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Contextualização e o Ensino de Ciências

3. REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIAS

3.2 Perspectivas para o Ensino de Ciências: o ensino atual e o que sugere a literatura

3.2.2 Contextualização e o Ensino de Ciências

Assim como a interdisciplinaridade, a contextualização também é um dos princípios sugeridos para o Ensino de Ciências. Apresentada não somente pelos trabalhos realizados na área, mas também pelos documentos oficiais, a contextualização pode abarcar diversas interpretações possíveis. No geral, a contextualização é compreendida como um dos meios que possibilita uma educação para a cidadania e inclusão, uma forma de aproximar os conhecimentos científicos da realidade do aluno, mostrando sua utilidade em questões éticas, econômicas, políticas e sociais. Dessa forma, no Ensino de Ciências a contextualização dos conteúdos tem como objetivo a aproximação entre conhecimento científico e realidade do aluno, de forma que o mesmo seja capaz de atuar e/ou opinar em sociedade quanto a questões científicas e tecnológicas.

De acordo com alguns trabalhos já visitados, a contextualização dos conteúdos é importante para o Ensino de Ciências, entretanto, apresenta-se ainda como um desafio na prática escolar e nos diferentes programas de ensino. Cachapuz, Praia e Jorge (2004), comentam que o Ensino de Ciências permanece sobrevalorizando os contextos acadêmicos, mantendo, ainda, uma visão de

Ciência como retórica de conclusões. Seguindo esse mesmo ponto de vista, Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002) dizem que incorporar os conhecimentos contemporâneos em Ciência e tecnologia na prática docente e nos programas de ensino permanece um desafio. Enquanto Fourez (2003) discute sobre o desafio de decidir entre contextualizar para a formação cidadã ou contextualizar para a formação de especialistas.

Ainda, alguns trabalhos como os de Cortez e Darroz (2017), Kato e Kawasaki (2011) e Silva (2007) discorrem sobre a contextualização no Ensino de Ciências na visão e/ou interpretação dos professores. Estes trabalhos mostram que, apesar de haver uma predominância de práticas nas quais os conteúdos são apresentados de forma descritiva, contendo apenas algumas exemplificações relacionada ao cotidiano do aluno, advindas de interpretações superficiais do conceito de contextualização ou de outros fatores relacionados à docência, como a sobrecarga de trabalho, os professores têm se mostrado preocupados em ampliar suas concepções e demonstram- se empenhados em atuar a partir de uma contextualização que leve a formação mais cidadã.

Além das pesquisas em Ensino de Ciências ressaltarem a importância da contextualização, o termo também aparece com frequência em documentos oficiais norteadores do currículo escolar, como os PCN e a atual BNCC. No PCN de Ciências Naturais (1997), há a organização do currículo através de temas, a qual é justificada como uma abordagem do conteúdo que favorece a desfragmentação do mesmo e a adaptação de acordo com diferentes contextos, facilitando a contextualização com objetivo de aproximar o conhecimento científico da realidade do estudante. Já na BNCC para o Ensino Fundamental (2017), observamos logo nas primeiras páginas, a contextualização dos saberes apontada como um dos objetivos para o ensino, sendo que o documento apresenta como proposição o seguinte: “contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares, identificando estratégias para apresentá-los, representá-los, exemplificá-los, conectá- los e torná-los significativos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens estão situadas” (BRASIL, 2017, p. 16).

Percebemos, então, a relevância desse tema para o Ensino de Ciências. Porém, entre documentos, pesquisas e desafios encontrados sobre sua incorporação em sala, o termo ainda permanece amplo e polissêmico. Sendo assim, discorreremos agora sobre as diferentes abordagens que a contextualização permite para o Ensino de Ciências.

Para Santos e Mortimer (1999, p. 1), “a contextualização constitui um princípio curricular que possui diferentes funções, dentre as quais podemos destacar as de motivar o aluno, facilitar a

aprendizagem e formá-lo para o exercício da cidadania”. De acordo com os autores, o Ensino de Ciências na educação básica tem como objetivo principal uma formação cidadã, que proporcione ao estudante uma participação ativa nas questões éticas, tecnológicas, econômicas e políticas que envolvem Ciência e a contextualização do conteúdo auxilia o ensino a atingir estes objetivos.

Já para além das confluências nos estudos que trazem uma contextualização na concepção de formação de cidadãos capazes de atuar em questões científicas e tecnológicas, o termo polissêmico pode ser abordado também através de diferentes dimensões. González (2004), diz que existem pelo menos três dimensões diferentes que podem estar embutidas na ideia de contextualização para o Ensino de Ciências, sendo elas: a dimensão histórica, na qual a contextualização tem objetivo de mostrar como e porque surgem as ideias e teorias científicas; a dimensão metodológica, na qual a contextualização aparece como um método de integrar e confluir as diferentes áreas da Ciência e é desenvolvida com o objetivo de desfragmentar os conteúdos e fazer relações com o cotidiano do estudante; e a dimensão socioambiental, na qual a contextualização do conteúdo é desenvolvida com o objetivo de fazer compreender a utilidade da Ciência no nosso entorno e no nosso modo de ver o mundo e interagir com ele. Tais dimensões são consideradas também para identificar as diferentes visões apresentadas pelos professores nos trabalhos de Cortez e Darroz (2017) e Kato e Kawasaki (2011).

Ainda, para Silva (2007, p. 10), “a contextualização se apresenta como um modo de ensinar conceitos das ciências ligados à vivência dos alunos, seja ela pensada como recurso pedagógico ou como princípio norteador do processo de ensino”. Segundo o autor, a contextualização como princípio norteador se caracteriza através do estabelecimento de relações entre o conhecimento prévio do aluno, a compreensão de sua realidade e o conhecimento científico específico, enquanto a contextualização como recurso pedagógico pode ser inserida através das dimensões definidas por González (2004), comentadas anteriormente (histórica, metodológica e socioambiental).

Como vimos, o termo contextualização pode possuir diversas abordagens, entretanto, o que predomina nas discussões sobre Ensino de Ciências é que a contextualização do conteúdo se faz importante, pois auxilia na formação de cidadãos cientificamente cultos. Apesar dessa conclusão ampla trazida pelos estudos aqui apresentados, compreendemos que conhecer as diferentes formas de contextualização é um passo importante para que educadores consigam praticá-la efetivamente no Ensino de Ciências. Sendo assim, acreditamos que é o desenvolver dessas diferentes dimensões de contextualização que proporcionará aos estudantes a formação ampla que almejamos.