• Nenhum resultado encontrado

PARTE II – Projetos e tecnologia: os quadros interativos (QI)

7.2. Interatividade e interação

A forma como nos relacionamos com o que nos rodeia e o modo como comunicamos e interagimos com os nossos semelhantes sofreu alterações com a evolução das tecnologias. Essa alteração também influenciam o modo como passámos a aprender. A investigação realizada nos últimos anos revela que as tecnologias digitais vieram alterar qualitativamente a relação entre as pessoas e o conhecimento (Bidarra, Guimarães & Kommers, 2004 citados por Bidarra, 2009 :359). Segundo Bidarra (2009). Os modelos de aprendizagem multimédia estimulam os aprendentes a ter curiosidade e ganhar interesse por uma matéria. Neste ambiente, os aprendentes estão em pleno controlo da situação de aprendizagem, conseguindo-se vantagens estratégicas relevantes que estão de acordo com a teoria construtivista da aprendizagem. Esta motivação é aumentada quando os aprendentes estão inseridos num ambiente de aprendizagem interativo (McLellan, 1992 citado por Bidarra, 2009). Nas investigações relacionadas com os quadros interativos, os conceitos de interação, interativo e interatividade são noções frequentes. Apesar do seu uso comum, a interpretações ainda geram controvérsias, dado que vários autores lhes atribuem significados diferentes. No entanto, o recurso frequente a estes conceitos está ligado ao surgimento e desenvolvimento das tecnologias, apesar de noções como “interação” ou “interatividade” não serem conceitos exclusivos criado com as tecnologias. Estes já existiam desde que o ser humano se relacionou com o mundo e com os seus semelhantes. O conceito ganhou, no entanto, mais enfoque com o surgimento das tecnologias e a possibilidade de desencadear uma ação através de um toque ou click sobre um qualquer ícone ou superfície.

Apesar de se tratar de conceitos controversos e de, por isso mesmo, carecerem de uma discussão mais aprofundada, a nossa investigação não pretende ser um contributo para a definição dos conceitos num sentido mais amplo. Pretendemos apenas focar o nosso estudo para os conceitos de interatividade, interativo e interação e de como o seu papel pode ser analisado num contexto de ensino e aprendizagem, mais especificamente, o modo como o quadro interativo influencia todo um conjunto de atividades na sala de aula, tanto por parte dos docentes como aprendentes, cujo objetivo é promover aprendizagens.

Na investigação que tem como objeto de estudo os quadros interativos, é comum a dedicação de parte do trabalho à exploração dos conceitos relacionados com a

interatividade. Consequentemente questiona-se se de facto o quadro é interativo e

se este ao mesmo tempo leva a um aumento da interatividade na sala de aula. De que modo afeta a interação entre docente e aprendente? Que oportunidades são proporcionadas aos aprendentes para estes interagirem entre si? (Deaney, Chapman and Hennessey 2009, citados por Bannister, 2010) Ou ainda se é o quadro que é

interativo ou se esta interatividade está dependente do modo como o docente usa o

quadro interativo nas suas estratégias de ensino (Shenton & Pagett, 2007).

Na opinião destes investigadores, se o docente recorre à tecnologia do quadro interativo para fazer apresentações usando um qualquer software ou recursos da internet, as suas aulas tornam-se automaticamente mais interativas. Por outro lado, autores como Knight, Pennant & Piggot (2004) defendem que a interatividade se refere às metodologias usadas pelo docente durante a aula e não por aquilo que é apresentado pelo quadro interativo.

Apesar das divergentes conceções que a palavra pode encerrar, concordamos com Knight et al (2004), segundo os quais é necessário distinguir entre interatividade pedagógica (interações professor-aprendente assim como as interações dos estudantes com os seus pares) e interatividade técnica (interação física com o quadro). Enquanto que a primeira se refere aos vários momentos da aula, nos quais há uma comunicação entre professor-aprendente ou aprendente-aprendente, a segunda apenas se refere a ações que, com o recurso a uma caneta ou dedo, permitem desencadear ações no quadro. A interatividade pedagógica ou interação39 é ainda definida de modo mais específico por alguns autores, fazendo a diferenciação entre as interações professor-aprendente, nas quais the “students contributions are

encouraged, expected and extended" (Kennewell, Tanner, Jones, & Beauchamp,

2008, : 62), e por outro lado a interação entre os aprendentes que promove engaging

students, student practical and active involvement, collaborative activity, and conveying knowledge" (Wood & Ashfield, 2008, :86).

Estas duas perspetivas de interação estão na mesma linha de orientação do que é defendido por Kennewell et al (2007). Na sua perspetiva, a interação que se promove numa sala de aula com um quadro interativo pode definir-se a partir de duas formas

39 Por uma questão de uniformização de conceitos passamos a referir-nos à interatividade pedagógica apenas por interação na linha do que é defendido por Kennewell et al (2007) para quem o interactive teaching has become a meaningless term, with ‘interaction’ covering the whole range of classroom discourse moves ( pg. 63).

distintas: interação superficial e interação profunda40. A interação superficial tem como objetivo levar os aprendentes a empenharem-se, promover o envolvimento prático e ativo, participação alargada dos aprendentes, atividades colaborativas e transmissão de conhecimentos. As formas de interação profunda têm como objetivo a avaliação e a ampliação de conhecimentos, reciprocidade e construção de sentido, a atenção nas competências de pensamento e aprendizagem assim como a atenção nas competências e necessidades sociais e emocionais dos aprendentes (Kennewell et al, 2007 :63).

Ambas as definições de interação aqui propostas são essenciais numa perspetiva sócio-construtivista da aprendizagem por fomentarem o desenvolvimento das aprendizagens dos estudantes, através de uma participação profunda dos aprendentes e permitindo um certo controlo por parte dos aprendentes, que é considerado importante para a compreensão de conceitos e o desenvolvimento de competências (Kennewell et al, 2008).

Para Beauchamp and Parkinson (2005), a mais-valia dos quadros interativos, como ferramentas de mediação de aprendizagens, reside na combinação da interação com a interatividade técnica em conjunto com a forma como a aula é lecionada. As estratégias, às quais recorre o docente, têm um papel fundamental na importância das interações fomentadas através da tecnologia do quadro interativo. Enquanto que a interatividade técnica pode estimular a prática de competências, a interação suporta processos cognitivos e reflexões sobre o processo de aprendizagem (Kennewell et al., 2008).

A interação é igualmente um fator significativo que atua igualmente como suporte à motivação e interesse dos aprendentes (Glover et al., 2005; Higgins et al., 2007; Smith et al., 2005). No entanto, é do nosso conhecimento que os quadros interativos nem sempre são usados de modo interativo e podem acabar por reforçar um ensino centrado no docente (Higgins et al., 2007). Como já foi referido anteriormente, o quadro interativo pode facilmente ocupar o lugar de um quadro tradicional. No entanto, quando este é usado para copiar metodologias tradicionais, o valor do quadro interativo fica reduzido ao de um computador ligado a um projetor. Acontece que para alguns docentes o que importa mais é a apresentação multimédia de conteúdos e não a interatividade, valorizando ainda o facto de poderem estar a debitar conteúdos

para a turma. Num contexto de ensino e aprendizagem desta natureza não podemos falar de interatividade ou mesmo de interação. Esta tem de se verificar entre docentes e aprendentes, aprendentes e aprendentes e ainda entre docentes e docentes (Glover

et al., 2005). Verifica-se por parte dos docentes uma tendência para dominar as aulas

com quadro interativo promovendo interação com toda a turma, mas não permitindo que os aprendentes interajam com o mesmo (Schuck & Kearney, 2007).

A aprendizagem interativa, que é defendida tanto pelo cognitivismo social como pelo construtivismo, também requer novas abordagens metodológicas, nomeadamente aquelas que envolvem os aprendentes de forma dinâmica nas atividades de sala de aula. Ao incorporarem uma variedade de estratégias educativas, desde o recurso à escrita, à leitura, aos elementos visuais e à manipulação de conceitos, os quadros interativos assumem uma importância significativa na interatividade do aprendente em contexto de sala de aula. Com o repensar de metodologias, acompanhadas por uma planificação eficiente e flexível, será possível aos docentes lecionarem com recurso ao quadro interativo, promovendo interações docente-aprendente num contexto de ensino grupo/turma.

7.3.   O   quadro   interativo   como   suporte   a   uma   metodologia   de   ensino   e