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A Educação Artística no 3º Ciclo do Ensino Básico

PARTE II RELATÓRIO DA PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA

Capítulo 2 – A ESCOLA E A COMUNIDADE

2.4. A Educação Artística no 3º Ciclo do Ensino Básico

2.4.1. Currículo Nacional do 3º Ciclo do Ensino Básico.

As diretrizes que regem o sistema de ensino, particularmente na educação estética e artística, têm-se manifestado inconsistentes, além de intermitentes e secundarizadas relativamente às outras disciplinas. Mesmo com a existência de vários projetos de investigação na educação artística, é urgente que se reconheça que esta deverá fazer parte integrante da interdisciplinaridade escolar.

Devido à multiplicidade de sentidos atribuídos à disciplina: “Educação pela

arte”, “Artes na educação” ou “Ensino Artístico” identificou-se como fator

ambíguo dos currículos escolares. É inequívoco que o ensino das artes deve valorizar a livre expressão e a aprendizagem experimental, reconhecendo a importância cultural da criatividade na aceitação de sentimentos e emoções resultantes do imaginário em prol do desenvolvimento humano.

Desta forma, a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 46/86, de 14 de outubro, revista em 2015), reconhece a arte de forma clara e evidente como essencial no sistema educativo garantindo a preparação geral de todos, a educação artística permitirá sensibilizá-los para as diferentes formas de expressão estética e artística.

2.4.2. Metas Curriculares do Ensino Básico, Educação Visual 2º e 3º Ciclo.

Surgem assim, e na sequência da revogação efetuada pelo MEC, as metas curriculares no “Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais”, que conjuntamente com os programas das disciplinas constituem a referência fundamental para a sua aplicação. Aqui encontram-se clarificadas as prioridades de cada programa, definindo os conhecimentos e as capacidades a desenvolver pelos alunos.

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Mencione-se Acaso (2009) que refere o facto de já em 1912 o currículo ter merecido a atenção e o estudo de J.F.Bobbitt (1876-1956), que classificou as diferentes funções disciplinares de modo a criar um currículo adequado a cada uma. Do seu ponto de vista a exclusão da educação plástica desta “lista” de disciplinas básicas, era consistente com a opinião dos investigadores da época. Apesar disso, os requisitos atribuídos na elaboração das metas artísticas atuais, acabaria por recuperar À posteriori os conceitos por ele usados:

“ Existir unos contenidos reconocibles.

Existir una comunidade de profesionales que estudiasen dichos contenidos.

Desarrollar un cuerpo de procedimentos característicos y métodos de trabajo que faciliten la investigación.” (Acaso, p.96).

Isto permitiu que as metas tivessem a preocupação de apresentar, de forma clara e inequívoca, o desempenho específico de cada domínio curricular, respeitando a progressão na aquisição de conhecimentos, para que os professores identifiquem exatamente o que se pretende que os alunos aprendam.

Este documento (Anexo A) apesar de obedecer a uma estrutura coerente e comum a todas a áreas disciplinares, apresenta uma organização que permite trabalhar de forma intercalada mas simultaneamente articulada, os descritores de objetivos e domínios, cabendo aos docentes respetivos a realização dessa gestão.

2.4.3. Organização Curricular e Programas de Educação Visual do Ensino Básico.

Seguindo a mesma constante, o MEC prossegue a política de publicar despachos normativos da organização dos anos escolares, pretendendo dessa forma flexibilizar os regimes de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos de educação pré-escolar, básica e secundária, visando uma melhor eficácia na distribuição dos serviços e na valorização dos resultados escolares.

Parte dos motivos considerados nesta organização serve para dar crédito a todas as escolas, incentivando-as a tornarem-se mais exigentes nas opções tomadas:

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“Cada escola, dentro de limites estabelecidos, pode continuar a decidir a duração dos tempos letivos, a gestão das cargas curriculares de cada disciplina, as opções nas ofertas curriculares obrigatórias ou complementares e, com liberdade e independência, a gestão dos seus recursos humanos e a implementação das atividades pedagógicas que se mostrem necessárias ao longo do ano letivo.” (Despacho Normativo de Organização do Ano Letivo 2015/2016, Introdução)

Mas mesmo deste modo, não são apresentadas no documento (Anexo H)

“soluções” para o ensino da EV, pelo contrário destacam-se as orientações para a organização dos tempos letivos das Ofertas Complementares, bem como a “operacionalização das atividades das equipas TIC.” (Despacho Normativo de Organização do Ano Letivo 2015/2016, Artigo 1º, 2).

Logo, a tarefa de ensinar EV mesmo aplicando as “Metas Curriculares” e os programas em vigor para a disciplina, tem sido insuficiente devido à utilização pelos alunos das novas tecnologias. Como garante de maior eficiência e inovação na gestão e desenvolvimento das atividades educativas, a maioria dos estabelecimentos escolares adotou TIC como opção complementar.

2.4.4. Análise da disciplina de Educação Visual no Ensino Básico.

Neste contexto existe necessidade de se analisar a tarefa de como ensinar arte no Ensino Básico, pois referindo o Professor António Damásio (2006):

“ […] esta primazia dada ao desenvolvimento das capacidades cognitivas em detrimento da esfera emocional é um factor que contribui para o declínio do comportamento moral da sociedade moderna. O desenvolvimento emocional faz parte integrante do processo de tomada de decisões e funciona como um vector de acções e ideias, consolidando a reflexão e o discernimento. Sem um envolvimento emocional, qualquer acção, ideia ou decisão assentaria exclusivamente em bases racionais.” (Roteiro para a Educação Artística, 2006, p.7 E após a extinção da disciplina de Educação Visual e Tecnológica, separando- a em Educação Visual e em Educação Tecnológica, com a consequente abolição do

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par pedagógico criado em 196815, desvalorizou-se a importância destas disciplinas no currículo do ensino básico, esquecendo a sua dimensão pedagógica e social e provocando instabilidade laboral entre os docentes.

O retrocesso psicopedagógico mencionado provocou a desagregação curricular e a consequente depreciação dos modelos disciplinares aplicados, bem como a diminuição dos tempos letivos atribuídos. Este facto criaria alguma divisão no seio da docência, com o retrocesso no desenvolvimento da educação artística e tecnológica, pois a escola ainda não conseguiu concretizar a transição necessária do século XX para o século XXI, onde o ensino deverá preparar os alunos para a resolução de problemas que possivelmente ainda se desconhece a sua existência.

O sucesso educativo não depende da reprodução de conteúdos, mas sim da adequação do que sabemos e da sua aplicação criativa a novas situações. Por isso a educação, e sobretudo a educação visual, relaciona-se com o desenvolvimento da criatividade, do pensamento crítico, da resolução de problemas, da tomada de decisões, e consequentemente com inovadoras formas de trabalho que envolvam comunicação e colaboração.

2.4.5. Caracterização da orgânica e do funcionamento das aulas de Educação Visual.

A colaboração e a comunicação existente nas aulas de EV são fundamentais para a conclusão de objetos resultantes da aplicação prática. Os pressupostos metodológicos da disciplina, que atribuíam importância à individualidade das aprendizagens evidenciadas pela resolução de problemas, avivaram nos alunos o desejo de os resolver com processos de criação diferentes dos anteriores.

A lógica integradora de uma escola ativa e dinâmica, onde o professor se dedique a trabalhar o espirito crítico dos alunos em relação à sociedade onde estes se inserem, preparando-os para dela fazerem parte e a melhoraram, aplica-se ao conceito

15Reforma do Ministro da Educação (1970 – 1974) Prof. Dr. Veiga Simão - Lei Nº5/73, vulgarmente conhecida como Reforma

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de Unidades Didáticas consideradas nas metas curriculares, onde o professor não é apenas o transmissor do conhecimento, mas também o investigador à procura de soluções que melhorem o ensino e a metodologia das aprendizagens.

O sistema organizacional verificado nestas salas de aula (fig.9) é impeditivo que se possam efetuar práticas de partilha e discussão. Também a ausência de materiais adequados aos processos artísticos, impossibilita a experimentação necessária à concretização dos mesmos. Deste modo seria importante, que em conjunto, os docentes e os alunos criassem uma “estética ambiental” flexível contribuindo para o bom relacionamento entre os alunos e as matérias a lecionar.

2.5. Contextualização da intervenção pedagógica desenvolvida com as