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As relações dos jovens com a educação escolar e os processos midiáticos na sociedade atual

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 70-74)

QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA

2.1 As relações dos jovens com a educação escolar e os processos midiáticos na sociedade atual

A interferência dos meios de comunicação social na vida e nas relações dos cidadãos, em particular das crianças vem provocando uma crescente preocupação social, no entanto os estudiosos constatam que, apesar disso, há pouca reflexão sobre esse tema por parte da instituição educacional.

Apoiando-se nos estudos teóricos de Jesús Martín-Barbero (2009. P. 121), essa constatação pode ser entendida como uma reação frente à deslegitimação e a deslocalização das formas contínuas do saber promovidas pela escola que tem no texto escrito o centro de um modelo linear tradicional de ensino. Neste sentido o saber midiático quebra não só o modelo escolar que se dá linearmente e por etapas, mas principalmente a autoridade do professor e as relações entre pais e filhos, ao ter, estes últimos, acesso, por sua própria conta, ao mundo que antes lhe estava vedado: o dos adultos. Ou seja, nas palavras do autor:

(...) esta perspectiva do problema apresenta a necessidade de que partindo do sistema educacional ou mais propriamente da escola, se articule algum tipo de resposta pedagógica que permita reinterpretar o papel dos meios nas sociedades contemporâneas, e que dote os cidadãos das capacidades que lhes facilitem uma relação crítica com a proposta mediática a que estão expostos (MARTIN-BARBERO, 2009, p.120)

A aproximação comunicação-educação exige um novo pensar que reelabore modelos pedagógicos e novas estratégias de intervenção na sociedade que, por sua vez, consigam responder aos processos midiáticos e educacionais atuais:

(...) esta exigência se coloca na medida em que, tanto o desenvolvimento tecnológico quanto as mudanças econômicas e sociais são produtores de novos padrões culturais e têm colocado em pauta, para a escola, um reposicionamento diante do que dela exige: encaminhamentos intencionais que preparam as pessoas para a inserção crítica na sociedade (MARTIN-BARBERO, 2009, p.120).

Martín-Barbero (2009, p.123) afirma que estamos diante de um “processo comunicativo-reflexivo”, conformado não pelas máquinas ou meios, mas por linguagens, saberes e escritas, pelo poder da linguagem midiática. Diante de suas reflexões percebemos que o modelo da relação professor-aluno é vertical e autoritário, que promove um aprendizado linear e sequencial. Para Martín-Barbero (2011,p.123) ao relacionar esse modo educacional com as tecnologias propõe um novo olhar sobre o ensino, que por sua vez, reforça os obstáculos na relação sociedade e educação. Para que a escola possa interagir com o novo modelo de sociedade é preciso, de acordo com Martin-Barbero (2011, p.123), que se crie novos modos de se relacionar com o meios de comunicação e não simplesmente que se utilize a mídia como recurso pedagógico, enfatizando seu caráter tecnicista. Ou seja, para o autor:

(...) enquanto permanecer a verticalidade na relação docente e a sequencialidade no modelo pedagógico, não haverá tecnologia capaz de tirar a escola do autismo em que vive. Por isso, é indispensável partir dos problemas de comunicação antes de falar dos meios (MARTÍN-BARBERO, 2011, p.123).

Isso significa que, ao se refletir sobre comunicação deve-se reconhecer que estamos diante de uma sociedade que evidencia o papel do conhecimento e da informação para os processos de desenvolvimento econômico, político e social. O conhecimento e a informação são o eixo central para o desenvolvimento social, principalmente para os países de Terceiro Mundo, nos quais os processos de industrialização não impedem que a

sociedade dependa do conhecimento e informação, mais do que das máquinas, isto é, não impedem que a sociedade dependa “mais da inteligência do que da força”. Dessa forma,

(...) da relação entre a força, a mão de obra e a energia produzidas pelas máquinas, estamos passando a um novo tipo de relação, mediada, cada vez mais, pela informação e pela automatização dos processos (MARTÍN-BARBERO, 2011, p.124).

Martín-Barbero (2011, p.124) afirma que o ponto de partida para pensar nas relações entre a educação e comunicação deve ter como ponto central a influência que o conhecimento e a informação têm na estrutura social dos países, aumentando as diferenças entre países pobres e ricos e afetando também como estes adquirem e possuem acesso aos bens materiais e simbólicos. O autor ainda constata, que há uma grande diferença entre as pessoas que podem estar se beneficiando de grande quantidade de informações, experimentações, conhecimentos e experiências tecnológicas e uma imensa maioria excluída, desligada do mundo tecnológico (MARTÍN-BARBERO, 2011, p.125).

Essa influência tecnológica está mais perceptível entre os jovens que possuem novas maneiras de perceberem o mundo tecnológico e de interagir socialmente. Segundo Martín- Barbero (2011, p.125) trata-se de uma nova experiência cultural, estabelecendo novas maneiras de se localizar e agir socialmente a partir dos meios tecnológicos. Este aspecto choca e rompe com o mundo dos adultos que, timidamente, está se associando à tecnologia. A maneira como os meios de comunicação dialogam com a sociedade estabelece outras formas de comunicar e persuadir, tanto na velocidade quanto na sonoridade das mensagens, trazendo para o mundo juvenil novas formas de articulação e novas experiências.

Toda essa inovação comunicacional e tecnológica influência na maneira como o jovem se relaciona com o saber educacional. O conhecimento que antes era restrito somente à escola e aos livros, agora nessa nova sociedade passa circular por outros meios e lugares. Assim, Martín-Barbero (2011, p.126) reconhece a importância da formação de um ambiente de informação e conhecimento mútiplo, não restrito ao sistema educativo, que ainda permanece com seus dois centros definidos: a escola e o livro. Assim,

(...) a escola deixou de ser o único lugar de legitimação do saber, pois existe uma multiplicidade de saberes que circulam por outros canais, difusos e descentralizados. Essa diversificação e difusão do saber, fora da escola, é um dos desafios mais fortes que o mundo da comunicação apresenta ao sistema educacional (MARTIN- BARBERO, 2011, p.127).

Também estamos diante de um novo perfil de aluno. Estes estão imersos em um ambiente comunicacional transformado por outras linguagens, saberes e escritos proporcionando informações atualizadas sobre determinados conteúdos, e em muitos casos mais que seu professor. O autor afirma que diante de nova configuração a escola preconiza o fortalecimento do autoritarismo como reação à perda de autoridade do professor, e não uma abertura para esses novos saberes.

(...) Em lugar de ser percebida como uma chamada a que se reformule o modelo pedagógico, a difusão descentralizada de saberes, possibilitada pela mediação comunicacional, resulta no endurecimento da disciplina do colégio para controlar esses jovens, cada vez mais frívolos e desrespeitosos com o sistema sagrado do saber escolar (MARTÍN-BARBERO, 2011, p. 127).

Para o autor, estamos diante de um novo modelo de sociedade mediada por tecnologia e mídia e a escola não pode aumentar as diferenças sociais, usando dessas ferramentas informacionais como ponto de aumento para essas diferenças. Um dos maiores desafios da relação educação e comunicação diante dessas transformações estão justamente em fazer com que a escola propicie a participação do cidadão em um novo ambiente comunicacional:

(...) o cidadão de hoje pede ao sistema educativo que o capacite a ter acesso à multiplicidade de escritas, linguagens e discursos nos quais se produzem as decisões que o afetam, seja no campo de trabalho, seja no âmbito familiar, político e econômico. Isso significa que o cidadão deve saber distinguir os diferentes discursos produzidos pela mídia. Para tanto, necessitamos de uma escola na qual aprender a ler signifique aprender a distinguir, a tornar evidente, a ponderar e escolher onde e como se fortalecem os preconceitos ou se renovam as concepções que temos sobre política, família, cultura e sexualidade (MARTÍN-BARBERO, 2009 p. 130).

Diante dessas afirmações pode-se concluir que a escola precisa proporcionar aos alunos condições não apenas de ler e escrever como ponto de chegada, mas como ponto de partida para alfabetização em outras linguagens, capacitando a formar cidadãos que interpretem e leiam o mundo.

2.2 O papel das escolas e dos professores em face da realidade dos alunos e sua

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 70-74)