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4 REFLEXÕES SOBRE AS ESCOLAS NO BRASIL

5. CAMINHOS DA PESQUISA

5.2. A coleta de dados

Um encontro inicial com a gestão de cada escola foi organizado e a autorização para obtenção de instrumentos para coleta de dados foi concedida e assinada por eles. Esse primeiro encontro foi realizado com as três escolas em novembro de 2017, com a finalidade de apresentar o projeto de pesquisa e de obter a permissão para a coleta e utilização dos dados7. A pedido das mesmas, suas identidades e localidades foram mantidas em sigilo. Assim sendo, faremos referência a cada escola estudada aqui através dos modelos pedagógicos que as mesmas dizem adotar.

De acordo com Yin (2001, p. 105), “as evidências para um estudo de caso podem vir de seis fontes distintas: documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos”. Ainda segundo este autor, o uso de diversas fontes de dados auxilia no processo de análise e na validação do estudo.

Dessa forma, diversas fontes de evidências foram utilizadas para esta pesquisa. Para coleta de dados, recorremos aos seguintes instrumentos: documentos das escolas selecionadas, entrevistas com professores e coordenadores, observações de aulas de Ciências e observações informais. Entende-se como observação informal aquela que pode ser realizada ao longo de uma visita de campo, inclusive a observação que se dá “durante as visitas, na quais estão sendo

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Todos os participantes assinaram um termo de esclarecimento e livre consentimento (Anexo 2 e 3), de acordo com o projeto de pesquisa previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp (CEP), número do CAAE: 78789417.2.0000.5404.

coletadas outras evidências, como as evidências provenientes de entrevistas” (YIN, 2001, p. 115). As entrevistas, quando autorizadas, foram gravadas e transcritas, e as observações e apontamentos de cada visita foram registradas em um diário de bordo, o qual também foi digitalizado e consta como acervo de consulta da pesquisadora para as análises a serem desenvolvidas.

Com relação aos documentos, foram consultados: o projeto político pedagógico (PPP), as publicações em diário oficial fornecidas pela própria escola a respeito da sua reorganização pedagógica, os planos de ensino desenvolvidos pelos professores de Ciências, as reportagens sobre as escolas disponíveis na mídia e os sites ou blogs das próprias escolas.

As entrevistas, semiestruturadas, foram realizadas com os coordenadores pedagógicos (Roteiro disponível no Apêndice A) das escolas alternativas selecionadas e com os professores (Roteiro disponível no Apêndice B) de Ciências das mesmas. Compreendemos como entrevista semiestruturada aquela que apresenta um roteiro previamente definido a ser seguido, visando manter a similaridade entre as entrevistas. Porém, tais roteiros não limitam o pesquisador e/ou entrevistado de realizar outras considerações, não abordadas no roteiro prévio (LAKATOS; MARCONI, 2011).

Já as observações diretas e informais deram-se, geralmente, durante as mesmas visitas de campo utilizadas para realização das entrevistas. Dessa forma, foram assistidas aulas de Ciências do Ensino Fundamental anos finais (6º ao 9º ano), de acordo com a disponibilidade dos professores e da pesquisadora. A descrição referente às visitas e ao instrumento para coleta de dados obtido nas mesmas segue no Quadro 3.

Quadro 3 – Descrição das atividades realizadas durante as visitas de campo feitas nas três escolas.

Escola onde ocorreu a

visita

Visita de campo Objetivos Atividades realizadas

Escola Democrática

Primeira visita (12/03/2018)

Conhecer a escola, conversar/ entrevistar a coordenadora e ter acesso aos documentos da

escola.

Elementos da entrevista anotados no diário de bordo (esta entrevista não

pode ser gravada, a pedido da entrevistada. Mas a mesma concedeu

autorização para que suas falas fossem anotadas e utilizadas); acesso ao PPP, à documentos publicados em diário oficial e às reportagens que

Escola Democrática

Visita de campo Objetivos Atividades realizadas

Segunda visita (18/06/2018)

Acompanhar a reunião de professores, buscando compreender melhor a proposta da escola e dos

ateliês realizados pela mesma.

Registros feitos no diário de bordo.

Terceira visita (19/06/2018)

Observar aulas de Ciências e realizar entrevista com a

professora.

Registros feitos no diário de bordo e gravação da entrevista feita. Quarta visita

(28/06/2018)

Observar aulas de Ciências e realizar entrevista com outra

professora.

Registros feitos no diário de bordo e gravação da entrevista feita.

Escola Waldorf

Primeira visita (06/03/2018)

Conhecer melhor a escola, conversar/ entrevistar o coordenador, e ter acesso aos

documentos da escola.

Elementos da entrevista anotados no diário de bordo (esta entrevista não

pode ser gravada, a pedido do entrevistado. Mas o mesmo concedeu

autorização para que suas falas fossem anotadas e utilizadas); acesso

ao PPP apenas na escola; planos de Ensino de Ciências EF2. Segunda visita

(26/04/2018)

Entrevistar o professor de Ciências e Biologia (EF2 e

EM).

Registros feitos no diário de bordo e entrevista gravada e transcrita. Terceira visita

(10/05/2018)

Observar aulas de Ciências do 9ºano.

Registros feitos no diário de bordo. Quarta visita

(11/05/2018)

Observar aulas de Ciências do 9ºano.

Registros feitos no diário de bordo.

Escola Freinet

Primeira visita (15/03/2018)

Conhecer melhor a escola, conversar/ entrevistar a diretora. Entretanto, durante a

entrevista, a diretora chamou a professora de Ciências para

participar da conversa.

Elementos da entrevista anotados no diário de bordo; entrevista com a

diretora e com a professora de Ciências gravada e transcrita.

Segunda visita (02/04/2018)

Observar aulas de Ciências dos 6ºs, 7ºs e 9ºs anos.

Registros feitos no diário de bordo sobre as 5 aulas observadas. Terceira visita

(21/03/2019)

Conversar com a coordenadora e com o professor de Ciências. Após a

conversa foram feitas as entrevistas com ambos.

Elementos da conversa anotados em diário de bordo; entrevista com a

coordenadora pedagógica; e entrevista com o professor de Ciências gravadas e transcritas. Quarta visita Observar as aulas e o

andamento do evento “Semana Temática”.

Registros sobre o ateliê “Agrotóxicos” feitos em diário de bordo. Consulta ao PPP escolar, com cópias e registros feitos em diário de

bordo. Fonte: elaborado pela autora.

Legenda: PPP – Projeto Político Pedagógico; EF2 – Ensino Fundamental Anos finais; EM – Ensino Médio; TMA – Aula de Tecnologia e Meio Ambiente.

As pessoas que participaram da pesquisa também tiveram suas identidades preservadas. Para denominação, tomamos a inicial da letra do modelo pedagógico adotado (D: democrática; W: Waldorf; F: Freinet), seguida da letra inicial da principal função exercida por elas na escola (C: coordenador(a); P: professor(a); D: diretor(a)), enumerando as pessoas (1, 2, 3...) nos casos de exercerem a mesma função na mesma escola. Por exemplo: pessoa DC refere-se à coordenadora da escola democrática, pessoa DP1 refere-se a uma das professoras da escola democrática e assim por diante. Segue o quadro com a caracterização dos colaboradores da pesquisa nas escolas8 (Quadro 4). A caracterização dessas pessoas se deu através de: Local/escola em que atua; das funções exercidas por elas na escola; pelo período de atuação na mesma; e pela sua formação acadêmica.

Quadro 4 – Caracterização dos colaboradores da pesquisa nas escolas.

Escola em que atua

Identifi -cação

Função que exerce na escola Tempo de atuação na escola

Formação Escola

Democrática

DC Coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental (anos iniciais e finais) e orientadora

educacional

De 2013 - atual (6 anos)

Pedagogia

DP1 Professora de Ciências (6º ano, 7º ano e ateliês) 2018 - atual (1 ano) Ciências Biológicas, pós-graduação latu sensu em Gestão Ambiental DP2 Professora de Ciências (8º ano,

9º ano, tutoria e ateliês)

2008 – atual (11 anos)

Ciências Biológicas

Escola Waldorf WP Professor de Ciências e Biologia (EF2 e EM), professor de

Tecnologia (9º ano), e Coordenador pedagógico do EF2 2010 - atual (9 anos) Ciências Biológicas; mestrado em Planejamento Ambiental e formação específica para Pedagogia Waldorf

Escola Freinet FD Diretora da escola. 1984 -atual (35 anos) Pedagogia, doutorado em Educação. FC Coordenadora pedagógica. 1993 -1998 (professora) 1998 – atual (21 anos) Licenciatura em Letras

FP1 Professora de Ciências (8 anoº, 9ºano)

1994 – atual (25 anos)

Ciências Biológicas

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Entendendo colaborador, aqui, como as pessoas que participaram das entrevistas e permitiram que as aulas fossem acompanhadas para estudo.

Escola Freinet Identifi -cação

Função que exerce na escola Tempo de atuação na escola

Formação

FP2 Professor de Ciências (6ºano, 7º ano, e professor do Projeto de Educação A mbiental com EF1)

2013 – atual (6 anos)

Ciências Biológicas Mestre em Engenharia Agrícola Fonte: elaborado pela autora.

5.3 A análise

A análise dos dados contou com uma descrição das escolas, buscando compreender o Ensino de Ciências que se dá em cada uma delas, seguindo a estratégia de análise “construção da explanação”, descrita por Robert Yin (2001). Para Yin (2001) analisar as evidências de um estudo de caso não é tarefa fácil, já que as estratégias e técnicas de análise ainda estão sendo definidas e estudadas.

Entretanto, o próprio autor propõe formas de análise para estudos de caso que se baseiam em proposições, como este (lembrando nossa proposição: acreditamos que um Ensino de Ciências mais próximo do desejado se dê dentro de escolas que adotam metodologias alternativas, diferentes das metodologias pedagógicas convencionais). Segundo Yin (2001) “a análise de dados consiste em examinar, categorizar [...], recombinar as evidências tendo em vista as proposições iniciais do estudo”. Dessa forma, a análise do estudo de caso pode ocorrer de duas maneiras gerais: baseando- se em proposições teóricas ou desenvolvendo uma descrição de caso.

Como já explicitado anteriormente, o presente estudo é baseado em proposição teórica, sendo assim, para esse tipo de estudo Yin (2001) apresenta quatro diferentes estratégias de análise: a) Análise de adequação ao padrão: essa análise consiste em comparar um padrão empírico com outro de base prognóstica; b) Análise de construção da explanação: nesse caso os dados do estudo são analisados construindo uma explanação sobre o caso; c) Análise de séries temporais: trata-se de uma análise análoga à análise realizada em experimentos e em pesquisas quase experimentais, interessante para ser feita em estudos com observadores participantes; d) Análise com modelos lógicos de programa: essa estratégia é, na verdade, uma combinação das técnicas de análise de adequação ao padrão e de análise de séries temporais, sendo que a análise do estudo de caso fornece os dados empíricos que servirão de sustentação para um modelo lógico.

Por se tratar de um estudo de casos múltiplos, no qual tomamos como base uma única proposição que fará confluir os dados de cada caso, resolvemos adotar a técnica de construção da

explanação como estratégia de análise dos casos. De acordo com Yin (2001, p. 142), “em estudos de casos múltiplos, um dos objetivos é elaborar uma explanação geral, que sirva a todos os casos particularmente, embora possam variar em seus detalhes”.

Dessa forma, primeiramente foi feita uma análise de caso individual, descrevendo como se dá o Ensino de Ciências em cada uma das escolas selecionadas (Seção 6 desta dissertação). Nessa análise inicial foram descritas as características institucionais e do Ensino de Ciências em cada escola.

A análise sobre o Ensino de Ciências se deu através das características curriculares e da observação das aulas desenvolvidas pelos professores dessas escolas, sendo que, ao analisar os dados coletados, buscamos identificar elementos dos cinco princípios pedagógicos por nós destacados: interdisciplinaridade; contextualização; CTS/CTSA; História e Filosofia da Ciência; e atividades investigativas.

Entretanto, esclarecemos aqui que as descrições e análises feitas são embasadas em apenas um retrato da escola, limitado às visitas e ao olhar da pesquisadora. Realçamos que, apesar dos diversos instrumentos para coleta de dados utilizados na presente pesquisa (entrevistas, documentos, observações, diário de bordo) e da variedade e quantidade de dados analisados, a realidade e o dia-a-dia escolar são muito mais dinâmicos e complexos, sendo que o presente trabalho retrata apenas uma pequena parte desse contexto.

Posteriormente, uma explanação geral apresenta como se dá o Ensino de Ciências em escolas alternativas através das evidências em comum registradas pela pesquisadora dentro das três escolas. “Essa metodologia aplicada a estudos de casos múltiplos faz com que o processo de construção da explanação seja, concomitantemente, a criação de uma análise cruzada de caso, não simplesmente a análise de cada caso único (YIN, 2001, p. 141)”. Sendo assim, a explanação final contou com uma análise cruzada dos casos apresentados, a qual se encontra na Seção 7 desta dissertação, buscando analisar as características gerais do Ensino de Ciências confluindo os dados apresentados ou não por cada uma das escolas pesquisadas.