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História da educação para a mídia: algumas leituras

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 56-59)

CONTEXTUALIZANDO A MÍDIA NA EDUCAÇÃO

1.2. História da educação para a mídia: algumas leituras

Dois textos constituiram fontes específicas de informações para elaboração deste item: o texto produzido pela UNESCO sobre a International Conference Educating for the Media and Digital Age realizada em Viena, em 1999 (UNESCO, 1999) e a síntese do Encontro Internacional de Paris, em 2007 – De Grünwald à Paris: Por Educação ou mídia? – produzida por Jacquinot (2007). Alem desses, foram ainda consultados: Bévort & Belloni (2009), Soares (2011, 2002 e 2000) e Citelli (2011).

A discussão sobre a relação e influência da mídia na educação vem sendo pensada há décadas, desde que constatada a sua influência no comportamento e formação do sujeito contemporâneo. São encontrados estudos a partir de 1940, quando a sociedade passava por uma nova ordem industrial. O rápido crescimento tecnológico no mundo globalizado

contribuiu para maior acesso e uso das mídias, fundamentalmente na evolução da estrutura do rádio, jornal e TV. Enquanto a sociedade se desenvolvia economicamente, à escola cabia o papel da formação dos cidadãos objetivando a transmissão do conhecimento histórico e da cultura entre as gerações. No artigo “Mídia-Educação: Conceitos, História e Perspectivas” as autoras Eveline Bévort e Maria Luiza Belloni apresentam um panorama histórico sobre a inserção da mídia na educação.

Segundo as autoras é partir de 1960 que os termos “educação para mídias” ou “mídia-educação” surge com o propósito de alfabetizar as populações em larga escala através da educação a distância, ao mesmo tempo em que apresentava a preocupação de educadores e intelectuais para a influência desses meios, pensando também na manipulação política, comercial e publicitária (BÉVORT & BELLONI, 2009, p. 1086).

Neste aspecto, as autoras indicam que a UNESCO é o principal órgão que inicia o processo de discussão dessa definição:

(...) Por mídia-educação convém entender o estudo, o ensino e a aprendizagem dos meios modernos de comunicação e expressão, considerados como parte de um campo específico e autônomo de conhecimentos, na teoria e na prática pedagógica, o que é diferente de sua utilização como auxiliar para o ensino e a aprendizagem em outros campos do conhecimento. (UNESCO, 1984, apud BÉVORT & BELLONI, 2009, p. 1086)

Nos Estados Unidos e na América Latina o conceito de mídia-educação absorve a leitura crítica dos meios de comunicação, envolvendo a tecnologia educacional como ferramenta de planejamento educacional preocupada com a qualidade educacional dos países de terceiro mundo (BÉVORT & BELLONI, 2009, p. 1086). É a partir desse momento que a leitura crítica dos meios começa a formar as novas gerações, fazendo uma análise crítica das mensagens veiculadas, proporcionando maior entendimento e um novo posicionamento dos sujeitos diante da indústria cultural. Partindo desse pressuposto um novo conceito de mídia-educação é proposto pela UNESCO:

(...) Todas as maneiras de estudar, aprender e ensinar em todos os níveis e em todas as circunstâncias, a história, a criação, a utilização e a avaliação das mídias enquanto artes práticas e técnicas, bem como o lugar que elas ocupam na sociedade, seu impacto social, as

implicações da comunicação midiatizada, a participação, a modificação do modo de percepção que elas engrenam, o papel do trabalho criativo e o acesso às mídias. (UNESCO, 1984, in: BÉVORT & BELLONI, 2009, p. 1086)

Em 1982 representantes de 19 países se reúnem em Grunwald (Alemanha Ocidental) para discutirem novos caminhos para o trabalho com as mídias na educação. Este encontro resultou em uma declaração tem por objetivo obrigar os sistemas educacionais a desenvolverem nos educandos uma maior compreensão dos conteúdos midiáticos. O documento reconhece a importância das mídias na sociedade, apresentando seu poder de persuasão. Considera sua importância na promoção da cultura e sua função na promoção da participação do cidadão ativo, enfatizando a responsabilidade dos sistemas nacionais de promoverem nos indivíduos uma compreensão crítica dos fenômenos de comunicação (BÉVORT & BELLONI, 2009, p. 1087). Toda proposta apresentada pela Declaração de Grundwald resulta na apresentação das mídias na sociedade e principalmente a sua influencia para as novas gerações, necessitando de formação para o entendimento dessa mídia. Portanto,

(...) mídia-educação é definida como uma formação para a compreensão crítica das mídias, reconhecendo o papel potencial das mídias na promoção da expressão criativa e participativa dos indivíduos, pondo em evidencia as potencialidades democráticas dos dispositivos técnicos de mídia. (BÉVORT & BELLONI, 2009, p. 1087)

A partir desse momento têm-se duas definições de mídia, não só como meios de comunicação de massa, mas como meios de expressão de opinião e criatividade que deve ser apropriado por todas as pessoas da sociedade. Conforme o artigo de Bévort & Belloni (2009) a Declaração de Grunwald enfatiza a troca de idéias provenientes da ampliação dos conceitos de cultura locais integrando a sua diversidade. Neste aspecto, o objetivo do documento, segundo as autoras não é restringir a mídia em seu uso pedagógico ou didático, mas ampliar sua abordagem valorizando as experiências dos jovens fora da escola, para a partir delas ensinar e engajar toda sociedade no sentido de promover a construção de uma consciência crítica mais aguda de ouvintes, espectadores e leitores (BÉVORT & BELLONI, 2009, p. 1088).

A participação do Brasil nas discussões sobre mídia-educação iniciou no Colóquio de Toulouse, em 1990, promovido pela UNESCO em Paris. Neste evento, segundo as mesmas autoras, diversas ações foram pensadas e discutidas para a efetivação do trabalho midiático, entre as atividades pode-se destacar: formação de professores, levantamento de experiências feitas por ONGs e associações. Também ocorre o aumento de pesquisas acadêmicas com ênfase no campo da comunicação e com relativa ausência do campo da educação. Bévort & Belloni (2009) citam que este Colóquio proporcionou pela primeira vez a participação efetiva de crianças e jovens nos programas de mídia-educação garantindo o direito na “Convenção Internacional dos Direitos da Criança e dos Adolescentes”.

Entretanto, é na Conferência Internacional “Educando para as Mídias e para Era Digital”, realizada também pela UNESCO, em 1999, na cidade de Viena-Aústria, que a reflexão sobre o trabalho para a mídia-educação avança e as repercussões socioculturais, cognitivas, lingüísticas e estéticas aparecem como objetivo central desse trabalho, garantindo os direitos à liberdade de expressão (artigo 13), à informação (artigo 17) e à participação em decisões sobre assuntos que dizem respeito aos agentes da educação (artigo 12) (BÉVORT & BELLONI, 2009, p. 1090).

Esta retrospectiva histórica apresenta uma evolução nas discussões sobre mídia- educação afirmando sua reflexão crítica como um direito dos indivíduos de expressarem e obterem acesso à informação e à participação da vida cultural na sociedade.

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 56-59)