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O conceito de educomunicação

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 59-64)

CONTEXTUALIZANDO A MÍDIA NA EDUCAÇÃO

1.3 O conceito de educomunicação

A “Educomunicação” surgiu a partir dos anos 1980 para designar um campo de intervenção social, onde os sujeitos não são considerados apenas como consumidores passivos de mídias, mas intervêm na receptividade desses conteúdos ressignificando-os e posicionando-se diante das informações. O termo aparece a partir da relação entre os campos da educação e comunicação com objetivo de fazer a leitura crítica dos conteúdos midiáticos oferecendo outro formato para a comunicação de massa e propondo novas maneiras de inserir os meios na escola.

As pesquisas realizadas sobre o percurso da educomunicação no Brasil apontam, de acordo com Soares (2011, p.10), que o termo Educomunicação surgiu como sinônimo de

“media education”, definido pela UNESCO para estudar, através da educação, os efeitos das mensagens veiculadas nos meios de comunicação que influenciam crianças e adolescentes.

É a partir de 1997 que o Núcleo de Comunicação e Educação da USP faz uma pesquisa com 176 especialistas em 12 países da América Latina sobre quais seriam as práticas que abordavam os meios na escola de forma mais abrangente. Assim, o NCE passou a redefinir o significado de “educomunicação” definindo-o como um “(...) conjunto de ações que produzem os efeitos para articular os sujeitos sociais no espaço da interface comunicação-educação, onde jovens e crianças fazem a leitura crítica e produção da mídia (SOARES, 2011, p. 11). Ou seja, o conceito de educomunicação apresenta-se como

(...) um amplo caminho para a renovação das práticas sociais que objetivam aumentar as condições de expressão e comunicação de todos os segmentos humanos, especialmente da infância e juventude (SOARES, 2011, p.15).

Ao fazer a relação comunicação-educação a partir da educomunicação, os sujeitos sentem-se engajados socialmente, obtendo uma atuação crítica diante dos novos modelos de comunicação de massa, subvertendo a ordem sobre o entendimento da mídia como um aparato tecnológico de manipulação, o que pode gerar uma nova maneira de lidar com a inserção da mídia na escola, na qual

(...) as ações desenvolvidas no âmbito da Educomunicação configuram-se em um debate político vinculado à cidadania, liberdade de expressão e interculturalidade, que considera a educação para os meios de comunicação uma estratégia promotora da justiça social, baseada no diálogo (SOARES, 2011, p.17).

Para ampliar o entendimento sobre a interrelação entre a educomunicação e o sistema de ensino, Soares (2011) apresenta dois pressupostos fundamentais: o primeiro afirma que a educação só é possível enquanto “ação comunicativa”, uma vez que a comunicação está presente na formação humana. Da mesma forma, toda comunicação, no sentido de transmissão de sentidos e intercâmbio de idéias é uma ação educativa (SOARES, 2011, p. 17). Nesta premissa, a comunicação participativa e dialógica, onde todos podem opinar e refletir favorece o desenvolvimento das práticas educativas, aumentando a motivação dos estudantes, o relacionamento e convívio entre alunos-professores,

potencializando possibilidades de aprendizagem, tomada de consciência e mobilização para ação. É este o principal foco da educomunicação:

(...) o eixo das relações comunicacionais entre pessoas e grupos com a função de qualificar essas interações, tornando como conceitos fundamentais a democracia, dialogicidade, expressão comunicativa e gestão compartilhada das informações (SOARES, 2011, p.19).

Assim, educomunicação segundo Soares (2000, p. 03) define-se como um conjunto de ações destinadas a:

1 – integrar às práticas educativas o estudo sistemático dos sistemas de comunicação (cumprir o que solicita os PCNs no que diz respeito a observar como os meios de comunicação agem na sociedade e buscar formas de colaborar com nossos alunos para conviverem com eles de forma positiva, sem se deixarem manipular.);

2 – criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos (o que significa criar e rever as relações de comunicação na escola, entre direção, professores e alunos, bem como da escola para com a comunidade, criando sempre ambientes abertos e democráticos);

3 – melhorar o coeficiente expressivo e comunicativo das ações educativas (Para tanto, incluímos o rádio como recurso privilegiado, tanto como facilitador no processo de aprendizagem, quanto como recurso de expressão para alunos, professores e membros da comunidade).

Por meio da educomunicação, segundo os estudos de Soares (2000, p.31), a escola se torna um espaço privilegiado de aprendizagem para aplicação do conceito, já que as práticas comunicativas se manifestam na socialização da vida em sociedade: família, escola, empresa e mídia. Para essas atividades o que importa não é a ferramenta disponibilizada, “(...) mas o tipo de mediação que elas podem favorecer para ampliar os diálogos sociais e educativos” (SOARES, 2002, p.18).

Citelli (2011, p.09), por sua vez, concebe a educomunicação como uma área que busca pensar, trabalhar, pesquisar a educação formal e informal dentro da comunicação, integrando as dinâmicas formativas, envolvendo projeto de aprendizagens que utilizem os recursos técnicos do rádio, TV, jornal etc. para análise das produções de mensagens e formação dos sujeitos para um posicionamento perante o mundo marcado pela indústria cultural. A educomunicação é uma prática que objetiva ampliar as condições de

expressão de todos os segmentos humanos, especialmente da infância e da juventude, possibilitando um novo entendimento e leitura de saberes.

Soares (2002, p.35) ainda apresenta a idéia de que a escola, por ser ao mesmo tempo um meio educativo, social e político, é um dos principais agentes da educomunicação. Entretanto, para cumprir a função educomunicadora, é preciso que a escola, nos moldes tradicionais, passe por algumas transformações que aproximem o ensino formal, da sociedade em movimento, ou seja, uma sociedade permeada por meios de comunicação, informações constantes e mutáveis.

Ainda segundo a autora, hoje, muitas vezes, o saber da escola é desassociado do saber midiático, o que se é aprendido fora dela é desconsiderado. Porém, é necessário levar em conta o conhecimento prévio do aluno sobre alguns determinados assuntos, conhecimento este, adquirido muitas vezes através da mídia. A criança e o adolescente aprendem quando se vêem instigados e interessados pelo assunto e partem para a pesquisa, elaboração e produção próprias (SOARES, 2002, p.41).

As pesquisas desenvolvidas por Soares mostram que os alunos desenvolvem habilidades que antes não tinham a oportunidade de desenvolver, devido ao ambiente escolar restrito à convencional sala de aula.

(...) As novas gerações, quando orientadas por adultos significativos para elas (pais, professores, gestores de projetos na área da mídia e educação) têm optado por assumir suas responsabilidades na construção de um mundo mais intensamente comunicado, contribuindo para que os meios de informação estejam a serviço da edificação de uma sociedade mais humana, pacifica e solidaria (SOARES, 2002, p.15).

De acordo com Citelli (2011), entre as práticas educomunicativas são produzidos fanzines e jornais, fotografias, vídeos, jornal-mural, rádio-escola, sites em processos educativos e muitos outros materiais em comunicação, ou seja, “(...) as crianças e jovens participam de um caminho pelo conhecimento muito mais completo e criativo” (CITELLI, 2011, p. 52).

A relação entre a comunicação e a educação, de acordo com Soares (2002, p.85) estimula crianças, adolescentes e educadores a utilizarem a mídia como instrumento de mobilização e crítica social. Os parâmetros estabelecidos pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educação n. 9394-96 (BRASIL, 1996a), também contribuem para a inserção das práticas educomunicativas na escola. Esta propõe uma modernização do ensino voltado para a formação do cidadão cultural e politicamente ativo, tendo como fim “a formação de cidadãos capazes de compreender criticamente a realidade social” (art. 2º, II) e que tenham “desenvolvido sua capacidade de reflexão e criação” (art. 44, II e 47, III), “contribuindo para o desenvolvimento de critérios de leitura crítica dos meios de comunicação social”(art.36, V).

Esse documento legal traz para o ensino não somente a estrutura curricular a ser trabalhada pela escola, como também garante o desenvolvimento de critérios de leitura crítica dos meios de comunicação e prevê uma “iniciação tecnológica no campo da comunicação”. Diante da meta estabelecida em lei de “(...) formar cidadãos com capacidade de discernimento, com critérios, em condições de fazer a leitura crítica do mundo e, em decorrência, que forme cidadãos capazes de intervir socialmente”, Soares (2000, p. 22) constata que o trabalho com as mídias exige uma nova forma de relação com o ensino. Para esse autor, não se pode mais pensar apenas no manuseio dos equipamentos, mas fundamentalmente na análise dos conteúdos veiculados e nos formatos comunicacionais veiculados e impostos para a sociedade.

O artigo 36 da LDB estabelece que é a partir do aparato tecnológico que a leitura crítica desses meios deverá acontecer. Os conteúdos curriculares e os recursos didáticos devem explorar os instrumentos comunicacionais de rádio, jornal, vídeo, etc. como objetos de aprendizagens e não voltar-se apenas para o estudo de sua linguagem ou meramente um recurso tecnológico para favorecer o ensino dos alunos. Esta nova maneira de lidar com a mídia “(...) reconhece oficialmente que o ensino básico deve se preocupar com as mensagens produzidas pela indústria cultural estabelecendo novos diálogos dentro ensino- aprendizagem” (SOARES, 2000, p.24).

No documento VÂNIA APARECIDA RIBEIRO DOS SANTOS (páginas 59-64)