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PARTE III PROJETO DESENVOLVIDO – “RETRATOS”

Capítulo 4 – ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA COMUNICAÇÃO VISUAL

4.4. O Aspeto Simbólico.

O “gesto” que durante tantos anos desempenhou a narrativa expressiva dos retratos e autorretratos, valendo-se do movimento corporal para exteriorizar ideias e sentimentos, resultando inclusive, que alguns artistas codificassem esses gestos num glossário de emoções e sentimentos da “alma”, passará a partir da corrente expressionista a desencadear uma mudança radical aplicando um exagero gestual fora dos cânones pré- estabelecidos.

Note-se que um artista não é somente “artista”, reage diferenciadamente às mesmas situações “Com a imagem mnemónica desta estrutura interna na mente, um artista pode inventar padrões que interpretam o exterior de maneiras que estejam de acordo com a parte interior.” (Arnheim, 2005, p.148).

Enquanto os retratos das primeiras correntes simbolistas e expressionistas utilizaram a cor como meio de expressar emoções, outras, mais próximas do século XX, servir-se-ão de diferentes estratégias de distorção e transposição para exprimir os reflexos psicológicos dos retratados. Acrescenta-se assim a liberdade para os artistas, sem limitações, procurarem o simbolismo mais adequado aos retratados (figs.51a, 51b e 52a, 52b).

78 Figuras 51a e 51b

Retratos de Francisco Cardoso (1912)

Figuras 52a e 52b

Retrato e Fotografia de Wassily Kandinsky (1906)

Figuras 51a e 51b

79 4.5. A Abstração.

Antes que a abstração absoluta fosse atingida, o termo foi usado para catalogar movimentos tais como o Cubismo ou o Futurismo, que ainda que ocorressem representativamente ou figurativamente, procuravam já sintetizar os componentes da realidade natural resultando em obras que evitavam a simples imitação do concreto.

As imagens, maioritariamente definidas pelas experiências visuais vividas, e inseridas no conceito de espaço e tempo, desafiavam o artista a trabalhar o imaginário para alcançar “ver” para além daquilo que era visível.

“De um modo mais plausível, poderíamos observar que quando, por alguma circunstância, a mente é libertada de sua sujeição comum às complexidades da natureza, ela organizará configurações de acordo com as tendências que governam seu próprio funcionamento. Temos muita evidência de que a tendência principal neste caso em ação é aquela em direção à estrutura mais simples, isto é, no sentido de uma configuração geométrica mais regular, mais simétrica que se pode conseguir sob tais circunstâncias.” (Arnheim, 2005, p.135).

Duas tendências se afirmariam entretanto: O Abstracionismo Lírico e o

Geométrico. O primeiro procurou a inspiração na intuição, no inconsciente e no

sentimento de construir uma arte imaginária unida ao EU interior. Esta temática seria profundamente reproduzida pelos expressionistas, e recorria à utilização de formas orgânicas e cores vibrantes para se afirmar. Wassily Kandinsky (figs.53a e 53b), percursor deste movimento, utilizou nas suas obras os elementos mais puros da linguagem visual: o ponto, a linha, a cor e as formas geométricas puras, tais como o círculo, o quadrado ou o triângulo. Esta é uma arte abstrata de representação, definida pela frequência das formas simples, regulares e simétricas e cuja finalidade é a completa abstração do espectador.

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Por outro lado, o Abstracionismo Geométrico procura evidenciar o que é racional, aquilo que depende de uma análise intelectual e científica, preocupando-se sobretudo em suprimir toda a relação entre a realidade e a pintura, construindo entre linhas e planos ou entre as cores e o significado que esses elementos possam ter.

A composição resultante é como a exteriorização de um parecer geométrico, lugar onde o pintor corta os laços reais que o prendem à obra e onde podia revelar a realidade ou o sentido da pintura. A essência da pintura, por sua vez, depende essencialmente das cores, das formas e do modo como geométrico como estas se organizam.

Particularmente, o pintor Piet Mondrian (fig.54)realizou a maioria das suas obras fundamentadas naquelas características, onde as cores e as formas se organizavam de modo a resultarem em linhas verticais e horizontais. Este pintor utilizava as cores puras, o Vermelho, o Azul e o Amarelo, e com a presença constante de ângulos retos, simbólicos do movimento abstrato-geométrico. Também a supressão de contornos tinha a finalidade de sintetizar os diferentes elementos integrando esta nova linguagem, difundida pela geometrização constante e segmentada das formas.

Figuras 53a e 53b

81 4.6. Operações por Simplificação

Esta sintetização constante na arte evolui para a simplificação pictórica. Assim o termo “simplificação”, apesar de associado gramaticalmente ao verbo simplificar com o significado de “Tornar simples ou mais simples. Reduzir a termos menores (fracção).”20 pode não corresponder a esta ação. Pois, após a decomposição e a recomposição formal de algumas obras artísticas, na maioria atribuídas aos cubistas ou expressionistas, as imagens figurativas que surgiram do corpo humano viriam provocar na consciência/visão moderna uma tridimensionalidade ambígua, por vezes até um pouco perversa.

Depois da confirmação deste pressupostos, suprime-se da arte o modelo de “beleza ideal” cedendo lugar a um novo paradigma de beleza, esta trágica e desconforme, resultado dos sentimentos de pessimismo, ansiedade e revolta, criados

20Significado obtido em https://www.priberam.pt/dlpo/simplifica, acedido a 19 de janeiro 2017.

Figura 54

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pela II Guerra Mundial. Segundo Rudolf Arnheim (2005) “A discrepância entre o significado complexo e a forma simples pode produzir algo sumamente complicado.” (Arnheim, p.55).

Este período pós-guerra conduzirá a arte para novas linguagens figurativas e informais, onde a imagem do homem contemporâneo se expressa por padrões de liberdade, resultantes do gesto, e onde o rosto assume o papel de elemento irreconhecível, por vezes deformado, para que a sua identidade seja algo “inacessível”

(figs.55-56).

Despertam entretanto, especialmente nos Estados Unidos da América, os primeiros movimentos “minimalistas” resultantes da mudança do eixo artístico para fora da Europa. A sua principal característica encontrava-se na redução formal de caráter geométrico, um modo de transmitir ao observador uma perceção fenomenológica inovadora do ambiente circundante. Relativamente à perceção ou à representação, pode considerar-se a simplificação como um sinal de redução da forma ao mínimo de características estruturais, ou como uma hipertrofia contraditória de uma ou mais caraterísticas. Deste modo consideraram-se dois tipos de simplificação:

 Por Nivelamento – Atitude estabilizadora (Redução)

 Por Acentuação – Simplificação por Oposição (Hipertrofia)

Figura 55

“Monsieur Plume with Creases in his Trousers

(Retrato de Henri Michaux - 1947)

Figura 56

“Corps de dame-Pièce de boucherie” (Jean Dubuffet - 1950)

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4.6.1. Nivelamento

“O nivelamento caracteriza-se por alguns artifícios como unificação, realce da simetria, redução das características estruturais, repetição, omissão de detalhes não integrados, eliminação da obliquidade. O aguçamento21 realça as diferenças, intensifica a obliquidade.” (Arnheim, p.59).

A utilização da nomenclatura simplificar por nivelamento ou por acentuação, advém da proposta do professor de antropologia e educação Christoph Wulf (1997) e prontamente adotada por Arnheim (2005). Este autor22 que consideraria ambos os processos provenientes de um só procedimento: reduzir a forma à sua essência linear. Refere que “[…] a visão não é um registo mecânico de elementos, mas sim a apreensão de padrões estruturais significativos. […] Obviamente o artista nada mais era do que um registador mecânico, tanto quanto seu instrumento de visão.” (Arnheim, Introdução).

Ora o processo de nivelamento envolve a decomposição do retrato ou do autorretrato através de sucessivas operações de transposição linear, onde são progressivamente eliminadas estruturas desnecessárias, de modo a encontrar um “modelo” despojado e sintético, mas onde se observe um registo sólido e reconhecível. Este processo pode ser realizado de diversas formas, através da linha, da textura ou da cor (figs. 57a, 57b e 57c)

Apesar da utilização destes processos “O nivelamento pressupõe operações de unificação, intensificação, simetria, repetição, anulação de detalhes não integrados, estabilização dos elementos estruturais da linguagem e redução da obliquidade.” (Sousa, s/data, p. 108)