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CONSIDERAÇÕES FINAIS:

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 147-152)

A EDUCOMUNICAÇÃO DINAMIZANDO O PROCESSO EDUCATIVO E MELHORANDO A AUTO-ESTIMA DOS ALUNOS PARA TORNÁ-LOS MAIS

RECEPTIVOS À RELAÇÃO COM O CONHECIMENTO.

Esta pesquisa teve por objetivo investigar, com base nas percepções expressas por alunos e professores, as condições em que ocorrem as práticas de educomunicação em uma escola pública municipal de ensino fundamental II da periferia da cidade de São Paulo e sua interferência na interação entre alunos e professores, nos modos de ensinar e de aprender e nas relações com o saber – com destaque para as contribuições das atividades desenvolvidas pelo “Programa Nas Ondas do Rádio”, tendo como fundamentação teórica o conceito da educomunicação na aprendizagem dos alunos e na sua relação com o conhecimento.

Procurou-se, assim, descrever como o Projeto “Nas Ondas do Rádio / Educom.Rádio” se integra às práticas desenvolvidas na escola, identificando, de um lado, como alunos e professores percebem a influência das práticas educomunicativas no ensino e na aprendizagem e sua relação com as experiências sociais dos alunos,com os conteúdos escolares e com os meios de comunicação e, de outro lado, analisando como tais práticas educomunicativas podem redefinir o papel da escola e favorecer a leitura crítica do mundo, da sociedade e da relação com a mídiapelos alunos.

Três hipóteses, inicialmente levantadas, nortearam o estudo: a) a “educomunicação” através da inserção dos meios de comunicação na escola cria um espaço de participação democrático num ambiente em geral autoritário, tornando os alunos mais participativos, criativos e críticos, diante das informações contidas na mídia; b) a prática educomunicativa ajuda alunos e professores a transformarem a informação em conhecimento, integrando a leitura crítica dos meios de comunicação ao conhecimento formal oferecido pela escola; e c) o Projeto “Nas Ondas do Rádio / Educom.Rádio” traz melhorias na comunicação e integração entre os agentes da comunidade escolar alvo do estudo. A análise dos dados obtidos trouxe indicativos claros que permitiram confirmar cada uma dessas hipóteses. Os resultados obtidos exibem elementos que permitem perceber como os meios de

comunicação de massa se inserem na educação escolar e se transformam em novas formas de mediação educacional e comunicacional na escola e sala de aula.

Nas falas de alunos, por exemplo, observa-se que os jovens possuem alta percepção quanto ao poder da mídia na vida social, familiar e escolar. Discernem com clareza os efeitos bons e maus sobre seus comportamentos e sobre a maneira como conduzem suas amizades. Ao mesmo tempo, conseguem expressar a percepção de que os instrumentos tecnológicos para o acesso e consumo da mídia estão intimamente ligados ao seu cotidiano.

Os alunos consideram tais instrumentos importantes em suas vidas, consideram-nos materiais de “alta necessidade”, que lhes trazem uma nova experiência cultural – o que os leva a estabelecer, como afirma Martin-Barbero (2011), “(...) novas maneiras de se localizar e agir socialmente a partir dos meios tecnológicos(p. 47)”.

Pode-se afirmar, com base nos dados analisados, que os alunos entrevistados possuem um alto grau de senso crítico e capacidade questionadora em relação às mensagens que são veiculadas pela mídia – o que demonstra que a experiência de alunos e professores com as atividades educomunicativas permitem que os alunos adolescentes rompam o estereótipo de “seres passivos e fáceis de manipular”, reafirmando a teoria de Martín-Barbero (2011) de que o conhecimento e a informação são eixos centrais para a inserção social de alunos e professores.

Outra ideia que se pode destacar neste trabalho é a influência dos meios de comunicação na formação de valores nos alunos que, junto a família, a religião e a escola trazem novas disposições aos alunos. A análise dos dados traz indícios de que a consciência crítica e a criatividade dos alunos podem ser despertadas com o uso dos instrumentos de comunicação, na medida em que os alunos passam a ler e interpretar informações disponíveis e produzir as suas próprias peças midiáticas. Com isso, utilizando a perspectiva teórica trazida para este estudo por Charlot (2001), é possível dizer que os alunos passam a recontextualizar suas experiências sociais e escolares e suas expressões nas entrevistas revelam um avanço, segundo eles próprios, em sua auto-estima.

Constata-se, por exemplo, de um lado, que os alunos se mostram encantados e fascinados pelos aparatos tecnológicos e que, de outro lado, conseguem demonstrar que podem ser críticos e rejeitar os produtos da cultura de massa, selecionando o que é não educativo e o que os desinformam – seus valores se modificam.

Ou seja, com isso a própria função social da escola se modifica. As práticas educomunicativas parecem redefinir o papel da escola, favorecendo a leitura crítica do mundo, da sociedade e da relação com a mídia.

Diante disso, parece inconcebível que a escola continue, cada vez mais, desprovida desse saber tecnológico, comprovando-se o que afirma Charlot (2001), em relação ao fato de que a escola hoje ainda parece estabelecer uma função mágica com os alunos, não referenciada pelo saber. Para esse autor, sem as práticas que levem à compreensão do que ocorre no entorno social, pode-se detectar que os alunos continuam a frequentar as aulas para passarem de ano e, supostamente, garantirem “um futuro” e “uma ascensão social” – a relação do sujeito com o saber está intrinsecamente ligada aos seus desejos e valores individuais (CHARLOT, 2005).

Entretanto, os resultados das entrevistas e das análises da evolução do rendimento escolar dos alunos pelos boletins mostraram que os alunos participantes do Programa Nas Ondas do Rádio obtêm um maior contato com o texto escrito e apresentam melhorias sucessivas nos resultados das avaliações formais do currículo – o que permite afirmar que a escola tem que oferecer mais oportunidades de práticas que favoreçam o chamado processo de letramento dos alunos, isto é, o aumento da capacidade leitora, escritora e comunicativa dos mesmos. O trabalho com a educomunicação traz esse tipo de atividades – o que nos leva de volta a Martín-Barbero (2009) ao ressaltar que é a alfabetização formal e suas decorrências que abrem as portas às múltiplas escrituras do mundo midiático (p.67).

Outro aspecto decorrente desta pesquisa refere-se ao fato de que os autores estudados, tanto quanto os dados empíricos permitem perceber a importancia de se considerar a Educomunicação em seu sentido mais amplo e não somente reduzi-la ao um único campo – a educação ou a comunicação – ou ainda, restringi-la simplesmente ao que dizem os artigos da legislação. Estudar este conceito permitiu compreender a inter-relação entre educação e comunicação, re-descobrindo, na perspectiva teórica de Soares (2002), um conjunto de ações que produzem “(...) efeitos de articulação entre os sujeitos sociais, renovando sua prática e aumentando as condições de expressão e comunicação de todos os segmentos humanos (p. 58).

A esse respeito, cumpre retomar aqui a hipótese de que o “Programa Nas Ondas do Rádio” traz melhorias na comunicação e integração entre os agentes da comunidade

escolar. Os resultados obtidos trazem elementos que levam a perceber que, na escola investigada, o trabalho com as atividades educomunicativas e com a metodologia de comunicação escolar são, de fato, excelentes ferramentas para o aprendizado de professores e alunos, aumentando a comunicação interpessoal e grupal no interior das salas de aula e sendo considerada uma das principais conquistas no período de aula – o que nos leva de volta a Soares (2000) ao apontar que as relações comunicacionais entre as pessoas e grupos têm a função de “(...) qualificar essas interações, tomando como conceitos fundamentais a democracia, a dialogicidade e a expressão comunicativa” (p.25).

Diante dos dados coletados com as entrevistas e com a observação da rotina dos diferentes agentes envolvidos no Programa é possível encontrar elementos que sugerem que a educomunicação, quando inserida no trabalho pedagógico sistemático e definida no projeto político pedagógico da escola (seja de maneira transversal, ou como projeto específico), pode colaborar para o desenvolvimento das competências curriculares, além de favorecer a melhoria das relações sociais e escolares, aumentando a interação dialógica no cotidiano (da família, da escola e outros grupos sociais). Para isso, é necessário dar aos alunos a possibilidade de falar, de exprimir seus desejos, inquietações, revoltas e dúvidas. Trata-se de um trabalho que parte da realidade dos alunos e a reconstrói, por meio do debate e da reflexão, promovendo o aprendizado e a oportunidade de expressão do conhecimento adquirido. Ou seja, a inserção da mídia na escola exige como afirma Charlot (2005), um novo modelo pedagógico e a redefinição dos agentes educacionais no trato com a diversidade dos meios de comunicação e as ferramentas tecnológicas no ambiente escolar (p.78).

Assim, os resultados obtidos permitem constatar que o “Programa Nas Ondas do Rádio” dinamiza o processo educativo, melhorando a auto-estima dos alunos e tornando-os mais receptivos a atividades de produção do próprio conhecimento. Os resultados sugerem também que a experiência vivida pelos alunos com a educomunicação tem reflexos no cotidiano de sala de aula, melhorando o rendimento escolar dos alunos e sua apreensão dos conteúdos escolares.

Em outras palavras, um trabalho com mídias na escola tendo o conceito da educomunicação como referência teórica parece reprimir o currículo tradicional e enrijecido e adotar uma educação em que a relação com o saber seja construída pela

interação entre alunos e professores, em que a horizontalidade nas relações, como diz Charlot (2005) “(...) fornece o suporte para que haja partilha verdadeira de conhecimentos, procedimentos e atitudes (...)” e para que as atividades “(...) dêem condições ao sujeito de fazer relações entre a sua experiência social e o conhecimento escolar” (p.67).

Finalmente, parece fazer todo sentido encerrar estas reflexões finais, retomando aqui a ideia com a qual esta Dissertação foi iniciada e, segundo a qual, o trabalho de ensinar e aprender merece ser conduzido:

Aprender para viver com os outros homens com quem o mundo é compartilhado. Aprender para apropriar-se do mundo, de uma parte desse mundo, e para participar da construção de um mundo pré-existente. Aprender em uma história que é, ao mesmo tempo, profundamente minha, no que tem de única, mas que me escapa por toda parte. (...) aprender, é entrar em um conjunto de relações e processos que constituem um sistema de sentido, onde se diz quem eu sou, quem é o mundo, quem são os outros.

(CHARLOT, 2001, p.53)

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 147-152)