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PARTE III PROJETO DESENVOLVIDO – “RETRATOS”

Capítulo 4 – ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA COMUNICAÇÃO VISUAL

4.1. Cânones e Proporções

O termo Comunicação Visual tem um significado muito amplo, em algumas situações, presume-se que os pensamentos de cada um possam ser “verbalizados” através dos elementos da linguagem visual, que usam códigos estruturais que incluem: a linha, a forma, a cor, o movimento, a textura, o padrão, a orientação, a direção, a escala, o espaço, o ângulo e a proporção. Este raciocínio é uma criação da inteligência humana, de enorme complexidade, e para a qual ainda não possuímos total compreensão. Deste modo, e para que alguns destes elementos se possam tornar mais percetíveis e acessíveis, iremos analisar unicamente os mais básicos, assim como algumas estratégias e opções técnico/visuais, que possam enriquecer as composições criativas.

O “Cânone” deve a sua origem, tanto ao grego kanón onde significa “régua”, como ao latim canŏne onde tem o sentido de “regra”. Esta foi a expressão utilizada pelo grego Policleto no século V a.C., para escrever um tratado sobre as proporções do corpo humano baseado na estátua por ele executada, “O Doríforo”, que serviu de ilustração à sua teoria (fig.42).

Figura 42

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As medidas proporcionais do corpo eram essencialmente determinadas através de traçados geométricos, cujas interseções coincidiam com as articulações estruturais do esqueleto humano. Villard de Honnecourt (1200-1250) conhecido mestre-de-obras, ignorando esta estrutura natural renuncia à objetividade e considera que a figura humana deverá ser criada a partir de um sistema de linhas e formas geométricas. A figura final resultava dessa construção esquemática, onde o autor utilizava como módulo a cabeça, e não o rosto (fig.43).

Durante anos estes foram os cânones adotados como medida. Próximo do ano de 1490, em pleno período de descoberta do Mundo e do Homem19, Leonardo da Vinci desenha num dos seus inúmeros estudos, uma dupla figura masculina nua, separada mas conjuntamente sobreposta. Os braços correspondentes às figuras inscrevem-se num quadrado e numa circunferência, sendo a cabeça calculada como um oitavo (1/8) da altura total. Este desenho, juntamente com texto que o acompanha, foi denominado

“Homem Vitruviano” em homenagem ao arquiteto romano Vitrúvio, e seria

seguidamente utilizado como novo cânone das proporções (fig.44).

19Época denominada de Renascença. (N.A.)

Figura 43

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Posteriormente, o pintor alemão Dürer realizou estudos antropométricos sobre as proporções humanas registando-os num Tratado com o título de “ Underweysung der Messung”, e cuja tradução para português corresponde a “Sobre proporções do Corpo Humano”. Composto por quatro volumes, este Tratado publicado em 1528, mantinha ainda muitas relações métricas com as figuras de Honnecourt (1200-1250), pois a construção da estrutura humana consistia ainda em operações geométricas, que serviam para determinar as medidas, os contornos e as posturas (figs.45a, 45b e 45c).

Figuras 45a, 45b e 45c

Estudos de Dürer sobre as Proporções Geométricas do Corpo Humano.

Figura 44

“O Homem Vitruviano” estudo realizado por Leonardo da Vinci

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Nestes estudos, o autor registou corpos de excessiva magreza ou de extrema corpulência (figs.46a e 47b), mas consideraria sempre a “justa medida”, que segundo o autor, esta seria a que se devia “preferir” entre todas (figs.47a e 47b).

Figuras 46a e 46b

Estudos de Dürer sobre as Medidas Geométricas do Corpo Humano.

Figuras 47a e 47b

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Este cânone seria prontamente adotado pela maioria dos retratistas. De qualquer forma, apesar das restrições impostas nos modelos, podemos identificar nestes estudos alguns processos de simplificação, recuperados mais tarde e utilizados no movimento cubista.

4.2. Perceção.

Atentemos que a perceção visual é o produto final da visão. De um ponto de vista físico, estético e lógico abrange a capacidade de detetar a luz e interpretar o

resultado dos estímulos luminosos (

ver

). “Mas ver formas não é o suficiente. Se as

formas visuais devem ser úteis, devem corresponder aos objetos do mundo físico.” (Arnheim, 2005, p.64). Analisando estes fatores, viria a afirmar-se na área artística à teoria da Gestalt, esta palavra alemã cujo significado aplica-se à "configuração" ou "padrão", conseguiu explicar como as pessoas apreendem os componentes visuais através de padrões oticamente organizados ou mentalmente agrupados.

“Embora temporariamente fora de moda, o estudo da anatomia é valioso para o artista, pois permite-lhe adquirir um conceito visual das coisas que não são vistas diretamente, mas que podem dar forma àquilo que se vê.” (Arnheim, 2005,p.135) Em conformidade com esta teoria, foram definidos seis fatores determinantes do modo como associamos o que vemos, em relação com o que percecionamos. Assim, se formou a “Lei da Organização” formada por,

Unidade – Proximidade – Semelhança – Segregação - Pregnância Simplicidade e Fechamento.

E, por intermédio da identificação de alguns destes fatores, o retrato ou o autorretrato pode ser imbuído de formas, faces e emoções a ele associado, de um modo totalmente renovador e transformador (figs.48 e 49). Segundo Sousa (s/data)

“O objeto percepcionado é um significante ao qual, na verdade, atribuímos um ou mais significados. Esta operação pode parecer instantânea – e com frequência assim acontece – mas ela é, por dentro, uma espécie de somatório de sensações, de dados perceptivos, de códigos, de diversas relações de conhecimento.” (Sousa, s/data, p. 93).

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Segundo Charles Bouleau (1963) sempre existiu uma “geometria secreta dos pintores”, que servia para organizar as formas e as linhas harmoniosamente, geometrizando-as, de modo a que agrupadas cada parte constituísse um todo. Transportando esta estrutura a noção de equilíbrio visual é rececionada no espectador. Mas “É claro que o equilíbrio não requer simetria” (Arnheim, 2005, p.14), as formas exteriores das coisas são normalmente simples e puras conforme a sua natureza permite, deste modo “esta simplicidade de configuração favorece a separação visual.” (Arnheim, 2005, p. 65).