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A escola Freinet estudada: história, organização e relações estabelecidas

No documento O ensino de ciências em escolas alternativas (páginas 153-162)

4 REFLEXÕES SOBRE AS ESCOLAS NO BRASIL

NOME DO CURSO HORÁRIOS DE FUNCIONAMENTO DOS CURSOS

6.3 Escola Freinet

6.3.1 A escola Freinet estudada: história, organização e relações estabelecidas

De acordo com a diretora FD, a história dessa escola se divide em cinco grandes momentos: de 1978 a 1983; de 1984 a 1985; de 1986 a 1991; de 1992 a 1996; e de 1997 aos dias atuais. O período inicial da escola, de 1978 a 1983, foi caracterizado pela edificação da mesma, a qual emerge através da ação de pais de estudantes e de professores, os quais se unem e, em uma chácara, montam a presente escola com o intuito de desenvolver nesse espaço uma educação mais saudável e instigante para suas crianças (Site escola Freinet, 2019).

O processo inicial de constituição da escola contou com o desenvolvimento de princípios da cooperação, autonomia e do modo de vida integrado à natureza. Partindo desses princípios, pais e professores em Associação sem fins lucrativos passaram a pesquisar pedagogias que abrangiam seus objetivos, chegando à pedagogia Freinet. Os estudos da Associação sobre as obras de Freinet se aprofundaram, porém, as relações entre os membros da Associação já não eram as mesmas, levando a problemas na organização da escola como demonstra relato presente no excerto a seguir:

“A organização da escola naquele momento seguia o modelo de uma Cooperativa e tinha dois conselhos que administravam o dia a dia da escola – o Conselho Administrativo (formado por cinco pais e quatro professores) e o Conselho Pedagógico (formado pela equipe de professores). Havia ainda o Conselho Fiscal formado por três pais. Estes conselhos estavam submetidos às decisões tomadas nas Assembleias Gerais. Esta forma de organização levou a muitos problemas e as Assembleias que deveriam ser anuais acabavam sendo convocadas extraordinariamente muitas vezes. O desgaste nas relações entre a equipe de professores e os pais fazia com que a Escola não conseguisse se firmar. Perdia-se muito aluno e tornava-se necessário começar de novo. Esse processo culminou com uma transformação nos Estatutos, passando a serem associados somente aqueles que trabalhavam efetivamente na escola e não mais os pais (que eram os clientes). Esta ruptura teve o apoio de um grupo de pais e no ano de 1983 foi tomada a decisão de fazer a mudança de endereço da escola.” (Site Escola Freinet, 2019).

Dessa forma, permanecendo na Associação mantenedora apenas professores, funcionários e gestores atuantes, no ano de 1984 ela começa sua nova etapa em um novo endereço. Tal associação segue com os mesmos princípios pautados na Pedagogia Freinet, enfrentando novos

desafios nos períodos que se sucedem. Sendo que, entre os anos de 1986 a 1991, a escola se desenvolve com base na pesquisa pedagógica, enfrentando o desafio da formação de professores ingressantes na escola, que deveriam se adaptar à abordagem freinetiana, até então, pouco conhecida por eles.

A escola segue investindo nessa formação, porém, ainda possui em sua Associação professores que atuam além da sala de aula, exercendo também funções administrativas, financeiras e/ou de coordenação. Assim, de 1992 a 1996, a escola busca, além de permanecer desenvolvendo os princípios freinetianos em sua prática, enfrentar o desafio das questões empregatícias trazidas à época (Site escola Freinet, 2019). No período iniciado em 1997 a escola, buscando solucionar os problemas empregatícios e a contradição de uma escola sem fins lucrativos ainda ser pautada na cobrança de mensalidades, deixa de ser uma Associação sem fins lucrativos e passa a possuir uma nova mantenedora. Além disso, nesse ano, a chácara alugada por ela também é pedida por seu proprietário, tornando necessária a busca por um novo local para a instalação escolar.

Tendo em vista tal contexto, a época final de crescimento e o desenvolvimento da presente escola são descritos no excerto a seguir:

“Havia ainda outro problema além das questões empregatícias: a Associação Educacional da escola era uma entidade sem fins lucrativos, aquilo que hoje chamamos ONG. Porém isto gerava uma contradição, pois ao mesmo tempo tratava-se de uma escola particular, ou seja, cobrando mensalidade dos alunos. Isto dificultava a obtenção de recursos de tipo filantrópico (escola privada) ou recursos de empréstimos bancários uma vez que os bancos não viam em nosso empreendimento a segurança necessária para pagamento de dívida eventualmente contraída. Além disso, a chácara onde estávamos instalados foi pedida pelo seu proprietário, que tencionava vendê-la para empreendimento imobiliário. Assim, em 1997 iniciamos um processo de fechamento da Associação Educacional e abertura de uma Sociedade que se transformou na atual mantenedora da Escola Freinet.” (Site Escola Freinet, 2019).

Assim sendo, já com uma nova mantenedora, a escola recebe novos investimentos que possibilitam sua instalação em uma nova chácara no ano de 1998, onde permanecem funcionando até os dias atuais. “Situada em um bairro de classe média, em uma chácara de 3500 m2, a escola conta atualmente com uma infraestrutura ampla, contendo além de salas de aula, áreas verdes com árvores, canteiros, cantinhos para brincar, sentar e conversar e espaços abertos com artes das

crianças e adolescentes.” (PPP - Escola Freinet, 2018). A infraestrutura da escola pode ser mais bem observada na imagem de satélite a seguir:

Figura 4 – Escola Freinet vista de cima por imagem via satélite.

Fonte: Google Maps, 2019.

Legenda: 1- Prédio da secretaria, coordenação e direção; 2- Caminho da Floresta (área verde aberta); 3- Prédio com salas de aula do Ensino Fundamental e Educação Infantil; 4 – Pavilhão de apresentações; 5- Quadra esportiva.

Além dos espaços identificados na imagem, a escola conta outros espaços de uso coletivo como pátios, parque, biblioteca, sala de informática, sala de música, refeitório e terraço para o projeto “Clube do Galho Verde” (PPP - Escola Freinet, 2018). Todos esses espaços puderam ser visitados e vivenciados durante as observações de aula e durante o curso de Formação Continuada12 sobre Pedagogia Freinet, o qual tivemos a oportunidade de participar em abril de 2018.

Em nossas vivências notamos um amplo uso dos espaços externos e coletivos por professores e estudantes, sendo o cuidado e a interação com a infraestrutura do colégio também presente no PPP da escola, como podemos ver no trecho a seguir:

“Tudo isso faz parte de uma visão de como deve ser o lugar onde nossos estudantes passam boa parte de seu tempo. Nossa escola não tem corredores cinzas, as árvores devem ser tocadas, amadas e até escaladas. Nessa escola a natureza não é um conceito abstrato, é uma presença. Todo o espaço da escola foi

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Os cursos de Formação Continuada são oferecidos periodicamente, com a duração de um dia, sobre a proposta de educação de Célestin Freinet. A escola, com quase 40 anos de história, faz uma reflexão crítica sobre os modelos tradicionais de ensino e apresenta os eixos fundamentais que apoiam o trabalho do professor freinetiano. Durante o curso também são promovidas atividades práticas que permitam uma reflexão sobre o fazer pedagógico (Diário de Bordo – Escola Freinet, 2018; Site Escola Freinet, 2019).

Os cursos são realizados na própria escola, apenas duas vezes ao ano, e a participação pode ser uma oportunidade para educadores fazerem estágio em áreas diversas, dentro da escola (Site Escola Freinet, 2019).

projetado para garantir a acessibilidade de todos os alunos a todos os espaços.” (PPP - Escola Freinet, 2018)

Possuindo essa estrutura ampla e diferenciada a escola oferece, atualmente, os cursos de educação básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental anos iniciais e Ensino Fundamental anos finais, conforme organização ilustrada no Quadro 11.

Quadro 11 – Organização dos níveis de ensino ofertados na escola Freinet.

Curso Período Educação Infantil (Maternal e Pré-escola) Turno 1: das 7:45h às 12:45h Turno 2: das 13:15h às 17:45h Ensino Fundamental (Ciclo I: 1º ao 5º ano) Turno 1: das 7:45h às 12:45h Turno 2: das 13:15h às 17:45h Ensino Fundamental (Ciclo II: 6º ao 9º ano)

Turno 1: das 7:45h às 12:45h Turno 2: das 13:15h às 18:05h Fonte: PPP - Escola Freinet, 2018

Além disso, é oferecido às crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental anos iniciais, de modo opcional, um curso de Período Integral no contraturno das aulas regulares, assim como um curso de férias em janeiro e julho.

As aulas regulares semanais são divididas em períodos de 45 minutos e são ministradas por professores polivalentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental e por professores especialistas nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Além disso, há semanas temáticas que ocorrem ocasionalmente, ao final ou início de cada semestre, ou ainda em datas comemorativas presentes no calendário escolar. Durante a semana temática são desenvolvidos projetos ou ateliês, e nelas as aulas regulares podem ser substituídas por ateliês e/ou pelo desenvolvimento de projetos em parte do dia, como podemos observar na organização de aulas semanais exposta no quadro 12.

Quadro 12 – Organização semanal de aulas na escola Freinet.

Semana Regular Semana Temática

Opção 1 Opção 2

1ª aula (Disciplina curricular) Ateliês ou Projetos 1ª aula (Disciplina curricular) 2ª aula (Disciplina curricular) 2ª aula (Disciplina curricular) 3ª aula (Disciplina curricular) 3ª aula (Disciplina curricular)

Intervalo (20 minutos)

4ª aula (Disciplina curricular) 4ª aula (Disciplina curricular) Ateliês ou Projetos 5ª aula (Disciplina curricular) 5ª aula (Disciplina curricular)

6ª aula (Disciplina curricular) 6ª aula (Disciplina curricular)

Fonte: Diário de Bordo - Escola Freinet, 2019

Como pudemos observar nos quadro, durante as semanas regulares há apenas a divisão de aulas entre as disciplinas curriculares, enquanto nas semanas temáticas parte do dia é dedicado ao desenvolvimento dos ateliês e/ou projetos e outra parte ao desenvolvimento das disciplinas. Os ateliês que acontecem durante as semanas temáticas consistem em espaços de aprendizagem, nos quais os professores elaboram práticas de temas diversos a partir do aprofundamento do interesse do estudante que emerge durante as aulas regulares, durante as aulas-passeio ou rodas de conversa desenvolvidas pela escola. De acordo com o PPP da escola Freinet (2018), “nos ateliês as crianças trabalham individualmente ou em grupos, em projetos e atividades diferentes, permitindo que se atenda às diferentes necessidades de cada um”.

Ainda, as vivências advindas da participação no curso de Formação Continuada juntamente com a observação das aulas em um ateliê desenvolvido durante a semana temática nos permitiram perceber que, além das características descritas no PPP da escola, os ateliês diversos são oferecidos aos estudantes de um nível de ensino específico (Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental ou Anos Finais do Fundamental), sem distinção de faixa etária ou ano escolar. Os ateliês, são organizados previamente pelos professores de forma a ser possível oferecer um ateliê diferente em cada dia da semana temática. Tais ateliês têm divulgado seu tema, sua descrição e seus objetivos previamente para os alunos, os quais, após lerem as diferentes propostas devem se inscrever naquele que melhor contemplar seus interesses. Formam-se, assim, turmas de faixas etárias mistas dentro de um mesmo nível de ensino, as quais participarão do ateliê preparado e ministrado por um único professor.

Já na organização de aulas das Semanas Regulares (observada no quadro 12) dos anos iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 5º ano), além das disciplinas clássicas, a partir do 2º ano são incluídas duas aulas, uma vez por semana, do projeto de Educação Ambiental ministrado pelo

professor de Ciências FP2. O projeto organiza-se como uma disciplina semanal, na qual a turma é dividida em dois grupos menores, sendo que um grupo faz as aulas-passeio e realiza as discussões em uma semana e o outro grupo participa das mesmas atividades na semana seguinte. Para o desenvolvimento dessas aulas o professor se embasa no currículo mínimo adotado pela escola, nas orientações advindas dos PCN para essa faixa etária e nas demandas e curiosidades trazidas pelas crianças após os passeios e/ou vivências em aula, como relata FP2 no excerto seguinte.

“O projeto de Educação Ambiental tem espaço na grade horária, como uma disciplina, assim como a de Educação Física, Música e Artes que eles têm no primário com professores especialistas. Então, no nosso caso é de quarta-feira, metade da turma faz em uma semana e a outra metade faz na outra, grupo reduzido pra que eu possa ter maior atenção. (...) Os projetos eles surgem bastante pela demanda. E inclusive tem alguns que... Bom, depois de algum tempo dando aula, eu fui olhando pros Parâmetros Curriculares, pra pegar o conteúdo que a gente tinha que trabalhar em 2º , 3º , 4º e 5º anos....aí eu sempre vou dialogando com as professoras, então... pra sacar o que que tem mais demanda naquele momento e que elas no cotidiano de aula notam.” (Professor FP2)

Para o Ensino Fundamental anos finais (do 6º ao 9º ano), a coordenadora FC relata que além das disciplinas convencionais como Ciências, Geografia, História, Português, Matemática, Artes, Inglês, Espanhol e Educação Física, são incluídas também aulas semanais regulares de uma disciplina que a escola denomina “Projetos”. Tal disciplina é ministrada, nos 6ºs e 7ºs anos pelo professor de Geografia e tem como principal objetivo a elaboração de trabalhos de pesquisa a partir da curiosidade ou das demandas levantadas pelos alunos, enquanto nos 8ºs e 9ºs anos a mesma disciplina é ministrada pelos professores de Geografia em conjunto com o de Educação Física e possui como principal objetivo a produção e elaboração de vídeos com o desenvolvimento de elementos cinematográficos, como podemos observar na descrição feita por FC em entrevista.

“Quem ministra a disciplina Projetos no 6º e 7º ano é o professor de Geografia e eles têm duas (2) aulas semanais para os Projetos. No 8º e no 9º ano é uma aula semanal e são dois professores que ministram essa aula, o de Geografia e o professor de Educação Física, que também tem uma formação bastante ampla e é músico. (...) Então assim, no 6º e no 7º ano ele elabora, assim, esse trabalhinho de pesquisa. Já no 8º e no 9º a gente já parte pra um outro caminho, que é o estudo da imagem... a gente trabalha então o Cinema. Começa com produções de vídeo de 1 minuto, o Minuto Lumiére que a gente fala... que é para entender a linguagem cinematográfica, a linguagem das imagens” (Coordenadora FC).

É importante destacar nesse momento que, por termos limitado o presente estudo às observações do Ensino de Ciências nos anos finais do Ensino Fundamental, não foram feitas observações das aulas do projeto de Educação Ambiental, ministrado para os anos iniciais apenas. Além disso, a disciplina de Projetos ofertada para os anos finais do Ensino Fundamental também não foi observada, uma vez que a mesma não é ministrada pelos professores de Ciências, além de não ter havido disponibilidade da escola e nem da pesquisadora para que tais observações fossem feitas. Assim, nossas observações de aula foram feitas apenas em ateliês e nas disciplinas de Ciências ministradas pelo professor FP2 nos 6ºs e 7ºs ano e pela professora FP1 nos 8ºs e 9ºs anos.

Durante as observações de aulas, além dos ateliês, as observações informais realizadas durante as visitas na escola, os registros em diário de bordo e o próprio PPP escolar nos permitiram identificar o uso de outros instrumentos pedagógicos freinetianos, sendo eles: o plano de trabalho elaborado entre professores e alunos; o Livro da Vida; o texto livre produzido pelos estudante e pregado nos murais da escola; os jornais de parede pregados em todas as salas, com espaço para que as crianças e adolescentes contribuam com suas opiniões e observações a respeito do dia-a- dia escolar (eu critico, eu proponho, eu felicito, eu quero saber13) e a autoavaliação realizada pelos estudantes ao final de todo processo avaliativo. Tais instrumentos, advindos dos estudos das obras de Célestin Freinet, são desenvolvidos de forma a aproximar a prática pedagógica dos objetivos almejados pela escola.

Assim, para melhor compreender a prática pedagógica nessa escola, procuramos os objetivos que a orientam, sendo que, como objetivos gerais de ensino, a instituição estudada apresenta:

“I – Proporcionar condições para a formação integral do aluno nos seus aspectos social, intelectual, físico e emocional, estimulando suas sensibilidades, criatividade, espírito crítico, sua reflexão e autonomia, com vistas a formação do cidadão.

II – Desenvolver os conteúdos específicos de cada área de estudo de forma integrada.

III – Proporcionar condições para que a criança se torne capaz de adquirir e elaborar conhecimentos, enfrentar e resolver problemas; criar e incorporar hábitos e atitudes.

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Ao retomar os estudos de Freinet e sobre Freinet a respeito dos instrumentos pedagógicos destacados em nossa descrição teórica (FREINET, 2001; GONÇALVES; CEZAR; SOUZA, 2014; PAIVA, 1996), notamos que o elemento “eu quero saber” não aparece nos jornais de parede. Sendo assim, compreendemos que tal elemento pode ter sido incluído por esta escola, caracterizando como uma inovação proposta pela mesma.

IV – Desenvolver as habilidades técnicas e procedimentos requeridos para o estudo de cada área do conhecimento.

V – Desenvolver a socialização da criança através do trabalho cooperativo integrando-a à comunidade intra e extraescolar.” (PPP - Escola Freinet, 2018)

De acordo com a diretora FD, tais objetivos, amplos e embasados nos princípios de Freinet para uma formação cidadã e social, orientam não só o desenvolvimento dos instrumentos pedagógicos freinetianos como também o desenvolvimento do currículo escolar. Assim, ao analisar o PPP da escola, encontramos que o currículo possui como eixos fundamentais o trabalho, a cooperação, a autonomia, a livre expressão e a relação de respeito entre professor e aluno (Diário de bordo escola Freinet, 2018). Ainda, quando questionada em entrevista sobre a organização curricular dos componentes das diferentes áreas, FD responde o seguinte:

“Mas como é que a gente trabalha? O currículo está definido ou não está definido? As duas coisas, o currículo está definido com uma grade de conteúdo, mas ao mesmo tempo existe esse trabalho de sempre fomentar a pergunta da criança, fomentar a “perguntação”. Um exemplo bom é no 8º ano, são feitas perguntas e a partir de perguntas eles fazem pesquisa, buscam informações, fazem experimentos, constituindo um projetinho de pesquisa. Mas... o professor sabe também onde quer chegar, não fica uma coisa solta.” (Diretora FD).

Assim, de acordo com a diretora FD, apesar de todo o conteúdo programático curricular já estar definido, o mesmo pode ser organizado de maneira flexível, tendo o professor a liberdade de reorganizar o já proposto pela escola ou orientado pelos documentos oficiais, ou ainda, de inserir conteúdos distintos conforme o interesse e pesquisa dos alunos. Essa nova organização curricular é decidida entre professor e alunos e compõe um instrumento pedagógico chamado “plano de trabalho”. Nele, os estudantes registram o acordo estabelecido sobre os conteúdos que serão trabalhados durante o ano letivo e a forma como eles serão avaliados. Somando-se a isso, nessa mesma entrevista a diretora FD menciona que o currículo específico de cada área é também organizado na forma espiral de um ano para o outro, permitindo que os mesmos conteúdos sejam revisitados e/ou aprofundados a cada nível de ensino.

Entretanto, ao confluir a descrição de organização curricular feita pela diretora com os escritos presentes no capítulo sobre currículo do PPP dessa escola, encontramos a seguinte frase: “os conteúdos curriculares são cumpridos conciliando-se os interesses das crianças com as exigências dos PCNs.” (PPP escola Freinet, 2018). Tal trecho nos leva a atentar para o fato de que,

apesar de toda adaptação escolar à prática pedagógica de Freinet, talvez a mesma ainda possua “correntes” que a prendem de alguma forma às orientações presentes nos documentos oficiais vigentes, esse fator, porém, não parece limitar suas ações em busca dos objetivos pré- estabelecidos.

Afirmamos isso pois, além do desenvolvimento de diferentes instrumentos pedagógicos e da constituição de um currículo em espiral, a escola ainda investe em diversos projetos interdisciplinares ao longo do ano, em projetos para aproximação das famílias e da comunidade escolar e em formas de formação continuada para seus professores. De acordo com o PPP da escola Freinet (2018), dentre os projetos interdisciplinares desenvolvidos estão: o Projeto Arte Popular; a Exposição Científico-cultural de primavera; os Jogos da Amizade; e o Projeto Temático anual desenvolvido desde o início do ano letivo com os estudantes.

O mesmo documento traz que, como formas de integração com a família e a comunidade, a escola organiza a Festa Junina, a Festa de Primavera e o Boletim Informativo (PPP escola Freinet, 2018). De acordo com o coordenadora FC, a todos esses projetos e eventos, sejam eles interdisciplinares ou de aproximação com a comunidade, antecede ainda a realização de ateliês , nos quais os estudantes, de forma mais ampla, desenvolvem trabalhos artísticos, manuais, cinematográficos, experimentais e/ou virtuais, a serem expostos nos eventos e nos mais diversos ambientes escolares.

Já para a formação continuada de seus professores a escola conta com trocas de experiência e momentos de trabalho coletivo; reuniões pedagógicas semanais coletivas; reuniões de orientação individual entre o professor e seu coordenador; três dias inteiros de reunião de planejamento entre professores, auxiliares e gestores antes do início de cada semestre; e participação na Federação do Movimento Internacional da Escola Moderna (FIMEM) e no Movimento Nacional de Pedagogia Freinet para troca de experiências e exposição de trabalhos desenvolvidos pela equipe escolar (PPP escola Freinet, 2018). Inclui-se a isso, ainda, o curso oferecido aos novos professores e aos membros da comunidade que, como já explicado em nota, uma vez ao ano, é ministrado com o intuito de introduzir a Pedagogia Freinet aos ingressantes, estagiários e/ou à família.

Notamos que o fato de a escola já ter nascido através dos estudos e do desenvolvimento da

No documento O ensino de ciências em escolas alternativas (páginas 153-162)