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A Educomunicação no Brasil

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 64-67)

CONTEXTUALIZANDO A MÍDIA NA EDUCAÇÃO

1.4 A Educomunicação no Brasil

Para fundamentar o conceito da educomunicação, abordado neste trabalho, procuramos descrever o panorama histórico da educomunicação desde as primeiras discussões que influenciaram os trabalhos realizados no Brasil e na América Latina.

Na América Latina os estudos acerca dos efeitos da mídia sobre a sociedade iniciam nos anos 1960, com a análise das produções cinematográficas. Os estudos demonstraram que havia uma grande persuasão do emissor sobre o receptor que determinava comportamentos e consumo. Nesse sentido, no processo educativo “(...) era importante conhecer a natureza das mensagens para evitar que as pessoas, principalmente os mais jovens, tivessem acesso ao que fosse duvidoso” (SOARES, 2013, p.182).

Essa “leitura crítica” surge com o propósito de desenvolver a consciência crítica frente aos efeitos da “indústria cultural”, principalmente a invasão cultural determinada pela América do Norte:

(...) os programas de educação para a recepção desenvolveram-se à margem dos sistemas educativos, originando-se nos bairros, subúrbios e instituições voltadas para a educação e a cultura popular. (SOARES, 2013, p.182)

Nessa década assiste-se a um forte movimento provocado por educadores e estudiosos da crítica aos conteúdos televisivos, que refletem sobre a forma e estrutura das mensagens veiculadas. Paralelamente, outro grupo estuda as estruturas econômicas e políticas que davam suporte aos meios de comunicação. A esse respeito, Soares (2013) afirma que “(...) acreditava-se que somente o estudo das condições de recepção e dos vários planos ideológicos que conviviam em um receptor garantiam o entendimento dessas estruturas midiáticas” (p.21).

Ainda nessa época há um movimento em torno das discussões sobre o planejamento participativo, o que reconfigurava uma nova proposta de ação social:

A força do pensamento latino-americano no campo da comunicação para o desenvolvimento, com ênfase no planejamento participativo, exerceu profunda influência na construção do conceito da educomunicação. (SOARES, 2013, p.181)

No Brasil, nos anos entre 1970 e 1980, segundo esse mesmo autor, ocorrem as discussões sobre a comunicação alternativa e dialógica que estabelece novas maneiras de expressão e que ocorriam de maneira verticalizada nos espaços formais como a escola:

Não se trata apenas de fazer a leitura crítica da mídia como um conteúdo disciplinar a mais, mas propor a comunicação como um eixo transversal a todo processo educativo. (SOARES, 2013, p.182)

Diversas entidades passam a oferecer formações e assessoria para escolas com objetivo de entender e modificar a relação comunicação-educação, fundamentada na participação. Observa-se que, a partir dessas experiências, os trabalhos do Núcleo de Comunicação e Educação da USP buscaram desenvolver experiências que permitiram que os envolvidos implementassem projetos de discussão compartilhados com a educomunicação. Com esta perspectiva a Educomunicação passa a ser entendida como uma nova área de intervenção social e como:

(...) um conjunto de ações inerentes ao planejamento, implantação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos, melhorando o coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso de recursos de informação no processo de aprendizagem. (SOARES, 2013, p. 183)

Já na década de 1980, com objetivo de aproximar os campos da comunicação e da educação com as políticas, a UNESCO une-se aos pesquisadores para ampliar a crítica sobre a influência dos conteúdos na sociedade, principalmente em relação aos jovens. A UNESCO promove em 1981 um congresso em Quito para especificar a ações dos meios de comunicação nas escolas e promove a crítica às mensagens veiculadas. Nesse processo, aumentam os projetos para a discussão da manipulação da sociedade pela televisão e promove-se a educação para a leitura crítica da mídia.

A década seguinte começa a sofrer a influência dos estudos culturais norte americanos e ingleses. De um lado, tem-se um grupo de pesquisadores vindos da educação

formal que estudam os impactos das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no ensino e, de outro lado, vê-se estudos que se voltam para as práticas sociais e ações culturais de cada sociedade, impactadas pelos meios de comunicação. Não eram “(...) os meios que importavam, mas os processos comunicativos enquanto produção de cultura” (SOARES, 2013, p. 180). Destacam-se aqui, em especial, os estudos de Raymond Willians, pelos quais os educadores para os meios aprenderam que a “cultura é um processo sócio-histórico que cria e assimila sentidos” (SOARES apud Willians, 1965, p.43) e os estudos de Stuart Hall, segundo os quais “a audiência define-se simultaneamente como receptora e fonte de mensagem” (SOARES apud HALL, 1980, p.128). Assim é que,

(...) foi possível passar de uma teoria centrada nos meios de comunicação, para uma reflexão articuladora das práticas de comunicação entendida como fluxos culturais, focada no espaço das crenças, costumes, sonhos e medos que configuram a cultura do cotidiano. (SOARES, 2013, p.182)

A partir de 2000 as pesquisas do Núcleo de Comunicação e Educação da USP propõem uma nova perspectiva sobre a influência dos meios de comunicação. Os estudos apresentam à academia um novo modelo de educação para a comunicação, que contraria os estudos já realizados no mundo. De acordo com Soares (2013, p.183) a proposta de “(...) estabelecimento de um novo paradigma surgido da interface comunicação e educação, que passava a ser assumido como um espaço de agir coletivo, voltado para a cidadania e para a lógica de mercado (...)” constitui-se em uma nova proposição de estudo e crítica dos meios, que permite o surgimento de uma nova metodologia de “(...) educação para a recepção, promovendo novas negociações de acesso aos meios, domínio das suas linguagens e gestão da produção, tendo como meta a prática da cidadania” (SOARES, 2013, p.183). E mais, para ess autor:

O conceito de educomunicação passou a traduzir a desejada autonomia de uma prática, não exatamente à margem dos tradicionais campos da comunicação e educação, mas justamente a sua interface, às vezes com eles se confrontando e, em outras, colaborando. (SOARES, 2013, p.183)

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 64-67)