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O quadro interativo como suporte a uma metodologia de ensino e

PARTE II – Projetos e tecnologia: os quadros interativos (QI)

7.3. O quadro interativo como suporte a uma metodologia de ensino e

O simples facto de uma sala de aula estar dotada de um quadro interativo e do docente ter plena acesso ao mesmo não pressupõe que esta ferramenta seja utilizada de forma interativa (Levy, 2002; Kennewell, 2004; citados por Sessoms, 2008). A investigação diz-nos que ter acesso a um quadro interativo numa sala de aula não altera por si só o modelo pedagógico do docente.

Sabemos que a pedagogia tradicional se baseia num modelo que não tem por base qualquer modelo interativo. Por esse motivo, ao ter acesso a um quadro interativo, a situação mais comum será a do docente usar as ferramentas tecnológicas como suporte a essa pedagogia tradicional em vez de optar por uma pedagogia interativa. O modelo tradicional de ensino baseia-se numa abordagem centrada no docente. No entanto, com a introdução destas novas tecnologias na sala de aula, existem condições para que esta abordagem centrada no docente se converta numa abordagem centrada no estudante (Sessoms, 2008).

Numa metodologia de ensino centrada no estudante, a aprendizagem e ensino interativos mediados pela tecnologia fomentam a participação ativa de docentes e aprendentes. Para Barber et al. (2007), um docente que passa a partilhar o acesso ao quadro interativo com os aprendentes aumenta o seu envolvimento na aula. Esse envolvimento e a qualidade das aprendizagens serão tanto mais eficientes quanto essa partilha de poder é acompanhada com um questionamento sofisticado. Com este tipo de medidas ou opções pedagógicas, o potencial de interação acaba por aumentar, dado que para que esta situação se concretize, o docente deixa de estar no centro da aula, permitindo que sejam os aprendentes to model or peer-teach concepts, (that)

promotes a highly effective learning environment (Barber et al., 2007 :46). O quadro

interativo revela-se deste modo como uma ferramenta, que para além de poder funcionar como agragadora de conteúdos e apresentar conteúdos através dos vários

media, pode fomentar abordagens metodológicas que envolvem mais o aprendente.

Através das características e funcionalidades únicas, o quadro permite o uso em situações que permitem incrementar de forma significativa a comunicação e interação na sala de aula, tirando partido do facto dos docentes se sentirem seduzidos pela capacidade que o quadro interativo revela em capturar a atenção dos aprendentes (Zevenbergen & Lerman, 2008: 124).

Esta mudança nas metodologias, por influência do quadro interativo, nem sempre se verifica e as conclusões das investigações não são consensuais. Enquanto que por uma lado é reconhecido ao quadro interativo o potencial de provocar mudanças nas interações e nas metodologias de ensino, existem casos de investigação em que foi observado o contrário. De acordo com Smith, Hardman & Higgins (2006), citados por Zevenbergen & Lerman (2008), o quadro leva a que o ritmo da aula seja mais rápido e que o tempo dedicado ao trabalho em grupo seja reduzido. Para além disso, existe uma tendência para os docentes assumirem uma posição de controlo em frente à turma sempre que recorrem ao quadro interativo. No entanto, outros autores (Latane, 2002 e Jones & Tanner, 2002; citados por Zevenbergen & Lerman, 2008) referem que, como forma de promover uma abordagem centrada no estudante, tem de caminhar-se de uma interação docente-aprendente para uma interação aprendente-aprendente na sala de aula. Na sua opinião é possível melhorar as interações através de um questionamento de qualidade. Ou seja, a qualidade e a profundidade das questões tem de ser desenvolvida para assegurar interatividade nas aulas quando se recorre ao quadro interativo.

O incremento no ritmo das aulas num contexto grupo/turma não é necessariamente perspetivado de forma negativa. Wood & Ashfield (2007) concluíram que, dependendo das competências e experiência do docente, o recurso ao quadro pode aumentar o ritmo da aula. No entanto, esta situação é justificada pelo facto de os docentes não terem de passar tanto tempo a escrever no quadro ou a apagar informação. Num outro estudo, Zevenbergen & Lerman (2008) verificaram igualmente um incremento no ritmo da aula. Todavia esse incremento era acompanhado de mais situações de interação no grupo/turma. Na sua perspetiva, as aulas observadas eram tendencialmente centradas no docente e promoviam aprendizagens superficiais. Esta perspetiva também é consistente com as ideias defendidas por Cutrim Schmid (2008) para quem os quadros melhoram a quantidade de interações na sala de aula, mas esse aumento de quantidade não tem necessariamente um impacto qualitativo.

As divergências verificadas/apresentadas por vários investigadores, que sugerem situações de ensino e aprendizagem centradas no estudante e noutros casos centradas no docente, podem ter na sua origem o facto de nem todos os docentes estarem no mesmo nível de interatividade/interação que é defendido por Miller et al. (2005). Este investigador refere, num relatório para a BECTA, que o docente passa de um modo geral por três fases na sua familiarização/adequação ao quadro interativo41:

1. Supported didactic: Nesta fase o docente faz algum uso do quadro interativo, mas apenas como suporte visual à aula e não como uma ferramenta que promove um desenvolvimento conceptual. Existe pouca ou nenhuma interatividade, envolvimento dos aprendentes ou discussão.

2. Interactive: O docente faz algum uso do potencial do quadro interativo para estimular respostas dos estudantes e para demonstrar conceitos. Os conteúdos da aula são usados para desafiar os estudantes a pensar através do recurso a uma variedade de estímulos verbais, visuais e estéticos. Nesta fase, o quadro interativo está integrado no processo de aprendizagem e ensino. São desenvolvidos mais materiais e é evidente uma utilização mais variada de software durante as aulas.

3. Enhanced interactive: Esta abordagem é um desenvolvimento da fase anterior e é marcada por uma alteração nas atitudes do docente, que nesta fase pretende usar a tecnologia como parte integrante das suas aulas. Tem

como objetivo integrar um desenvolvimento conceptual e cognitivo por forma a explorar as características interativas da tecnologia. Estes docentes dominam as técnicas no seu uso e estrutura e planificam as aulas de modo a promover situações que promovem uma aprendizagem ativa, seja individualmente, aos pares ou em grupo. O quadro interativo passa a ser sinónimo de discussão, explicação de processos e de desenvolvimento de hipóteses ou estruturas. O docente recorre a uma variedade de recursos próprios, da internet e do software específico do quadro.

Os níveis de interação que se verificam numa sala de aula equipada com quadro interativo também exercem influência sobre os efeitos que o quadro tem na motivação, atenção e comportamento dos aprendentes. Glover et al (2005) relata que, na fase de

enhanced interactivity, os problemas de comportamento podem ser facilmente

resolvidos. Nos casos em que os próprios estudantes interagem com o quadro, os níveis de motivação e atenção também são incrementados. Segundo Glover et al. (2007) existem referências ao facto de nos ensinos básico e secundário, o recurso ao quadro interativo promover o interesse dos estudantes e níveis mais elevados de concentração. Este facto pode estar relacionado com a vertente multimédia do quadro interativo, o que torna as apresentações visualmente mais estimulantes(Hall & Higgins,2005; Slay et al., 2008). Esta atração visual é tida como uma das características do quadro, que contribui para a motivação (Smith et al., 2006). Segundo Schuck & Kearney (2007), o efeito motivacional do quadro interativo poderá estar ligado ao facto de este ter dado lugar a uma renovação tecnológica da sala de aula, aumentando o entusiasmo em ensinar por parte do docente, mas também aumentando os níveis de motivação por parte dos aprendentes.

No entanto, com o quadro a deixar de ser novidade na sala de aula, os efeitos motivacionais têm também eles tendência a decrescer. No entanto, a motivação continua a ser um fator necessário para manter bons níveis de aprendizagem. Mas neste, como noutros aspetos necessários a um ensino de qualidade, somos a crer que o papel do docente é o mais importante, dependendo a motivação muito da qualidade de ensino por este proporcionada. Estamos certos de que esta situação se aplica de igual modo quando falamos de interação ou interatividade. As ferramentas e os recursos, por mais qualidade ou tecnologicamente avançados que sejam, não fomentam a interatividade ou interação, nem proporcionam aprendizagens de

qualidade. O seu sucesso está dependente das competências, da motivação do docente e da sua capacidade em criar situações de ensino e aprendizagem em que a tecnologia é apenas uma ferramenta para interagir com o grupo/turma, deixar que o grupo/turma interaja entre si, desenvolvendo em conjunto novas estratégias de ensino e aprendizagem (Beauchamp & Parkinson, 2005).