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PARTE I – A sociedade do conhecimento na era da globalização

3.1. A escola e o conhecimento

O modo como aprendemos sofreu alterações profundas nas duas ultimas décadas – as nossas fontes de informação, o modo como interagimos e trocamos informação e o modo como somos informados e moldados por essa mesma informação alterou-se. No entanto, nas nossas escolas, o modo como ensinamos, os locais onde ensinamos, as pessoas que ensinam e quem administra, pouco ou nenhuma alteração sofreu. Esta visão da escola quase estática no tempo e alheia às evoluções que se foram operando em todo o tecido social é partilhada por Davidson & Goldberg (2009) para quem “the

fundamental aspects of learning institutions remain remarkably familiar and have done so for something like two hundred years or more” (Davidson & Goldberg, 2009:27).

Em meados do séc. XX, a educação passa a ser motivo de reflexão por parte de membros destacados da sociedade, reconhecendo-se a importância vital da escola no desenvolvimento e evolução da sociedade. Com o fim da 2ª Guerra Mundial, entra-se num período de expansão e desenvolvimento, que requer uma mão de obra cada vez mais especializada passando a ser mais comum a opção por estudos específicos em determinadas áreas tanto no ensino secundário como no ensino superior. A educação e a formação dos cidadãos passa a ser ela própria um investimento na capacidade de produção e aumento da riqueza cultural de uma determinada sociedade, contribuindo desta forma para a evolução e sustentabilidade da mesma.

Com a evolução das tecnologias, o papel da escola na formação e especialização dos seus cidadãos incrementa o seu papel no aumento do capital humano de uma determinada sociedade. A tecnologia e o conhecimento passam a ser considerados os motores da produtividade e do crescimento económico. Nessa perspetiva, organizações como a OCDE começam cedo a privilegiar um investimento na investigação científica e desenvolvimento e ainda na educação e formação (OECD, 1996).

Numa sociedade que passou a estar em constante mudança e evolução, cabe à escola o papel de preparar os indivíduos no desenvolvimento de competências que lhes permitam responder de modo eficaz aos desafios com os quais se vão deparando ao longo da vida. Espera-se assim da escola que se estabeleça como um recurso

fundamental na criação de condições que fomente nos aprendentes o gosto pela aprendizagem, orientando-os no caminho do sucesso e criando-lhes condições para continuarem o seu percurso de aprendizagem ao longo da vida, por forma a que estes possam dar resposta aos desafios da sociedade em termos de competitividade, inovação, competência e criatividade.

A gestão do conhecimento deverá assim ultrapassar o ensino dito tradicional, veiculando o conhecimento estabelecido através da mera exposição de conteúdos independentemente das ferramentas tecnológicas que sejam utilizadas para tal processo (videoprojetores, apresentações, quadro negro ou recurso a papel e caneta). O seu alcance deverá ultrapassar metodologias que, mesmo envolvendo uma maior participação dos aprendentes, não se limitam ao tratamento do conhecimento estabelecido dando lugar a uma participação crítica e criativa dos aprendentes num ambiente de aprendizagem colaborativa.

Para Davidson & Goldberg (2009), a aprendizagem colaborativa é benéfica independentemente da classe social, cultura, raça e religião do aprendente. Na sua perspetiva, these new modes of distributed, collaborative engagement are likely both to

attract a broad range of motivated learning across conventional social divisions and to inspire new forms of knowledge and product creation (Davidson & Goldberg, 2009 :38).

Como já foi referido anteriormente, as mudanças operadas nas escolas são poucas. O espaço de sala de aula de hoje é ainda uma versão atualizada da sala de aula dos finais do século XIX. Não é pelo facto de serem introduzidas novas tecnologias nesse espaço de aprendizagem que as alterações metodológicas também se renovam por simpatia. As nossas instituições mudaram muito menos e muito mais lentamente do que “the modes of inventive, collaborative, participatory learning offered by the Internet

and an array of contemporary mobile technologies” (Davidson & Goldberg, 2009 :27).

Hoje cada vez mais a aprendizagem deve assentar em metodologias diversificadas que envolvam colaboração com colegas que em conjunto executam tarefas no sentido de realizar projetos. Com o volume de informação disponível e o acesso ubíquo a fontes de informação e recursos, as estratégias de aprendizagem passam por deixar de estar focalizadas na informação em si para passarem a dar relevância à capacidade de seriar informação fidedigna ou não e a memorização dá lugar à capacidade de encontrar fontes fidedignas. No fundo, trata-se de efetuar uma mudança que centra a aprendizagem no processo e não no conteúdo.

com toda uma panóplia de tecnologias (computadores, vídeo projetores, quadros interativos, ligação à internet) através de programas do ministério da Educação. Mas para além disso o que mudou na sala de aula? Continuamos a ter docentes que tentam desesperadamente manter os modos tradicionais de aprendizagem cuja forma, conteúdo e avaliação se baseia em modos desatualizados de aprender?

Os indivíduos que aprendem em situações de colaboração com os seus pares demonstram menos interesse e motivação quando confrontados com uma forma de ensino mais conservadora, muito devido ao facto da metodologia tender a ser mais passiva, baseada em situações de exposição de conteúdos e assumindo quase sempre um sentido unidirecional de professor – estudante.

Somos a crer que as instituições devem ter um papel primordial no estimular da imaginação e criatividade dos aprendentes, aproveitando os seus interesses e aptidões para porem em prática formas sensatas e rigorosas de partilha de conhecimentos.

A escola enfrenta a desafio de ter de proceder a uma constante atualização, adaptando-se às necessidades de uma sociedade em constante mutação, promovendo novas formas de aprender que estejam em sintonia com a crescente complexidade social, estimulando a multiculturalidade num mundo cada vez mais globalizado, caracterizado pela incerteza e pela cultura mediática. Falhar este processo implica não acompanhar o desenvolvimento tecnológico, tornando-se deste modo incapaz de proporcionar aos seus aprendentes a possibilidade de adquirirem as competências essenciais para se tornarem cidadãos prontos para entrar na vida ativa. Para que tal aconteça é necessário criar condições de acesso à informação que se tornou essencial para as tomadas de decisões ampliando todo um conjunto de possibilidades de aprendizagem. No entanto, essa informação não está confinada aos elementos existentes na sala de aula, os manuais e à experiência e conhecimentos dos professores. A sala de aula é, contrariamente ao que seria expectável, muitas das vezes o espaço onde é mais difícil aceder à informação apesar do seu acesso ser cada vez mais ubíquo. Como tal grande parte da informação não circula na sala de aula, mas em toda uma série de outros meios aos quais os aprendentes têm acesso e com os quais estão em constante interação.

Com o “information overload” torna-se cada vez mais difícil selecionar, gerir e aplicar essa informação transformando-a em conhecimento. É a estes novos desafios que o

sistema educativo tem de dar resposta, exigindo uma atitude diferente por parte dos seus sujeitos num sistema que tem uma lógica própria com base na capacidade de transformar a informação numa linguagem comum, processando-a em velocidade cada vez maior e com uma frequência de novos conhecimentos que vão sucessivamente transformando os anteriores. Todo este processo acaba por questionar o conhecimento e o modo como este é transmitido e concebido pela escola tradicional.

Todo este processo, inerente à gestão da informação, pressupõe uma mudança de paradigma educacional no qual o professor como mediador, num ambiente de aprendizagem colaborativa, faz com que os aprendentes detenham um papel ativo na construção da sua aprendizagem.

Os aspetos referidos adquirem ainda mais relevância quando sabemos que diversos estudos consideram haver vantagens na introdução das tecnologias em contexto escolar (Lee & Wienzenried, 2009; BECTA, 2007; Miller, Glover & Averis, 2005; Betcher & Lee, 2009), dado que estas fazem parte do quotidiano do estudante e permitindo que este se sinta mais familiarizado com o ambiente da sala de aula. Isso implica que aquele se envolve mais nas várias tarefas a realizar. Por conseguinte, a variedade de recursos à disposição do estudante aumenta, deixando o professor de ser o único polo retransmissor de conhecimentos. O professor passa a ser neste ambiente de aprendizagem mais um orientador, um “coach” das aprendizagens dos estudantes, capaz de gerir discursos e práticas diversificadas de aprendizagens. Assim o estudante passa de mero recetáculo de informação para se tornar um elemento ativo e participativo no seu próprio processo de aprendizagem.

A adoção de ferramentas e recursos por parte da escola, numa tentativa de dar resposta a esta nova realidade, exige uma capacidade de adaptação que ofereça a possibilidade a todos de construir e tirar partido dos novos conhecimentos.

A escola deve assumir-se como polo de convergência de aprendentes de níveis culturais e socioeconómicos diferenciadas e de proveniências heterogéneas, constituindo-se como espaço de aprendizagem aberto e de ensino vocacionado para a construção de conhecimento.

O conceito de construção de conhecimento não se refere apenas aos aprendentes desenvolverem competências de construção de conhecimento, mas também a de iniciação a um principio de criação de cultura, de modo a que considerem o seu

trabalho e si próprios como parte integrante do esforço coletivo de avanço civilizacional na construção de cultura e o fazer em sala de aula parte desse esforço. (Scardamalia & Bereiter, 2007).

Neste contexto, ferramentas como a internet tornam-se mais do que apenas uma biblioteca à qual vamos procurar conhecimentos ou um meio rápido de troca de correspondência. Torna-se num potente dispositivo que permite uma ligação dos aprendentes com todo um manancial de conhecimento civilizacional e permitindo que o seu trabalho em sala de aula passe a fazer parte efetiva de todo um conjunto coletivo de conhecimento. Somos a crer que num contexto em que o conhecimento é valorizado os aprendentes não deveriam ser “honored for what is in their minds but for the contributions they make to the organization’s or the community’s knowledge” (Scardamalia & Bereiter, 2007: s/p).

Torna-se assim imperativo repensar a escola e o modo como esta deve integrar-se na sociedade do conhecimento, repensando caminhos e estratégias orientados pelo princípio de que a tecnologia aliada às várias opções metodológicas podem proporcionar aprendizagens que se revelarão verdadeiramente úteis aos aprendentes e valiosas no seu percurso de construção individual e coletiva do saber.