de funcionamento de Rochdale – que posteriormente ganharam o status de “princípios” – tinham o objetivo de criar um sistema alternativo, marcado pela criação de células embrionárias dentro do capitalismo liberal de então. Eram células do setor produtivo, com a criação de cooperativas de pequenas unidades

produtivas (por meio das quais se pretendia suprimir a propriedade privada capitalista), bem como do setor de distribuição (por meio da criação de cooperativas de consumo).

Assim, pode-se dizer que a Economia Social que ressurgiu no século XX estava “vinculada historicamente ao cooperativismo, que constitui seu eixo vertebral” (BAREA e MONZÓN, 1992: 08). No entanto, ela possui outro formato, já que surgiu como uma reação dos trabalhadores, na tentativa de gerar oportunidades de trabalho, capazes de lhes garantir renda e sobrevivência, e não uma tentativa de criar o embrião de uma alternativa sociedade ao capitalismo. Atualmente, ela apresenta contornos bem mais complexos, incluindo vários outros aspectos e objetivos em sua lógica de ser – o que vai desde a geração de trabalho e renda, a inclusão social, a criação de espaços democráticos nos ambientes produtivos, etc.

De acordo com Chaves e Monzón (2003: 01), a influência dos países latinos (França, Bélgica, Canadá, Espanha, Portugal, etc.) foi muito importante para a construção do entendimento atual da Economia Social. Mais recentemente, a construção do conceito tem se pautado em uma forma de entendimento do fenômeno que começou a ser construída na França, a partir dos anos setenta, com a identificação das “especificidades organizativas marcadas por uma sensibilidade social”. Seu reconhecimento vem crescendo em países como Itália, Grécia, Suécia, Reino Unido, entre outros, com a criação do Comité Nacional de Enlace de las Actividades Mutualistas, Cooperativas y Asociativas (CNLAMCA), fruto das necessidades dos movimentos que compõem este comitê.

Também foi importante a aprovação da Carta que definiu a Economia Social, a partir de uma perspectiva da ética social: a Economia Social é “conjunto de entidades não pertencentes ao setor público”, em que há “funcionamento e gestão democráticos e igualdade de direitos e deveres dos sócios”, e também “um regime especial de propriedade e distribuição dos ganhos, empregando os excedentes do exercício para o crescimento da entidade e a melhora dos serviços dos sócios e da sociedade”, etc. (CHAVES e MONZÓN, 2003: 01-02). Desta forma:

O conceito de “Economia Social” indica aquele conjunto de organizações microeconômicas caracterizadas por características comuns, marcadas por uma 'ética social'. Como é um conceito definido em positivo, vai além da clássica delimitação interinstitucional baseada na identificação de um setor residual, integrado por aquelas organizações que não pertencem ao âmbito da economia pública e nem da economia privada capitalista (CHAVES e MONZÓN, 2003: 01).

Posteriormente, o Conseil Wallon de l'Economie Sociale, um organismo belga, buscou dar mais precisão à conceituação da Economia Social, apresentando-o da seguinte maneira: “a Economia Social refere-se àquela parte da economia integrada por organizações privadas, principalmente cooperativas, mutualidades e associações” e cuja ética atende a quatro princípios que apresentam valores básicos (como democracia, interesse social e justiça distributiva), conforme seguem: i) ter como finalidade do serviço atender aos membros e à coletividade, ao invés de atender ao lucro; ii) apresentar autonomia no processo de gestão; iii) tomada de decisão em processos democráticos (pautada na ideia de uma pessoa = um voto); iv) ter como prioridade as pessoas e o trabalho, ao invés do capital, no processo de repartição da rendas (CHAVES e MONZÓN, 2003: 02).

Paralelamente à definição belga, a Comissão Científica do CIRIEC na Espanha (Comisión Científica del CIRIEC-España) propôs uma nova definição, na qual incorpora as organizações privadas que, assim como as fundações, e mesmo algumas associações, também respondiam ao quesito de ética social, embora não cumprisse ao princípio democrático. Com isso, a definição do CIRIEC sobre a Economia Social é:

Conjunto de empresas privadas criadas para satisfazer as necessidades de seus sócios através do mercado, produzindo bens e serviços, assegurando o financiamento, e em que a distribuição dos ganhos, e a tomada de decisão no estão relacionadas diretamente com o capital aportado por cada sócio, e corresponde a um voto a cada um deles. A Economia Social também inclui as instituições sem finalidade de lucro que são produtoras não de mercado privado, não são controlados pela administração pública e que produzem serviços não destinados a venda para determinados grupos familiares, procedendo seus principais recursos de contribuições voluntárias feitas por famílias de consumidores, de pagamentos dos governos e de rendas de propriedades (CHAVES e MONZÓN, 2003: 03).

Sobre a conceituação, é importante lembrar que Barea e Monzón (2006: 38) adicionam ainda, que Economia Social deve assegurar a distribuição dos excedentes e benefícios entre os sócios. Vale lembrar também que a novidade trazida pela conceituação feita pelos pesquisadores do CIRIEC-Espanha é a distinção entre dois subsetores da Economia Social: o subsetor de mercado, composto pelas empresas que possuem organização democrática (no estilo uma pessoa = um voto) e com uma distribuição de benefícios realizados por pessoas e não pelo capital investido; e o subsetor de não mercado, composto por instituições privadas que oferecem serviços às famílias, mas sem finalidades de lucro – com isso, inclui, por

exemplo, as associações, as fundações privadas que oferecem serviços às famílias (CHAVES e MONZÓN, 2003: 02). Contudo, é importante ressaltar que, ainda que as instituições da Economia Social atuem no mercado, elas têm características distintas das empresas capitalistas convencionais, tais como: atuam motivadas por objetivos sociais, ao invés da busca pelo lucro; realizam o reinvestimento dos excedentes, ao invés de distribuí-los aos acionistas; adotam múltiplas formas jurídicas; são produtoras de bens e serviços; atuam como entidades independentes, com estruturas participativas de tomada de decisão e administração democráticos (El Dictamen del CESE9, 2009, apud Monzón, 2013: 157).

Em se tratando das particularidades, Fajardo (2012: 69) destaca que o modelo de instituições da Economia Social é caracterizado pelos valores comuns existentes entre elas, e não pelo tamanho ou pelo setor de atividades das mesmas. Dentre estes valores, pode-se destacar “a primazia da democracia da participação dos atores sociais e das pessoas e do objeto social sobre o benefício individual; a defesa e aplicação dos princípios de solidariedade e de responsabilidade; a conjunção dos interesses dos membros usuários com o interesse geral”.

A Economia Social tem reconhecimento amplo no mundo acadêmico europeu. No âmbito político, ela é reconhecida pelos administradores públicos, a partir da atuação das cooperativas, mutualidades e sociedades laborais (subsetor de mercado da Economia Social), bem como por outras entidades que fazem parte do subsetor de não mercado (CHAVES e MONZÓN, 2003). Assim, vale ressaltar que a sociedade representativa da Economia Social na Europa (Social Economy Europe) prevê, com base na Carta de princípios da Economia Social, de Junho de 2002, os seguintes princípios e/ou características da Economia Social:

Primazia das pessoas e do objetivo social sobre o capital; adesão voluntária e aberta; controle democrático pelos membros; conjunção dos interesses dos membros com o interesse geral; defesa e aplicação dos princípios de solidariedade e responsabilidade; autonomia de gestão e independência dos poderes públicos; destinação da maioria dos excedentes à consecução de objetivos de desenvolvimento sustentável, melhoria dos serviços para os membros e do interesse geral (CHAVES

et all. 2013: 20).

Uma das principais características da Economia Social é o fato dela se apresentar como uma possibilidade de estruturação da sociedade, em que há predominância de pessoas ao invés do

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capital. Trata-se de uma forma de organização que considera como componente essencial a economia de participação, os seres humanos envolvidos nas atividades produtivas, bem como a sociedade que os rodeia; e ainda os seres humanos na qualidade de consumidores de bens e serviços (CHAVES et all., 2013). Sob uma perspectiva sistêmica, a Economia Social compreende duas funções do sistema econômico: o sistema de produção e de distribuição de bens – que historicamente estão relacionados ao setor privado e ao sistema de bem estar social, respectivamente. Ao ocupar a primeira função, ela se apresenta como um questionamento ao sistema capitalista, que é concentrador de riquezas, apresentando-se como uma alternativa.

Diante disso, é perceptível que o diferencial da Economia Social é que a sua importância ultrapassa seu âmbito econômico, isto é, ela se apresenta “como um significativo núcleo de organizações e empresas com características sociológicas, econômicas e de funcionamento similar, que pretendem resolver problemas econômicos de amplos coletivos sociais” (BAREA e MONZÓN, 1992: 31). Neste sentido, ela é uma importante alternativa de organização econômica e social que beneficia tanto os sócios e trabalhadores das entidades de Economia Social, como toda a sociedade que está em seu entorno. E, neste contexto, vale ressaltar, mais uma vez, seu caráter de valorização do ser humano em lugar do capital.